ESPECIAL: Carta Aberta aos Profissionais de Mídia do Brasil

Prezados profissionais de mídia, a quem interessar possa: Me chamo Êgon Bonfim, tenho 39 anos, moro em São Paulo capital, sou portador do Tr...

segunda-feira, 6 de outubro de 2025

ESPECIAL: Carta Aberta aos Profissionais de Mídia do Brasil

Prezados profissionais de mídia, a quem interessar possa:

Me chamo Êgon Bonfim, tenho 39 anos, moro em São Paulo capital, sou portador do Transtorno do Espectro Autista (Síndrome de Asperger) de grau leve há oito anos e sou formado em Rádio TV desde 2010 embora não atuo profissionalmente, mas mantenho um canal no YouTube com o nome supracitado há 19 anos e um blog há nove anos chamado ÊHMB De Olho Na TV, cujos assuntos são a história da televisão brasileira.

Neste mês de agosto, eu estive na Set Expo 2025 no Centro de Convenções do Anhembi, aqui em São Paulo. Aliás, foi a primeira vez que visitei esta que é considerada a maior feira de mídia da América Latina onde pude conhecer os segredos de se produzir conteúdos audiovisuais e a grande novidade do ano, a TV 3.0. Foi a realização de um sonho particular. Recebi recentemente o oportuno e-mail da LineUp apresentando uma ótima explanação sobre a implantação da TV 3.0 no Brasil. É um assunto novo que aos poucos vem me despertando interesse, ainda mais explicando que o nosso país tem todas as ferramentas para criar um padrão próprio do chamado DTV+. Como foi frisado naquela mensagem, a tentativa de se fazer um sistema norte-americano de TV 3.0 "fracassou", mas não foi mencionado outros exemplos de outros continentes como o europeu e o asiático. Se o Brasil tem plenas condições de implantar um tipo próprio de DTV+ (segundo a mensagem, um padrão até sustentável), é preciso pegar um pouco do que deu certo nos outros continentes e não repetir os erros dos norte-americanos (ou até mesmo de outros países). Afinal, tem muito brasileiro que ainda acredita na velha máxima de que "o que é bom para os Estados Unidos, é bom para o Brasil". Essa briga de adoção de padrões, me lembro disso muito bem, já existiu na implantação do HDTV em 2007 e não quero (como ninguém quer) presenciar uma "reprise digital". Do pouco que pude conhecer da TV 3.0, vi que os canais numerados darão lugar a aplicativos das emissoras, o espectador pode escolher o áudio do conteúdo que está assistindo, inserir legendas, escolher ângulos em transmissões de futebol, fazer compras durante um comercial e até mesmo responder pesquisas de opinião pública sem sair de casa através do controle remoto (o IBOPE parece não se interessar por inovações tecnológicas). Adoraria presenciar na prática uma demonstração completa de TV 3.0/DTV+.

Pois bem, como consumidor, telespectador, blogueiro e dono de um influente canal nas redes sociais, cujo foco é a manutenção/resgate da memória da televisão brasileira, vejo que o Brasil encontra grandes dificuldades para que a TV 3.0 seja ao menos aceita, tanto para os ditos teledifusores quanto para os espectadores. Existe neste país uma grave questão cultural que vem neutralizando a receptividade dessa que eu considero uma "revolução digital", não só no que tange o audiovisual, mas também nos serviços de aplicativos utilizados em smart-phones. E isso começou em 2020 devido ao lock-down provocado pela pandemia da Covid-19 e desde então só acelerou, de forma que ninguém deu conta a respeito dessas rápidas e constantes evoluções tecnológicas. A partir dali, venho reparando que o Brasil tem uma péssima cultura de mídia, na qual jamais aproveitou o legado de tudo aquilo que deu certo há algum tempo. Como um seguidor havia registrado num comentário certa feita a respeito do assunto, não basta apenas melhorar a qualidade de transmissão, é preciso melhorar a programação. E dele não tiro razão. De que adianta investir milhões de dólares para melhorar o sinal e adotar serviços correlatos se não pensam no conteúdo dos programas. Os gananciosos diretores de TV, salvo algumas exceções, deveriam se colocar na pele do espectador, respeitá-lo independente da faixa de idade e classe social e nunca se igualá-los (mediante o crescimento acentuado dos denominados "novos ricos"), o que faz as emissoras de TV aberta caminharem a passos largos para a chamada "vulgaridade" com a velha alegação de se fazer TV para o dito "povão", só para não se submeterem ao escrutínio do "complexo de superioridade". Essa acomodação corporativa permanece inalterada há cerca de 20/30 anos.

Registrando aqui com todas as letras, eu tenho vergonha da TV brasileira de hoje em dia, por mais que ela tenha feito uma série de coisas boas e importantes e obtido grandes conquistas ao longo dos seus 75 anos de existência. A tecnologia é importante para as nossas vidas, sou a favor dela e apoio a inclusão digital não só dos jovens, mas àqueles que estão na casa dos 60 anos, que são "escravos da Globo" e que, por puro orgulho ou dificuldade não admitida, são assumidamente tecnofóbicos, só usam celular para dar telefonemas, passar recados e mexer nas comunidades sociais, mais nada. É preciso uma mudança cultural de âmbito nacional, pois somos reféns de interesses alheios à nossa vontade. Defendo a criação de uma legislação digital, o que poderia representar uma vanguarda para outros países que sofrem constantes casos de cyber-ataques. Os fabricantes de smart-TVs adaptados para as transmissões de DTV+ deveriam lutar para baratear os custos, facilitar a aquisição aos "menos abastados" e oferecer tutoriais simplificados para derrubar naturais inseguranças como a criação de login e senha nesses novos aparelhos para o acesso aos serviços e poder assistir aos conteúdos. Do jeito que andam as coisas, acho difícil a TV aberta ganhar sobrevida com a TV 3.0 e competir em pé de igualdade com o streaming, que veio para ficar e tomou conta de mais da metade do mercado consumidor audiovisual brasileiro.

Nesse panorama todo, me vem agora uma dúvida. Em dezembro passado, viajei para Ubatuba, litoral norte paulista, e no quarto em que eu estive hospedado, havia um smart-TV da marca Samsung e vi algo que eu até então desconhecia: canais fast. O acesso é exclusivo para quem possui aparelhos daquela marca (TV, PC, smart-phone, etc), mas com o advento da TV 3.0, essa Samsung TV Plus e seus quase 100 canais fast é uma espécie de vanguarda ou é só uma experiência comercial/variação do que está sendo trabalhado na implantação nacional da DTV+? Fico dividido mediante aos fatos e a abordagem a seu respeito, tenho esperanças de que a TV 3.0 dê certo no Brasil, mas se as grandes redes continuarem apostando nos mesmos truques, na repetição de fórmulas batidas de 20/30 anos atrás e teimarem em se conformar com a disputa pela audiência de 1/4 do público telespectador, a TV 3.0 corre o sério risco de não dar certo no Brasil, como aconteceu nos Estados Unidos (tudo por conta dessa questão cultural que mencionei parágrafos anteriores). É preocupante, basta querer aceitar a mudança e deixar o pedestal da negação que dividiu o nosso país. Até porque uma coisa é a implantação, outra coisa é a aceitação.

Atenciosamente
Êgon Bonfim

segunda-feira, 25 de agosto de 2025

ESPECIAL: Minha Visita na Set Expo 2025


O Centro de Convenções do Anhembi em São Paulo, realizou entre os dias 19 e 21 de agosto, uma das maiores feiras de mídia da América Latina: a Set Expo 2025, organizada pela Sociedade Brasileira de Engenharia de Televisão, criada em 1988 com a finalidade de oferecer suporte técnico a grupos ligados ao setor audiovisual. Como a inscrição para o acesso a feira era gratuita, me arrisquei, me inscrevi e não me arrependi. Fiquei maravilhado com o que vi, tive acesso a uma porção de equipamentos de televisão que jamais tive contato, nem mesmo no tempo em que eu cursava Rádio e TV na faculdade! Saí de lá renovado, feliz e familiarizado com tecnologias que, conforme o tempo, vão se modernizando a todo instante, ainda mais nesses tempos de "Revolução Digital". Quer ver como foi?

Essa é uma mini-câmera 4K configurada para ser operada tanto em joystick quanto com IA

Essa é a aparelhagem da EVS para produção de replays e câmera lenta em transmissões esportivas

Demonstração de canais de áudio em tribunas de imprensa, utilizados nas Olimpíadas, Pan, Copas do Mundo, etc

No stand da Canon, uma demonstração de cenário virtual a partir de espaços pequenos como este

O resultado final pode ser visto neste monitor à direita, recorte digital sem necessidade de chroma-key

Este equipamento é o controle mestre (master), que manda pro ar tudo aquilo que a gente assiste na telinha

O meu stand preferido na set Expo 2025 foi este aqui da Panasonic, gostei muito desses equipamentos

Além das câmeras portáteis acima (e a do trilho), usadas no telejornalismo, tem essa belezura de câmera de estúdio

Eu realizando um "sonho": manejando uma câmera de estúdio top de linha

Já essa câmera é mais equipada: tripé com rodinhas e uma poderosa lente da Canon, ideal para grandes eventos

O som também é importante na TV, este é um equipamento de áudio voltado para o entretenimento

Este é um stand de iluminação (neste caso, da Nanlux), ponto importante na realização de produções audiovisuais

Olhem o tamanho da criança! Um mega-refletor muito usado no cinema, telefilmes e teledramaturgia

Esse é o stand da Greika, outra empresa especializada em iluminação para o setor audiovisual

Para concluir o assunto iluminação, uma mesa especializada para configurar todo tipo de luz de acordo com a necessidade

Isso lembra uma câmera fotográfica, mas é uma câmera digital especializada na produção de longas e docs

Pra quem curte cinema, mais equipamentos para tal e para outras coisas, no stand da Deity

Essa aqui é top de linha, uma câmera de cinema 100% digital com direito ring light em torno da lente

Eu sentado num set cercado por telões de LED, a tendência de videowall nos dias de hoje

O rádio não foi esquecido na Set Expo 2025, veja aqui um equipamento completo para radiojornalismo e FMs

Falando em jornalismo, eis o teleprompter (TP), sendo este aqui já fabricado com uma câmera própria

Eis o segredo, o texto chega redigido neste PC e passa para um programa onde o texto é enviado aos TPs

Outro segredo das câmeras TP, este controlador configurado com IA para canais de notícias 24 horas

Aqui uma outra central para montagem de cenários virtuais, dessa vez a partir de um chroma-key

Veja como ficou o resultado final, a partir de um espaço pequeno virou essa imensidão virtual

Outro exemplo de cenário virtual, este aqui é bem mais elaborado com direito a GC e painel touch screen

Cabos de fibra ótica, última palavra em conexões para câmeras, luzes, microfones e sistemas de dados

Agora veja cessa cena, um set de filmagem com telão LED simulando um vagão do metrô

Este veículo está equipado com duas câmeras, uma suspensa no teto e outra de frente no capô

Vejam a tal da câmera suspensa em ação, na grua, muito utilizada em transmissões esportivas

Este é um tipo de antena transmissora digital totalmente adaptada para TV 3.0

Esse equipamento é instalado na ponta das torres de TV, com direito a sinalizador aéreo

Da próxima vez que você comprar uma Smart-TV, essa será a interface para você poder acompanhar os canais 3.0

Basta ter sinal de internet, login, senha e pronto. Clique num dos aplicativos e assista aos conteúdos gravados ou ao vivo

A Sony é indiscutível em matéria de aparelhagem audiovisual, veja neste set cada visão para cada tipo de câmera

A visão de uma autêntica câmera Sony HDC-3500, também top de linha

Uma estrutura básica de switcher (ou mesa de corte) partindo de três câmeras, preview e visão PGM

Esse equipamento é responsável pela seleção de imagens, seja matéria gravada ou ao vivo que irá para o ar

Esse é o multiview, que pode permitir a transmissão simultânea de/para até 10 lugares diferentes

Isto aqui é o intercom, que permite a comunicação entre a direção na switcher e a produção no estúdio

Eu experimentando um headset adaptado para intercom, aquela que a equipe de produção utiliza no estúdio

Esta aparelhagem toda é uma mostra de como funciona o "famigerado" ponto eletrônico

O ponto eletrônico está ficando invisível, tive a oportunidade de testá-lo, lembra um aparelho auditivo da Telex

No belíssimo stand da The Led, me deparei com este carrinho com minigrua, ideal para produções de entretenimento

Não podia faltar o Adobe Première, o editor de imagens nº 1, tanto para uso doméstico quanto para profissional

Um mapa demonstrativo de como se faz atualmente telejornalismo em tempos de "Revolução Digital"

Essa caixinha é demais, é um experimento, regionaliza os intervalos comerciais a partir de uma transmissão em rede

Agora um pouco de história, uma mostra de câmeras antigas. Esta é uma das primeiras câmeras utilizadas no Brasil

Esta é uma réplica de uma câmera valvulada RCA dos anos 50 e 60, note como um câmera-man sofria pra se posicionar

Uma autêntica RCA tubular dos anos 70 e 80, da exposição sobre os 75 anos da TV brasileira

Um dos primeiros aparelhos de TV importados no Brasil em 1950, das candongas de Assis Chateaubriand

Este é provavelmente um dos primeiros aparelhos de TV fabricados aqui no Brasil, no início dos anos 50

Aqui, uma mostra de aparelhos de TV, entre réplicas e exemplares originais dos anos 70, 80 e 90

O meu aparelho televisor preferido da mostra é esse mini Semp Toshiba, me deu vontade de ter um desse

Tinha até um microfone antigo para que as pessoas pudessem posar para "bancar o calouro"

De volta a feira, deparei com um robô movido a IA passeando por lá, andava, cumprimentava e dava "tchauzinho"

Este é o Robô Máximus, que dava informações sobre a Set Expo 2025 e tirava fotos conforme era solicitado

Vejam a foto que o Robô Máximus tirou de mim, uma boa lembrança da feira, e eu até sai bem no retrato

Outro robô se fez presente, mas este aqui é de quatro patas, um cão-robô manejado a distância por um "adestrador"

Este aqui é o stand da Claro Empresas, demonstrando como será a TV por assinatura na Era 3.0

Set Expo, parabéns, aprendi bastante sobre tecnologia audiovisual, até a próxima oportunidade!

Depois dessa, gostaria de visitar uma outra feira de mídia, mas dessa vez com stands dos grupos de comunicação (Netflix, YouTube, Grupo Globo, Newco, etc) discutindo os conteúdos propriamente ditos. De que adianta investir milhões de dólares para a modernizar os equipamentos, se não fazem o essencial: melhorar a qualidade de conteúdo pra quem está do outro lado da telinha. Você que é morfético, sádico, baba ovo da mitologia televisiva e que não passa de um peso morto pra sua parentela, da próxima vez que surgir uma feira de mídia em sua cidade e sentir vontade de visitar e saber como se faz um conteúdo audiovisual e a inscrição for gratuita, não pense duas vezes: se inscreva. Eu recomendo, você vai mergulhar nessa experiência incrível que acabei de ter e compartilhar por aqui.

Para terminar, a evolução das câmeras de TV: RCA anos 50, RCA anos 70 e Ikegami 2025

Meu único lapso nessa feira foi não ter tirado a foto desta bela LED esfera na horizontal!