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terça-feira, 15 de novembro de 2016

HISTÓRIA: Futebol na Telinha - 3ª Parte

Nesta terceira e última parte da saga do Futebol na Telinha, a disputa pelos direitos de transmissão, a corrida por boas propostas e o inflacionamento de valores que consequentemente desmotivaram as "outras" emissoras.
Em 1986, ao contrário das edições anteriores, nenhum jogo dos dois turnos do Campeonato Paulista foi transmitido pela televisão devido a expectativa da Copa do Mundo. Quando o Mundial acabou, as redes Globo, Record e Bandeirantes acertaram com a Federação Paulista de Futebol o contrato de televisionamento das finais do Paulistão. As três emissoras dividiram o valor de Cz$ 2 milhões para a exibição direta das semifinais para todo o Brasil, menos para a cidade-sede das partidas, entre Santos e Inter de Limeira (na Vila Belmiro e em Limeira) e do clássico entre Palmeiras e Corinthians, ambos realizados no Morumbi. Dos Cz$ 2 milhões, Cz$ 500 mil foram divididos entre os quatro clubes dos quais 20% do valor seria em forma de direito de arena. Como a segunda partida do dérbi paulistano foi para a prorrogação, as emissoras presentes ao estádio foram liberadas em exibirem ao vivo para a capital paulista os 30 minutos decisivos, inclusive as TVs Cultura e Gazeta que faziam o VT do jogo para exibir de madrugada, no encerramento da programação. Uma cláusula impedia que a transmissão das finais fossem divulgadas com antecedência para a capital paulista e o primeiro jogo só não foi transmitido para a cidade porque o então presidente do Palmeiras, Nelson Duque, pediu mais Cz$ 3 milhões às emissoras. O segundo jogo foi enfim exibido para a capital, como foi também a última final paulista transmitida pela Record com Silvio Luiz no comando.
No Campeonato Brasileiro do mesmo ano, prosseguia o mesmo esquema de negociação jogo por jogo direto aos clubes e as tais normas restritivas que impediam a transmissão de futebol na cidade em que ocorria outra partida paralela. Um fato curioso é que o SBT chegou a transmitir com exclusividade alguns jogos da primeira e da segunda fase nas tardes de sábado e nas manhãs de domingo, procedimento este que havia sido adotado em 1985, mas não transmitiu as finais, realizadas no ano seguinte. Os presidentes dos finalistas São Paulo (Carlos Miguel Aydar) e Guarani (Leonel Martins de Oliveira), estipularam as redes Globo, Bandeirantes e Record o pagamento de Cz$ 2 milhões pela transmissão da decisão paulista daquele Brasileirão, só que as três emissoras acharam o custo elevado e tentaram pechinchar, pagando a metade do preço: Cz$ 1 milhão. Isso porque nas semifinais, foram pagos Cz$ 600 mil para São Paulo e América-RJ e mais Cz$ 240 mil para Guarani e Atlético-MG possibilitarem os televisionamentos. Com a ameaça de que a decisão não seria exibida pela TV, a Rede Manchete entra na negociação e ofereceu um valor tentador: Cz$ 3 milhões, sendo Cz$ 2,4 milhões a serem divididos entre os dois times e mais Cz$ 600 mil em espaço publicitário para ambos. Apesar da exclusividade, a Manchete não podia mostrar o jogo ao vivo para a cidade em que esteja sediando cada uma das partidas decisivas e então, havia programado na hora do primeiro jogo para São Paulo, entre 17 e 19 horas, a exibição do programa Clip Show e do desenho animado Moby Dick, mas foi autorizada a colocar no ar o sinal do primeiro jogo para a capital paulista aos 10 minutos do primeiro tempo, porém 5 minutos mais tarde é que a Manchete libera a transmissão do jogo de fato para São Paulo. Como a emissora da família Bloch não possuía afiliadas no interior paulista, teve que pedir ajuda a TV Cultura de São Paulo tanto na geração de imagens quanto na transmissão do jogo para mais de 400 municípios paulistas através de sua rede de microondas, enquanto que na capital seguia sua programação normal. Na primeira partida, realizada no Estádio do Morumbi, houve uma série de descargas elétricas no sinal do jogo provocadas por um temporal ocorrido naquela tarde de domingo em São Paulo. Por quatro vezes, os problemas técnicos provocaram quedas no sinal que não passavam de 30 segundos e foi preciso acionar o jornalista Alberto Léo, que comandaria o intervalo de jogo direto dos estúdios do Russell, para suprir a falta de imagens do jogo falando sobre o retrospecto dos dois times. Numa dessas, a TV Cultura sem querer troca a imagem do jogo pelo programa Feminino Plural que estava exibindo para a capital paulista e rapidamente, volta para o jogo, o motivo alegado foi a troca de unidades de externa para a geração de imagens, uma delas (responsável pelos replays atrás dos gols) ficou incapaz de fazer a transmissão. Na segunda partida, realizada em Campinas, a Manchete não conseguiu um canal de satélite com a Embratel e a Telesp (reservados para Globo e Bandeirantes) para a transmissão e teve que lançar mão do já ultrapassado recurso do sistema gerador de micro-ondas por rota própria, de Campinas para a emissora de São Paulo com a utilização de dois links da TV Cultura de uma cidade para outra, trabalho executado pela equipe de retaguarda de 30 pessoas. De São Paulo, a imagem foi repassada para a sede no Rio e que finalmente a transmitiu via satélite para todo o Brasil. Quem executou a operação foi o diretor de TV Antônio Carlos Rebesco, o Pipoca, da TV Cultura, que deu um visual diferente na geração de imagens do jogo decisivo mostrando todos os detalhes e colocando o espectador dentro de campo, além de mobilizar 50 profissionais e sete câmeras por todo o Estádio Brinco de Ouro de Princesa. Isso porque todas as unidades de transmissão externa da Manchete estavam no Rio de Janeiro para a cobertura do carnaval daquele ano. A exclusividade da Manchete levou a Globo a prolongar o Jornal Nacional por alguns minutos, retardando o início de um capítulo da novela Roda de Fogo como estratégia de tirar a atenção do público paulista com a decisão do Brasileirão. Mas mesmo assim, a Rede Manchete liderou a audiência pela primeira vez em São Paulo na transmissão de Guarani e São Paulo: marcou 32 pontos no primeiro jogo e mais 45 pontos no segundo jogo. A narração foi de Walter Abrahão, comentários de João Saldanha e reportagens de Laércio Roma e Helvídio Mattos. Já a equipe da TV Cultura tinha o narrador Luís Alberto Volpi, os comentários de Sérgio Backlanos e os repórteres Carlos Eduardo Leite e Gérson de Araújo.
Em 1987, a exemplo da edição anterior, nenhum jogo dos dois turnos do Campeonato Paulista foi televisionado ao vivo, o acordo da federação com as emissoras valia apenas para a transmissão dos seis jogos da fase final. As redes Bandeirantes e Globo pagaram uma cota conjunta de Cz$ 22 milhões para a exibição das semifinais e final. Desse valor, Cz$ 5 milhões seriam para cada um dos semifinalistas (Palmeiras, Corinthians, São Paulo e Santos) e Cz$ 2 milhões para a Federação Paulista de Futebol cobrir suas despesas. Na fase semifinal, os jogos poderiam ser transmitido para o interior e litoral paulista e demais estados brasileiros, menos nas regiões da Grande São Paulo e Vale do Paraíba. Quanto aos jogos da decisão, as duas emissoras podiam transmitir para a capital desde que 90% dos ingressos fossem vendidos até uma hora antes do jogos começar, em acordo feito com os clubes finalistas São Paulo e Corinthians. Cada emissora trabalhou com suas próprias imagens: a Globo colocou no Morumbi apenas seis câmeras e liberou suas imagens para as TVs Cultura, Gazeta e Record fazerem os VTs das partidas, enquanto que a Bandeirantes mobilizou 12 câmeras no estádio, praticamente o dobro da emissora-líder. Na transmissão da Globo teve como convidado especial o capitão de 58 Bellini para analisar os jogos e as reportagens de Roberto Thomé e Luís Andreoli, enquanto que na Band contava com a tarimbada dupla de comentaristas Juarez Soares e Roberto Rivellino e os repórteres Gilson Ribeiro e Luiz Ceará. Quanto aos narradores houve alterações em relação às duas partidas decisivas: no primeiro jogo, a narração foi de Luiz Alfredo pela Globo e Luciano do Valle pela Band e no segundo jogo os narradores foram Galvão Bueno pela Globo e Jota Júnior pela Bandeirantes.
Em 1987, os maiores clubes brasileiros entraram em pé de guerra com a CBF insatisfeitos com a organização desastrosa dos campeonatos nacionais. Foi por esse motivo que foi criado o Clube dos 13, formado pelos treze times mais importantes do futebol brasileiro, cujo objetivo era a realização de um campeonato nacional com poucos clubes e com o maior número possível de "clássicos", visando aumentar a média de público e renda, nascia a Copa União. Por mais que ela seja a mais polêmica de todas as competições, ela semeou uma série de coisas que são adotadas até hoje nos campeonatos atuais, principalmente na questão do marketing. Os marketeiros dos Clube dos 13 representados pelo flamenguista José Henrique Arêas e pelo são-paulino Celso Grelet ofereceram a seguinte proposta para a televisão: o televisionamento de 42 jogos da Copa União por Cz$ 168 milhões. A Rede Manchete chegou a receber a tal proposta e que seria analisada pelo seu editor de esportes, o saudoso Alberto Léo. Só que a Rede Globo foi espertalhona e sacou um talão de cheques na hora oferecendo um valor tentador: Cz$ 173 milhões pela transmissão exclusiva de 46 partidas (mais tarde reduzida para 36, temerosa pela queda do índice técnico das equipes durante o torneio) e mais 50% pela comercialização dos jogos a entidade organizadora. Os dirigentes ficaram animados e negociou com a Globo um contrato de cinco anos de exclusividade da Copa União por US$ 18,5 milhões, sendo US$ 3,7 milhões por temporada com correção de 5%. Mesmo com a transmissão exclusiva, a Globo autorizou as emissoras educativas como Cultura e TVE e as emissoras independentes como Gazeta e Record a fazerem os VTs das partidas locais da competição e que só poderiam ir ao ar após o término das mesmas.
Daqueles Cz$ 173 milhões, Cz$ 107 milhões seriam destinados ao clubes e os outros Cz$ 66 milhões eram pelo espaço a ser comercializado. As cotas passaram a ser divididas da seguinte maneira: Cz$ 12,8 milhões para cada um dos clubes integrantes ao Clube dos 13 (Atlético-MG, Bahia, Botafogo, Corinthians, Cruzeiro, Flamengo, Fluminense, Grêmio, Internacional, Palmeiras, Santos, São Paulo e Vasco) e Cz$ 6,6 milhões a serem divididos aos três times convidados para completarem os 16 participantes da Copa União (Coritiba, Goiás e Santa Cruz). Os 50% da comercialização dos jogos prometidos da Globo ao Clube dos 13 eram pela venda das três cotas nacionais de patrocínios, cada uma valia Cz$ 33 milhões e adquiridas por Bradesco, Volkswagen e Antárctica, sem contar outras duas cotas regionais com mesmo valor (cujo valor subiu para Cz$ 45 milhões nas finais), e pelas inserções comerciais nos intervalos dos jogos, sendo cobrados Cz$ 60 milhões por uma peça publicitária de 15 segundos. Além do apoio da televisão e da revolução que ela causou, tornando o futebol numa atração fixa da programação, foi também de suma importância o contrato do Clube dos 13 com a Coca-Cola pelo patrocínio exclusivo da competição. Assim como foi com a Globo, o refrigerante mais popular do mundo assinou um contrato de cinco anos de exclusividade por US$ 17 milhões, sendo US$ 3,4 milhões por ano com correção de 5%, cujo montante seria dividido entre os 16 times e cada um receberia Cz$ 7,2 milhões. O contrato da Coca-Cola com o Clube dos 13 foi até exótico: a publicidade do refrigerante seria explorada em forma de merchandising com anúncios espalhados nos 10 estádios-sedes do torneio, em troca de Cz$ 550 mil, até mesmo no círculo-central do gramado e dentro das goleiras! E mais, foram oferecidos mais Cz$ 1,5 milhão para que os clubes pudessem imprimir o nome "Coca-Cola" nos seus uniformes. Dos 16 competidores, 12 aceitaram a proposta, menos Flamengo, Corinthians, Palmeiras e Internacional que mantiveram compromisso com seus patrocinadores originais (os dois últimos citados adeririam a publicidade do refrigerante no ano seguinte). Isso sem contar as 452 inserções institucionais (só a marca, sem o produto) de 15 segundos a serem veiculados na Globo durante os intervalos das transmissões. E por pouco a competição não se chama Copa União Coca-Cola, pois houve discordância dos dirigentes quanto ao naming rights (direitos de nome, algo comum nos dias atuais), só que a FIFA proibiu o Clube dos 13 em usufruir a publicidade exagerada da Coca-Cola, exigida em cláusula contratual. Por esse motivo, apenas parte dos Cz$ 7,2 milhões prometidos aos clubes foram pagos, outra parte seria completada nos anos seguintes na qual os clubes acabaram concordando em manter o patrocinador estampado nas camisas nos estaduais do ano seguinte. Então, Bahia, Botafogo, Cruzeiro, Fluminense, Grêmio e Vasco receberam Cz$ 5,1 milhões, Atlético-MG ficou com Cz$ 4,6 milhões, São Paulo e Internacional com Cz$ 4,4 milhões, Santa Cruz e Coritiba com Cz$ 4,1 milhões, Corinthians, Flamengo e Santos com Cz$ 3,8 milhões e Goiás com Cz$ 2,8 milhões. Outros patrocinadores apoiaram a realização da Copa União: Varig-Cruzeiro e Rede Othon de Hotelaria cobriram juntas cerca de Cz$ 100 milhões em despesas de transporte e hospedagem dos times participantes, a Editora Abril ofereceu Cz$ 56 milhões na publicação do álbum de figurinhas oficial da competição por cinco anos e a Dover Comércio e Importação de Materiais Plásticos investiu Cz$ 85 milhões na fabricação de produtos com a marca Copa União e com os distintos dos participantes, que por sua vez teriam uma participação nos royalties pelo uso de imagem tanto nos produtos da Dover quanto das Figurinhas da Copa União.
Por 25 anos, as normas restritivas da antiga CBD que proibia o televisionamento de futebol na cidade onde ocorria um outro evento futebolístico no mesmo horário assombrava as emissoras de TV. Na Copa União, a regra fora finalmente quebrada. No planejamento da cobertura, a Globo determinou a alteração na tabela e programou a transmissão de três partidas semanais, uma nas noites de quinta ou sexta, outra nas tardes de sábado e mais outra nas tardes de domingo, inclusive para a cidade onde os jogos estavam acontecendo. Nas transmissões dominicais, um fato pitoresco: como haviam várias partidas sendo jogadas simultaneamente, quatro desses jogos eram pré-selecionados e submetidos a um sorteio, realizado 15 minutos antes do apito inicial, para decidir qual deles seria transmitido. A estrutura de transmissão era a mais simples possível para padronizar as emissoras Globais das oito cidades-sede (São Paulo, Porto Alegre, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Salvador, Recife, Curitiba e Goiânia): equipe técnica de 15 pessoas, apenas três câmeras no estádio, uma unidade móvel com mesas de áudio e corte e equipamento de microondas para a transmissão das imagens na sede da emissora, cuja equipe de retaguarda responsável pela transmissão em rede nacional contava com 20 pessoas. Os narradores eram Luiz Alfredo, Oliveira Andrade e Fernando Sasso e os comentaristas eram Zagallo, Raul Plassmann e Carlos Alberto Torres (Galvão Bueno só entrou na última rodada do segundo turno). Nos estúdios da Globo, havia sempre um "locutor de plantão" que sempre entrava no ar nos intervalos mostrando os melhores momentos do primeiro tempo e o comando podia ser de Léo Batista, Fernando Vanucci e Sérgio Éwerton. Os índices de audiência apontavam uma confortável liderança de audiência e era a grande oportunidade da Globo em vencer o Programa Silvio Santos do SBT, então imbatível nas tardes de domingo. O curioso é que a audiência da Copa União era maior no Rio do que em São Paulo e o jogo que estabeleceu recorde de audiência em toda a competição foi em 2 de dezembro na semifinal entre Atlético-MG e Flamengo no Mineirão, que rendeu 51 pontos de audiência à Globo. Porém, em 18 de outubro, a Globo prometeu que mostraria imagens ao vivo de Atlético-MG e Fluminense, valendo vaga nas semifinais na última rodada do primeiro turno, mas não transmitiu em virtude do Grande Prêmio do México de Fórmula 1 que fora mostrado ao vivo no mesmo horário do jogo, às 17 horas. Nessas horas, bem que o Clube dos 13 poderia ter pensado em dividir a transmissão da Copa União entre Globo e Manchete para que mais jogos pudessem ser exibidos ao vivo.
No início, a CBF implicou com a realização do torneio, taxando-o de "liga pirata", mas recuou considerando-o como Módulo Verde e aceitando todas as exigências, enquanto que seu campeonato seria o Módulo Amarelo. Para divulgar o "segundo campeonato do Brasil", o SBT demonstrou interesse e queria exibir 43 jogos da competição por Cz$ 350 mil cada. Mas dos 15 dirigentes dos clubes participantes do Módulo Amarelo (seriam 16, mas o América-RJ boicotou a competição, fora injustamente sacaneado pelo Clube do 13 junto com o então vice-campeão brasileiro Guarani), oito foram contra a proposta e sete a favor. O motivo foi o impasse causado entre números e horários e que a transmissão atrapalharia as outras divisões, com isso o SBT e a CBF não chegaram a um acordo, no qual só veio na transmissão das finais entre Sport e Guarani, cujo título foi dividido por causa da monótona decisão por pênaltis que terminou incrivelmente empatada em 11x11. A CBF ainda quis propor com o Clube dos 13 um cruzamento entre os vencedores dos dois módulos para definir o campeão brasileiro no início do ano seguinte e quem disputaria a Copa Libertadores da América, mas a proposta foi imediatamente recusada. Guarani e Sport riram por último e decidiram o título da belíssima e controversa "Taça das Bolinhas", troféu este que não apareceu na final da Copa União entre Flamengo e Internacional no Maracanã, que por boicotarem o quadrangular decisivo proposto pela CBF, acabaram consequencialmente perdendo suas vagas (que até poderiam ser legitimamente merecidas) para a Libertadores. Entre janeiro e fevereiro de 1988, o SBT desembolsou Cz$ 1,2 milhão pela transmissão dos jogos-finais ao vivo para todo o Brasil, inclusive para Campinas e Recife, sendo dividido para os dois times. As partidas foram transmitidas às 17 horas de domingo por motivos circunstancias pois o Programa Silvio Santos ficou fora do ar por quatro semanas, a emissora precisava tapar os buracos de domingo temporariamente e a tal decisão veio a calhar. Se o segundo jogo terminasse empatado nos 90 minutos, o campeão seria conhecido no cara-ou-coroa. Isso não foi preciso, o time pernambucano levou a melhor.
Com o sucesso da Copa União, o interesse da televisão pelos campeonatos de futebol cresceu assombrosamente, o que transformou a compra dos direitos de transmissão de qualquer competição da modalidade mais popular do Brasil numa verdadeira disputa entre as emissoras pela exclusividade do evento. Com o fim das regras restritivas e a liberação da transmissão de futebol ao Rio de Janeiro quando organiza alguma partida, em 1988, a Rede Manchete adquiriu os direitos de transmissão do Campeonato Carioca de Futebol com exclusividade por Cz$ 120 milhões, dos quais Cz$ 40 milhões eram em forma de espaço promocional, conseguindo levar algumas partidas para as noites de segunda-feira, causando sensíveis mudanças na tabela. A emissora dos Blochs, no mesmo acordo, garantiu também a transmissão exclusiva da competição de 89 e 90 e o rebatizou de Copa Rio.
Quanto ao Campeonato Paulista de Futebol, a compra pelos direitos de transmissão havia se transformado num autêntico leilão: a Rede Globo começou oferecendo Cz$ 137 milhões à Federação Paulista de Futebol, logo a Rede Manchete se dispôs a pagar Cz$ 203 milhões (sendo Cz$ 80 milhões em espaço promocional) e por fim, a TV Record apareceu com Cz$ 240 milhões pela competição. Dias depois, diante das propostas oferecidas pelas emissoras, a federação avisou que queria algo em torno de Cz$ 300 milhões para vender o Paulistão à alguma emissora de TV. Os lances aumentaram: a Globo ofereceu Cz$ 180 milhões com a entrada da Rede Bandeirantes como "aliada", a Rede Manchete estava disposta em pagar os Cz$ 300 milhões sugeridos pela federação (dos quais Cz$ 100 milhões seriam em espaço promocional) e a TV Record deu uma recuada tornando-se a única que defendia a possibilidade da formação de um pool de emissoras com Band e Globo, ideia acatada pelo então presidente da federação Eduardo José Farah que intermediava as negociações juntamente com Carlos Miguel Aydar, então presidente do São Paulo Futebol Clube. Mas a decisão dependia do consenso das outras emissoras e no fim, a Rede Globo levou a melhor com Cz$ 222 milhões pela aquisição do Paulistão.
O valor recebido pela federação foi dividido e distribuído para todos os clubes participantes e pagos em quatro parcelas reajustadas segundo a variação mensal das OTNs na época. A divisão de cotas ficou acertada dessa maneira: Cz$ 17,2 milhões para as despesas da Federação Paulista de Futebol (troféus, prêmios aos melhores e um álbum de figurinhas produzido pela Editora Abril em investimento de Cz$ 9 milhões), Cz$ 15 milhões para os clubes "grandes" São Paulo, Corinthians, Palmeiras, Santos e Portuguesa, Cz$ 12 milhões para os clubes "médios" Guarani e Inter de Limeira, Cz$ 8 milhões para os 13 demais participantes e mais Cz$ 2 milhões a serem divididos para os clubes que decidirem o título paulista. O contrato previa a transmissão de jogos dos times considerados "grandes" no interior paulista desde que fosse de uma cidade para outra, proibindo o televisionamento para o local que sediava a partida em questão, exceção feita na exibição das finais onde os clubes fizeram antecipadamente um acordo direto com as emissoras liberando o sinal nas cidades onde forem realizadas (no caso São Paulo e Campinas para a exibição da decisão entre Corinthians e Guarani) devido a grande procura de ingressos estimulada pela própria televisão. Os jogos com televisionamento foram marcadas aos sábados à tarde e a noite e às quintas à noite (ou terça em alguns casos). Havia também o direito de revenda e isso beneficiou a Rede Bandeirantes que desembolsou Cz$ 126 milhões pelo pacote de 18 jogos oferecidos pela Globo, que por sua vez reconsiderou o acordo de exclusividade com a federação permitindo a entrada da Band nos jogos de sábado à tarde. Diante do fato, a TV Record acabou sendo preterida das negociações por oferecer metade do valor exigido no contrato Global pelos 18 jogos, cerca de Cz$ 60 milhões, mesmo se dispondo em gerar as imagens da metade das partidas do pacote e cogitada pela federação na transmissão dos jogos de quinta-feira, contentando-se com os VTs dos jogos de domingo (assim como a TV Gazeta de São Paulo fazia habitualmente, já que a TV Cultura resolveu dar mais atenção a Divisão Intermediária da competição). Houve até a cogitação da Band em levar algumas partidas para as noites de segunda-feira, mas os clubes imediatamente rejeitaram a proposta (exceção foi aberta na última rodada do segundo turno com o jogo entre Santos e Botafogo de Ribeirão Preto no Pacaembu, que serviu pra cumprir tabela). Por muito pouco, o Paulistão de 88 não perdeu o brilho quando de um turno para o outro teve que ser paralisado por duas semanas por causa de lances judiciais envolvendo Ponte Preta e Bandeirante de Birigui, ambos rebaixados no campeonato anterior. No total, Guarani e Inter de Limeira foram os times mais televisionados com oito jogos cada um, seguidos de Santos e Palmeiras com sete, Corinthians, São Paulo e São José com seis, XV de Jaú com cinco, Portuguesa, São Bento e Botafogo de Ribeirão Preto com três, Novorizontino, Noroeste, Mogi Mirim, Ferroviária e América de Rio Preto com dois, XV de Piracicaba, União São João e Santo Andre com um e o Juventus foi o único clube que não teve um jogo sequer transmitido pela TV.
Na Copa União de 1988, a Rede Globo inaugurou um novo procedimento de transmissão adotado até hoje por outras emissoras: a cada rodada do campeonato, um jogo é escolhido para ser exibido em rede nacional, menos para o local onde a partida esteja acontecendo, que por sua vez recebe o sinal de um jogo paralelo. Enquanto isso, as emissoras afiliadas podem decidir qual outro jogo de maior interesse a ser mostrado para o público local. Em 1989, a Rede Bandeirantes adquiriu os direitos de transmissão do Campeonato Paulista e mediante a um acordo feito com a Federação Paulista de Futebol, concordou na formação de um pool com as redes Globo e Manchete, além de dividirem o valor de NCz$ 2,2 milhões pelo contrato de transmissão de 31 partidas das cinco fases da competição (11 no primeiro turno, 11 no segundo turno, cinco no terceiro turno, duas nas semifinais e duas nas finais), desde que o televisionamento dos jogos fossem em partidas isoladas às quintas e aos sábados de uma cidade para outra para motivar os torcedores a comparecerem ao estádio. Desse valor pago pelas emissoras, a federação estabeleceu a seguinte divisão de cotas aos 22 clubes que receberiam tal dinheiro em quatro prestações: NCz$ 124 mil para Corinthians, Palmeiras, São Paulo, Santos, Guarani e Portuguesa, NCz$  86 mil para a Inter de Limeira, NCz$ 51 mil para os 13 clubes remanescentes da divisão principal do ano anterior e NCz$ 40 mil para Bragantino e Catanduvense por terem obtido o acesso para disputarem a Divisão Principal, sem contar os NCz$ 600 mil para as despesas da Federação Paulista de Futebol. Quando a TV Record, ainda administrada pela família Carvalho, resolveu pleitear pela vaga deixada pela Rede Manchete, que desistiu da negociação por causa dos horários dos jogos de sábado (18 horas), desembolsando NCz$ 900 mil pela transmissão, a Band alterou o prazo final, encerrando a negociação dos direitos de transmissão, tentando impedir a entrada da emissora na rodada de abertura, que por sua vez ganhou a causa graças a uma liminar que garantiu sua presença no campeonato a partir da segunda rodada. O motivo alegado foi que a Bandeirantes se sentiu "ameaçada", com medo de perder audiência.
O campeonato foi marcado pelo duelo entre as redes Bandeirantes e Record dentro e fora de campo: segundo os índices do IBOPE, no tete-a-tete entre ambas, a média da Band era de 7 pontos de audiência enquanto que a da Record apontava 5 pontos. Nos 22 jogos transmitidos pelas duas emissoras ao mesmo tempo, a Bandeirantes venceu 11 vezes, a Record seis e houve cinco empates (obviamente, a Globo liderava a audiência com um pé nas costas). Durante as transmissões, enquanto que a Band (liderada por Luciano do Valle, Silvio Luiz, Juarez Soares e Mário Sérgio) incluiu seis câmeras exclusivas se unindo a imagem-base do pool gerada por três câmeras, a Record não trabalhava com comentaristas, mas explorava os dados estatísticos fornecidos pela sua Central de Esportes e contava com Osmar Santos no comando da equipe, apesar de driblar os problemas técnicos que surgiam entre um lance e outro, talvez fruto da sabotagem do consórcio Luqui-Bandeirantes. Com a entrada da Rede Globo nas transmissões das partidas (com narração de Oliveira Andrade, comentários de Juca Kfouri e reportagens de Roberto Thomé), alguns jogos tiveram que mudar de horário, sendo realizados às 16 horas nos feriados, durante o segundo turno, e aos sábados, a partir do terceiro turno, e as transmissões do meio de semana foram para as quartas-feiras. O São Paulo foi o clube que mais vezes apareceu nos jogos transmitidos do Paulistão com nove, seguido do Santos com sete, Corinthians com seis, Palmeiras, Bragantino e São José com cinco, Guarani, Mogi Mirim e Portuguesa com quatro, Ferroviária com três, XV de Piracicaba, São Bento e Botafogo de Ribeirão Preto com dois, Noroeste, Inter de Limeira, Santo André e Novorizontino com um e os outros cinco times (Juventus, Catanduvense, XV de Jaú, União São João e América de Rio Preto) não tiveram um jogo sequer televisionado.
Em 7 de junho, a Band conseguiu cassar a liminar da Record que garantia sua transmissão do Paulistão, o canal 7 tentou recorrer no Superior Tribunal de Justiça de Brasília, mas o pedido foi indeferido. A emissora foi expulsa no início do terceiro turno da competição, impedindo sua conclusão de trabalho e, como conseqüência, foi também impedida de transmitir os jogos da Divisão Intermediária, da Copa América, do Brasil nas Eliminatórias da Copa do Mundo, da Copa do Brasil, do Campeonato Sul-Americano de Vôlei e do Campeonato Estadual de Basquete Masculino. O recorde de audiência da Record foi em 11 de maio quando registrou médias de 10 pontos no jogo entre Santos e Corinthians, o recorde da Band aconteceu em 14 de junho quando atingiu médias de 17 pontos na transmissão de Novorizontino e Bragantino e o recorde da Globo foi em 28 de junho no primeiro jogo da final entre São Paulo e São José, quando marcou o índice de 42 pontos de audiência.
Para a transmissão do Campeonato Brasileiro de 1990, um fato incomum aconteceu: a Rede Globo tinha o "direito de preferência" do Clube dos 13, responsável pela negociação dos contratos de TV e publicidade da divisão principal da competição, mas o Brasil vivia momentos difíceis na economia, exigiu a redução da cota pelos direitos de transmissão avaliada em 4,5 milhões de BTNs. Por incrível que pareça, sua proposta foi recusada e consequentemente acabou perdendo o interesse pelo campeonato. A desculpa Global encontrada foi a audiência dos jogos do Brasileirão de 89 que "beirava" os 20 pontos, empatando com os índices obtidos normalmente com o Domingão do Faustão no mesmo horário. Mentira, a Globo juntamente com Manchete e Bandeirantes, chegou a marcar picos de 45 pontos de audiência acumulada na transmissão de algumas partidas. Diante do fato, a Rede Bandeirantes cobriu a oferta e conseguiu a exclusividade do Brasileirão de 90, transmitindo ao todo 44 jogos ao vivo, garantindo também a exclusividade em 1991, considerando-o um artigo de luxo em sua grade amplamente dominada pelo esporte na época e quebrou sucessivos recordes de audiência: em 8 de dezembro de 1990, a semifinal entre Grêmio e São Paulo registrou uma média de 19 pontos de audiência, mas durante o segundo tempo atingiu o pico de 28 pontos contra 26 da Globo que exibia a então recém-lançada novela Lua Cheia de Amor; em 16 de dezembro de 1990, a final paulista entre Corinthians e São Paulo marcou 26 pontos de média e 51 pontos de picos (mas a Band garante que o índice alcançado nesse jogo foi de 53 pontos de audiência); e em 9 de junho de 1991, a outra final paulista entre Bragantino e São Paulo teve médias de 25 pontos e um pico de 34 pontos contra 16 da Globo que apresentava mais um Domingão do Faustão.
A Federação Paulista de Futebol queria vender os direitos de transmissão do estadual de 1991 por US$ 5 milhões, mas as emissoras interessadas acharam o valor alto demais. As redes Globo, Bandeirantes e a novata Jovem Pan, em esforço conjunto, pagaram US$ 2,7 milhões pelo Paulistão daquele ano (Band e Globo pagaram US$ 800 mil cada uma e a TV Jovem Pan teve que desembolsar US$ 1,1 milhão), só que a JP teve que pagar quase 50% de ágio (diferença entre a cotação do dólar e do cruzeiro na época) pela sua estréia na competição. Mostrando que queria garantir presença no campeonato, a Pan proibiu a TV Cultura de fazer os tradicionais VTs das partidas no fim da programação de domingo, cujo direito só seria permitido se houvesse um acordo comum entre as três emissoras. O tal direito só foi possível nas finais do torneio entre São Paulo e Corinthians, que curiosamente foram as únicas partidas transmitidas pela Rede Globo durante todo o campeonato, já que não exibiu um jogo sequer das três fases anteriores. E pior: se "esqueceu" que tinha um acordo firmado com a TV Gazeta, liberando o sinal de uma porção de eventos esportivos que não tivesse condições de transmitir por causa dos horários da programação. A polêmica atitude deu o que falar não só no Paulistão, mas alguns meses antes quando adquiriu os direitos exclusivos de transmissão da Copa América por US$ 150 mil apenas para mostrar os jogos do Brasil e nada mais. Outra medida controversa: no começo do ano, a Globo dividiu o montante de US$ 240 mil a Flamengo e Corinthians pelos direitos de transmissão da Copa Libertadores da América e em 17 de abril, a partida entre Boca Juniors e Corinthians em Buenos Aires ocorreu ao mesmo tempo em que jogavam Brasil e Romênia em Londrina num amistoso internacional. Enquanto que a Globo mostrava para toda a rede o jogo da Seleção Brasileira, o estado de São Paulo foi "obrigado" a assistir a partida das oitavas-de-final da Libertadores, causando críticas aos especialistas do assunto. Sorte que os paulistas puderam ver pelo menos os 10 minutos finais do jogo da Seleção Brasileira porque aos 32 minutos do primeiro tempo, houve queda de energia elétrica no Estádio do Café e paralisou a partida por 18 minutos.
A corrida pela compra dos direitos de transmissão e negociações desse porte chegou ao apogeu nos anos 90 quando a CBF ofereceu US$ 1,2 milhão pelos quatro jogos do Brasil em casa pelas Eliminatórias da Copa do Mundo de 1994 e mais US$ 400 mil por dois amistosos internacionais contra Paraguai e México também disputados em casa. Um número recorde de cinco emissoras (Globo, Bandeirantes, SBT, Manchete e CNT/Gazeta) ratearam a importância e toparam em transmitir os jogos da Seleção Brasileira pelas Eliminatórias, mas quanto aos amistosos apenas Band e Globo aceitaram a proposta.
Voltando as competições nacionais, o sucesso das transmissões da Bandeirantes pelo Campeonato Brasileiro despertou o interesse da Globo e ofereceu uma proposta tentadora ao Clube dos 13: US$ 16 milhões por três anos de exclusividade sendo US$ 4 milhões para 1992, US$ 5 milhões para 1993 e US$ 7 milhões para 1994. Mas a Band tinha contrato em vigência desde 1990, renovou seu contrato em 1992 por US$ 2 milhões e reconsiderou sua exclusividade negociando um pool de transmissão com a Globo nos jogos dos finais-de-semana, aos sábados em sinal aberto e aos domingos, uma grande novidade: a transmissão via TV por assinatura através da emergente Globosat. Então, escolhia três jogos a serem levados ao ar simultaneamente e iam ao ar pelos canais Top Sports (que mais tarde seria rebatizado de SporTV), GNT e Multishow. Em 1993, as duas emissoras se tornaram sócias e chegaram a um acordo na aquisição dos direitos de transmissão do Brasileirão: dos US$ 3 milhões propostos pelo Clube dos 13, 70% do valor foi pago pela Globo e os outros 30% pela Band (cuja divisão era proporcional a audiência média de ambas). E em 1994, o valor pago foi de US$ 4 milhões, sem contar a entrada da TVA Esporte (que depois seria denominada ESPN Brasil) que assinou com a CBF um contrato de US$ 1,3 milhão pela transmissão do Campeonato Brasileiro de Futebol até 1998  (sendo US$ 250 mil por ano) com direito de renovação de contrato até 2001. Em cada temporada, o valor do montante era dividido por igual entre os clubes participantes e o televisionamento em sinal aberto só era permitido para os jogos do meio-de-semana (isolados da rodada) e os de sábado. A chegada do Plano Real deve ter facilitado o acesso de custos de aquisição pelos direitos de transmissão do futebol. No Campeonato Paulista de 1995, quatro emissoras pagaram R$ 4,5 milhões (em 1994, o valor foi de US$ 3 milhões): Bandeirantes e Globo desembolsaram em conjunto R$ 3,3 milhões pela transmissão em TV aberta, a ESPN Brasil pagou R$ 700 mil para executar sua primeira transmissão ao vivo de uma competição brasileira, antes ia pro ar só em VT, e o SporTV ofereceu R$ 500 mil. Ainda em 1995, a CBF oferecia R$ 100 mil para Bandeirantes, Globo e SBT poderem transmitir os amistosos internacionais da Seleção Brasileira em casa.
Já o Campeonato Brasileiro de 1995 foi atípico: Bandeirantes e Globo estavam dispostos a pagarem mais R$ 5 milhões pela renovação do contrato e firmar compromisso com os clubes, só que apareceu a Rede Record oferecendo R$ 12 milhões pela exclusividade e a exigência de mudanças no regulamento. O fato foi visto na época como tentativa de quebra de contrato por parte dos clubes e o "oligopólio da bola" Band/Globo se esforçaram ao máximo para dobrarem a oferta prevista por contrato e conseguiram desembolsar R$ 10,1 milhões, sendo R$ 7,4 milhões pagos pela Globo e R$ 2,7 milhões pela Band pela exibição em sinal aberto de 15 partidas aos sábados e 15 partidas no meio da semana. Somando habituais os R$ 250 mil prometidos da ESPN Brasil, os integrantes do Clube dos 13 receberam cerca de R$ 300 mil cada, enquanto que os outros participantes dividiram o valor restante. O campeonato começou em 19 de agosto, mas alguns dias depois, a imprensa lançou o seguinte burburinho: a Rede Globo quer trazer de volta o hábito de transmitir regularmente futebol aos domingos no estranho horário das 19 horas e isso só foi possível na quinta rodada da competição, em 3 de setembro, após duas semanas de negociações. Isso trouxe sensíveis alterações na programação dominical Global, como a suspensão do programa Os Trapalhões à tarde, o Domingão do Faustão indo ao ar antecipadamente e o Fantástico e a sessão Domingo Maior exibidos em horários avançados. A medida foi alvo de críticas já que a estratégia era vencer o Programa Silvio Santos do SBT na Grande São Paulo nessa faixa de horário. A Globo desembolsou mais R$ 7 milhões ao Clube dos 13 pela tal extravagância e foram divididos da seguinte forma: R$ 130 mil reais para cada time que tiver um jogo seu televisionado e mais uma cota fixa de R$ 140 mil para cada um dos 24 clubes participantes do Brasileirão. A Globo tinha carta-branca em escolher o local e o jogo que levaria ao ar inclusive para a cidade-sede da partida (de preferência em campo-neutro como Fortaleza, Ribeirão Preto, Uberaba, Brasília e Vitória) e o plano deu certo: as transmissões exclusivas nas noites de domingo atingiram índices líderes de cerca de 40 pontos de audiência em todo o Brasil e conseguiu derrotar o SBT na corrida ibopística. Só na fase de classificação seriam 14 jogos, mas acabou sendo 20 porque no segundo turno a emissora-líder decidiu regionalizar as transmissões e transferiu seis jogos para o horário noturno. Teve que gastar mais R$ 1,6 milhão pela brincadeira, valor este recusado pela Band para entrar nas transmissões de domingo à noite, para cobrir o valor total das cotas por jogo, avaliada em R$ 260 mil (valor este também oferecido para transmitir uma das semifinais no horário maluco, entre Santos e Fluminense e a decisão entre Santos e Botafogo). A Band só entrou nas transmissões das noites de domingo na última rodada do segundo turno com o jogo entre Santos e Guarani no Pacaembu, além da semifinal e final. Só que a Globo se deu bem nessa estratégia maluca e foi de longe a grande campeã, antes mesmo da conclusão da competição, cuja saúde financeira era traduzida nos R$ 8 milhões que cobrava por cada cota de patrocínio pelas transmissões de futebol durante toda a temporada de 1995, adquiridas por Coca-Cola, Kaiser, Grendene, General Motors e Itaú. Quinze dos 24 participantes foram os grandes privilegiados pelos televisionamentos e acumularam altas cifras: Atlético-MG, Corinthians e Santos tiveram cinco jogos transmitidos e embolsaram R$ 650 mil, seguidos de Botafogo, Flamengo, Fluminense e Palmeiras com quatro jogos e mais R$ 520 mil cada um, Internacional com três partidas recebendo R$ 390 mil, São Paulo e Vasco com dois jogos e faturando R$ 260 mil e Cruzeiro, Grêmio, Guarani, Paraná e Vitória com apenas um jogo transmitido recebendo R$ 130 mil.
Entre 1996 e 1997, o interesse pelo esporte na televisão cresceu assombrosamente. As modalidades passaram a ser mais valorizadas, integraram a grade fixa das emissoras e o valor dos direitos de transmissão inflacionaram de 400 a 500%. O Campeonato Paulista de Futebol de 1996 teve seus jogos transmitidos por um número recorde de seis emissoras (quatro abertas e duas pagas): Globo, Bandeirantes, Record, CNT/Gazeta (que exibiu apenas VTs e compactos dos jogos), ESPN Brasil e SporTV pagaram juntas a importância de R$ 12,1 milhões porque o SBT ofereceu uma proposta de R$ 7 milhões pela exclusividade e submeteram ao seguinte acordo com a federação paulista: as TVs abertas transmitiriam 30 jogos isolados da rodada às quintas e aos sábados e as TVs por assinatura mostrariam dois jogos por rodada às quartas e aos domingos. Quanto ao Campeonato Brasileiro de Futebol, eram para ser R$ 6 milhões pelos direitos de transmissão, mas o SBT ofereceu o montante de R$ 16 milhões pela exclusividade. Porém, para manter o compromisso com o Clube dos 13, a dupla Band/Globo pagaram R$ 15,3 milhões, enquanto que a TVA/ESPN Brasil manteve o acordo dos R$ 250 mil e isso ajudou os 24 clubes participantes a arrecadarem R$ 1,3 milhão cada um por toda a competição.
Se o Campeonato Paulista de 1997 custou R$ 13,5 milhões a cinco emissoras de TV (Globo, Bandeirantes, Record, ESPN Brasil e SporTV) pelos direitos de transmissão, o Campeonato Brasileiro teve seus lances mais dramáticos antes mesmo da bola rolar: o SBT ofereceu R$ 146,2 milhões pela exclusividade do Brasileirão até 1999 (R$ 45,6 milhões para 1997, R$ 48,3 milhões para 1998 e R$ 52,3 milhões para 1999), até em TV por assinatura, atendendo uma série de benefícios aos clubes. Eles não queriam jogar depois das 21 horas, não queriam a transmissão de um jogo realizado na mesma cidade em que é realizada e queriam que todos os jogos programados transmitidos. Então, foi planejado que as transmissões ocorressem nas quartas às 21 horas e nos sábados às 17 horas. Mas a principal exigência era a criação de um canal de TV por assinatura para que todos os clubes pudessem divulgar seus projetos, além de inaugurar o sistema pay-per-view no Brasil, cujos clubes teriam uma participação, além dos merchandisings e promoções do sistema 0900. O clube dos 13 se interessou pela proposta tentadora do SBT, mas isso seria visto como quebra de contrato vigente dos clubes pois havia uma cláusula prevendo que após o vencimento de contrato, em 1996, as redes Bandeirantes e Globo, que tinham o tão controverso "direito de preferência", podiam renová-lo cobrindo qualquer oferta da concorrência, desde que aceite as exigências das equipes. Então, mediante a proposta inicial de R$ 25 milhões anuais até 1999, as duas emissoras pagaram R$ 23 milhões pela transmissão de 1997 (transmitindo os jogos ao vivo todas as quartas e sábados à noite, às 21h45), mas a batalha pelos direitos de transmissão só estava começando. Faltando um mês para o início do campeonato, a operadora Globosat ofereceu ao Clube dos 13 R$ 6,7 milhões pela exclusividade da transmissão de dois jogos semanais e de quebra aceitou em desembolsar mais R$ 2,7 milhões por um pacote de jogos com um grupo de times medianos que não integravam a entidade, sendo batizada pela mídia de "clube dos 11". Ou seja, o Clube dos 13 vendeu algo que não lhe pertencia, cujo direito era da operadora TVA, porém, quando entrou na Justiça para valer os seus direitos, sofreu uma grande derrota: verificou-se que a negociação feita em outubro de 1993 não era reconhecida pelo Clube dos 13, alegando que o contrato havia sido feito individualmente com os clubes. Só que dias depois, aconteceu a reviravolta: o "clube dos 11" fechou contrato de R$ 2,7 milhões com a TVA/ESPN Brasil pelos direitos de transmissão dos seus jogos, que por sua vez concordou em reajustar os valores de seu contrato, que contava com uma cláusula inusitada: o time integrante do "clube dos 11" mandante de campo num determinado jogo podia proibir a entrada de uma equipe de TV (no caso do SporTV) com a qual não tinha contrato. Resultado: com os R$ 9,4 milhões gastos ao todo pelo SporTV pelo Campeonato Brasileiro de 1997, deu-se portanto o início do domínio absoluto das Organizações Globo nas transmissões de futebol da TV brasileira.
Para o Campeonato Brasileiro de 1998, Band e Globo elevaram as ofertas pela compra dos direitos de transmissão, pagando R$ 35 milhões e a Globosat/SporTV com mais R$ 20 milhões. E em 1999, as dupla Band/Globo gastaram cerca de R$ 40 milhões e o SporTV cerca de R$ 30 milhões, tudo para firmar compromisso com os clubes exigindo em contrato e isso se mantém até hoje com valores cada vez mais inflacionados e surpreendentemente superfaturados. Tudo estava "normal", até que em novembro de 2002, começaram a rotina das negociações pelos direitos de transmissão do Campeonato Paulista de 2003: a Globo, que tinha o "direito de preferência" a seu favor, teria recusado em pagar R$ 12 milhões, preço estipulado pela Federação Paulista de Futebol para a transmissão dos jogos, considerada alta demais. Com isso, o presidente da federação Eduardo José Farah surpreendeu a todos e negociou pessoalmente com o SBT a transmissão que por sua vez cobriu a oferta e fez alarde da exclusividade da competição colocando vários jogos em horários incomuns na TV aberta: 21 horas às quartas-feiras, 18 horas aos sábados e 11 da manhã aos domingos, só que mexeu num ninho de vespas cutucando onça com vara curta. A Globo ficou possuída de ciúmes e pra piorar a situação, sua correspondência chegou à federação paulista com uma semana de atraso quando havia expirado o "direito de preferência" 30 dias depois do SBT ter acertado a negociação e fez judicialmente de tudo para impedir a entrada da emissora de Silvio Santos, ignorando a decisão da entidade. Na rodada de abertura do Paulistão 2003, a Globo conseguiu transmitir Santo André e Santos ilegalmente, mesmo ameaçada a se retirar do estádio se continuasse transmitindo, e alguns dias depois conseguiu uma liminar expulsando o SBT e conquistando o direito de transmissão do campeonato. Foram seis reviravoltas judiciais na disputa dos direitos de transmissão da competição por Globo e SBT, ou seja, a guerra entre as duas emissoras ia além dos pontos de audiência. Uma semana depois, a Globo consegue uma liminar judicial garantindo total exclusividade da competição. A Rede Record aparece como "aliada" da emissora carioca na transmissão de alguns jogos que não seriam mostrados pela mesma (às 21 horas de quarta e às 18 horas de sábado). Só que cinco dias antes do jogo de abertura, o Tribunal de Justiça decidiu devolver a "exclusividade" ao SBT, desde que dividisse o sinal de transmissão dos jogos com a Globo, devido ao tal critério do "direito de preferência", detalhe esse que a Globo não reparou, somente em 15 de fevereiro quando o Tribunal de Justiça baixou o martelo definitivamente e homologou definitivamente a devolução dos direitos de transmissão ao SBT, a Record acaba desistindo das transmissões em 23 de fevereiro por causa da baixa audiência e a Globo continuou exibindo os jogos normalmente. Pra matar a curiosidade dos nosso amigos, a equipe do SBT durante os dois meses de Paulistão tinha o apresentador Elia Júnior, os narradores Dirceu Maravilha e Paulo Andrade, os comentários do ex-goleiro Zetti, do roqueiro Léo Jaime e da jornalista Mariah Moraes e os repórteres Elias Awad, Silvia Vinhas, Valmir Jorge e Eliane de Carvalho. E assim permaneceu até a conclusão da competição, cujo regulamento das finais era tão confuso e polêmico quanto a disputa pelos direitos de transmissão. Mas isso é uma outra história.

terça-feira, 8 de novembro de 2016

HISTÓRIA: Futebol na Telinha - 2ª Parte

Continuando a história sobre as transmissões de futebol na TV brasileira, nos anos 70, as transmissões internacionais se tornam mais comuns após a Copa do Mundo do México, mas os clubes e as federações passam a cobrar cifras cada vez mais altas as TVs para transmitir futebol direto, talvez dificultando o trabalho das emissoras temerosas numa queda de público, pois na época, repito, os clubes vivam da renda dos jogos. Se na década de 50, era um sacrifício transmitir futebol de uma cidade para outra, a partir da década de 70, bastava apenas subir o satélite e tudo pronto. Mas precisamos entender que tal avanço se deve com a incorporação do Brasil no Consórcio Intelsat de Comunicações por Satélite em 17 de maio de 1965, quando a Embratel estava dando seus primeiros passos. Mas em fevereiro de 1969 com a inauguração a Estação Terrena Rastreadora de Comunicações de Sinais Via Satélite do Brasil, a Tanguá I, no município de Itaboraí, a 30 quilômetros de Niterói, Guanabara, com antenas parabólicas receptoras de 30 centímetros de diâmetro e uma torre transmissora de 50 metros de altura, nosso país pôs em prática a transmissão direta de acontecimentos internacionais de 63 países através do consórcio com o satélite Intelsat III, obrigando as emissoras a possuírem um equalizador de imagens, instrumento importante para transmissões deste porte.
O sistema de troncos da Embratel  e o consórcio de comunicações por satélites com a Intelsat facilitou e muito o procedimento de transmissões internacionais. Depois da Copa do Mundo de 1970, o primeiro jogo internacional transmitido pela TV brasileira foi em 28 de julho de 1971, às 20h30, com o vulgarmente conhecido "superclássico" entre Brasil e Argentina direto de Buenos Aires, em partida válida pela Copa Roca, pelas TVs Tupi, Cultura e Gazeta. O fato permitiu experiência as emissoras a terem uma rotina de transmissões de jogos fora do Brasil. A Copa Libertadores da América era ideal para tal, mas demorou um certo tempo para que a televisão brasileira pudesse transmitir ao vivo um jogo de um time brasileiro em gramados estrangeiros. O primeiro jogo televisionado desse procedimento todo aconteceu às 21 horas de 4 de maio de 1972 com a partida entre Independiente e São Paulo direto de Buenos Aires pelas TVs Gazeta e Bandeirantes de São Paulo. Na época, o regulamento da Libertadores determinava que o mandante de campo comercializasse o jogo e sua transmissão, ficando com 80% da cota, enquanto o visitante detinha apenas 20% do que for ganho com os direitos e mais: as emissoras também tinham que gastar dinheiro com aluguel de material para transmissão, de cabine nas tribunas de imprensa e um canal de satélite. O valor da cota dos clubes variava conforme o tempo e ficava em torno de U$ 30 mil, enquanto que a despesa da transmissão custava cerca de U$ 50 mil. Só que o saudoso narrador esportivo Walter Abrahão garantia que a primeira transmissão direta de futebol realizado pela TV brasileira fora do nosso país teria acontecido na noite de 29 de novembro de 1969 como um teste para a Copa do Mundo do ano seguinte, executado pela TV Tupi. A partida foi entre Racing Club e Santos direto de Mar Del Plata, Argentina, pela extinta Recopa dos Campeões Intercontinentais, com vitória do time argentino por 2x1.
Voltando ao Brasil, a luta das emissoras em poder transmitir jogos daqui mesmo do Brasil continuava, mas no meio dos anos 70, uma série de tentativas e acordos foram colocados em prática para possibilitar o que chamavam na época de "futebol direto". As coisas pareciam mudar em 14 de dezembro de 1975 quando Internacional e Cruzeiro fizeram a final do Campeonato Brasileiro de Futebol daquele ano. As três redes de então (Globo, Tupi e REI) desembolsaram Cr$ 200 mil pelos direitos de transmissão (marcada para as 17 horas) e mostraram o jogo em um pool de imagens colocando um esquema inédito de cinco câmeras espalhadas por todo o Estádio do Beira-Rio. Como a procura de ingressos era enorme, a CBD autorizou a transmissão do jogo também para Porto Alegre.
Em 1976, a Federação Paulista de Futebol, para superar a crise de público nos estádios, fez um acordo com as emissoras Cultura, Gazeta, Record e Bandeirantes para que onze partidas do primeiro turno do Campeonato Paulista de Futebol daquele ano pudessem ser transmitidas pela televisão nas noites de domingo de 4 de abril à 4 de julho. Naquela época até hoje, é um absurdo colocar um jogo de futebol pra ser exibido ao vivo pela TV às 21 horas, horário programado pela federação. Para isso cada emissora tiveram que desembolsar a bagatela de Cr$ 130 mil por jogo para tornar possível algo que os dirigentes da época relutavam muito porque os clubes eram sustentados pela renda dos jogos e a TV fazia a renda do jogo cair. Por outro lado, cada clube recebia Cr$ 65 mil de cota fixa por jogo televisionado e a audiência acumulada das emissoras em cada jogo televisionado foi em torno de 20 a 30% (encostando em algumas vezes nos índices do "Fantástico" da Rede Globo), o equivalente a 4 milhões de "tele-torcedores", mas mesmo assim, os dirigentes implicavam com a cota devido a baixa renda do estádio, alegando receber mais de Cr$ 100 mil por partida e sem TV. Palmeiras e São Paulo foram os que mais lucraram, tiveram três jogos televisionados cada um e receberam a quantia de Cr$ 195 mil, Corinthians, Portuguesa e Comercial de Ribeirão Preto acumularam uma importância de Cr$ 130 mil só com os jogos pela TV, enquanto que outros 10 times (Santos, Juventus, São Bento, Ferroviária, Noroeste, Paulista de Jundiaí, Botafogo de Ribeirão Preto, América de Rio Preto, Marília e XV de Piracicaba) ganharam Cr$ 65 mil cada um com uma única partida transmitida.
Mas em 13 de junho, as TVs Record e Bandeirantes (sem contar a TV Tupi, que esteve fora do acordo) transmitiram à tarde a final da Taça Guanabara entre Vasco e Flamengo direto do Maracanã e infringiram uma cláusula contratual que proibia a exibição ao vivo de qualquer jogo de futebol de outra localidade realizado simultaneamente com os de São Paulo. Como pena, foram proibidas de exibirem o restante das partidas do pacote e não puderam receber imagens cedidas de outras emissoras de gols de outros jogos e nem mesmo exibir os vídeo-tapes de outras partidas do primeiro turno. Restaram as TVs Cultura e Gazeta para a transmissão dos três jogos restantes e até a Globo, também não-inclusa no acordo, estava autorizada por não infringir a regra, mas desde quando a Globo iria exibir futebol às 21 horas de domingo em pleno horário do "Fantástico"? Ainda em 1976, a então recém inaugurada TV Educativa do Rio de Janeiro, tinha uma moderna unidade de transmissão externa na qual gerava direto imagens de jogos de futebol direto do Estádio do Maracanã e oferecia as emissoras de outras cidades brasileiras e também às grandes redes um aluguel de Cr$ 1.500 por cada transmissão, que sempre ocorria às quartas, sábados e domingos.
Em outubro de 1977, o interesse das emissoras de TV pelo jogo que tiraria o Corinthians do jejum de quase 23 anos sem títulos contra a Ponte Preta era tanto que a Federação Paulista de Futebol convocou os representantes de todas as emissoras de São Paulo para estabelecer a seguinte tabela de preços: as finais do Campeonato Paulista daquele ano custariam Cr$ 12 milhões mais uma cota estabelecida de renda em Cr$ 4 milhões por jogo para que as emissoras pudessem cobrir a diferença caso tal valor não fosse alcançado com a venda de ingressos. Então, as TVs Globo e Tupi pagariam Cr$ 3 milhões, Bandeirantes e Record desembolsariam Cr$ 1,8 milhão e Cultura e Gazeta ficariam com Cr$ 1,2 milhão para poderem transmitir ao vivo a histórica decisão. O narrador Walter Abrahão, que também era diretor do Departamento de Esportes da TV Tupi, ficou descontente com a divisão desigual de valores proposto pela federação e sua emissora desistiu do contrato (pena que não foi levado em conta a participação proporcional em audiência das emissoras durante um certo período). A saída da Tupi na negociação levou as cinco emissoras restantes a racharem o valor que seria pago pela estação do Sumaré: Cr$ 600 mil para cada uma. A primeira das três parcelas tinha que ser depositada nove horas antes do primeiro jogo da final para que fosse exibida pela TV e isso quase desmotivou as emissoras. Como a Globo estava interessada em cobrir sozinha os valores e transmitir as finais com exclusividade, mas a Bandeirantes mantinha contato direto com a Federação Paulista as quatro emissoras se esforçaram ao máximo para não ficarem de fora das finais e ainda tiveram que cobrir cerca de Cr$ 1,3 milhão da renda do primeiro jogo (que foi de Cr$ 2,6 milhões) e cerca de Cr$ 700 mil da renda do terceiro jogo (que foi de Cr$ 3,3 milhões). A renda do segundo jogo ultrapassou os 4 milhões (precisamente Cr$ 4,2 milhões) e permitiu que as emissoras de TV não gastassem um centavo a mais. O custo total foi de Cr$ 15,9 milhões e o chato é que todo esse dinheiro não serviu de cotas para os finalistas, foi tudo para os cofres da federação.
Em 15 de novembro de 1977, o clássico carioca entre Flamengo e Fluminense, direto do Maracanã, válido pelo Campeonato Brasileiro daquele ano, quase foi transmitido pela Rede Globo, apesar da autorização dos dirigentes dos dois clubes (principalmente do Flamengo que queria comemorar o aniversário do clube com o televisionamento da partida). O motivo foi uma liminar da Justiça concedida pelo juiz da 7ª Vara Cível Mauro Junqueira e obtida pelo superintendente da Suderj Jovino Pavan proibindo não apenas o televisionamento para todo o país, menos para Rio e São Paulo, mas também a gravação do vídeo-tape do jogo pela TVE, no qual o tricolor venceu o jogo por 2x1 pondo água no chope na festa dos 82 anos do rubro-negro. O jogo só seria transmitido na seguinte condição: se o juiz fizesse uma autorização por escrito e o presidente do Flamengo, por sua vez, emitisse uma nota oficial permitindo a entrada das emissoras de TV para mostrar o jogo e que fosse publicada por todas elas.
O Paulistão de 1978 foi um dos mais tumultuados de todos os tempos e teve que ser decidido no ano seguinte. São Paulo e Santos foram os times que sobreviveram a competição e decidiram o título. Como os dois primeiros jogos não puderam ser transmitidos ao vivo, a terceira e decisiva partida despertou o interesse das redes Globo, Bandeirantes e Record e a Federação Paulista estabeleceu que as três emissoras tinham que completar a renda de Cr$ 8 milhões se todos os ingressos não fossem vendidos. A renda do terceiro jogo foi de cerca de Cr$ 5,5 milhões e as emissoras de TV tiveram que rachar o valor total de cerca de Cr$ 2,4 milhões para completar a cota da bilheteria. A TV Gazeta foi responsável pela geração de imagens do jogo e foi a única que fez o VT completo do jogo, exibido de madrugada.
As finais do Campeonato Paulista de 1979, também realizadas no ano seguinte era uma "reprise" de 77, tanto nos adversários quanto nos gastos. A federação solicitou às redes Globo, Bandeirantes e Record a completarem uma cota de Cr$ 12 milhões de renda por cada jogo, mas as emissoras propuseram pagar uma cota fixa de Cr$ 2,5 milhões, só que Ponte Preta e Corinthians não se interessaram, com medo de uma queda na renda (se os representantes das TVs fossem mais espertos, poderiam ter aumentado a cota para Cr$ 3 milhões por jogo). Os dois primeiros jogos foram transmitidos pela TV: na primeira partida a renda foi cerca de Cr$ 9,5 milhões e as emissoras completaram Cr$ 2,5 milhões e na segunda partida, a renda foi cerca de Cr$ 8,7 milhões e as TVs tinham que completar com cerca de Cr$ 3,2 milhões. Para o terceiro jogo, não houve acordo entre as emissoras e os clubes e pior, não concordaram em pagar uma compensação financeira para gravar o jogo na íntegra. A exibição de vídeo-tapes não era paga, só que houve desinteresse pelas emissoras pelo fato de ser aberto um precedente com a cobrança do VT. A TV Cultura era era a única emissora autorizada a enviar sua unidade externa no Estádio do Morumbi, gravar o jogo na íntegra e disponibilizar cópias as demais emissoras autorizadas, mas se desinteressou devido a obrigatoriedade do acordo financeiro com os dois clubes proposto pela federação que diante do fato, proibiu as emissoras de enviarem suas unidades de transmissão externa ao estádio. A venda antecipada de ingressos estava muito fraca e completar a cota de 12 milhões representaria um risco muito grande para as emissoras. Pra decepção dos torcedores que não foram ao estádio, não foi divulgado comunicado algum sobre a ausência da televisão na transmissão da final, acreditando que os clubes e a federação voltariam a atrás e tomaria uma decisão de última hora autorizando a transmissão pela TV. A alternativa encontrada para Globo, Bandeirantes e Record foi documentá-la com uma câmera portátil de reportagem e, segundo determinação da Federação Paulista de Futebol, exibir um compacto de apenas 3 minutos da decisão. O tal acordo feito nos jogos anteriores seria mantido e as duas emissoras teriam que pagar cerca de Cr$ 3 milhões, já que a renda do jogo que deu mais um título paulista ao Corinthians foi de quase Cr$ 9 milhões.
Em 1980, São Paulo e Santos decidiram o título paulista, mas não houve acordo entre eles e as emissoras de televisão pra frustração de quem não foi ao estádio. Por causa disso, a Federação Paulista estabeleceu uma tabela de multas para quem infringir as regras: Cr$ 5 milhões para quem por o VT do jogo antes do horário pré-determinado (às 22 horas nos finais de semana e às 23h30 no meio de semana), Cr$ 10 milhões pra quem transmitir o jogo ao vivo para o interior paulista e outros estados brasileiros e Cr$ 25 milhões para quem transmitir para a capital e litoral paulista. O primeiro jogo, realizado numa tarde de domingo, teve a exorbitante renda de cerca de Cr$ 13,4 milhões e o segundo jogo, numa noite de quarta-feira, a renda foi de Cr$ 8,9 milhões. As TVs Cultura, Gazeta, Record e Bandeirantes foram as únicas que exibiram as finais em VT .
Em 1981 foi um passo decisivo para o entendimento entre dirigentes e diretores de televisão. O Campeonato Paulista daquele ano foi importante na harmonização de relacionamento até então divergente entre as duas classes. O televisionamento só foi liberado a partir da fase final do primeiro turno, o chamado "Octogonal". O acordo previa que os grandes clubes jogariam no interior nos finais de semana e na capital no meio da semana com o objetivo de arrecadar melhores rendas e consequentemente para autorizar a transmissão dos jogos fora da cidade em que está sendo sediado. Cada cota foi estabelecida em Cr$ 1,5 milhão sendo dividido entre as equipes por cada jogo e a Rede Globo foi a que transmitiu a maioria das partidas, nas tardes de sábado (16 horas) e nas manhãs de domingo (11 horas), enquanto que a TV Record ficava com as noites de sábado (21 horas e depois autorizada a dividir alguns jogos das tardes de sábado com a Globo no segundo turno). Nessa fase foram apenas sete jogos transmitidos, mas no segundo turno foram 22 televisionamentos, sendo que a TV só foi autorizada a partir da oitava rodada. Temos que lembrar que em 1981 a Globo resolveu investir firme na cobertura esportiva, adotando como slogan "81, o ano do esporte na Globo", e por essa razão, dois jogos do Campeonato Paulista enfrentou a concorrência das corridas de Fórmula 1: na manhã de 13 de setembro, devido a transmissão do Grande Prêmio da Itália, apenas o segundo tempo de Taubaté e São Paulo foi exibido; e em 17 de outubro, fez com que Botafogo de Ribeirão Preto e Corinthians entrassem em campo uma hora mais cedo por causa do Grande Prêmio dos Estados Unidos, a corrida decisiva que deu o título mundial ao piloto brasileiro Nelson Piquet.
Na fase final do segundo turno, aumenta o interesse das emissoras pelo Paulistão e a federação aumenta o valor das cotas por jogo: Cr$ 2 milhões a serem divididos para cada clube e mais Cr$ 400 mil a ser dividido entre todos os jogadores que estiverem em campo (o chamado direito de arena). Juntamente com a Globo (que contava com Luciano do Valle, Carlos Valladares, Juarez Soares e Roberto Cabrini), entram no pool de emissoras a Record (que tinha Silvio Luís, Luiz Alfredo, Pedro Luís, Milton Peruzzi, Flávio Prado e Eli Coimbra) e a Bandeirantes (que resolveu inventar o apresentador Nei Costa na função de locutor esportivo na tentativa de concorrer com Silvio Luiz da Record, deslocando o narrador titular Fernando Solera para outras modalidades). Até o recém-inaugurado SBT se interessou pela transmissão, mas propôs a federação em transmitir os jogos nas noites de sábado (21 horas) e nas manhãs de domingo (10h30) com exclusividade, mas por falta de patrocinador a ideia foi abandonada. Foi o que aconteceu em 24 de outubro com o jogo entre Guarani e XV de Jaú, que teve de ser adiado para o dia seguinte e a transmissão cancelada, deixando os dois clubes sem receber cota alguma. Teve que lançar mão de um procedimento muito comum nas emissoras da época: fazer o vídeo-tape dos jogos da capital todo domingo no encerramento da programação (a equipe era formada por Walter Abrahão, Sérgio Backlanos e Édson Bolinha Curi). Na última rodada do "Octogonal" do segundo turno, a Globo ofereceu Cr$ 5 milhões, incluindo o direito de arena, para transmitir o clássico entre Corinthians e São Paulo às 11 da manhã de domingo, mas a federação queria Cr$ 6 milhões e não houve acordo. Porém, por um erro de organização, a transmissão pela TV da última rodada deveria ter sido liberada, pois o "grupo branco" já estava definido: o São Paulo classificado e o Corinthians eliminado. Outro erro: na penúltima rodada, como liberaram a transmissão direta no meio da semana, dava muito bem pra federação atender a tal exigência do SBT e liberar uma transmissão exclusiva a emissora com o jogo entre XV de Jaú e São Paulo, enquanto que no dia seguinte a importante partida entre Ponte Preta e Santos seria exibida para Bandeirantes e Record, além de programar Palmeiras e São José num horário que não comprometesse a transmissão direta para a capital paulista.
Por fim, São Paulo e Ponte Preta, campeões em cada turno, decidiram o título paulista diante uma enorme platéia via televisão e isso não acontecia desde a final de 1978. Se o primeiro jogo só pôde ir ao ar em VT (sob incumbência das TVs Cultura e Gazeta), o segundo e decisivo jogo foi televisionado para todo o Brasil e inclusive para a capital paulista. A Rede Globo ofereceu Cr$ 15 milhões e conseguiu que os presidentes dos dois clubes (Jaime Franco do São Paulo e Edson Aggio da Ponte Preta) chegassem a um acordo, concordando com todas as exigências estabelecidas por ambos: Cr$ 7,5 milhões para cada equipe sendo Cr$ 2,5 milhões pelo direito de arena. A exclusividade Global pela transmissão do jogo foi consequencial e usou a final do Campeonato Paulista para "unir" a transmissão de outros dois jogos naquela mesma tarde de 29 de novembro de 1981: Tchecoslováquia e União Soviética pelas Eliminatórias da Copa do Mundo e um amistoso entre Corinthians e Deportivo Aurora da Guatemala, motivando uma chamada promocional veiculada no dia do jogo. As outras emissoras não ficaram de fora e exibiram o VT completo daquela decisão como faziam de costume: Cultura, Gazeta, Record e SBT. A Bandeirantes poderia também ter transmitido a final se empurrasse o Programa do Chacrinha uma hora mais tarde, mas manteve sua programação normal. A Ponte Preta foi o time que mais vezes apareceu com nove jogos transmitidos, seguido pelo São Paulo com oito, Guarani e Santos com sete, Corinthians com cinco, Palmeiras e São José com quatro, Botafogo de Ribeirão Preto com três, XV de Jaú e América de Rio Preto com dois e outros sete clubes (Portuguesa, Noroeste, Inter de Limeira, Taubaté, Francana, São Bento e Comercial) com apenas uma partida televisionada.
Nas transmissões dos jogos dos dois turnos do Campeonato Paulista de 1982, as TVs Record e Bandeirantes tinham que desembolsar Cr$ 3,6 milhões por jogo, sendo Cr$ 1,5 milhão para cada clube e mais Cr$ 600 mil como direito de arena a ser dividido entre os jogadores que entrarem em campo. E como as finais entre os campeões dos dois turnos Corinthians e São Paulo teriam casa cheia (no tempo em que o Morumbi tinha capacidade acima de 100 mil lugares), os dirigentes dos dois clubes e a Federação Paulista entraram em acordo e sem maiores dificuldades permitiram a transmissão dos dois jogos decisivos pelas redes Globo, Bandeirantes e Record para todo o Brasil inclusive para a capital paulista. A decisão custou Cr$ 60 milhões às emissoras de televisão e o custo foi dividido da seguinte maneira: cada time finalista recebeu a bagatela de Cr$ 24 milhões e todos os jogadores de ambas as equipes tinham que dividir o direito de arena de Cr$ 12 milhões.
Em janeiro de 1983, a Rede Globo investe Cr$ 1,5 bilhão num acordo de exclusividade com a CBF para a transmissão de partidas de 22 importantes clubes brasileiros no Campeonato Brasileiro de Futebol ao vivo às quartas e aos domingos, priorizando os jogos fora de casa por causa das normas restritivas (ainda existentes na época) que impediam a exibição direta para as localidades de onde estão acontecendo as partidas, caso houvessem mais jogos no mesmo horário. Os outros 22 participantes precisavam apenas autorizar as transmissões pela TV caso suas partidas tornem-se importantes no decorrer do campeonato.
Em 1984, com a mudança no regulamento da competição (sistema de pontos corridos em turno e returno), o interesse da televisão pelo Paulistão foi maior e a Federação Paulista instituiu uma novidade na aquisição dos direitos de transmissão: ofereceu um pacote de 22 partidas, sendo um por semana a ser transmitido ao vivo aos sábados à tarde de uma cidade do interior para a capital, por Cr$ 800 milhões. Esse montante foi dividido pela primeira vez em três cotas fixas por toda a competição e não mais por jogo, novidade na época: Cr$ 92 milhões foram oferecidos para São Paulo, Palmeiras, Corinthians, Santos e Portuguesa (que reivindicou sua entrada no grupo dos "grandes" pouco antes da negociação), Cr$ 40 milhões para Ponte Preta e Guarani e Cr$ 20 milhões para os 13 times restantes. O assessor da Federação Paulista Armando Ferrentini foi quem negociou o contrato às quatro emissoras: Bandeirantes, Globo, Record e SBT, onde cada uma pagou Cr$ 200 milhões. As transmissões só foram autorizadas a partir da segunda rodada, mas por causa das Olimpíadas de Los Angeles, a televisão passou a concentrar suas atenções no Paulistão da oitava rodada adiante, com a entrada do SBT (que começava a se enveredar pra valer na cobertura esportiva), cujas transmissões se diferenciava do pool gerador de imagens de Globo, Bandeirantes e Record (que utilizavam três câmeras em conjunto) com o uso de quatro câmeras próprias (duas na cabine de transmissão e duas móveis captando os detalhes dentro de campo) e por abrir as transmissões ao vivo meia-hora antes com um pré-jogo e encerrá-las meia-hora depois com uma mesa-redonda sobre a partida com a presença de convidados especiais. As chamadas da emissora na época anunciavam "um futebol dinâmico e diferente" e as transmissões eram intituladas com o pomposo nome de "Show Mágico do Futebol".
Durante todo o campeonato, o Corinthians teve mais jogos transmitidos com sete, seguido de Santos e São Paulo com seis, Palmeiras com cinco, América de Rio Preto e XV de Jaú com três, Marília, Comercial, Guarani, Santo André e XV de Piracicaba com dois e outros sete times (São Bento, Portuguesa, Taquaritinga, Taubaté, Botafogo de Ribeirão Preto, Ferroviária e Ponte Preta) com apenas um jogo televisionado. Na última rodada foi aberta uma exceção quando foi permitida a transmissão direta de um jogo realizado na capital para cumprir tabela, isso na véspera do jogo decisivo quando as quatro redes ofereceram Cr$ 120 milhões acumulados na venda de cotas de publicidade (Cr$ 50 milhões da Globo, Cr$ 45 milhões da Band, Cr$ 20 milhões do SBT e Cr$ 5 milhões da Record) para Santos e Corinthians dividirem, que disputavam o topo da tabela, para a transmissão ao vivo da "final", desde que também complementem a renda do total jogo caso todos os ingressos não forem vendidos, segundo cláusula contratual da Federação Paulista de Futebol. A renda do jogo foi de Cr$ 419.323.500 e para cobrir o valor total de Cr$ 438.195.000, as quatro redes tiveram que rachar Cr$ 18.871.500. O pool contou com duas câmeras da TV Gazeta de São Paulo que fez a imagem-base para Globo e Record, já que Band e SBT optaram em exibir o jogo com suas próprias câmeras.
A Rede Bandeirantes teve o maior arsenal para a transmissão do jogo: 220 profissionais, 12 câmeras espalhadas pelo estádio e mais a do helicóptero, uma equipe de nove repórteres na Região do Morumbi com Gilson Ribeiro, Eduardo Savóia, Elia Júnior e Roberto Cabrini, narração de Luciano do Valle, comentários de Juarez Soares e foi montado um telão num estúdio com a participação de convidados e ex-jogadores famosos como Clodoaldo, Rivellino e Casagrande, além do cantor Fagner e o ator Raul Cortez. A Rede Globo mobilizou 100 profissionais, seis câmeras se unindo a imagem-base gerada pela TV Gazeta, narração de Luiz Alfredo, reportagens de Roberto Thomé e Mário Jorge Guimarães e o intervalo de jogo teve o comando de Oliveira Andrade.
O SBT levou ao Morumbi 50 profissionais e 6 câmeras próprias, narração de Octávio Pimentel (o "Caboclão" que ficaria famoso pelos programas de música sertaneja na Rádio Tupi), comentários de Juca Kfouri (então diretor de redação da revista Placar) e reportagens de Jorge Kajuru, que era a grande estrela das transmissões e tinha o costume de presentar com uma cartela de salsicha ao melhor jogador em campo, mas no jogo-final premiou o melhor em campo com Cr$ 1 milhão em dinheiro vivo. No estúdio da Vila Guilherme, o jornalista João Zanforlin comandou um pré-jogo com os lances dos dois times durante todo o campeonato e o intervalo de jogo com os melhores lances do primeiro tempo. Após a partida, Kfouri comandou uma rápida mesa-redonda analisando a partida com os treinadores Carlos Castilho (Santos) e Jair Picerni (Corinthians). E a TV Record detinha a menor equipe no estádio, apenas 13 profissionais, sem contar com uma equipe de apoio de 16 pessoas no estúdio da emissora, três câmeras móveis se unindo com a imagem-base da TV Gazeta, narração de Silvio Luiz, comentários de Ciro José e reportagens de Flávio Prado e Eli Coimbra. No estúdio do Aeroporto, o também narrador Fernando Solera marcava o tempo da bola em jogo e o veterano José Luís Meneghatti apresentava os melhores lances da partida no intervalo de jogo. A partida rendeu uma audiência de 60 pontos acumulados das quatro emissoras segundo o IBOPE de São Paulo: 26 pontos da Globo, 13 da Bandeirantes, 13 da Record e apenas oito do SBT.
Para o Campeonato Paulista de 1985, as redes Bandeirantes, Globo, Record e SBT apostaram numa cobertura total e ofereceram à Federação Paulista de Futebol um contrato conjunto de Cr$ 2,7 bilhões pela transmissão ao vivo de 41 jogos dos dois turnos (nas tardes de sábado e nas manhãs de domingo). A exemplo do ano anterior, o montante seria dividido em três cotas: Cr$ 335 milhões para os clubes "grandes" (Corinthians, Palmeiras, São Paulo e Santos), Cr$ 220 milhões para o grupo dos times "intermediários" (Portuguesa, Guarani e Ponte Preta) e Cr$ 150 milhões para as outras 13 equipes participantes, sem contar mais Cr$ 100 milhões pela semifinal e Cr$ 300 milhões pela final (estes dois valores seriam divididos entre as equipes). O então presidente da Portuguesa, Oswaldo Teixeira Duarte, ficou descontente com as cotas de TV ao ver a sua Lusa colocada no grupo dos intermediários e reivindicava que seu clube fosse colocado no grupo dos "grandes", como havia acontecido um ano antes. Ele se negou em assinar o contrato com as emissoras e as proibiu de transmitir os VTs dos jogos da Portuguesa em prazo inferior a 72 horas (três dias) do final da partida, sujeitas a multa. Foi o que aconteceu com a Bandeirantes que foi multada em Cr$ 40 milhões por exibir um VT entre Santos e Portuguesa em 22 de setembro antes dos três dias exigidos. Ao todo, São Paulo e Palmeiras foram os recordistas de jogo exibidos pela TV com 10 cada um, Corinthians e Santos tiveram nove, seguidos de Guarani e Botafogo de Ribeirão Preto com cinco, Ponte Preta, América de Rio Preto, Comercial e XV de Jaú com quatro, Marília, Paulista de Jundiaí, Noroeste, Santo André e Ferroviária com três, São Bento e Inter de Limeira com dois e XV de Piracicaba e Juventus com apenas um.
Só que a Portuguesa tornou-se sensação da competição e foi decidir o título contra o São Paulo. O primeiro jogo não despertou interesse pois aconteceu no mesmo dia do sorteio dos grupos para a Copa do Mundo de 1986, mas a segunda partida em 22 de dezembro seria assunto nacional, só que o presidente da Portuguesa exigia o pagamento de Cr$ 485 milhões para a transmissão da decisão (Cr$ 150 milhões pela cota da partida e mais Cr$ 335 milhões pelo que teria deixado de receber durante toda a competição). As quatro emissoras concordaram em pagar uma compensação de valor que a Lusa deixou de receber durante todo o campeonato, só que a burocracia financeira só estava começando. O São Paulo queria a bagatela de Cr$ 400 milhões pelo jogo final (os Cr$ 150 milhões pela cota de transmissão e mais Cr$ 250 milhões pela liberação do sinal do jogo para todo o Brasil, dos quais Cr$ 150 milhões seriam pela presença em campo do jogador Falcão e Cr$ 100 milhões pelo direito de arena), exigia a presença da televisão ao vivo e ameaçou a entrar na Justiça e mover uma ação contra a Lusa por "perdas e danos". A proposta tricolor foi aceita pela Globo e propôs em transmitir a final também para a Europa através da Telemontecarlo, do Principado de Mônaco, de quebra ofereceu à Portuguesa Cr$ 15 milhões para liberar a imagem da final à emissora européia. Só que os dois clubes exigiram um valor total de Cr$ 885 milhões para transmissão ao vivo do jogo decisivo, até mesmo pela liberação do vídeo-tape do jogo, e se mostraram intransigentes com as negociações sem efeito das quatro emissoras de TV, que tentaram num último esforço oferecer Cr$ 360 milhões para a Lusa (Cr$ 150 milhões da cota e mais Cr$ 210 milhões de compensação pelo que deixou de receber durante todo o campeonato) e Cr$ 150 milhões para o São Paulo (apenas o valor da cota do jogo), mas a Portuguesa foi irredutível. Uma última proposta foi feita pela televisão como tentativa final de completar os Cr$ 335 milhões que a Portuguesa estava exigindo: mais Cr$ 125 milhões em forma de espaço de publicidade para serem utilizados como bem entendesse para completar o valor. Negócio negado. O segundo jogo começou com 18 minutos de atraso porque as emissoras tentaram oferecer os Cr$ 485 milhões que o presidente da Lusa estava exigindo, mas sem sucesso, ele recusou a oferta de última hora. A expectativa de liberação do sinal do jogo pela televisão em decisão de última hora acabou frustrando os telespectadores, porém, as emissoras eram autorizadas a emitirem apenas três minutos de imagens do jogo como material jornalistico. Em conseqüência, os jogadores da Portuguesa deixaram de dividir entre si Cr$ 50 milhões de direito de arena, enquanto que os jogadores do São Paulo receberiam Cr$ 150 milhões de bicho (no segundo jogo, o São Paulo deixou de ganhar Cr$ 80 milhões e a Lusa, Cr$ 96 milhões).
Por 30 anos, as regras restritivas da CBF assombraram os interesses da TV brasileira pelo futebol. Até o fim dos anos 80, era estritamente proibido o televisionamento de futebol na cidade onde ocorria uma outra partida no mesmo horário e isso durou até 1987. Fique sabendo os motivos que levaram a TV brasileira a essa tal conquista na próxima postagem. Continuem atentos!

terça-feira, 1 de novembro de 2016

HISTÓRIA: Futebol na Telinha - 1ª Parte

Os aficionados pelo esporte, sobretudo futebol, e que não são poucos nas redes sociais, sempre tem essa curiosidade de saber a saga da televisão brasileira pelas transmissões de jogos de futebol aqui mesmo no Brasil. É uma história que não deixa de ser interessante, mas que faz parte da cultura da TV brasileira, até porque o esporte mais popular do Brasil é o futebol.
Pois bem, desde que a televisão chegou ao Brasil na década de 50, o futebol já era visto como a grande atração do novo veículo, até então apreciado pelas classes altas. Foi uma pena o Sr. Assis Chateaubriandt não ter aproveitado a Copa do Mundo de 1950, sediada no Brasil, para fazer os testes para a inauguração da TV Tupi, mas quase um mês após a inauguração oficial da TV no Brasil, precisamente em 15 de outubro daquele ano, acontece a primeira transmissão de um jogo de futebol na história da TV brasileira. O jogo foi entre São Paulo e Palmeiras no Estádio Municipal do Pacaembu, que contava com a saudosa Concha Acústica, pelo Campeonato Paulista de Futebol. Foi também a primeira transmissão externa da história, mas como não possuía um caminhão de transmissão externa, a TV Tupi de São Paulo resolveu tirar suas três únicas câmeras dos seus estúdios no bairro do Sumaré e colocá-las no estádio, mas devido a problemas técnicos, a partida iniciada às 15 horas não foi transmitida por completo, apenas o segundo tempo foi mostrado. Sorte que o jogo ainda estava 0x0 no intervalo e naquele clássico, o alviverde venceu o tricolor por 2x0. O jogador Brandãozinho entrou pra história por ser o primeiro a marcar um gol diante de uma câmera de televisão, ou melhor, dois gols naquela tarde, aos 27 e aos 42 minutos do segundo tempo. A partida teve a narração de Wilson Brasil e os comentários de Ary Silva (não havia ainda a figura do repórter de campo, somente no rádio).
Uma semana depois, em 22 de outubro, a televisão, enfim, pôde exibir ao vivo uma partida completa de futebol, no qual o Corinthians bate o extinto Ypiranga por 4x3 e rapidamente as transmissões diretas de futebol aos domingos obtêm grande sucesso por parte do público masculino e seu primeiro patrocínio foi da Cervejaria Antarctica. Só que após as transmissões, a TV Tupi permanecia fora do ar por uma hora (entre 17 e 18 horas) para que as câmeras voltassem aos estúdios e a transmissão dos programas retornarem normalmente com um filme de longa-metragem legendado, alugado em consulados estrangeiros, servindo de preparação para os teleteatros que viriam a seguir. Os jogos de domingo dos anos 50 eram apresentados pelo narrador Jorge Amaral, pelo comentarista Ary Silva e mais tarde pelo repórter de campo Augusto Machado de Campos. O Rio de Janeiro esperaria três meses para poder assistir o seu primeiro jogo de futebol e direto do Estádio do Maracanã, embora ainda fosse uma transmissão experimental da TV Tupi do Rio de Janeiro, que seria inaugurada dois dias depois. Foi em 18 de janeiro de 1951 num amistoso interclubes envolvendo Flamengo e Atlético-MG com a narração de Antonio Maria. O jogo terminou empatado em 3x3.
Na metade dos anos 50, as emissoras paulistas trataram de montar grandes equipes esportivas para a transmissão dos jogos na intensão de levar a emoção dos estádios no "conforto dos lares". Então, a TV Paulista canal 5 contava com o narrador Moacir Pacheco Torres, os comentaristas José Iazzeti e o ex-jogador Leônidas da Silva e o jovem Silvio Luiz, o primeiro repórter de campo da TV brasileira. Com a chegada da TV Record, Silvio e Leônidas mudaram de emissora e se juntaram com o narrador Raul Tabajara e os comentaristas Flávio Iazzeti e Paulo Planet Buarque para compor a grande equipe esportiva que o antigo canal 7 estava montando. Com tantos jogos transmitidos todos os domingos, os clubes e as federações ficavam preocupados com o fato de que a televisão estaria tirando o público dos estádio e, pior, temiam queda na renda dos jogos (até porque os clubes na época vivam disso). Pensando nisso, a TV resolveu levar o futebol fora da capital paulista e em 18 de dezembro de 1955, a TV Tupi realiza a primeira transmissão intermunicipal da TV brasileira com o jogo entre Santos e Palmeiras direto da Vila Belmiro, enviando imagens de Santos à São Paulo a uma distância de 70 quilômetros. O alvinegro praiano venceu a partida válida pelo Campeonato Paulista de Futebol por 3x1. Quatro meses depois, em 11 de abril de 1956, a TV Record entrou na briga e conseguiu realizar uma transmissão de Campinas para São Paulo à 100 quilômetros de distância com o jogo amistoso entre Ponte Preta e Internacional de Limeira direto do Estádio Moisés Lucarelli com vitória da macaca por 2x0. A competição era a mais saudável possível, o contrário dos dias de hoje, entre as duas emissoras, cujo desempate foi uma transmissão do Rio para São Paulo ocorrida em 26 de maio de 1956 pela TV Record enviando imagens da Praia de Copacabana com o repórter Silvio Luiz colhendo depoimentos de populares. Com esse feito surge o slogan: "Record, 500 km na frente". Logo, a TV Tupi fez o contrário, transmitiu de São Paulo para o Rio em 11 de junho um discurso do Governador de São Paulo Jânio Quadros. O placar indicava um novo empate entre as duas emissoras, cujo desempate aconteceria em 1º de julho com a realização da primeira partida de futebol ao vivo interestadual do Brasil com a exibição de Brasil e Itália no Estádio do Maracanã do Rio para São Paulo. Como não existiam links suficientes, cinco técnicos constroem três antenas, instaladas no Vale do Paraíba, na Serra do Mar e no Pico do Itatiaia, utilizando telas de galinheiro para os corpos das antenas. A operação demorou 15 dias para ser concretizada e contou ainda com a ajuda de duas mulas para o transporte de carga. Problemas técnicos impediram a TV Tupi de levar a imagem direta do Maracanã para São Paulo, feito esse obtido com êxito pela TV Record, retransmitindo as imagens da equipe da TV Rio, que era do mesmo conglomerado. Com a narração de Luiz Mendes e Léo Batista, a Seleção vence o jogo por 2x0.
Chegamos aos anos 60 e a competição pela audiência nas transmissões de futebol chegava a um ponto decisivo. No Rio, você podia assistir a um jogo domingo à tarde na TV Tupi com Rui Viotti, na TV Rio com Luiz Mendes ou na TV Continental com Carlos Marcondes. Só que a televisão carioca sofreu um grande revés: em 1962, a ADEG (Associação Desportiva do estado da Guanabara) proibiu as transmissões diretas de futebol direto do Maracanã, justamente pelo temor de queda de público e de renda, e passa a cobrar pelos direitos de transmissão (Cr$ 600 mil por cada jogo semanal). A saída para essas emissoras são os VTs exibidos à noite, encerrando a programação, porém sujeitos a pagarem o direito de arena, que era o direito dos clubes a proibirem a exibição do evento caso seus jogadores não fossem devidamente remunerados. Pra isso, as emissoras precisavam de patrocínio para custear não só as despesas técnicas, mas para garantir o montante destinado ao uso de imagem dos jogadores. Nesse caso, a "reportagem esportiva" da TV Rio contava com o patrocínio da Ducal e a da TV Continental era patrocinada pela Esso.
Enquanto isso em São Paulo, as opções eram a TV Paulista com Luís Guimarães, a TV Record com Raul Tabajara e a TV Tupi que contava com uma grande equipe liderada por Walter Abrahão, sem contar a TV Excelsior que estava ainda engatinhando. Bem, a competição era mesmo entre as TVs Tupi e Record e ambas tinham suas grandes diferenças, porém a única coisa em comum é que suas equipes técnicas instalavam seus caminhões de externa nos locais das partidas quatro horas antes de começarem e podiam entrar no ar 20 minutos antes do apito inicial. A Tupi era uma emissora mais tradicional e bem conservadora cuja especialidade era a dramaturgia (conquistando um público maduro), enquanto que a Record chegou cheia de inovações, seguindo uma linha diferenciada de programação com musicais e muito esporte (cujo público-alvo era a família, não importando a faixa etária). A jornada esportiva da Tupi (exibida em cadeia com a TV Cultura, que na época era uma emissora também integrante dos Diários Associados) contava com o patrocínio da Goodyear e seu forte era a informação, quanto mais gente mais o evento ganhava a dimensão de fato jornalístico. Sua equipe era tão grande que a levou a dividir em dois grupos com três elementos cada um com narrador, comentarista e repórter de campo. Então a chamada "equipe titular" tinha Walter Abrahão, Ary Silva e Gerdi Gomes e a "equipe estepe" contava com Ávila Machado, Roberto Pétri e Walter Silva. Para dar suporte e apoio a equipe de transmissão, havia um apresentador que fazia o que chamam no rádio de "plantão esportivo", dando as informações dos resultados de outros jogos disputados em outros lugares, representado por Lucas Netto. Enquanto isso, a tarde esportiva da Record tinha muitos patrocinadores como a Cerveja Caracu, Pneus Firestone e Modas Exposição e buscava ousar nas transmissões futebol como a colocação de uma câmera atrás do gol e de uma outra câmera no gramado, exatamente na linha do meio-de-campo, até porque o futebol era feito com apenas duas câmeras e olhe lá. Outra grande inovação se deu com a chegada do vídeo-tape ao Brasil no início dos anos 60: nos intervalos de jogo era exibido a "reprise dos principais lances", o que mais tarde foi chamado de "melhores momentos" apresentados por Ernesto de Oliveira direto dos estúdios da emissora (antes, os intervalos das partidas eram preenchidos por um verdadeiro parlatório de comentários, recurso muito utilizado pela TV Tupi). E quando o jogo acabava, ou eram exibidos os principais lances do segundo tempo ou todos os gols da partida. O recurso acabou sendo abandonado com a proibição total das transmissões diretas para São Paulo pela Federação Paulista de Futebol em agosto de 1965 (sujeitando as emissoras na cobrança de taxas pelo direito de arena dos clubes) e só seria relançado na Copa do Mundo de 1974 pela Globo.
Porém, em 1962, o futebol paulista ficou sujeito a proibição das transmissões de futebol pela televisão da capital para a capital, incluindo os jogos do Santos na Vila Belmiro, imposto pela Federação Paulista de Futebol, cujos VTs dos jogos só poderiam ir ao ar seis horas depois do encerramento e pior, só teriam o direito de transmitir ao vivo apenas uma partida na última rodada de cada turno. Deu-se então o início da cobrança de taxas por cada jogo semanal transmitido pelas emissoras: Cr$ 1 milhão, desde que seja de uma cidade para outra, todas elas divididas igualitariamente entre as cinco emissoras de então. Mas em 1963, os entendimentos entre dirigentes de futebol e diretores de TV chegaram a um bom avanço e foi firmado um convênio com as emissoras paulistas de TV autorizando-as a transmitir os jogos do segundo turno do Campeonato Paulista de Futebol apenas aos sábados, domingos e feriados, dos chamados "grandes clubes" no interior do estado, televisionamento direto às quartas e quintas, eram proibidos, apenas a exibição em vídeo-tape. Portanto a federação propôs aos canais de então um contrato de cinco meses com o custo total de Cr$ 85,5 milhões (divididos em partes iguais de Cr$ 17,1 milhões para cada estação). Foi a primeira vez que fora estabelecida o sistema de cotas de transmissão de futebol pela TV. Só que divergências levaram São Paulo e Corinthians a recusarem acordo e então, Palmeiras, Santos e Portuguesa receberam Cr$ 21 milhões cada, o Juventus embolsou Cr$ 5 milhões e os outros 10 times participantes (São Bento, Ferroviária, Guarani, Comercial, Botafogo, XV de Piracicaba, Noroeste, Esportiva de Guaratinguetá, Prudentina e Jabaquara) conseguiram Cr$ 1.750.000 cada um. Até foi criado um certo Toto-TV, servindo de fonte de renda às emissoras, onde um cupom numerado era oferecido após o ato de alguma compra e, de acordo com a soma dos gols de um certo número de jogos, dava direito a prêmios.
A TV brasileira sentiu-se forçada em jogar o futebol para escanteio, mas em 1969, a modalidade voltou a ser o centro das atenções do público e da mídia como nunca. A classificação da Seleção Brasileira para a Copa do Mundo de 1970 contribuiu para tal e o mais interessante é que com a inauguração da Embratel em 1965, o trabalho em poder transmitir imagens de uma cidade para outra foi facilitado, é só subir o satélite e mandar brasa. Ainda na disputa das Eliminatórias da Copa de 70, os jogos do Brasil disputados no Maracanã puderam ser transmitidos ao vivo para São Paulo, Niterói, Belo Horizonte, Curitiba, Porto Alegre e Brasília, menos para o Rio de Janeiro, obviamente, devido a normas restritivas já mencionadas, cujo sinal era enviado de um posto repetidor ao outro a cada 50 km de distância. Logo, a Embratel é autorizada pela CBD a poder emitir imagens de transmissão direta de futebol pela televisão com a realização da terceira edição do Torneio Roberto Gomes Pedrosa, chamada na época de Taça de Prata, o Brasileirão daquela época, desde que a transmissão fosse num partida isolada da rodada e disputada fora da cidade onde o jogo seria exibido, para não haver concorrência de jogos disputados ao mesmo tempo e com risco de queda de público e renda. Com 17 equipes de sete cidades brasileiras, a Embratel realizava as transmissões dos jogos ocorridos em São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, onde se concentravam as principais equipes da época. Os telespectadores de Brasília foram os grandes sortudos em poderem assistir todas as transmissões ao vivo do Robertão, até porque na capital federal quase não existia futebol. Então, as três emissoras candangas existentes da época (TV Brasília, TV Nacional e TV Alvorada) firmaram contratos com a Embratel e dividiam o custo de uma cota fixa de NCr$ 6 mil correspondente às despesas técnicas por cada jogo transmitido, porém os anunciantes locais mal davam para cobrir tal importância e deixaram essas três emissoras no prejuízo, com poucos e falhos recursos técnicos, mesmo acumulando uma audiência recorde que variava de 75 a 80%.
Uma exceção teve que ser aberta em São Paulo em 4 de novembro de 1969. Após quatro anos de proibição, as emissoras de TV da capital paulista foram enfim autorizadas a televisionarem ao vivo o clássico entre Santos e Corinthians direto do Estádio do Pacaembu com entrada franca aos torcedores devido ao adiamento da partida por causa da chuva. O jogo disputado às 20h15 foi importante por dois aspectos: o Santos, mesmo desclassificado, tentava ajudar meu principal jogador, Pelé, a se aproximar dos 1.000 gols (ele tinha marcado até o momento 996) e o Corinthians, que estava a 15 anos sem ser campeão, precisava vencer para garantir a classificação para a fase final da competição. Quatro emissoras transmitiram o jogo: a TV Tupi que liderou a audiência no horário com 25% dos televisores ligados (com Walter Abrahão, Geraldo Bretas e Eli Coimbra), a TV Record que teve que recontratar Raul Tabajara para narrar o jogo (e contando com o grande apresentador Blota Jr. nos comentários), a jovem TV Bandeirantes, então recém-atingida por um incêndio, que já despontava como um canal esportivo (e tinha a dupla de transmissão formada por Fernando Solera e Chico de Assis) e a TV Excelsior, cuja equipe era liderada por Geraldo José de Almeida, que suspendeu a exibição de suas novelas naquela noite para inovar na transmissão da partida, criando um pré-jogo uma hora antes do apito inicial e um pós-jogo 45 minutos após seu término com os comentários da partida vencida pelo alvinegro do Parque por 4x1.
Nos anos 70, as transmissões internacionais se tornam mais comuns após a Copa do Mundo do México, mas os clubes e as federações passam a cobrar cifras cada vez mais altas as TVs para transmitir futebol direto, talvez dificultando o trabalho das emissoras temerosas numa queda de público, pois na época, repito, os clubes vivam da renda dos jogos. Mas isso é assunto para o próximo post, até porque esse assunto é muio extenso e complexo.

DICA DE SITE: O Hot 100 Brasil Está de Volta!!!

Alguém se lembra de um site chamado Hot 100 Brasil e que tinha um monte de listas das 100 músicas que tocavam em diversos anos? Pois é, esse site está de volta, porém com outro domínio.
O site surgiu em 29 de maio de 1998 por Arthur Menezes, um paulistano apaixonado por música cuja coleção acumula mais de 141 mil títulos. Essa paixão fonográfica o levou a criar o site, sendo inicialmente chamado de "Hot Songs Brasil", disponibilizando na web uma parada de sucessos personalizada composta por diversos Top 10 dos mais variados gêneros musicais, nacionais e internacionais, que variavam nesses primeiros meses de existência, e sempre sendo atualizado aos sábados (mantendo assim até hoje). Em 1º de maio de 1999, resolveu compilar todos os gêneros sem discriminação, o que é bem interessante, e rebatizou o portal de "Brasil Hot 75" com os 75 singles mais tocados em todo o Brasil durante a semana, porém quase dois meses depois, em 26 de junho, o ranking foi expandido para 100 músicas e a denomiação passou a ser "Brasil Hot 100".
Nos dois primeiros anos online, o site era abrigado pelo domínio Geocities (hoje Yahoo), sendo que a partir de 1º de julho do ano 2000, quando atingiu a marca de 2 mil acessos por dia, o site da parada tornou a mudar de nome para "Hot 100 Brasil", mantendo assim até hoje, além de ganhar endereço próprio (www.hot100brasil.com). Atualmente, o site possui cerca de 5 mil acessos diários e acumula milhões de visitas vindas de mais de 140 países! Aos poucos, junto com a parada habitual, acrescentou também o ranking com os 100 álbuns mais vendidos e os 50 DVDs musicais mais vendidos, mas recentemente foi descontinuado com a mudança de domínio.
O grande atrativo desse site é uma página especial criada em agosto de 2002, comemorando na época os 100 anos do disco brasileiro. A página é um prato cheio e eu recomendo como uma base para fonte de pesquisa do gênero. Conta toda a saga fonográfica brasileira dividida em quatro fases com seus artistas, intérpretes, compositores, formatos e gravadoras. E o mais legal, como contei no início, é justamente os rankings com as 100 músicas mais executadas de 1902 até hoje, toda ampliada, revista e corrigida, com cerca de 30 mil títulos examinados e listados. Na verdade, a página intitulada Time Machine já existia e já chamava atenção, mas depois que foi incrementada com a ocasião, o interesse parece que só aumentou de lá pra cá, sendo posteriormente utilizado pelo livro Almanaque dos Anos 80 e pela extinta revista Flashback da Editora Abril. O dono do site esclarece que até a década de 50 não existia uma propriamente dita parada de sucessos de âmbito nacional e pra isso, teve que confrontar uma série de informações como boletins de execução das emissoras de rádio de várias capitais brasileiras (a maioria delas do eixo Rio-São Paulo) e relatórios de vendas das gravadoras. Para que o projeto fosse possível, foram quase 17 anos de muita pesquisa, jornais, revistas, livros, discos e até lojas de discos foram esmiuçadas pelo nosso aventureiro musical e o resultado pode ser visto neste link: http://asdfg-menezes.org/timemachinemain.html
O nosso amigo Arthur não se restringe apenas a manutenção semanal da sua parada de sucessos, no qual usa uma metodologia bem diferenciada e inspirada nos modelos adotados pelo instituto de pesquisas Nielsen e Billboard (no qual não irei revelar por motivos éticos, mas se é complicado de entender, isso é). Ele compra, vende, troca música de todos os gêneros e de qualquer formato. Quem quiser entrar em contato com ele e está interessado, acessem o link a seguir e lá está o e-mail dele: http://asdfg-menezes.org/biopics.html
Portanto, para quem quiser ficar por dentro das paradas de ontem e de hoje, mesmo que você não goste do tipo de música que as rádios de maior audiência estão acostumadas a martelar em nossos ouvidos ou que você não as ouça também, recomendo este site como uma base informativa da atualidade artística, até porque, como eu sou formado em Rádio e TV, preciso saber, mesmo que eu não ouça essas rádios comerciais de grande apelo do "Hit Parade", quais as tendências mercadológicas fonográficas  do Brasil e o que o público está ouvindo e consumindo.

segunda-feira, 31 de outubro de 2016

HISTÓRIA: 1º Prêmio SBT de Música (e Tome Sugestões)

Essas semanas descobri uma grande raridade dos anos 90 da televisão brasileira: O 1º (E TALVEZ O ÚNICO) PRÊMIO SBT DE MÚSICA exibido em 10 de novembro de 1995, no qual haviam sido postadas algumas chamadas no YouTube por intermédio do meu amigo Higor Vieira. O vídeo, dividido em duas partes, foi postado pelo canal ArteFeed e faço questão de compartilhá-los com vocês.
OBS: A dona desse canal garante que o SBT fez uma segunda edição e que ela tem gravado. Mas é como diz aquele "Patrão" inspirado em São Tomé: Eu só acredito... vendo! Mas não custa nada perguntar pra ela quais foram os outros vencedores. Eis os links e comentem (deixei uns comentários na segunda parte)!

https://www.youtube.com/watch?v=CA247j3ZBkc - Abertura completa (postada por Juan Matos)
https://www.youtube.com/watch?v=0qChm0Lukr8 - Primeira parte
https://www.youtube.com/watch?v=PTaA-qaoOXM - Segunda parte

Conheça algumas curiosidades sobre o 1º Prêmio SBT de Música:

* Um anúncio na Folha de São Paulo de 12 de outubro de 1995 anunciava a exibição do evento em 11 de novembro, mas foi antecipado para 10 de novembro, indo ao ar por volta das 22 horas (na época, nenhum programa do SBT começava no horário anunciado).

* No mesmo anúncio, era disponibilizado uma cédula de votação para que as pessoas pudessem recortar e preencher, indicando e escolhendo os melhores da música de 1995.

* O prazo de votação era até 30 de outubro e os cupons deveriam ser enviados para a Caixa Postal 59.141, São Paulo capital. Era numa época em que não havia internet para todos.

* Ao todo, foram 21 categorias de votação. Os estilos musicais eram Romântico, Sertanejo, Pop e Samba e as categorias englobavam Destaques Masculino, Feminino, Compositores, Música, Conjuntos Musicais e Revelação do Ano (esta última não havia indicados, o vencedor era anunciado de imediato).

* O evento foi gravado três dias antes no Memorial da América Latina, no bairro da Barra Funda em São Paulo (coisas de Silvio Santos).

* O evento teve duração de 2 horas, 12 minutos e 31 segundos (descontando os intervalos comerciais) e contou com o patrocínio de Bradesco, Perdigão, Kaiser, Maggi e Mappin.

* A apresentação foi do saudoso Blota Jr. (com abertura feita por Hebe Camargo) e a locução de Eliakim Araújo e Carlos "Bem-Te-Vi" Roberto, a voz-padrão do SBT. As assistentes de palco entregaram os troféus aos vencedores (padrinhos famosos fizeram falta na entrega dos prêmios).

* A premiação fez uma homenagem aos 30 anos da Jovem Guarda e convidou alguns desses artistas integrantes do movimento musical anunciando as categorias e os vencedores como Eduardo Araújo e Silvinha Araújo, Jerry Adriani e Valdirene, Marcos Roberto e Martinha, Deny e Vanusa, Os Vips (os irmãos Márcio e Ronald Antonucci), Wanderley Cardoso e Lilian.

* As atrações musicais divulgadas nas chamadas já denunciavam quem seriam os prováveis vencedores daquela noite (abrindo qualquer prescindente de spoilers): Raça Negra, Mamonas Assassinas, Zezé Di Camargo & Luciano, Maurício Mattar, Latino, Roberta Miranda, Wando, Só Pra Contrariar, Chitãozinho & Xororó, Sampa Crew, Leandro & Leonardo, Eliana de Lima, Grupo Raça, Cidade Negra, Beto Corrêa e Patrícia Marx. Os grandes ausentes do evento foram o grupo Skank e o cantor e compositor Ivan Lins, que foram premiados.

Abaixo, as categorias, indicados e vencedores em negrito de um prêmio que poderia muito bem voltar agora, em substituição ao malfadado Troféu Internet, mas com o nome de Troféu Silvio Santos de Música (até cogitou-se nisso, mas aprofundarei após a lista de indicados e vencedores):

Revelação Pop:
Mamonas Assassinas

Destaque Masculino Sertanejo:
Chitãozinho & Xororó
Chrystian & Ralf
Gian & Giovanni

Destaque Música Pop:
Coração Te Acalma - Sampa Crew
Sereia - Lulu Santos
Te Ver - Skank

Destaque Conjunto de Samba:
Grupo Molejo
Razão Brasileira
Raça Negra

Destaque Compositor Romântico:
Espelhos D'Água - Dalto e Cláudio Rabello
Lembra de Mim - Ivan Lins e Vítor Martins
O Taxista - Roberto Carlos e Erasmo Carlos

Destaque Música Sertaneja:
Eu Me Amarrei - João Paulo & Daniel
Mulher Brasileira - Leandro & Leonardo
Você Vai Ver - Zezé Di Camargo & Luciano

Revelação Romântica:
Grupo Fanzine

Destaque Conjunto Pop:
Barão Vermelho
Paralamas do Sucesso
Skank

Destaque Feminino Samba:
Alcione
Beth Carvalho
Eliana de Lima

Destaque Masculino Romântico:
Fábio Jr.
Maurício Mattar
Wando

Revelação Sertaneja:
João Paulo & Daniel

Destaque Masculino Pop:
Copacabana Beat
Latino
Nando Reis

Destaque Música Samba:
Marrom Bombom - Os Morenos
Eu Te Amo, Te Amo, Te Amo - Banda Brasil
Essa Tal Liberradde - Só Pra Contrariar

Destaque Compositor Samba:
Medo - Adauto Magalha e Pedrinho da Flor
Eu e Ela - Délcio Luiz e Ronaldo Barcellos
Pagode da Dona Didi - Zeca Pagodinho

Destaque Música Romântica:
Catedral - Zélia Duncan
Mordida na Maçã - Wando
Quem é Você - Simone

Revelação Samba:
Art Popular

Destaque Compositor Pop:
Segue o Seco - Carlinhos Brown
A Sombra da Maldade - Tony Garrido e Da Gama
Vamo Batê Lata - Herbert Vianna

Destaque Feminino Sertanejo:
Jayne
Roberta Miranda
Sula Miranda

Destaque Masculino Samba:
Beto Corrêa
Martinho da Vila
Zeca Pagodinho

Destaque Feminino Pop:
Fernanda Abreu
Patrícia Marx
Sandra de Sá

Destaque Compositor Sertanejo:
Desejo de Amar - Chrystian & Ralph
Mistério - Roberta Miranda
Pão de Mel - Zezé Di Camargo & Luciano


Conforme comentei, essa premiação de música poderia perfeitamente ter voltado em substituição ao malfadado Troféu Internet, mas com o nome de Troféu Silvio Santos de Música. Em 21 de maio de 2005, no caderno Ilustrada do jornal Folha de São Paulo, foi publicada a seguinte nota: "Troféu Imprensa pode acabar, diz SBT". O próprio Silvio Santos, num discurso caracteristicamente hipócrita, cogitou nessa possibilidade pouco antes da gravação do Troféu Imprensa que elegeu os "melhores de 2004", deixando a impressão, sem muitos detalhes, de que "talvez" pudesse acabar com o "Oscar brasileiro", sendo oportunamente substituído pela votação feita anualmente por internautas abrangendo também "as áreas de música e futebol" e decidiria no final daquele ano de 2005, mas ele tomou um monte de Doril e esqueceu o assunto. Seria muito mais fácil passar os direitos da marca "Troféu Imprensa" a um órgão neutro (pra acabar com essa autopromoção que o SBT faz todos os anos de seus artistas e programas usando um júri fã-clube disfarçado do seu proprietário falando mal das TVs concorrentes, contando com a cumplicidade da própria produção que também age feito um fã-clube) para se dedicar anualmente a um prêmio 100% dedicado a música decidido pelos "seus" internautas, desde que seja válido um voto por pessoa em cada etapa de votação. Então, proponho o seguinte: os estilos musicais para essa premiação seriam Axé Music, Pop, Gospel, Samba & Pagode e Sertanejo e em cada uma delas fossem escolhidos os Destaques Femininos (individuais ou coletivos), Destaques Masculinos (também individuais ou coletivos), Músicas do Ano e as Revelações do Ano (femininas ou masculinas). Outra proposta: na formatação dos indicados, apenas os de Música do Ano devem ter três indicados, enquanto que as outras categorias deverão ter quatro concorrentes para que todos tenham chances iguais de conquistar ao prêmio, desde que hajam um número considerável de duplas e conjuntos musicais "destacáveis". Nas categorias de Destaque Feminino e Masculino, deverão ter dois indicados individuais e dois indicados coletivos (duplas e/ou conjuntos musicais) e nas de Revelação do Ano, deverão ter dois indicados do sexo feminino e dois indicados do sexo masculino.
Espero que um dia essas minhas "reivindicações" sejam ouvidas e atendidas por este humilde, solitário e sonhador blogueiro que vos escreve. E outra, redizendo a dona do canal ArteFeed respondendo um comentário num daqueles vídeos que ela postou da premiação, falta um pouco mais de glamour em eventos como esse. Por isso, para os amantes da "música da moda", a volta do Prêmio SBT de Música (alterando sua denominação para Troféu Silvio Santos de Música) a essa altura do campeonato, seria importantíssima e ideal, para quem vota e para quem ganha.
#Ficadica

segunda-feira, 5 de setembro de 2016

HISTÓRIA: Horário Eleitoral Gratuito

Como eu relatei no posto anterior, há exatos 50 anos, estreava na TV brasileira um programa cuja popularidade nunca esteve em alta: o Horário Eleitoral Gratuito. A estréia foi por meio de um decreto sancionado pelo Tribunal Superior Eleitoral, a Lei nº 4.737, que regulamentava as emissoras de rádio e televisão a transmissão obrigatória de duas horas diárias aos partidos políticos divulgarem seus candidatos e suas plataformas de campanha nos 30 dias antecedentes às eleições (sendo que a campanha eleitoral audiovisual encerrava a 48 horas antes do pleito, marcado na época para 3 de outubro). Quinze anos antes, em 1950, o Colégio Eleitoral regulamentava as emissoras de rádio (e mais tarde de televisão) que reservassem 120 minutos da programação diária para a propaganda partidária durante período de 90 dias. O curioso é que a propaganda nessa época era paga (prática hoje proibida) e os jingles passaram a exercer uma força indispensável que até hoje pode decidir ou não o voto dos indecisos.
Voltando a 1966, foi a primeira eleição bipartidária da história. Em 27 de outubro de 1965, o Governo Militar declarou a extinção dos partidos políticos e outorgou a criação de duas novas legendas, a ARENA (Aliança Renovadora Nacional), o partido governista, e o MDB (Movimento Democrático Brasileiro), representante da oposição. Cada um desses partidos tinham 60 minutos diários no Horário Eleitoral e mais 5 minutos diários de inserções de 30 segundos nos intervalos da programação na faixa das 19 às 22 horas. E a que horas passava o HEG na época? O esquema de duas partes é mantido até hoje, mas na época eram das 13 às 14 horas e das 22 às 23 horas. Nove cidades brasileiras (Bauru, Belém, Curitiba, Florianópolis, Londrina, Porto Alegre, Recife, São Luís do Maranhão e São Paulo) transmitem ao vivo (os partidos não tinham recurso algum, as emissoras tinham que reservar espaço para esse tipo de "programa") as propostas dos candidatos às Assembleias Legislativas, sendo que cada um deles tinham 5 minutos para discursar. Como as eleições eram parlamentares, o eleitor tinha que escolher os deputados federais, estaduais, vereadores e senadores, até porque os governadores passaram ser eleitores pelo voto indireto. Essa "novidade" do HEG na programação das emissoras de TV, obteve uma audiência inferior a 10%, fazendo o telespectador ser obrigado a desligar o aparelho televisor, o que aumentava em 80%, fazendo as emissoras perderem dinheiro com publicidade, o que levou a criar mais tarde leis de ressarcimento às emissoras de rádio e TV.
Em 1970, o período de transmissão do HEG é delongado para 60 dias, entre 12 de setembro e 11 de novembro, e o pleito foi marcado no feriado de 15 de novembro, dia da Proclamação da República. Os horários permanecem inalterados, mas em São Paulo, ocorre um fato inusitado: a TV Bandeirantes de São Paulo, então com três anos de vida, fez um acordo com o TRE de São Paulo para ter uma permissão especial em emitir o HEG duas horas mais cedo, entre 20 e 21 horas, sendo assim fora do horário definido em acordo entre as demais emissoras. Motivo: a faixa das 22 horas era a grande responsável pela grande audiência e, acima de tudo, faturamento da jovem emissora com filmes, shows, documentários, musicais, esporte e telejornais. Com essa possibilidade de oferecer alternativa ao telespectador na época, sua audiência chega aos 28% durante o HEG exibido em cadeia.
Em 1974, o Código Eleitoral Brasileiro determina a proibição de propaganda política fora do HEG estabelecido pela Justiça Eleitoral. Os candidatos ainda se limitavam a discursar diante das câmeras ao vivo. Porém, o MDB em alguns estados brasileiros investiu em novos recursos para seduzir o eleitorado e ao mesmo tempo mantê-los atentos diante da TV. Sabendo o potencial do veículo, a grande vantagem da oposição foi a criatividade para conquistar ao mesmo tempo eleitores das capitais e do interior. O estilo de ação dos candidatos teve que ser modificado procurando conquistar, através da TV, as classes mais baixas e o público jovem com a linguagem dinâmica e a imagem acima de tudo, explorando a juventude dos candidatos, principalmente do Senado. Enquanto que a ARENA ainda apostava na retórica de seus "medalhões". A audiência sofre um ligeiro aumento na faixa das 22 horas, média de 20%, porém, o MDB conseguiu 22% na apresentação de seus candidatos, enquanto que a ARENA não passava dos minguados 19%. A eleição de 1974 foi importante na história do HEG e determinou em vários estados inovações decisivas na vitória da oposição pelas cadeiras do Senado, vejam alguns casos:

São Paulo
Os candidatos parlamentares gravavam seus discursos eleitorais em vídeo-tape, algo "inovador" na época porque até então o HEG ainda era transmitido ao vivo. O veterano professor Carvalho Pinto, candidato arenista, tinha 64 anos e por causa dos problemas circulatórios, usava a televisão para discursar e simplificar a peregrinação pelo estado, função esta exercida pelo governador biônico recém-eleito Paulo Egydio Martins. Enquanto que Orestes Quércia, do MDB, com 36 anos, tinha pinta de galã de novelas, esbanjava disposição em gravar os seus programas e fazer corpo-a-corpo com o eleitorado em mais de 500 municípios paulistas. Na tentativa de inovar a propaganda eleitoral, a ARENA colocou um menina perguntando "Em quem o seu pai vai votar?". Dando a ilusão de que Carvalho Pinto era o candidato dos conservadores, o MDB colocou outra garotinha respondendo a pergunta lançada pelos governistas: "O meu pai não sei, mas minha mãe, meu irmão, minha irmã, minha tia e minha professora vão votar no Quércia". A simbologia foi também importante na campanha MDBista: durante o programa, o locutor anunciava que Quércia "vai levar o sol de São Paulo para Brasília" fazendo o chamado astro-rei a marca registrada do ex-prefeito de Campinas, só que o tempo nublado da época fez com que o termo "sol" fosse substituído por "energia". O resultado foi uma vitória esmagadora de Quércia sobre Carvalho por 2,5 milhões de votos.

Minas Gerais
Os papéis pareciam estar invertidos. O candidato da ARENA José Augusto, desde o início da campanha pela TV, fez constantes ataques a seu adversário, o futuro presidente Itamar Franco, do MDB. O motivo alegado foi a sua ausência num debate organizado na abertura da campanha eleitoral proposto pela ARENA e que Itamar se ausentou. A imagem da cadeira vazia, mostrada todo dia por Augusto no programa arenista, simbolizava o tal argumento. Itamar, de fato, não concordava em participar de debates, até que um belo dia, em 9 de novembro, o TRE mineiro aceitou nova proposta da ARENA e autorizou a realização do esperado debate. O HEG era transmitido ao vivo e nos estúdio da TV Itacolomi de Belo Horizonte, o locutor Roberto Márcio anunciava mais um programa da ARENA até que, de repente, Itamar invade o estúdio "pronto para o debate", só que surpreendentemente, o desafiador não estava presente, para desespero e perplexidade dos correligionários arenistas que logo localizaram seu candidato. Mais surpreso estava o juiz do TRE de Minas Bady Raimundo Cury, que pediu a retirada do candidato oposicionista no horário reservado a seus adversários. Augusto chegou aos estúdios 10 minutos antes do encerramento do programa da ARENA, mas o juiz do TRE mineiro, que fiscalizava o HEG, proibiu o debate sob pretexto de que o arenista não tinha "condições psicológicas" adequadas para tal. Augusto, frustrado com o fato, decidiu resolver a questão na força e quis agredir seu oponente com um pedaço de pau, mas fora flagrado por um fotógrafo da Revista Veja, que cobria o fato. No dia seguinte, os representantes dos dois partidos trocaram insultos sobre a invasão do MDBista no horário da ARENA e da tentativa de agressão do candidato arenista. No fim das contas, Itamar Franco ganhou a eleição.

Rio de Janeiro
O futuro prefeito da capital fluminense Roberto Saturnino Braga foi escolhido pelo MDB para concorrer ao Senado 60 dias antes das eleições em lugar de Afonso Celso Ribeiro de Castro, que ficou doente, e em uma semana saiu da obscuridade e foi eleito com mais da metade dos votos que Paulo Torres da ARENA. Torres se disse "desentendido" com a inesperada derrota pois no programa eleitoral mostrava as grandes obras do Governo Militar como a Ponte Rio-Niterói, enquanto que Saturnino dizia que a tal ponte "não enche a barriga de ninguém" e explorou as necessidades do bem-estar geral da população sem se preocupar com o decadente "Milagre Econômico". Saturnino ainda testemunhou um fato pitoresco de bastidores: como não havia teleprompter, o discurso era escrito em enormes cartolinas (dálias) e numa dessas, a janela do estúdio insalubre estava aberta e o vento forte provocado do lado de fora fez o cartaz de um candidato a deputado voar, todo mundo riu na hora.

Rio Grande do Sul
Enquanto que em vários estados, os oposicionistas do MDB podiam dizer tudo o que desse na telha, o TRE gaúcho era o único que podia cortar a transmissão com um censor de plantão. Através de um velho telefone a manivela, o indivíduo determinava as emissoras gaúcha a tirarem o sinal do ar e inserir um slide de censura caso houvesse excesso de ataques e insultos entre os adversário do Senado: Nestor Jost pela ARENA e Paulo Brossard pelo MDB. Os dois candidatos protagonizaram o único debate entre candidatos ao Senado em todo o País, em 9 de setembro nos estúdios da TV Gaúcha. O acordo foi amigável entre os dois partidos e o Clube de Repórteres de Porto Alegre, imediatamente aprovado pela Justiça Eleitoral e o TRE gaúcho. Mediado pelo jornalista Joseph Zukauskas, a única regra eram 5 minutos alternados para cada candidato perguntar, responder e discursar o que bem entendesse. A troca de farpas foi substituída pelo alto nível de cordialidade dos candidatos e a audiência na capital gaúcha foi de 30%.

Pernambuco
A juventude explorada pelo MDB pode ser resumida na disputa pelo Senado no estado de Pernambuco. O seu candidato era o jovem e simpático Marcos Freire, cujas fotos na praia de trajes de banho, tomando sol e nadando no mar eram acompanhadas pelo seguinte locução: "Você passaria 15 dias longe da praia? Pois Marcos Freire vai ficar 8 anos longe do mar para defender o estado de Pernambuco". O slogan da campanha de Freire era "Sem ódio, sem medo e sem dinheiro" e isso ajudou a derrotar o "velho e feio" (como o próprio admitira) João Cleófas, da ARENA.

Rio Grande do Norte
Foi a disputa mais pitoresca de todas. Enquanto que a ARENA concorria com o respeitado Djalma Marinho, que se mostrava retraído, introvertido e ao mesmo tempo culto, citando autores franceses, o MDB lançou outro desconhecido, Agenor Nunes de Maria. O que não tinha de jovem, tinha de "homem do povo" pois fora camelô e marinheiro no Rio de Janeiro, fazendo questão de exibir seus braços tatuados no programa de TV: uma âncora no braço direito representando a esperança e o cálice no braço esquerdo era a "fé na vitória da democracia". Com a recusa de Djalma em participar de um debate proposto pelo MDB alegando que "não tinha nada o que aprender com um marinheiro tatuado e semi-analfabeto", a popularidade de Agenor cresceu de tal forma que ganhou a vaga no Senado numa disputa acirrada.

O resultado final foi apertado, somando todos os votos a deputado e senador, a ARENA recebeu 12 milhões de votos e o MDB, 11 milhões de votos. Foi primeiro grande avanço da oposição nas eleições parlamentares, permitindo o início da chamada Abertura Política. Enquanto que no Senado, o MDB elegeu 16 dos 22 candidatos. A ARENA ainda apostava na velha fórmula do discurso e logo admitiu o velho clichê. Para aniquilar a vantagem da oposição em usufruir a televisão, em 1976 outorgou a Lei Falcão que impedindo a divulgação das plataformas opositoras durante as campanhas eleitorais, bem como a proibição de debates políticos nos meios de comunicação, com medo de nova derrota para a oposição nas eleições seguintes. Foi a partir de então que os candidatos só podiam aparecem com a fotografia, nome, número e legenda a pretexto de contornar um "problema técnico" causado pelo excessivo número de candidatos a vereador. Além disso, os TREs obrigavam a exibição da propaganda política no rádio e na TV a cada 5 minutos por hora com revezamento de partidos. Vejam este exemplo postado no YouTube com os candidatos arenistas a vereador do município do Rio de Janeiro: https://www.youtube.com/watch?v=Xr0oDVJGLT8
Em 1977, após a instauração do Pacote de Abril, o MDB se utilizou de um dispositivo da Lei Falcão que permitia os partidos políticos requisitarem cadeia nacional de rádio e televisão para a divulgação de suas idéias e em 27 de junho, a oposição fez um programa histórico atacando o Governo Militar usando imagens de um simpósio promovido pelo próprio partido cujos temas eram salário minimo, dívida externa, desemprego, inflação e a falta da democracia no Brasil. Participaram Ulysses Guimarães (presidente do partido), Franco Montoro (líder do senado), Alencar Furtado (líder da câmara) e Alceu Collares (presidente do Instituto Pedroso Horta). O programa motivou o governo da época a proibir o acesso dos partidos políticos aos meios de comunicação fora do período eleitoral. A medida só foi revogada em outubro de 1984.
Em 1978, os acordes marciais de Paris Belfort anunciavam entre 15 de setembro e 14 de novembro o "Horário Reservado ao TRE", mantendo o mesmo esquema de 1966. Foi a última eleição bipartidária e ainda sob a Lei Falcão, todos os candidatos parlamentares se limitavam em mostrar uma foto, o número de votação e uma locução apresentando um breve currículo e suas pretensões caso eleito, o que fazia a TV perder 5% de audiência e obter uma audiência acumulada de 20%. Vejam este exemplo com os candidatos do MDB a deputados e senadores de São Paulo: https://www.youtube.com/watch?v=5VTXxCgAtCU
O ano de 1982 é marcado pelas primeiras eleições diretas para prefeito (menos nas capitais) e governador em todo o Brasil, depois de 18 anos de Ditadura Militar, desde o começo da Abertura Política (exceto para 68 municípios considerados Áreas de Segurança Nacional segundo Decreto-Lei nº 314 de 13 de março de 1967, onde os prefeitos ainda são nomeados por intervenção federal como Santos, Nova Iguaçu, Santarém, Santana do Livramento, Itu e Sobral). Foi também a primeira eleição pluripartidária em 17 anos, porém, haviam somente cinco partidos: PDS, PDT, PT, PTB e PMDB. O avanço da oposição nas pesquisas de intensão de voto, na realização de debates e em matérias jornalísticas na televisão faz o Governo Federal mudar as regras eleitorais como o desbloqueio da Lei Falcão em 14 de setembro e de que o voto só seria válido desde que todos os candidatos preenchidos na cédula eleitoral fossem do mesmo partido, o chamado voto vinculado (prática esta difundida desde os tempos do bipartidarismo). Os currículos dos candidatos da oposição eram lidos com "mais enfase", vários artistas passaram a animar comícios e apoiar candidatos e os jingles passaram a ser indispensáveis na promoção das candidaturas. A exibição do HEG dependia do interesse das emissoras pois os programas partidários eram em 24 blocos de cinco minutos cada, 12 deles exibidos entre 9 da manhã e 6 da tarde e outros 12 apresentados entre 20 e 23 horas por todas as emissoras brasileiras de TV, que por sua vez podiam optar em inseri-las entre um programa e outro ou exibi-las todas de uma vez em duas sessões, entre 13h00 e 14h20 e entre 20h00 e 21h20. No primeiro dia do HEG, em 16 de setembro, o PMDB de São Paulo violou a Lei Falcão e colocou a voz do candidato Franco Montoro quebrando o seu "silêncio" e lendo um manifesto de 413 palavras (alegando ser o currículo do partido, que "confundia" com as dos candidatos a deputado e vereador) enquanto que as fotos dos candidatos, intercaladas com as de Montoro, eram apresentadas uma por uma. O motivo alegado era que a lei não proibia que a voz de um certo candidato entre no lugar de um locutor profissional. O discurso foi finalizado com lema do PMDB naquela eleição "Vote para mudar". A oposição democrática deu um banho nas urnas. Vejam este exemplo com a apresentação dos candidatos ao Governo do Rio de Janeiro, a que mais chamou a atenção do país não só pelos candidatos, mas também pela conturbada apuração dos votos: https://www.youtube.com/watch?v=qthGrI_l2oQ
Em 1985, o Tribunal Regional Eleitoral instituiu a primeira eleição direta municipal em todo o Brasil depois de 20 anos. O HEG passou a ser apresentado em duas partes: das 13h00 às 13h30 e das 20h30 às 21h00. Os espaços passam a ser divididos entre os principais candidatos de cada cidade e os partidos com representatividade nas câmaras municipais e com o fim da Lei Falcão, a propaganda gratuita passa a ser mais criativo: criação de personagens, apoio de artistas e personalidades, paródias de telejornais e lançamento de candidatos como produtos de consumo, porém, a audiência da televisão perde 30% de seus telespectadores. Em cada cidade, o TRE alugou um estúdio de TV para que os candidatos de partidos pequenos e sem recursos para gravar seus programas possam fazer suas emissões ao vivo. Destaque para o Horário Eleitoral dos candidatos a Prefeitura de São Paulo: Lima Duarte e Regina Duarte (ambos da novela Roque Santeiro) demonstram apoio à Fernando Henrique Cardoso; uma novelinha de sete capítulos, onde Eduardo Suplicy tentará convencer pessoalmente uma família de classe média em votar nele, sendo que o pai quer votar no PMDB, a mãe quer votar no PT e a sogra é janista, além do boneco Zé do Muro, buscando o voto dos indecisos; e em meio a discursos e imagens dos problemas da cidade, Jânio Quadros adotou desenhos animados onde uma vassoura golpeava bandidos, corruptos e ladrões da cidade. Entre os "nanicos", destaque para Ana Rosa Tenente, a professorinha de 25 anos que entrou pra história por ser a primeira mulher a se candidatar a prefeitura da maior cidade do Brasil (e, por tabela, musa das eleições) e Pedro Geraldo Costa, o único entre os candidatos que disputou a última eleição direta para prefeito da capital paulista faziam 20 anos, em 1965! Um cronômetro ficava estampado no canto do vídeo controlando o tempo de cada programa e o tempo diário de cada um dos 13 candidatos foram estes: Fernando Henrique Cardoso (PMDB) com 16 minutos, Jânio Quadros (PTB-PFL) com 12 minutos diários, Eduardo Suplicy (PT) com 7 minutos, Rogê Ferreira (PSB) com 6 minutos, Antônio Carlos Fernandes (PMC) com 3 minutos, Adhemar de Barros Filho (PDT), Ana Rosa Tenente (PH), Armando Corrêa (PMB), Eymael (PDC), Francisco Rossi (PCN), Rivailde Ovídio (PSC), Ruy Codo (PL) e Pedro Geraldo Costa (PPB), todos eles com 2 minutos cada um.
Em Porto Alegre, o candidato Alceu Collares se fez de repórter para entrevistar os eleitores que o apoiam e desvendar os problemas da cidade, no Rio de Janeiro, o debochado Carlos Imperial aparecia em seu programa eleitoral vestindo uma camisa zebrada anunciando o utópico slogan "Vai dar zebra!" e em Belo Horizonte um exemplo de humor involuntário dos partidos "nanicos", o candidato Sebastião Martins do PDI interrompe o texto no final para saber se o tempo dele tinha acabado. Vejam este exemplo com um vídeo que eu postei com os candidatos dos partidos "nanicos" a Prefeitura de São Paulo: https://www.youtube.com/watch?v=lbGVG6UUyrI
O ano de 1986 é marcado pelas eleições para a Assembléia Nacional Constituinte, tudo porque a grande meta do Governo Sarney era a formulação do novo texto constitucional, promulgado em 1988. Isso fez com que o cargo de deputado federal se tornasse mais valorizado entre os candidatos. Foi também o ano em que as coligações começaram a ganhar força, isso porque o TRE havia registrado a existência de mais de 30 partidos políticos e ainda legalizou os partidos comunistas PCB e PC do B (e chegam a apoiar o PMDB em todo o Brasil). No HEG, as transmissões ocorreram entre 14 de setembro e 12 de novembro em duas partes: das 8 às 9 da manhã e das 20h30 às 21h30 com uma importante regra: apenas candidatos podiam falar nos programas eleitorais. Porém, o baixo nível das campanhas eleitorais levou os TREs a recrutarem juízes em todos os estados para dar plantão nas emissoras de rádio e TV e fiscalizar no ar os programas partidários ao ponto de interromper a transmissão por alguns segundos caso houvessem ataques pesados contra esta ou aquela candidatura, ao ponto de proibirem (ou melhor, censurarem) denúncias e críticas no HEG. Eis alguns exemplos: um programa estilo mundo-cão do PMDB de São Paulo mostrando as péssimas condições de trabalho na Fazenda Votorantim em Pernambuco foi vetado (na tentativa de Quércia atacar Antônio Ermírio). No Ceará, o juiz do TRE local Helder Mesquita interrompeu uma troca de acusações entre os candidatos Tasso Jereisatti do PMDB e Adauto Bezerra do PFL a ponto de suspender a propaganda das duas legendas por 24 horas. Já no Rio de Janeiro, o governador Leonel Brizola conseguiu um pedido junto ao TRE fluminense para responder as acusações contra sua gestão, mas quis tirar vantagem da situação para fazer propaganda do seu partido vestindo uma camisa com a etiqueta do seu candidato a sucessão ao Palácio das Laranjeiras, Darcy Ribeiro. O TRE ordenou que ele trocasse de roupa e ele, relutante, saiu do estúdio sem usufruir do seu Direito de Resposta. Já as legendas comunistas, surpreendentemente, apresentaram um discurso moderado e sem radicalismo, derrubando o velho mito do "perigo comunista". Foi com a ala comunista que surgiu a musa das eleições de 86: a candidata a deputada estadual do Rio Jandira Feghali do PC do B, que aparecia no HEG passeando pelas praias cariocas de biquíni ao som da Internacional Comunista em ritmo de bossa-nova, mostrando que as mulheres comunistas são tão normais quanto as outras pessoas, vaidosas e femininas, e, lógico, apresentando suas ideias para a chamada "alternativa comunista".
Mas o destaque ficou por conta mesmo das eleições para o Governo de São Paulo. Os tempos distribuídos para cada candidatura eram bastante desiguais e motivos de muita reclamação na época: Paulo Maluf, da Coligação União Popular, tinha 42 minutos diários de programa eleitoral, Orestes Quércia, do PMDB, possuía 40 minutos por dia, o empresário Antônio Ermírio de Moraes, da Frente União Liberal Trabalhista Social, detinha 18 minutos e Eduardo Suplicy, do PT, com apenas 8 minutos. Esses quatro candidatos participaram de um fato inusitado: o programa Viva a Noite do SBT fez um especial onde o apresentador Gugu Liberato anunciou que não apoiaria nenhum candidato e reservou cada bloco do programa para entrevistá-los separadamente, além de executar alguma proeza no palco do programa: Maluf tocou um prelúdio de Chopin ao piano, Quércia foi recebido sob coro de "lindo" pelo auditório e confessou ser um marido ciumento, Suplicy entrou no ar dirigindo um Monza vermelho e Ermírio, que se aventurava na política, animou uma comemoração de aniversário do cantor Adriano. O programa, gravado em 21 de julho, foi ao ar no dia 26 do mesmo mês. Enquanto isso, o quinto elemento da disputa Teotônio Simões, candidato do obscuro Partido Humanista, não tinha um segundo sequer no HEG e foi o último a ter sua candidatura registrada pelo TRE paulista. A saída encontrada por ele foram os debates e entrevistas concedidas aos veículos de comunicação. Quando as urnas foram abertas, 22 dos 23 estados brasileiros elegeram governadores do PMDB, partido no qual conquistou também uma numerosa bancada na Câmara dos Deputados. Ouçam este áudio com o HEG dos candidatos à Constituinte de São Paulo: https://www.youtube.com/watch?v=tGtPX4L7HN8
Em 1988, o marketing político começou a tomar forma nas eleições municipais e as sessões do TRE continuaram a ser exibidas diariamente de manhã e de noite, só que com 45 minutos de duração cada. Assim como em 1986, as denúncias e ataques contrários continuaram proibidos e iminentes de serem cortados no ar. Vejam estes dois exemplos de HEG com candidatos a prefeito e vereador de São Paulo.
Vídeo 1: https://www.youtube.com/watch?v=xIXUe1bUXK8
Vídeo 2: https://www.youtube.com/watch?v=EnQPdJb7UEA
Chegamos a 1989 e a primeira eleição direta para presidente após 29 anos. O Tribunal Superior Eleitoral registrou o absurdo número de 22 candidatos à Presidência da República. O HEG era transmitido diariamente em dois horários, das 13h00 às 14h10 e das 20h30 às 21h40 entre 15 de setembro e 12 de novembro, acumulando 140 minutos diários (2 horas e 20 minutos) divididos em duas emissões de 70 minutos cada, totalizando portanto 135 horas de campanha eleitoral pela TV (equivalente a mais de cinco dias inteiros) alcançando 82 milhões de eleitores-telespectadores em todo o Brasil. Durante o período de campanha eleitoral televisada, as emissoras de TV tiveram que abrir mão de verbas publicitárias por imposição do TSE, causando prejuízo estimado em 45 milhões de dólares, porém, surpreendentemente, a audiência acumulada da Propaganda Gratuita em todas as emissoras alcançou a marca recorde de 36 pontos de média e 58 pontos de pico. Em 140 minutos disponíveis por dia, Ulysses Guimarães (PMDB) teve o maior tempo de programa com 22 minutos, seguido por Aureliano Chaves (PFL) com 16 minutos e Mário Covas (PSDB) com 13 minutos; Afif Domingos (PL), Affonso Camargo (PTB), Fernando Collor (PRN), Leonel Brizola (PDT), Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Paulo Maluf (PDS) conseguiram 10 minutos cada, Roberto Freyre (PCB) e Ronaldo Caiado (PSD) tiveram 5 minutos cada e outros 11 candidatos, como Fernando Gabeira (PV), Enéas Carneiro (PRONA), Armando Corrêa (PMB, que logo foi substituído por Silvio Santos) e Celso Brandt (PMN), tinham que ratear os 19 minutos restantes de programa eleitoral e ainda pelo sistema de revezamento. Após as eleições realizadas no feriado de 15 de novembro (Centenário da República) surge a novidade do segundo turno das eleições para presidente e os dois candidatos mais votados foram Fernando Collor de Mello e Luiz Inácio Lula da Silva. Entre 28 de novembro e 14 de dezembro, os dois tinham tempos iguais para emitirem seus novos programas eleitorais (20 minutos diários para cada um divididos em duas emissões de 10 minutos cada) diariamente das 13h00 às 13h20 e das 20h30 às 20h50, acumulando portanto 11 horas e 20 minutos de campanha do segundo turno na televisão. O final dessa história, todo já sabem.
Nos anos 90, o HEG tornou-se uma rotina na TV brasileira a cada dois anos, graças a decretos que com o tempo foram criados para moldar o formato de propaganda política. A única mudança foi que a primeira apresentação, a partir de 1996, passou das 8 da manhã para as 13 horas. Nas eleições municipais, o tempo do HEG foi reduzido de 45 minutos para 30 minutos. Enquanto que as eleições estaduais se juntou com a presidencial e o tempo foi também reduzido de 60 minutos para 50 minutos. Confiram aqui os HEG das eleições municipais em São Paulo e no Rio de Janeiro em 1992:
Este ano, como havia comentado no post anterior, as mudanças foram significativas só que não foi lá aquela maravilha, mas já é um bom começo para unir o útil ao agradável e pensar um pouco na classe radiodifusora em poder faturar com os comerciais durante 30 dias de campanha audiovisual antes do dia do pleito. Esperamos que as coisas possam melhorar cada vez mais e que as emissoras de rádio e TV, o TSE e a Justiça Eleitoral entrem em melhor entendimento. Gostaria que um dia todas as eleições, seja municipais, estaduais e federais, ocorram ao mesmo tempo. Recomendo que vocês visitem os canais do YT de três canais que postam vídeos dos HEGs do passado, Valldevir Junior, William de Jesus Silva e diler2006p do gaúcho Dilermando Dias. E divirtam-se!