HISTÓRIA: Semana Maldita na Globo

© Grupo Folhas - Todos os Direitos Reservados Quem viveu o ano de 1990 , seja criança ou adulto, sabe que a grande atração televisiva daquel...

terça-feira, 25 de maio de 2021

ESPECIAL: Eu e o Futebol


Faz mais de uma década que eu estou procurando me distanciar cada vez mais desse assunto que é sem dúvida uma paixão não apenas nacional, mas mundial. Porque atualmente, isso virou coisa de "debilóide", de retardado, porque até a própria mídia está se comportando de tal forma para tratar deste assunto que praticamente desumanizou aqueles profissionais que doam 24 horas por dia e 7 dias por semana de suas vidas trabalhando com gosto na arte do aprimoramento de correr atrás da bola e suas táticas pelos resultados que lhe favorecem. É o futebol.

Há um pouco mais de um ano que eu gostaria de fazer este post aqui no meu blog abrindo o coração e adoraria tê-lo publicado quando o Flamengo (2019) ou o Palmeiras (2020) tivessem ganho o Mundial de Clubes da FIFA e como não aconteceu fiquei adiando. Mas senti no coração que a hora é agora, ainda mais agora depois que soube que o São Paulo conquistou o título paulista depois de 16 anos na fila. Faz tempo, muita coisa mudou de lá para cá. Há 16 anos eu lutava em meio às dificuldades para ingressar na faculdade de Rádio e TV e minha irmã era apenas um bebê. E o que é melhor, em 2005 não sofríamos com pandemia alguma, pandemia esta que o mundo está superando aos poucos e deixando nós brasileiros cada vez mais envergonhados e apavorados.

Voltando ao assunto. Do futebol, o que eu gosto mesmo são das histórias. Se hoje é notícia, amanhã é história. Mesmo eu gostando mais de televisão do que de futebol, eu tenho que ter pelo menos uma noção básica porque o futebol sempre esteve presente na telinha aqui no Brasil, não só do jogo jogado, mas tal noção vai muito além como a compra pelos direitos de transmissão, as cotas de patrocínio, a equipe de cobertura dos eventos, os custos operacionais, os horários das partidas, o número de câmeras etc. Procuro abordar pouco este assunto aqui no meu blog, lógico que na época de Copa do Mundo é impossível ignorar o esporte (até eu publiquei histórias interessantes seja ficcionais ou não). Isso devido ao próprio empoderamento, prepotência e masoquismo dos chamados "times da maioria", incitados nas redes sociais e pela própria mídia esportiva clubista, que mais romantiza o "time do coração" do que manter os pés no chão e encarar os problemas dos bastidores do futebol.

Muitos devem estar me perguntando: Êgon, para que time você torce? É uma história complicada que eu mencionei no post Minha História que publiquei no meu aniversário de 33 anos, mas lá vai. Quando criança, não ligava muito pra futebol, lembro que aos 4 anos vi minha família reunida aqui em casa para assistir a estreia do Brasil na Copa do Mundo de 1990. Esta foi minha primeira lembrança futebolística da minha vida. Mas foi aos 7 anos que fui "apresentado" a essa febre. Meu primo mais velho é corintiano, o do meio é palmeirense e o mais novo é são-paulino. A primeira competição de futebol que acompanhei de verdade foi as Eliminatórias da Copa do Mundo em 1993, mas "boiei" na época ao perceber que não tinha final e nem sequer campeão, apenas classificou o Brasil para aquela inesquecível Copa (segundo minha modesta opinião) em que conquistou o tetra nos pênaltis. Ainda com 7 anos e na base do "ouvir falar", três times conquistaram minha simpatia: São Paulo, Grêmio e Cruzeiro, embora eu me lembro muito bem do grande time do Palmeiras que começara a sair da fila e conquistara muitos títulos importantes (tive muitos amigos palmeirenses e eles não escondiam na época o entusiasmo pela boa fase do alviverde). Azul é minha cor favorita e o futuro marido de uma professora minha (e estão casados até hoje) ia me dar de presente de Natal uma camisa de um desses times de futebol e numa escolha bem solitária fiz o veredicto: moro na cidade de São Paulo, estado de São Paulo, sou paulistano e tem um time chamado São Paulo, então vou querer a camisa do São Paulo e me tornar são-paulino, pronto. Mal sabia que naquele 1993, o Tricolor do Morumbi foi bicampeão da Libertadores, bicampeão mundial e até de uma tal Supercopa dos Campeões.

Na adolescência é que o meu são-paulinismo se desenvolveu. Descontente com a falta de qualidade dos programas de auditório da época, encontrei no esporte o vazio a ser preenchido dentro de mim através da TV. Eu tinha acabado de completar 12 anos e assisti a um dos jogos mais inesquecíveis da minha vida: São Paulo 3x1 Corinthians, final do Campeonato Paulista de 1998, aquela em que o Raí voltou da França e se inscreveu na última hora para jogar exclusivamente a segunda partida daquela decisão memorável. Foi a primeira vez que eu vi na minha vida o São Paulo ser campeão de alguma coisa. Mas o findar da década de 90 foi marcada pelo predomínio do Alvi-Negro do Parque São Jorge e foi aí que surgiu um trauma até hoje difícil de ser superado. Trauma de corintiano. É aí que vem a minha cabeça aqueles maus-pensamentos de um dia querer me suicidar na frente de todo mundo.

Grande parte da família do ex-cônjuge da minha mãe (atual pai da minha irmã) torcia fervorosamente pelo Corinthians e por esse motivo não me sentia acolhido principalmente pelo marido da irmã dele, que leva a sério esse negócio de rivalidade (por mais que alegue ser uma "brincadeira", defendida inclusive pela própria parentela). Me lembro de ter assistido com eles pela TV a semifinal do Campeonato Paulista de 1999 entre Corinthians e São Paulo e o time tricolor foi goleado por 4x0 sendo eliminado da competição e, consequentemente, fui o alvo das provocações (e ainda não me deixaram eu assistir ao jogo sozinho num quarto). Isso me machuca até hoje. Algum tempo depois, em meados de 2002, reparei que a mídia esportiva é meio chapa-branca e enfestada de torcedores disfarçados de jornalistas. Então, decidi parar de acompanhar de vez o esporte na TV e parar de torcer. Foi um processo lento e difícil, ainda mais na época do alarde em que fizeram quando o Ronaldo Fenômeno jogava no clube. Foi uma época psicologicamente tenebrosa para mim.

Por acompanhar tanto o futebol na minha adolescência que surgiram traumas e consequências que me machucam até hoje e que podem ser também sinais da Síndrome de Asperger como os barulhos externos dos fogos de artifício e os berros da vizinhança que me perturbam/perseguem até hoje. A brincadeira de narração que eu fazia no meu quarto ajudou um pouco a minimizar alguns traumas e a paixão clubista. Eu era muito são-paulino, ficava tenso só de saber o dia e a hora em que o time jogaria, a ponto de eu ficar em "estado de choque" quando não ganhava. Hoje eu procuro evitar ao máximo em acompanhar o futebol, sou alheio a todo tipo de rivalidade e parei de torcer como torcia na adolescência, embora no meu íntimo mais profundo, alimente algumas simpatias por Fluminense, Grêmio, América-MG, Paraná Clube, Bahia, Atlético Goianiense, Náutico, Avaí, Ferroviário do Ceará e sem contar o próprio São Paulo Futebol Clube, o qual compreendo que o clube viveu sua pior década de toda sua história nos últimos 50 anos não ganhando quase nada e que agora, 16 anos depois servindo de "sparring" dos arqui-inimigos mais encardidos, volta a ser campeão paulista quando ninguém acreditava ou imaginava que isso tornaria a acontecer (prevendo inclusive a ida para a Série B).

Se eu fosse aquele adolescente lá do ano 2000, eu estaria vibrando até agora, como muitos são-paulinos estão extravasando de alegria até agora, mas jamais zoaria com a cara de algum amigo palmeirense por respeito, pois sempre me coloco no lugar dessa pessoa (aborrecida à essa altura). Até mesmo por respeito a minha mãe, que me revelou um tempinho atrás que quando era adolescente torcia muito pelo Palmeiras (eram os anos 70, Academia, campeão várias vezes...) e curiosamente meu finado pai fazia aniversário na mesma data do Alviverde de Parque Antárctica, 26 de agosto (enquanto que eu faço aniversário no mesmo dia do América-MG, 30 de abril). Hoje, vejo que esse negócio de clubes de futebol virou um medidor social de discriminação pois é fácil um torcedor do "time da maioria" odiar fulano só porque torce para o time rival. É uma coisa que te consome e te faz desconcentrar das coisas mais básicas da vida: estudar, trabalhar, socializar, viver de verdade, saborear a vida, amar e respeitar o próximo etc. Escrevo isso por experiência própria. E outra, estamos testemunhando o surgimento de uma geração de torcedores que jamais foi a um estádio de futebol ver seu time jogar a ponto de preferir abertamente um meio mais viável de vibrar fanaticamente por tal até em jogo-treino, a televisão.

Só espero que depois dessa, eu não sofra uma recaída. Sou Zona Neutra Futebol Clube desde criancinha, amigo!