HISTÓRIA: Cidade Contra Cidade - 56 Anos

Eu fiquei emocionado Naquele domingo à tarde Quando assisti ao programa Cidade Contra Cidade (...) Carlos Cezar, José Fortuna e Valentino Gu...

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2023

ESPECIAL: Viagem no Tempo Através de Anúncios (Post Nº 4.000!!!)

Atire a primeira pedra quem nunca disse a seguinte frase: "Que bom seria se existisse uma máquina do tempo". E de fato ela existe, a própria internet. Basta você dar aquela fuçada em acervos online de jornais e revistas e hemerotecas digitais da vida que você estará sendo transportado para uma época em que você ainda não tinha nem nascido! Para comemorar os 4 mil posts deste despretensioso blog e a incrível marca de 4 milhões de visualizações, vamos viajar no tempo curtindo 20 anúncios antigos da televisão brasileira ao longos dos tempos. Curiosos, pitorescos, raros, interessantes, um registro definitivo, pois é através deles que se pode conhecer melhor e ainda mais sobre a história de um veículo de comunicação que atualmente é maltratado e vem sendo ameaçado de extinção graças a sociopatia do empoderamento antiquado dos nossos teledifusores. Tomem seus lugares que a viagem começa agora:


* 1963 - Testemunhando a História
Começamos por um registro obviamente histórico, o Repórter Esso dando mostras de sua inabalável credibilidade junto ao público. Foram 18 anos seguidos na TV Tupi do Rio de Janeiro e 17 em São Paulo (perambulando pelas TVs Tupi, Paulista e Record). É um anúncio atemporal e definitivo, além de ser o mais claro exemplo de que agências de publicidade, através de seus mais importantes clientes, tomavam conta dos horários da programação de certas emissoras, por isso que muitos programas tinham o nome do patrocinador, cujo conteúdo não era de responsabilidade das estações, que oferecia apenas suporte técnico, mas dos próprios anunciantes.


* 1964 - Futebol Fantástico
Num horário em que futuramente seria ocupado pelo Fantástico, a TV Continental do Rio de Janeiro, já sem grana para produzir programas, tinha que aderir aos enlatados estrangeiros, abrir espaço a programas educacionais e zelar pela reputação de sua estação de rádio como líder nos esportes, colocando o VT dos jogos do Maracanã num digno horário dominical, isso num tempo em que as transmissões ao vivo eram proibidas pela extinta ADEG por provocar queda nas rendas e os clubes na época, proibidos de terem patrocínio, viviam apenas disso. A Esso, pra variar, patrocinava também os VTs de futebol do antigo canal 9 carioca, mas também outros anunciantes faziam suas gentilezas exclusivas nas chamadas Jornadas Esportivas em outros canais pelo país como Goodyear, Ducal, Gillette, Cerveja Caracu, Lojas Garbo, Postos Ipiranga, Antárctica, Firestone, Modas Exposição e por aí vai.


* 1966 - União Improvável
Algo inacreditável aconteceu no emblemático II Festival da MPB de 1966: TV Record de São Paulo e TV Globo do Rio de Janeiro se juntaram para promover o mesmo espetáculo e isso ninguém conta! Os organizadores tinham deixado a TV Excelsior na mão após a realização da primeira edição no ano anterior sob pretexto de expansão nacional, pois havia o risco do evento se tornar algo exclusivamente regionalista (a Excelsior à beira da crise só tinha emissoras no Rio e em São Paulo, enquanto que suas "afiliadas" tinham suas próprias atrações musicais e isso dificultava o intercâmbio). Isso sem contar o cast de cantores que ambas as emissoras dotavam (algo muito comum nos primeiros anos da TV e herdado do rádio, os cantores exclusivos). Esse festival foi marcado pelo que nós conhecemos hoje como polaridade. Se não houvesse o empate entre Disparada e A Banda, segundo o produtor e idealizador Solano Ribeiro, o Teatro Record da Consolação seria totalmente destruído.


* 1968 - Novela aos Domingos?
Quando o fantasma da crise começou a assombrar a TV Excelsior, ela inventou uma maluquice para cobrir as "teias de aranha" de uma programação cada vez mais esburacada com a saída de muitos de seus principais valores artísticos por conta do atraso nos salários. Mas como produzia as melhores novelas de então, cuja carga horária ia de vento em popa (tanto na Vila Guilherme, quanto na Vera Cruz), mas fazia estourar seu orçamento, resolveu exibi-las também aos domingos. E não eram meras reprises ou compactos da semana, eram capítulos inéditos! No ano seguinte, contrariada com os decepcionantes índices de audiência, encomendou uma pesquisa ao IBOPE para saber o que o público achava da ideia até então inédita. E o veredicto foi este: reprovação de 57% porque o telespectador tinha dois costumes dominicais, ou sair de casa ou assistir a outros gêneros de programação.


* 1968 - Acertando no Alvo
A TV Paranaense encampou uma belíssima campanha publicitária enfatizando a preferência do público feminino em sintonizar o Canal 12 de Curitiba de uma forma bem metafórica. Apesar desta belíssima foto em preto-e-branco, não dá para esconder que a modelo aí retratada estava com o olho roxo. A frase "atingir delicadamente uma mulher" poderia ser perfeitamente alterada para "conquistar definitivamente uma mulher". Se fosse hoje, com esse patrulhamento mimizento desgraçado (com o perdão da palavra), certas metáforas não seriam aceitas se valermos pela primeira impressão (que é a que fica), até porque o anúncio seria interpretado como uma "apologia a violência contra a mulher".


* 1969 - Um Ace de Vantagem
Vocês se lembram que nos anos 80 e 90, a Rede Manchete tinha como um de seus slogans "Número 1 no Tênis"? Sinto informá-los que antes de Adolpho Bloch pensar em ter uma emissora, a TV Cultura de São Paulo tinha chegado primeiro para divulgar tal modalidade em sua estreia na cobertura esportiva. Um mês depois de ser inaugurada, apostou nesse esporte que até então era marginalizado pelas grandes emissoras devido a sua longa e tediosa duração e decidiu transmitir os duelos entre brasileiros e mexicanos na competição considerada o suprassumo para qualquer tenista, a Copa Davis. Thomas Koch, Edson Mandarino e Maria Esther Bueno eram exemplos de referências nossas da época. De quebra, resolveu inserir um programete didático ensinando as regras do jogo e como se fazia para manejar uma raquete (será que a Cultura ainda tem em seus arquivos esse tal programete?).


* 1969 - Band Cutuca Record
Num tempo em que o dia 7 era sagrado para a TV Record, a TV Bandeirantes tirou proveito da data para anunciar um grande acontecimento do esporte. Era 7 de dezembro de 1969, um domingo, e naquela tarde seria jogada a última e decisiva rodada do quadrangular final da III Taça Roberto Gomes Pedrosa (o Brasileirão que nós conhecemos hoje), sendo tratada como o grande show do futebol brasileiro pelo canal 13 de São Paulo. E pelo visto foi uma rodada emocionante com três times disputando a então almejada Taça de Prata. O Corinthians, que liderava o quadrangular, poderia fazer história se vencesse o Cruzeiro em pleno Mineirão e saísse de um fila de 15 anos sem títulos, mas quem riu por último foi o rival Palmeiras, que atropelou o Botafogo no inacabado Morumbi com saldo de gols superior a do "Trem Azul". Como os dois jogos foram disputados quase que simultaneamente, a transmissão direta para São Paulo do jogo de Belo Horizonte estava proibida, o jeito era esperar à noite pelo VT da "rodada dupla" ou acompanhar pelo rádio. A conquista teve um gostinho especial pra torcida palestrina porque entre os gritos de campeão, não desperdiçou a chance de zoar seu arqui-inimigo: "Um, dois, três, agora é dezesseis!".


* 1970 - Sinais de Narcisismo?
A olhos críticos e analíticos, o ano de 1969 representou o auge do veículo televisão em vários aspectos: transmissões por satélite, em cadeia nacional, disputa acirrada de audiência, enfim. Um homem tirou proveito de tudo isso, conciliando as funções de executivo bem-sucedido e apresentador ultra-popular. Bastou a Jovem Guarda sair do ar e o palhaço Arrelia mudar de horário para que ele pudesse reinar sozinho num dia da semana muito mal aproveitado pela TV, que entupia seus horários com reprises da semana: o domingo. Só que o mais curioso é que ele conquistava de fato o título de campeão de audiência nas noites de sexta-feira com o Cidade Contra Cidade. Tudo isso o levou a ser premiado sete vezes naquele ano tornando-se a grande personalidade da televisão (mas não era pra tanto). Era Silvio Santos, que a partir de 1970, utilizava seu Baú da Felicidade para estampar anúncios que gabavam dos altos índices de audiência que ele conquistava e reforçavam esse culto a sua personalidade.


* 1970 - O Último Suspiro
Mal tinha começado a década de 70 e a TV Excelsior estava a beira da falência, culminando com seu fechamento. Em São Paulo foi em 30 de setembro no meio de uma comédia ao vivo e no Rio de Janeiro, saiu do ar no dia seguinte após exibir uma aula de inglês em filme. Quem comprou a revista Realidade em outubro daquele ano, se deparou com um anúncio de contracapa da própria emissora anunciando suas "novidades" entre seriados, musicais e até luta-livre. Se por um lado foi uma mancada da Excelsior, com confiança excessiva de que voltaria a viver seus momentos de glória, por outro lado, foi um registro final de um canal de TV que viveu exatos 10 anos no ar. Aqueles que tiveram sorte de possuir aquela edição de Realidade, fez questão de guardá-la por conta do tal registro de algo que não existia mais, serviu de lembrança.


* 1972 - De São Francisco Xavier Para o Mundis (sic)
Um certo Carlinhos, tocador de reco-reco d'Os Originais do Samba, se destacava nos shows do grupo de tal forma que, apesar da sua relutância, foi convencido por Dedé Santana a se tornar um comediante. O sucesso foi tanto que a TV Record de São Paulo (já que o conjunto era contratado exclusivo) o convidou para participar dos programas de humor da época, a ponto dele ser a principal atração do já decadente Show do Dia 7 (rebatizado de Dia 7 Especial), mesmo chamando a atenção dos institutos de pesquisa na tentativa de recuperar a liderança perdida. Aquela altura, o tal Antônio Carlos da Mangueira já estava sendo chamado pelo apelido que o acompanharia pelo resto da vida: Muçum (ainda com o "c" cedilha). Recomendo que assistam ao documentário Mussum, um Filme do Cacildis contando toda a sua trajetória e porque ele foi comparado a um peixe de água doce muito comum no Nordeste que era comprido, escuro, sem escamas e escorregadio (conforme se vê na ilustração). Após dois anos fazendo Os Insociáveis, se mudou de mala e cuia pra Rede Tupi para dar início a formação clássica de Os Trapalhões. O resto é história, mas só tem uma coisa que incomoda: Crioulo é a Tua Mãezis!!!


* 1974 - Em Nome do Machismo
Esvaziada por um sem-número de incêndios e pela fuga de audiência e anunciantes, a TV Record de São Paulo adotou uma estratégia para fisgar um público que até então pouco dava a mínima para a telinha: o masculino. Num tempo em que a audiência na TV era dominada por mulheres (graças as novelas), os homens estavam sendo deixados para trás e o anúncio os questionam pelo fato de deixarem suas esposas a dominarem o aparelho televisor de seus domicílios, perdendo assim seu poder de decisão. Para atrair a atenção deles, a emissora partiu para uma "contra programação", mas sem dinheiro para produzir aqueles grandiosos shows dos anos 60, o jeito era lançar mão da "grade enlatada" e para combater as novelas das oito, sua munição era um seriado de bangue-bangue a cada dia da semana. Na faixa nobre, filmes de longa-metragem que podiam variar para produções de segunda-mão, caratê, policial, épico, terror, musicais, faroeste e os eróticos (isso quando a censura liberava a exibição lá pelas 23 horas).


* 1976 - O Lado Bom da Reprise
A TVS do Rio tinha implementado um certo Sistema de Sessões Contínuas como pretexto para manter suas seis horas diárias de programação. Assim que o Grupo Silvio Santos e a Família Carvalho tornaram-se sócios, a TV Record teve que implantar essa "novidade" na capital paulista. Com modificações aqui e ali na programação, o seriado escolhido para lançar esse método de exibição semelhante a do cinema foi Joe Forrester. A campanha publicitária para tal abordou uma série de contratempos que os homens passam em seu dia-a-dia diante do televisor como satisfazer as vontades da esposa grávida, fazer seu bebê dormir, quando alguém resolve mudar de canal, chega uma visita inesperada, vai comer fora ou quando ocorre um apagão. Lembrem-se, eram tempos em que ainda não existia videocassete doméstico, nem streaming e tampouco TV por assinatura, que se aproveitou do legado deixado pelas tais sessões corridas, hoje rebatizadas de "Horário Alternativo".


* 1981 - Um Flamengo de Audiência
Uma homenagem ao amigo Gian Carlos, que apesar dele ser paranaense de Cascavel, é rubro-negro de coração. Raramente um canal de TV homenageia um clube campeão numa competição transmitida por ele próprio. Naquele ano, o recém-inaugurado SBT transmitiu a fase decisiva da Taça Libertadores da América, juntamente com a Globo, pra variar (a Record na fase pré-SBT tinha mostrado a primeira fase). A TVS do Rio, que estava em funcionamento faziam 5 anos, mostrou toda a campanha do Flamengo na conquista de seu primeiro título internacional, e numa época em que eram proibidas as transmissões diretas do Maracanã para o próprio Rio de Janeiro (como em outras cidades ao redor do país), obteve o índice líder de 45% de audiência quando mostrou na capital fluminense o VT completo da classificação do Fla para a decisão do título. Só que a sina Global prevaleceu nos jogos finais, arrebanhando assim toda a torcida flamenguista por todo o Brasil, mesmo assim o recado já tinha sido dado.


* 1984 - Provando o Primeiro Lugar
Até os dias de hoje, a coisa mais incomum que se pode acontecer em termos de TV é o fato da Rede Bandeirantes beliscar o primeiro lugar de audiência. Houve um tempo em que a mídia estava acostumada em ver o SBT ou a Record tirar a liderança da Globo (não podemos esquecer da saudosa Manchete) e era comum as próprias emissoras de São Paulo (não só de TV, mas também de rádio) acionarem suas agências de publicidade para alardearem seus altos índices de audiência, mesmo que distorcidos nas numerações oficiais fornecidas por IBOPE e etc. Este anúncio é um registro duplo, do que as emissoras podiam fazer quando atingem o topo da montanha e ainda mais se essa emissora fosse a Band. Pela ordem, os programas responsáveis pela proeza em suas respectivas datas foram: um especial do Michael Jackson (4/2), uma luta de boxe entre Chiquinho de Jesus e o porto-riquenho Mario Maldonado (21/2), um especial de carnaval da Hebe Camargo (2/3), os notívagos bailes carnavalescos (5/3) e os filmes A Canção de Dixie (4/3, cuja data registrada estava errada) e As Criadas (7/3).


* 1987 - Pelo Segundo Escalão
Muito antes da Série B ganhar status, a competição era vista como grande motivo de chacota para aqueles times que não estavam na chamada "elite" do futebol. No ano em que foi criado o Clube dos 13 para organizar um verdadeiro divisor de águas chamado Copa União, a CBF teve que lançar mão acolhendo os clubes que foram rejeitados e adotar o mesmo formato de disputa em seu campeonato. O fato despertou interesse do SBT e, disposta a virar esse jogo, queria dar a maior força para o Módulo Amarelo (nome fantasia da Segundona) para mostrar um jogo por rodada, mas quando foi saber a opinião dos 15 candidatos ao título, 8 clubes disseram "não" a transmissão contra os 7 favoráveis (se o América-RJ não tivesse boicotado, fatalmente empataria o placar e deixaria pra CBF o voto de minerva). Quando chegou a fase decisiva, fora muito bem recebida e alardeou o fato de ser a segunda rede do Brasil mostrando as finais do segundo campeonato do Brasil. Por causa de um regulamento confuso e bagunçado, Sport e Guarani tiveram que dividir o título depois de 11x11 nos pênaltis e a falta de resiliência de ambos. Mas se reencontraram sob as lentes do mesmo SBT para decidir o título da CBF perante o boicote de Flamengo e Inter, campeão e vice do Módulo Verde, e deu Sport.


* 1988 - Direto e Indireto
Há 35 anos, a TV Record comemorava seus 35 anos (olha só a coincidência!) e pra fazer questão de marcar seu aniversário em 27 de setembro de 1988, mandou publicar nos jornais de toda a capital paulista um anúncio de página inteira com um texto bem criativo demonstrando seu sentimento em atingir tal idade mesmo sobrevivendo as mudanças e a evolução que os meios de comunicação estavam se submetendo naquela época (sem contar os incêndios). Na época, a Record ainda não possuía uma rede nacional, cujo assunto estava na pauta da diretoria de então (a Família Carvalho), mas se orgulhava do fato de ser a emissora que detinha a medalha de bronze em audiência e faturamento no maior mercado brasileiro, São Paulo. Ainda no texto, citou, sem fugir do contexto, os nomes das concorrentes numa rara demonstração de lealdade, coisa que se perdeu com a chegada dos novos donos dois anos mais tarde.


* 1988 - Para a Posteridade
Outra coisa pouco comum em anúncios de TV é a gente se deparar com uma foto onde se vê todo o cast reunido no mesmo lugar, vaidades à parte. A TV Cultura de São Paulo fez o "impossível" juntando seu elenco artístico e jornalístico para comemorar o sucesso de sua programação alternativa, sempre enfatizando a audiência qualitativa com atrações diferentes para públicos diferentes. Eram os tempos de ouro da Cultura que perduraram até meados dos anos 90. Quem assistia a emissora na época, vai se lembrar desses artistas e profissionais que aparecem na foto sem a necessidade de olhar a legenda de identificação (e notem que era bem servida de mulheres bonitas). E pensar que muita gente aí nessa foto não estar mais entre nós, porém, senti falta de duas figuras importantes da emissora na época: Cassiano Ricardo (apresentador do Enigma) e José Góes (narrador esportivo).


* 1990 - Em Poucas Palavras
Era comum as emissoras de TV ocuparem as páginas de jornal para anunciar a grade do dia no horário nobre com direito a sinopse do que iria ser exibido naquela noite. A Rede Manchete entrou nos anos 90 com uma audiência acima da média e usufruindo do ditado popular "para bom entendedor, meia palavra basta", utilizou pouquíssimas palavras para divulgar sua "grade sanduíche" de sucesso de três horas de duração. Começando pelo "antigo", Kananga do Japão (para mim, a melhor novela da história da Manchete), que mal tinha terminado em março e foi logo reprisada dois meses depois. Em seguida, o "novo" Jornal da Manchete, recheando a noite com as notícias do dia. E finalmente, o "eterno" Pantanal, o grande sucesso da época que levava a TV dos Bloch no topo do IBOPE. E imaginar que em 1988, a mesma emissora tinha elaborada uma campanha publicitária intitulada "Hummm, que delícia de programação!".


* 1990 - Homenagem Cordial
Os 40 anos da televisão brasileira foram imensamente comemorados e quem viveu aquele ano vai se recordar que o assunto rendeu e motivou a realização de várias exposições, mostras, palestras, seminários, sem contar os especiais de TV em que algumas emissoras recorriam a seus próprios acervos (recurso a beira da extinção, porque pegar imagens da internet é demonstração de "pobreza") e faziam montagens com seus melhores momentos de todos os tempos. A TV Cultura de São Paulo tinha lançado uma série que retratava e registrava toda essa história contada pelas câmeras de TV e naquele 18 de setembro de 1990, o programa obviamente chamado 40 Anos de TV foi especial. Fez questão de registrar a data e abriu espaço a todas as TVs comerciais brasileiras a produzirem um vídeo institucional contando suas próprias trajetórias de sucesso. Comemoração como esta não teve nada igual, nem mesmo 10 anos mais tarde.


* 1994 - Mude de Canal Que Dá Sorte
Muito antes do seu malfadado monopólio futebolístico, a Globo já dominava as transmissões esportivas e competia em pé de igualdade com a Band pela melhor audiência. Como maneira de oferecer uma "terceira via" para quem quisesse assistir a Copa do Mundo dos Estados Unidos de forma equilibrada e sem extremismos ou excessos, o SBT recorreu a agência W/Brasil, acostumada a estampar anúncios da emissora carregados de muita ambiguidade, para divulgar a sua transmissão daquela que foi a Copa do tetra. O chamado bom-senso do telespectador era na verdade um "disfarce" para camuflar o espírito supersticioso do brasileiro, muito levado a sério nesse período (agradeçam a Globo por isso). Se por um lado o conselho deu certo para muitos telespectadores verem o Brasil conquistar sua quarta estrela num canal mais simpático (como eu por exemplo), por outro lado, o "vice" em questão ficou em terceiro porque a Band foi a única rede brasileira a mostrar todos os 52 jogos daquele Mundial, já que Globo e SBT diluíram a Copa para manter intacta a guerra de audiência entre ambas.

* Bônus: O Duelo de 1963

Há muito tempo eu queria publicar esta série de anúncios aqui no meu blog e essa hora chegou. Há exatos 60 anos, a televisão começou a se consolidar como o meio de comunicação mais popular do Brasil, começando a superar a audiência do rádio. A fase elitizada e de aprendizado já tinham passado e a porta-estandarte para divulgar a importância do novo veículo era a TV Excelsior. Quando foi inaugurada no Rio de Janeiro, abalou as estruturas de tal forma que, numa época em que os programas atrasavam para entrar no ar, a Excelsior colocava o programa exatamente no horário em que havia anunciado, isso sem contar aquele famoso episódio em que num único dia contratou todo o elenco humorístico e teatral da TV Rio, naquilo que foi chamado nos bastidores de "A Noite de São Bartolomeu", demonstrando que tudo na vida tinha seu valor, quebrando assim o pacto verbal de "fidelidade". Resultado: tornou-se líder de audiência e em faturamento.




A TV Tupi, sabendo da entrada agressiva da TV Excelsior na Cidade Maravilhosa, contra-atacou e lançou uma nova grade com cerca de 30 novos programas, alegando que todos foram testados, planejados e experimentados até ficarem "perfeitos" para serem oferecidos e apresentados ao grande público, aliados ao novo parque técnico que a emissora acabara de adquirir. A tal "ofensiva" tinha até nome: Nova Linha de Vanguarda, que pelo visto teve a aprovação das belas Garotas Tupi. Entendam que o estilo da Tupi era bem artesanal e conservador (oposto da Excelsior que era jovem e dinâmica), se direcionando a um público mais maduro, algo que perdurou até seu fechamento como consequência dos eternos impasses do Condomínio Acionário que neutralizava a chance da pioneira poder se modernizar de verdade e tornar a ser competitiva, nem que fosse um pouquinho.


Enquanto isso, a TV Rio estava totalmente arranhada e sentida pelo golpe da TV Excelsior. O jeito era partir para algo mais alternativo como enlatados, musicais, variedades e jornalísticos, enfatizando a diversificação de atrações oferecidas a todos os tipos de público numa grandes porção de faixas horárias. Para os leigos de plantão, foi justamente a TV Rio que criou o hábito do cidadão comum a chegar em casa e assistir televisão à espera de seus programas preferidos. Era notório que iniciava ali a decadência da emissora com equipamentos super ultrapassados, queda de qualidade e a inevitável perca da liderança em audiência. É lógico que o Esquema-63 não deu certo, pois no ano seguinte, lançou uma nova programação após muitas pesquisas de opinião pública.


Está é uma das razões que me faz prosseguir e me faz ser rotulado nas redes sociais como Enciclopédia da TV. Pelo menos é algo bom que a gente encontra em meio ao turbilhão de horripilâncias sociais e isso é também uma das coisas que me ajuda a fugir e proteger dos maus pensamentos. Agora, nós só temos que fazer (e imaginar) as coisas boas da vida. O blog e o YouTube que o digam.

PS: Eu não consegui encontrar um anúncio que esteve bem na minha frente enquanto eu consultava e casava as informações das programações antigas publicadas diariamente aqui. Era da TV Record de São Paulo no Acervo Online do Estadão, provavelmente dos anos 80, fazendo uma referência ou alusão à Santa Clara, Padroeira da TV, se eu não estiver enganado. Iria bem a calhar neste post. Se alguém encontrar, é só me avisar em qual edição estava.