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quinta-feira, 25 de agosto de 2016

HISTÓRIA: A Tele-Solidariedade

Todos os anos, a gente liga a TV e sempre tem alguma emissora aberta lançando algum tipo de campanha beneficente em prol de alguma coisa, seja para os doentes, para as crianças e para os deficientes. Pelo menos uma vez é sempre assim e tem campanhas para "todos os gostos". Mas isso já existe desde os anos 60, pelo menos aqui no Brasil. Foi a TV Excelsior que introduziu o que podemos chamar de "Tele-Caridade", em 1963, quando reuniu todo aquele seu cast de artistas e jornalistas em prol das crianças carentes, isso duas vezes por ano! No Dia das Crianças e no Natal, quando pedia aos telespectadores a doarem desde quantias em dinheiro até brinquedos em prol da Cruzada Pró-Infância, seja por telefone ou até em pedágios nos arredores do local da campanha. Como não havia transmissão em rede, a campanha teve que fazer separado tanto em São Paulo quanto no Rio de Janeiro. A maratona de shows de mais de 24 horas nos estúdios da extinta emissora era intitulada Grande Noite de Vigília da Criança Brasileira e era amplamente divulgada pelas mídias da época com essa seguinte frase de estímulo "Faça uma Criança Sorrir". Isso se estendeu por toda a década de 60.
Com o fim da TV Excelsior, as campanhas de solidariedade na TV pareciam estar entregues ao esquecimento quando em 1978, a uma semana antes do Natal, a Rede Globo relançou a maratona de solidariedade escalando o cantor Roberto Carlos para liderar uma campanha em prol das crianças carentes, anunciando que o ano seguinte, 1979, foi instituído pela ONU como o "Ano Internacional da Criança" e foi intitulada Um Milhão de Amigos, em alusão a música "Eu Quero Apenas". Foi uma maratona de 24 horas de programação especial, entre 16 e 17 de dezembro, e ao invés de um show contínuo, foi instituído uma programação especial que começava com uma apresentação do "Rei", show musical alternado entre Rio e São Paulo, uma roda de seresteiros, uma missa especial, apresentações esportivas ao ar livre, um jogo de futebol beneficente e programas normais da grade de domingo especialmente temáticos para a ocasião com direito a presença de convidados especiais. Isso sem contar que nos intervalos, haviam matérias especiais produzidas pela equipe do Globo Repórter mostrando os problemas enfrentados na infância. Para receber as doações, agências bancárias do Banco Real fizeram plantão durante aquele domingo, assim como o elenco Global, que vendeu entre outros presentes cartões de Natal da UNICEF pelas ruas de todo o país.
Em 28 de junho de 1981, um domingo também, novamente a Rede Globo fez uma maratona especial de programação, mas desta vez de oito horas de duração, em comemoração aos 15 anos do grupo Os Trapalhões. A festa de debutante não bastava para o quarteto composto por Renato Aragão, Dedé Santana, Mussum e Zacarias, eles resolveram lançar uma campanha celebrando o "Ano Internacional do Deficiente Físico" instituído pela ONU, estimulando o público a fazer doações de córneas. No entretenimento, teve uma apresentação de circo em céu aberto, jogo de basquete para cadeirantes com o ator Tony Ramos, futebol de salão pra lá de nonsense com Os Trapalhões e o quarteto fazendo aparições especiais nas edições especiais dos principais programas Globais, além de um show de calouros com o elenco Global e até uma gincana com os atores de Baila Comigo enfrentando os de O Amor é Nosso (justamente a novela perdida). Só que uma surpresa foi guardada para o final: Renato Aragão recebeu uma linda homenagem de ninguém menos que J. Silvestre, que veio dos Estados Unidos especialmente convidado para fazer um Esta é a Sua Vida com o eterno Trapalhão.
Em 18 de setembro de 1983, no 33º aniversário da televisão brasileira, a Rede Globo indiretamente "comemorou" a data com uma nova maratona beneficente com 12 horas de duração: Nordeste Urgente. A campanha foi motivada devida a repercussão (e a comoção) que causou uma série de reportagens do Jornal Nacional sobre a seca no Nordeste brasileiro, deixando milhares de famílias sem ter o que comer e o que beber. Para a programação especial, foi mobilizado cerca de 300 artistas (elenco de atores, jornalistas e cantores de música popular) estimulando o público no socorro às vítimas da seca depositando suas doações em mais de 540 postos de arrecadação em sete capitais brasileiras (Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre, Brasília, Recife e Salvador). O slogan da campanha era "O Brasil em Busca de Soluções" e teve de tudo: missa especial, maratona com os atores Globais, um debate sobre a seca no nordeste, show especial alternado entre Rio e São Paulo, até o Chacrinha fez questão de comandar uma edição especial do seu Cassino ao vivo do Ginásio Caio Martins em Niterói (cuja renda foi revertida para a campanha). Duas gincanas envolvendo artistas e personalidades foram ao ar especialmente naquele dia: Sete Homens de Ouro comandado por Marília Gabriela e Guerra dos Sexos com o "garoto" Osmar Santos. Os humorísticos dominicais tiveram edições especiais e contando com presença de convidados especiais. O comando foi do Trapalhão Renato Aragão e o curioso é que ele estava separado dos colegas Dedé, Mussum e Zacarias (os três faziam esquetes no A Festa é Nossa). Mesmo assim, a campanha em prol dos nordestinos foi um sucesso e rendeu até prêmio concedido pela Associação Brasileira de Propaganda.
Didi, Dedé, Mussum e Zacarias fizeram as pazes no início de 1984, voltando assim a atuarem juntos, e em 28 de dezembro de 1986, no último domingo daquele ano (o ano em que eu nasci), comandaram ao vivo do saudoso Teatro Fênix, no Rio, uma nova campanha lançada pela Globo como parte das comemorações dos 20 anos do grupo Os Trapalhões e que até hoje está no ar: Criança Esperança. Na sua primeira edição, foi levado ao ar uma programação especial de nove horas e a maratona tinha como pano de fundo a Campanha do Menor Carente, instituída pelo presidente da época José Sarney, cuja carta à respeito do assunto foi lida na abertura do evento. A programação especial foi dividida em 28 blocos e em todas elas teve mini-documentários sobre experiências de apoio às crianças carentes, menores de rua e os direitos da criança, além do balanço das doações, feitas por telefone e depósitos bancários. Programas Globais de sucesso (Xou da Xuxa, Chico Anysio Show, Cassino do Chacrinha, Vídeo Show e Viva o Gordo) tiveram edições especiais naquele dia, assim como o Globo Repórter, que apresentou um documentário sobre a história d'Os Trapalhões. A campanha teve continuidade e recebeu prêmios de UNESCO, UNICEF e até da Austrália.
Na sexta edição do Criança Esperança, o grupo Os Trapalhões comemorou 25 anos, embora desfalcada com o falecimento de Mauro "Zacarias" Gonçalves. Mesmo assim, uma nova programação especial foi ao ar entre 27 e 28 de julho de 1991 e Renato Aragão, Dedé Santana e Mussum apareceu em tudo quanto era programa da Globo: numa matéria especial do Jornal Nacional (que deu pontapé inicial à campanha) sobre as bodas de prata do agora trio, numa aparição na novela das oito O Dono do Mundo na inauguração do restaurante do personagem Altair (Paulo Goulart), numa paródia da abertura da novela onde Aragão imita o ídolo Charles Chaplin brincando com o globo terrestre (exibido exclusivamente naquela noite de sábado), comandando uma aula especial da Escolinha do Professor Raimundo onde os atores Globais substituíram os famosos alunos, em clipes musicais exibidos nos programas matinais de domingo, participaram da Santa Missa e dos quadros do Domingão do Faustão e apresentaram duas edições especiais do programa Os Trapalhões onde parodiaram toda a programação Global (de Xou da Xuxa à Doris Para Maiores) e contou com a participação de convidados especiais. Não satisfeitos com isso, o trio fez plantão durante toda a madrugada direto do Teatro Fênix estimulando o público a fazer suas doações em sete inserções durante a programação especial que foi brevemente interrompida com um programa educativo e duas transmissões esportivas: uma luta de boxe e o Grande Prêmio da Alemanha de Fórmula 1 (onde os três dirigiam carros quebrados antes da prova e depois lamentaram o fato do piloto Ayrton Senna não ter ganho a corrida, vencida por Nigel Mansell). Com tantas atrações, porém, uma cena foi inesquecível e eternizada: Renato Aragão beijando a mão do Cristo Redentor no Rio de Janeiro.
Em 1998, uma nova e inédita campanha foi lançada na TV brasileira, desta vez com o intermédio do SBT: o Teleton. O evento promove ajuda à AACD, Associação de Assistência à Criança Deficiente, para a construção e manutenção de hospitais e centros de reabilitação aos deficientes físicos. A instituição foi fundada em 1950 idealizada no sonho de construir um centro de reabilitação de qualidade como no exterior. Isso só foi possível em 1963 com a inauguração do hospital que funciona até hoje no Ibirapuera e que mais seria chamada de Hospital Abreu Sodré (nome do ex-governador de São Paulo que apoiara a causa do deficiente). Nos anos 90, seus representantes tomaram conhecimento de uma bem-sucedida campanha originada nos Estados Unidos e criada por ninguém menos que um dos maiores comediante do cinema, Jerry Lewis, que rodou 55 filmes. Ele tinha um filho que portava distrofia muscular e criou uma campanha estimulando o público doar quantias para a pesquisa da cura da tal doença e também para o tratamento dos deficientes físicos, o "Telethon" (termo vem da expressão em inglês "Television Marathon"). A repercussão mundial foi enorme e em 1978 o Chile implantou o formato de sucesso da campanha e mobilizando todos os artistas, personalidades, população e emissoras de rádio e televisão locais em prol dos deficientes chilenos, ao ponto de criar a ORITEL, Organização Internacional dos Teletons, que é uma das maiores organizações de solidariedade do mundo, reunindo cerca de 20 países que realizam suas maratonas beneficentes. Foi em 1997 que o Brasil aderiu a "novidade" Teleton, graças ao intermédio da apresentadora Hebe Camargo, colaboradora de longa data da AACD, que convenceu seu "Patrão" Silvio Santos (padrinho moral do Teleton, por mais que ele negue tal condição) a se reunir com a diretoria da instituição e acertar a realização da primeira edição da campanha através do SBT, realizada nos dias 16 e 17 de maio, com 27 horas ininterruptas de programação de auditório que mistura entretenimento, diversão e conscientização e a participação de mais de 200 artistas, sem contar o cast SBTista que se revezava durante toda a programação especial apresentando matérias jornalísticas enfatizando o trabalho da AACD, a prestação de contas com a população e, principalmente, as emocionantes "histórias de vida" de portadores de deficiência física. A meta inicial era arrecadar 8 milhões de reais para a reforma do centro de reabilitação da AACD na Moóca, zona leste de São Paulo, só que o projeto superou as expectativas dos organizadores e apoiadores e o programa conseguiu quase o dobro do que pretendia: 14,8 milhões de reais. E que além de garantir a ampliação da unidade da Moóca, possibilitou a construção do centro de reabilitação da AACD no Recife, Pernambuco. Foi por causa desta maratona de solidariedade, devido a 1 milhão de ligações por ano que o programa recebeu de todo o país, que a AACD realiza diariamente cerca de 10 mil atendimentos em todas as unidades espalhadas pelo Brasil afora.
Entre os anos 90 e 2000 surgiu outra campanha que quase ninguém conhece e promove ajuda ao tratamento do câncer infantil, ou especificamente a manutenção do Hospital do Câncer de Barretos: Direito de Viver. O evento perambulou por diversas emissoras como Band, Rede Vida e Rede TV!. Além das doações telefônicas, encontrou uma forma original de captar fundos para a campanha: um CD onde os artistas do momento regravam grandes sucessos. Outra campanha, mais conhecida, que também ajuda as crianças com câncer é o Mc Dia Feliz que surgiu 1988 pelo Mc Donald's tendo como primeira garota-propaganda a apresentadora Angélica, onde toda o dinheiro arrecadado com a venda do Big Mac todo último sábado do mês de agosto é revertido a hospitais que tratam do câncer infantil. A iniciativa levou a maior cadeia de lanchonetes do mundo a criar no Brasil a Fundação Ronald McDonald's que promove tal ajuda. Mas é uma pena que nenhum canal de televisão abriu espaço decente à campanha para que os artistas e cantores de sucesso participassem daquilo o que eu poderia chamar de "Mc Show Feliz", depois da novela das nove da Globo, onde seria anunciado quanto foi arrecadado com a venda do Big Mac e como foi o dia da campanha. Isso não deixa de ser uma sugestão, os canais de televisão formarem uma cadeia para a transmissão desse show de encerramento do Mc Dia Feliz.
Minha conclusão é a seguinte: as campanhas de solidariedade na TV brasileira são necessárias, porém se acomodaram com o passar dos anos. Massageando o ego de seus padrinhos e fazendo suas vontades, sobrepondo a verdadeira e humanitária causa em prol de crianças carentes, deficientes físicos e portadores de câncer. Porque o Criança Esperança continua mantendo o velho formato do megashow no Ginásio do Ibirapuera? Porque o Teleton reluta em manter-se nas batidas 27 horas seguidas de programação por mais que a meta de arrecadação aumente a cada ano, tornando insuficiente seu tempo de duração? Porque o Direito de Viver e o Mc Dia Feliz não são decentemente divulgados pela televisão, por mais que se restrinjam a uma simplória inserção comercial de 30 segundos? Eu proponho que cada campanha seja divulgada durante um mês por suas respectivas emissoras e após este período promova uma programação especial toda ela dedicada à campanha (com breves interrupções para novelas, telejornais e alguma transmissão esportiva) com uma maratona de 50 horas que seja, iniciando na sexta lá pelas 22h30 e terminando na madrugada de domingo pra segunda lá pela meia-noite e meia (para que as 50 horas sejam cumpridas). E outras: as campanhas não fiquem só na contribuição telefônica e depósitos bancários e sim encontrem outras formas e muito mais formas para a captação de donativos com a venda de cartões de natal, almoços beneficentes, produtos temáticos, shows beneficentes, eventos esportivos idem, leilões pela internet, entre outras maneiras para que essas campanhas saiam da incômoda e irritante zona de conforto que as assombram. Apesar de tudo, dos prós e contras, a lição de moral que aprendemos nessas campanhas é uma só: Os pequenos atos de bondade, gestos amorosos e boas ações são forças necessárias que trazem a Luz Divina para dentro de nossos semelhantes, que necessitam muito mais do que temos e precisemos no dia-a-dia. É um tipo de gesto que não só simplesmente salva o próximo, mas que perdoa nossos inimigos. Ilumine seu mundo com um ato de bondade!