Como eu relatei no posto anterior, há exatos 50 anos, estreava na TV brasileira um programa cuja popularidade nunca esteve em alta: o Horário Eleitoral Gratuito. A estréia foi por meio de um decreto sancionado pelo Tribunal Superior Eleitoral, a Lei nº 4.737, que regulamentava as emissoras de rádio e televisão a transmissão obrigatória de duas horas diárias aos partidos políticos divulgarem seus candidatos e suas plataformas de campanha nos 30 dias antecedentes às eleições (sendo que a campanha eleitoral audiovisual encerrava a 48 horas antes do pleito, marcado na época para 3 de outubro). Quinze anos antes, em 1950, o Colégio Eleitoral regulamentava as emissoras de rádio (e mais tarde de televisão) que reservassem 120 minutos da programação diária para a propaganda partidária durante período de 90 dias. O curioso é que a propaganda nessa época era paga (prática hoje proibida) e os jingles passaram a exercer uma força indispensável que até hoje pode decidir ou não o voto dos indecisos.
Voltando a 1966, foi a primeira eleição bipartidária da história. Em 27 de outubro de 1965, o Governo Militar declarou a extinção dos partidos políticos e outorgou a criação de duas novas legendas, a ARENA (Aliança Renovadora Nacional), o partido governista, e o MDB (Movimento Democrático Brasileiro), representante da oposição. Cada um desses partidos tinham 60 minutos diários no Horário Eleitoral e mais 5 minutos diários de inserções de 30 segundos nos intervalos da programação na faixa das 19 às 22 horas. E a que horas passava o HEG na época? O esquema de duas partes é mantido até hoje, mas na época eram das 13 às 14 horas e das 22 às 23 horas. Nove cidades brasileiras (Bauru, Belém, Curitiba, Florianópolis, Londrina, Porto Alegre, Recife, São Luís do Maranhão e São Paulo) transmitem ao vivo (os partidos não tinham recurso algum, as emissoras tinham que reservar espaço para esse tipo de "programa") as propostas dos candidatos às Assembleias Legislativas, sendo que cada um deles tinham 5 minutos para discursar. Como as eleições eram parlamentares, o eleitor tinha que escolher os deputados federais, estaduais, vereadores e senadores, até porque os governadores passaram ser eleitores pelo voto indireto. Essa "novidade" do HEG na programação das emissoras de TV, obteve uma audiência inferior a 10%, fazendo o telespectador ser obrigado a desligar o aparelho televisor, o que aumentava em 80%, fazendo as emissoras perderem dinheiro com publicidade, o que levou a criar mais tarde leis de ressarcimento às emissoras de rádio e TV.
Em 1970, o período de transmissão do HEG é delongado para 60 dias, entre 12 de setembro e 11 de novembro, e o pleito foi marcado no feriado de 15 de novembro, dia da Proclamação da República. Os horários permanecem inalterados, mas em São Paulo, ocorre um fato inusitado: a TV Bandeirantes de São Paulo, então com três anos de vida, fez um acordo com o TRE de São Paulo para ter uma permissão especial em emitir o HEG duas horas mais cedo, entre 20 e 21 horas, sendo assim fora do horário definido em acordo entre as demais emissoras. Motivo: a faixa das 22 horas era a grande responsável pela grande audiência e, acima de tudo, faturamento da jovem emissora com filmes, shows, documentários, musicais, esporte e telejornais. Com essa possibilidade de oferecer alternativa ao telespectador na época, sua audiência chega aos 28% durante o HEG exibido em cadeia.
Em 1974, o Código Eleitoral Brasileiro determina a proibição de propaganda política fora do HEG estabelecido pela Justiça Eleitoral. Os candidatos ainda se limitavam a discursar diante das câmeras ao vivo. Porém, o MDB em alguns estados brasileiros investiu em novos recursos para seduzir o eleitorado e ao mesmo tempo mantê-los atentos diante da TV. Sabendo o potencial do veículo, a grande vantagem da oposição foi a criatividade para conquistar ao mesmo tempo eleitores das capitais e do interior. O estilo de ação dos candidatos teve que ser modificado procurando conquistar, através da TV, as classes mais baixas e o público jovem com a linguagem dinâmica e a imagem acima de tudo, explorando a juventude dos candidatos, principalmente do Senado. Enquanto que a ARENA ainda apostava na retórica de seus "medalhões". A audiência sofre um ligeiro aumento na faixa das 22 horas, média de 20%, porém, o MDB conseguiu 22% na apresentação de seus candidatos, enquanto que a ARENA não passava dos minguados 19%. A eleição de 1974 foi importante na história do HEG e determinou em vários estados inovações decisivas na vitória da oposição pelas cadeiras do Senado, vejam alguns casos:
São Paulo
Os candidatos parlamentares gravavam seus discursos eleitorais em vídeo-tape, algo "inovador" na época porque até então o HEG ainda era transmitido ao vivo. O veterano professor Carvalho Pinto, candidato arenista, tinha 64 anos e por causa dos problemas circulatórios, usava a televisão para discursar e simplificar a peregrinação pelo estado, função esta exercida pelo governador biônico recém-eleito Paulo Egydio Martins. Enquanto que Orestes Quércia, do MDB, com 36 anos, tinha pinta de galã de novelas, esbanjava disposição em gravar os seus programas e fazer corpo-a-corpo com o eleitorado em mais de 500 municípios paulistas. Na tentativa de inovar a propaganda eleitoral, a ARENA colocou um menina perguntando "Em quem o seu pai vai votar?". Dando a ilusão de que Carvalho Pinto era o candidato dos conservadores, o MDB colocou outra garotinha respondendo a pergunta lançada pelos governistas: "O meu pai não sei, mas minha mãe, meu irmão, minha irmã, minha tia e minha professora vão votar no Quércia". A simbologia foi também importante na campanha MDBista: durante o programa, o locutor anunciava que Quércia "vai levar o sol de São Paulo para Brasília" fazendo o chamado astro-rei a marca registrada do ex-prefeito de Campinas, só que o tempo nublado da época fez com que o termo "sol" fosse substituído por "energia". O resultado foi uma vitória esmagadora de Quércia sobre Carvalho por 2,5 milhões de votos.
Minas Gerais
Os papéis pareciam estar invertidos. O candidato da ARENA José Augusto, desde o início da campanha pela TV, fez constantes ataques a seu adversário, o futuro presidente Itamar Franco, do MDB. O motivo alegado foi a sua ausência num debate organizado na abertura da campanha eleitoral proposto pela ARENA e que Itamar se ausentou. A imagem da cadeira vazia, mostrada todo dia por Augusto no programa arenista, simbolizava o tal argumento. Itamar, de fato, não concordava em participar de debates, até que um belo dia, em 9 de novembro, o TRE mineiro aceitou nova proposta da ARENA e autorizou a realização do esperado debate. O HEG era transmitido ao vivo e nos estúdio da TV Itacolomi de Belo Horizonte, o locutor Roberto Márcio anunciava mais um programa da ARENA até que, de repente, Itamar invade o estúdio "pronto para o debate", só que surpreendentemente, o desafiador não estava presente, para desespero e perplexidade dos correligionários arenistas que logo localizaram seu candidato. Mais surpreso estava o juiz do TRE de Minas Bady Raimundo Cury, que pediu a retirada do candidato oposicionista no horário reservado a seus adversários. Augusto chegou aos estúdios 10 minutos antes do encerramento do programa da ARENA, mas o juiz do TRE mineiro, que fiscalizava o HEG, proibiu o debate sob pretexto de que o arenista não tinha "condições psicológicas" adequadas para tal. Augusto, frustrado com o fato, decidiu resolver a questão na força e quis agredir seu oponente com um pedaço de pau, mas fora flagrado por um fotógrafo da Revista Veja, que cobria o fato. No dia seguinte, os representantes dos dois partidos trocaram insultos sobre a invasão do MDBista no horário da ARENA e da tentativa de agressão do candidato arenista. No fim das contas, Itamar Franco ganhou a eleição.
Rio de Janeiro
O futuro prefeito da capital fluminense Roberto Saturnino Braga foi escolhido pelo MDB para concorrer ao Senado 60 dias antes das eleições em lugar de Afonso Celso Ribeiro de Castro, que ficou doente, e em uma semana saiu da obscuridade e foi eleito com mais da metade dos votos que Paulo Torres da ARENA. Torres se disse "desentendido" com a inesperada derrota pois no programa eleitoral mostrava as grandes obras do Governo Militar como a Ponte Rio-Niterói, enquanto que Saturnino dizia que a tal ponte "não enche a barriga de ninguém" e explorou as necessidades do bem-estar geral da população sem se preocupar com o decadente "Milagre Econômico". Saturnino ainda testemunhou um fato pitoresco de bastidores: como não havia teleprompter, o discurso era escrito em enormes cartolinas (dálias) e numa dessas, a janela do estúdio insalubre estava aberta e o vento forte provocado do lado de fora fez o cartaz de um candidato a deputado voar, todo mundo riu na hora.
Rio Grande do Sul
Enquanto que em vários estados, os oposicionistas do MDB podiam dizer tudo o que desse na telha, o TRE gaúcho era o único que podia cortar a transmissão com um censor de plantão. Através de um velho telefone a manivela, o indivíduo determinava as emissoras gaúcha a tirarem o sinal do ar e inserir um slide de censura caso houvesse excesso de ataques e insultos entre os adversário do Senado: Nestor Jost pela ARENA e Paulo Brossard pelo MDB. Os dois candidatos protagonizaram o único debate entre candidatos ao Senado em todo o País, em 9 de setembro nos estúdios da TV Gaúcha. O acordo foi amigável entre os dois partidos e o Clube de Repórteres de Porto Alegre, imediatamente aprovado pela Justiça Eleitoral e o TRE gaúcho. Mediado pelo jornalista Joseph Zukauskas, a única regra eram 5 minutos alternados para cada candidato perguntar, responder e discursar o que bem entendesse. A troca de farpas foi substituída pelo alto nível de cordialidade dos candidatos e a audiência na capital gaúcha foi de 30%.
Pernambuco
A juventude explorada pelo MDB pode ser resumida na disputa pelo Senado no estado de Pernambuco. O seu candidato era o jovem e simpático Marcos Freire, cujas fotos na praia de trajes de banho, tomando sol e nadando no mar eram acompanhadas pelo seguinte locução: "Você passaria 15 dias longe da praia? Pois Marcos Freire vai ficar 8 anos longe do mar para defender o estado de Pernambuco". O slogan da campanha de Freire era "Sem ódio, sem medo e sem dinheiro" e isso ajudou a derrotar o "velho e feio" (como o próprio admitira) João Cleófas, da ARENA.
Rio Grande do Norte
Foi a disputa mais pitoresca de todas. Enquanto que a ARENA concorria com o respeitado Djalma Marinho, que se mostrava retraído, introvertido e ao mesmo tempo culto, citando autores franceses, o MDB lançou outro desconhecido, Agenor Nunes de Maria. O que não tinha de jovem, tinha de "homem do povo" pois fora camelô e marinheiro no Rio de Janeiro, fazendo questão de exibir seus braços tatuados no programa de TV: uma âncora no braço direito representando a esperança e o cálice no braço esquerdo era a "fé na vitória da democracia". Com a recusa de Djalma em participar de um debate proposto pelo MDB alegando que "não tinha nada o que aprender com um marinheiro tatuado e semi-analfabeto", a popularidade de Agenor cresceu de tal forma que ganhou a vaga no Senado numa disputa acirrada.
O resultado final foi apertado, somando todos os votos a deputado e senador, a ARENA recebeu 12 milhões de votos e o MDB, 11 milhões de votos. Foi primeiro grande avanço da oposição nas eleições parlamentares, permitindo o início da chamada Abertura Política. Enquanto que no Senado, o MDB elegeu 16 dos 22 candidatos. A ARENA ainda apostava na velha fórmula do discurso e logo admitiu o velho clichê. Para aniquilar a vantagem da oposição em usufruir a televisão, em 1976 outorgou a Lei Falcão que impedindo a divulgação das plataformas opositoras durante as campanhas eleitorais, bem como a proibição de debates políticos nos meios de comunicação, com medo de nova derrota para a oposição nas eleições seguintes. Foi a partir de então que os candidatos só podiam aparecem com a fotografia, nome, número e legenda a pretexto de contornar um "problema técnico" causado pelo excessivo número de candidatos a vereador. Além disso, os TREs obrigavam a exibição da propaganda política no rádio e na TV a cada 5 minutos por hora com revezamento de partidos. Vejam este exemplo postado no YouTube com os candidatos arenistas a vereador do município do Rio de Janeiro: https://www.youtube.com/watch?v=Xr0oDVJGLT8
Em 1977, após a instauração do Pacote de Abril, o MDB se utilizou de um dispositivo da Lei Falcão que permitia os partidos políticos requisitarem cadeia nacional de rádio e televisão para a divulgação de suas idéias e em 27 de junho, a oposição fez um programa histórico atacando o Governo Militar usando imagens de um simpósio promovido pelo próprio partido cujos temas eram salário minimo, dívida externa, desemprego, inflação e a falta da democracia no Brasil. Participaram Ulysses Guimarães (presidente do partido), Franco Montoro (líder do senado), Alencar Furtado (líder da câmara) e Alceu Collares (presidente do Instituto Pedroso Horta). O programa motivou o governo da época a proibir o acesso dos partidos políticos aos meios de comunicação fora do período eleitoral. A medida só foi revogada em outubro de 1984.
Em 1978, os acordes marciais de Paris Belfort anunciavam entre 15 de setembro e 14 de novembro o "Horário Reservado ao TRE", mantendo o mesmo esquema de 1966. Foi a última eleição bipartidária e ainda sob a Lei Falcão, todos os candidatos parlamentares se limitavam em mostrar uma foto, o número de votação e uma locução apresentando um breve currículo e suas pretensões caso eleito, o que fazia a TV perder 5% de audiência e obter uma audiência acumulada de 20%. Vejam este exemplo com os candidatos do MDB a deputados e senadores de São Paulo: https://www.youtube.com/watch?v=5VTXxCgAtCU
O ano de 1982 é marcado pelas primeiras eleições diretas para prefeito (menos nas capitais) e governador em todo o Brasil, depois de 18 anos de Ditadura Militar, desde o começo da Abertura Política (exceto para 68 municípios considerados Áreas de Segurança Nacional segundo Decreto-Lei nº 314 de 13 de março de 1967, onde os prefeitos ainda são nomeados por intervenção federal como Santos, Nova Iguaçu, Santarém, Santana do Livramento, Itu e Sobral). Foi também a primeira eleição pluripartidária em 17 anos, porém, haviam somente cinco partidos: PDS, PDT, PT, PTB e PMDB. O avanço da oposição nas pesquisas de intensão de voto, na realização de debates e em matérias jornalísticas na televisão faz o Governo Federal mudar as regras eleitorais como o desbloqueio da Lei Falcão em 14 de setembro e de que o voto só seria válido desde que todos os candidatos preenchidos na cédula eleitoral fossem do mesmo partido, o chamado voto vinculado (prática esta difundida desde os tempos do bipartidarismo). Os currículos dos candidatos da oposição eram lidos com "mais enfase", vários artistas passaram a animar comícios e apoiar candidatos e os jingles passaram a ser indispensáveis na promoção das candidaturas. A exibição do HEG dependia do interesse das emissoras pois os programas partidários eram em 24 blocos de cinco minutos cada, 12 deles exibidos entre 9 da manhã e 6 da tarde e outros 12 apresentados entre 20 e 23 horas por todas as emissoras brasileiras de TV, que por sua vez podiam optar em inseri-las entre um programa e outro ou exibi-las todas de uma vez em duas sessões, entre 13h00 e 14h20 e entre 20h00 e 21h20. No primeiro dia do HEG, em 16 de setembro, o PMDB de São Paulo violou a Lei Falcão e colocou a voz do candidato Franco Montoro quebrando o seu "silêncio" e lendo um manifesto de 413 palavras (alegando ser o currículo do partido, que "confundia" com as dos candidatos a deputado e vereador) enquanto que as fotos dos candidatos, intercaladas com as de Montoro, eram apresentadas uma por uma. O motivo alegado era que a lei não proibia que a voz de um certo candidato entre no lugar de um locutor profissional. O discurso foi finalizado com lema do PMDB naquela eleição "Vote para mudar". A oposição democrática deu um banho nas urnas. Vejam este exemplo com a apresentação dos candidatos ao Governo do Rio de Janeiro, a que mais chamou a atenção do país não só pelos candidatos, mas também pela conturbada apuração dos votos: https://www.youtube.com/watch?v=qthGrI_l2oQ
Em 1985, o Tribunal Regional Eleitoral instituiu a primeira eleição direta municipal em todo o Brasil depois de 20 anos. O HEG passou a ser apresentado em duas partes: das 13h00 às 13h30 e das 20h30 às 21h00. Os espaços passam a ser divididos entre os principais candidatos de cada cidade e os partidos com representatividade nas câmaras municipais e com o fim da Lei Falcão, a propaganda gratuita passa a ser mais criativo: criação de personagens, apoio de artistas e personalidades, paródias de telejornais e lançamento de candidatos como produtos de consumo, porém, a audiência da televisão perde 30% de seus telespectadores. Em cada cidade, o TRE alugou um estúdio de TV para que os candidatos de partidos pequenos e sem recursos para gravar seus programas possam fazer suas emissões ao vivo. Destaque para o Horário Eleitoral dos candidatos a Prefeitura de São Paulo: Lima Duarte e Regina Duarte (ambos da novela Roque Santeiro) demonstram apoio à Fernando Henrique Cardoso; uma novelinha de sete capítulos, onde Eduardo Suplicy tentará convencer pessoalmente uma família de classe média em votar nele, sendo que o pai quer votar no PMDB, a mãe quer votar no PT e a sogra é janista, além do boneco Zé do Muro, buscando o voto dos indecisos; e em meio a discursos e imagens dos problemas da cidade, Jânio Quadros adotou desenhos animados onde uma vassoura golpeava bandidos, corruptos e ladrões da cidade. Entre os "nanicos", destaque para Ana Rosa Tenente, a professorinha de 25 anos que entrou pra história por ser a primeira mulher a se candidatar a prefeitura da maior cidade do Brasil (e, por tabela, musa das eleições) e Pedro Geraldo Costa, o único entre os candidatos que disputou a última eleição direta para prefeito da capital paulista faziam 20 anos, em 1965! Um cronômetro ficava estampado no canto do vídeo controlando o tempo de cada programa e o tempo diário de cada um dos 13 candidatos foram estes: Fernando Henrique Cardoso (PMDB) com 16 minutos, Jânio Quadros (PTB-PFL) com 12 minutos diários, Eduardo Suplicy (PT) com 7 minutos, Rogê Ferreira (PSB) com 6 minutos, Antônio Carlos Fernandes (PMC) com 3 minutos, Adhemar de Barros Filho (PDT), Ana Rosa Tenente (PH), Armando Corrêa (PMB), Eymael (PDC), Francisco Rossi (PCN), Rivailde Ovídio (PSC), Ruy Codo (PL) e Pedro Geraldo Costa (PPB), todos eles com 2 minutos cada um.
Em Porto Alegre, o candidato Alceu Collares se fez de repórter para entrevistar os eleitores que o apoiam e desvendar os problemas da cidade, no Rio de Janeiro, o debochado Carlos Imperial aparecia em seu programa eleitoral vestindo uma camisa zebrada anunciando o utópico slogan "Vai dar zebra!" e em Belo Horizonte um exemplo de humor involuntário dos partidos "nanicos", o candidato Sebastião Martins do PDI interrompe o texto no final para saber se o tempo dele tinha acabado. Vejam este exemplo com um vídeo que eu postei com os candidatos dos partidos "nanicos" a Prefeitura de São Paulo: https://www.youtube.com/watch?v=lbGVG6UUyrI
O ano de 1986 é marcado pelas eleições para a Assembléia Nacional Constituinte, tudo porque a grande meta do Governo Sarney era a formulação do novo texto constitucional, promulgado em 1988. Isso fez com que o cargo de deputado federal se tornasse mais valorizado entre os candidatos. Foi também o ano em que as coligações começaram a ganhar força, isso porque o TRE havia registrado a existência de mais de 30 partidos políticos e ainda legalizou os partidos comunistas PCB e PC do B (e chegam a apoiar o PMDB em todo o Brasil). No HEG, as transmissões ocorreram entre 14 de setembro e 12 de novembro em duas partes: das 8 às 9 da manhã e das 20h30 às 21h30 com uma importante regra: apenas candidatos podiam falar nos programas eleitorais. Porém, o baixo nível das campanhas eleitorais levou os TREs a recrutarem juízes em todos os estados para dar plantão nas emissoras de rádio e TV e fiscalizar no ar os programas partidários ao ponto de interromper a transmissão por alguns segundos caso houvessem ataques pesados contra esta ou aquela candidatura, ao ponto de proibirem (ou melhor, censurarem) denúncias e críticas no HEG. Eis alguns exemplos: um programa estilo mundo-cão do PMDB de São Paulo mostrando as péssimas condições de trabalho na Fazenda Votorantim em Pernambuco foi vetado (na tentativa de Quércia atacar Antônio Ermírio). No Ceará, o juiz do TRE local Helder Mesquita interrompeu uma troca de acusações entre os candidatos Tasso Jereisatti do PMDB e Adauto Bezerra do PFL a ponto de suspender a propaganda das duas legendas por 24 horas. Já no Rio de Janeiro, o governador Leonel Brizola conseguiu um pedido junto ao TRE fluminense para responder as acusações contra sua gestão, mas quis tirar vantagem da situação para fazer propaganda do seu partido vestindo uma camisa com a etiqueta do seu candidato a sucessão ao Palácio das Laranjeiras, Darcy Ribeiro. O TRE ordenou que ele trocasse de roupa e ele, relutante, saiu do estúdio sem usufruir do seu Direito de Resposta. Já as legendas comunistas, surpreendentemente, apresentaram um discurso moderado e sem radicalismo, derrubando o velho mito do "perigo comunista". Foi com a ala comunista que surgiu a musa das eleições de 86: a candidata a deputada estadual do Rio Jandira Feghali do PC do B, que aparecia no HEG passeando pelas praias cariocas de biquíni ao som da Internacional Comunista em ritmo de bossa-nova, mostrando que as mulheres comunistas são tão normais quanto as outras pessoas, vaidosas e femininas, e, lógico, apresentando suas ideias para a chamada "alternativa comunista".
Mas o destaque ficou por conta mesmo das eleições para o Governo de São Paulo. Os tempos distribuídos para cada candidatura eram bastante desiguais e motivos de muita reclamação na época: Paulo Maluf, da Coligação União Popular, tinha 42 minutos diários de programa eleitoral, Orestes Quércia, do PMDB, possuía 40 minutos por dia, o empresário Antônio Ermírio de Moraes, da Frente União Liberal Trabalhista Social, detinha 18 minutos e Eduardo Suplicy, do PT, com apenas 8 minutos. Esses quatro candidatos participaram de um fato inusitado: o programa Viva a Noite do SBT fez um especial onde o apresentador Gugu Liberato anunciou que não apoiaria nenhum candidato e reservou cada bloco do programa para entrevistá-los separadamente, além de executar alguma proeza no palco do programa: Maluf tocou um prelúdio de Chopin ao piano, Quércia foi recebido sob coro de "lindo" pelo auditório e confessou ser um marido ciumento, Suplicy entrou no ar dirigindo um Monza vermelho e Ermírio, que se aventurava na política, animou uma comemoração de aniversário do cantor Adriano. O programa, gravado em 21 de julho, foi ao ar no dia 26 do mesmo mês. Enquanto isso, o quinto elemento da disputa Teotônio Simões, candidato do obscuro Partido Humanista, não tinha um segundo sequer no HEG e foi o último a ter sua candidatura registrada pelo TRE paulista. A saída encontrada por ele foram os debates e entrevistas concedidas aos veículos de comunicação. Quando as urnas foram abertas, 22 dos 23 estados brasileiros elegeram governadores do PMDB, partido no qual conquistou também uma numerosa bancada na Câmara dos Deputados. Ouçam este áudio com o HEG dos candidatos à Constituinte de São Paulo: https://www.youtube.com/watch?v=tGtPX4L7HN8
Em 1988, o marketing político começou a tomar forma nas eleições municipais e as sessões do TRE continuaram a ser exibidas diariamente de manhã e de noite, só que com 45 minutos de duração cada. Assim como em 1986, as denúncias e ataques contrários continuaram proibidos e iminentes de serem cortados no ar. Vejam estes dois exemplos de HEG com candidatos a prefeito e vereador de São Paulo.Vídeo 1: https://www.youtube.com/watch?v=xIXUe1bUXK8
Vídeo 2: https://www.youtube.com/watch?v=EnQPdJb7UEA
Chegamos a 1989 e a primeira eleição direta para presidente após 29 anos. O Tribunal Superior Eleitoral registrou o absurdo número de 22 candidatos à Presidência da República. O HEG era transmitido diariamente em dois horários, das 13h00 às 14h10 e das 20h30 às 21h40 entre 15 de setembro e 12 de novembro, acumulando 140 minutos diários (2 horas e 20 minutos) divididos em duas emissões de 70 minutos cada, totalizando portanto 135 horas de campanha eleitoral pela TV (equivalente a mais de cinco dias inteiros) alcançando 82 milhões de eleitores-telespectadores em todo o Brasil. Durante o período de campanha eleitoral televisada, as emissoras de TV tiveram que abrir mão de verbas publicitárias por imposição do TSE, causando prejuízo estimado em 45 milhões de dólares, porém, surpreendentemente, a audiência acumulada da Propaganda Gratuita em todas as emissoras alcançou a marca recorde de 36 pontos de média e 58 pontos de pico. Em 140 minutos disponíveis por dia, Ulysses Guimarães (PMDB) teve o maior tempo de programa com 22 minutos, seguido por Aureliano Chaves (PFL) com 16 minutos e Mário Covas (PSDB) com 13 minutos; Afif Domingos (PL), Affonso Camargo (PTB), Fernando Collor (PRN), Leonel Brizola (PDT), Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Paulo Maluf (PDS) conseguiram 10 minutos cada, Roberto Freyre (PCB) e Ronaldo Caiado (PSD) tiveram 5 minutos cada e outros 11 candidatos, como Fernando Gabeira (PV), Enéas Carneiro (PRONA), Armando Corrêa (PMB, que logo foi substituído por Silvio Santos) e Celso Brandt (PMN), tinham que ratear os 19 minutos restantes de programa eleitoral e ainda pelo sistema de revezamento. Após as eleições realizadas no feriado de 15 de novembro (Centenário da República) surge a novidade do segundo turno das eleições para presidente e os dois candidatos mais votados foram Fernando Collor de Mello e Luiz Inácio Lula da Silva. Entre 28 de novembro e 14 de dezembro, os dois tinham tempos iguais para emitirem seus novos programas eleitorais (20 minutos diários para cada um divididos em duas emissões de 10 minutos cada) diariamente das 13h00 às 13h20 e das 20h30 às 20h50, acumulando portanto 11 horas e 20 minutos de campanha do segundo turno na televisão. O final dessa história, todo já sabem.
Nos anos 90, o HEG tornou-se uma rotina na TV brasileira a cada dois anos, graças a decretos que com o tempo foram criados para moldar o formato de propaganda política. A única mudança foi que a primeira apresentação, a partir de 1996, passou das 8 da manhã para as 13 horas. Nas eleições municipais, o tempo do HEG foi reduzido de 45 minutos para 30 minutos. Enquanto que as eleições estaduais se juntou com a presidencial e o tempo foi também reduzido de 60 minutos para 50 minutos. Confiram aqui os HEG das eleições municipais em São Paulo e no Rio de Janeiro em 1992:
Este ano, como havia comentado no post anterior, as mudanças foram significativas só que não foi lá aquela maravilha, mas já é um bom começo para unir o útil ao agradável e pensar um pouco na classe radiodifusora em poder faturar com os comerciais durante 30 dias de campanha audiovisual antes do dia do pleito. Esperamos que as coisas possam melhorar cada vez mais e que as emissoras de rádio e TV, o TSE e a Justiça Eleitoral entrem em melhor entendimento. Gostaria que um dia todas as eleições, seja municipais, estaduais e federais, ocorram ao mesmo tempo. Recomendo que vocês visitem os canais do YT de três canais que postam vídeos dos HEGs do passado, Valldevir Junior, William de Jesus Silva e diler2006p do gaúcho Dilermando Dias. E divirtam-se!