HISTÓRIA: Semana Maldita na Globo

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sábado, 7 de dezembro de 2019

ESPECIAL: Os "Melhores Destaques" do Ano - Uma Velha Polêmica


Como hoje não teremos programação antiga, quero aproveitar a brecha para abordar um assunto muito chato e bem propício. Estamos finalmente no mês de dezembro e, com ele, dá-se o pontapé inicial às enquetes e seleções de artistas e programas que, segundo o entendimento de certos "especialistas", "fã-clubes virtuais" e "grupos chapa-branca", são considerados os "melhores" da televisão neste ano que está findando. Porém, eu estava fuçando uns jornais antigos no portal da Hemeroteca Digital Brasileira em busca de guias de programação e fiz uma grande descoberta. Como esse tipo de prática dos "destaques do ano" é submetido a discussões de todos os tipos ano após ano graças a critérios visivelmente protecionistas, chego a conclusão de que a bronca é muito mais antiga do que se possa imaginar!
Entre fevereiro e março de 1962, o vespertino Diário da Noite publicou uma série de quatro reportagens semanais em que o colunista responsável pelo artigo de Rádio e TV do periódico em questão, Nilton Nascimento (com "N" de navio mesmo), entrevista vários representantes de emissoras de TV, alguns premiados e entendidos no assunto para uma análise mais aprofundada sobre o que acham dessas premiações aos eleitos "melhores" e qual seria a melhor ideia para reformulá-los e até criar um prêmio unificado mais justo e menos controverso, como existe nos Estados Unidos com o Oscar, que é um bom exemplo de um prêmio único apesar de segmentado em cinema. A reportagem abaixo pode perfeitamente ser encaixada no contexto atual. Sem mais "delongas", confiram!

OPINIÃO GERAL - PRÊMIOS AOS MELHORES DO ANO
Reportagem de Nilton Nascimento

O trabalho dos inúmeros profissionais da televisão anualmente é selecionado, escolhendo-se os melhores em cada setor. Até aí nada de excepcional, apenas uma iniciativa lógica, destinada principalmente a incentivar o artista e o técnico, no sentido de produções cada vez mais aprimoradas. Em São Paulo, no entanto, neste mês de janeiro de 1962, concedeu-se uma série de prêmios, sob os mais diversos títulos com diferenças acentuadas. Para início, citemos aqueles que nós, como redatores especializados no assunto, conhecemos. Haverá, forçosamente, alguma missão em vista do grande número dessas promoções:

1) Troféu Roquette Pinto: aos melhores do rádio e televisão, há 12 anos promovido pelas Emissoras Unidas. A seleção é feita pela Associação dos Funcionários das Emissoras Unidas (AFEU).
2) Troféu Imprensa: promoção da revista São Paulo na TV, aos melhores da televisão, selecionados pela totalidade dos cronistas especializados de nossa imprensa. Há dois anos.
3) Prêmio Sete Dias na TV: iniciativa da revista do mesmo nome, com seleção dos redatores daquele órgão especializado.
4) Troféu Bandeirante: promoção da revista City Show, com seleção dos redatores da mesma.
5) Os Melhores da Revista do Rádio: simples seleção dos redatores paulistas daquela revista do Rio de Janeiro.

Vai daí, a luta está generalizada, cada qual querendo defender sua iniciativa. Atitudes até deselegantes, proibindo-se que funcionários de determinadas empresas compareçam para receber os prêmios concedidos por outros. Isto gera revides e a situação se complica. Procurando esclarecer o assunto, sem tomar partido, embora façamos parte dos Diários Associados, iniciamos (...) uma série de entrevistas com confrades que militam no assunto. Qual sua opinião sobre o assunto? O que está acontecendo? Qual a solução? As seleções são justas ou obedecem a critérios comerciais? Não seria melhor unificar todos esses prêmios em um só, novo, independente de interesses de emissoras de rádio e televisão?


Inicialmente, fomos ouvir o Sr. Plácido Manaia Nunes, diretor da revista "São Paulo na TV", e um dos responsáveis pela promoção anual do Troféu Imprensa. À pergunta do repórter "Como nasceu o Troféu Imprensa?", respondeu:
- Diante da parcialidade existe há já alguns anos, quando as próprias organizações interessadas formulavam listas dos melhores do ano, dando-lhes nomes de personalidades, como se estivessem prestando uma homenagem quando, na realidade, estavam apenas colocando "golinhas de marinheiro" nos radialistas bem comportados. Perdurava a política de "puxar brasa para sua sardinha", e o público telespectador nunca ficava realmente sabendo quem era o melhor ou pior. Foi nessa atmosfera que surgiu a necessidade imperiosa de criar-se um troféu mais justo. Em torno dessa ideia, surgiu o Troféu Imprensa, autêntica réplica aos parciais critérios usados na outorga daqueles troféus praticamente feita de patrão para empregado. Ganhou de imediato o Troféu Imprensa a adesão de todos os cronistas de rádio e televisão da capital, que passaram a indicar, em reunião anual, os melhores do ano. Conquistou, também, logo a confiança do público pela lisura na indicação dos laureados.
- Que outros méritos tem o Troféu Imprensa?
- Além de prestar realmente homenagem a quem merece, serviu para reunir e entrosar a crônica, até aqui meio acéfala. Já pensa a crônica especializada na formação de uma associação, em torno da qual defenderão ideais comuns, principalmente com sugestões que possam levar a televisão de São Paulo à idade adulta, com a melhor programação. Embora não me tenha sido perguntado, devo dizer ao repórter que reconhecemos ter sido falha em muitos detalhes a festa de entrega do Troféu Imprensa. Entretanto, é preciso considerar que ficamos sós com toda a tarefa. Conversar com um mundo de artistas que iriam participar do show: convidar personalidades para os padrinhos, acertar ensaios, orquestra, alvarás, cenários, televisionamento do espetáculo, é muita coisa para uma só organização. É, de outro lado, uma revista especializada não pode dispor de verbas astronômicas para dedicar a uma festa. O que importou foi a seleção dos laureados. A festa foi uma decorrência. Pode e será melhorada, inclusive com ideias novas, entregando-se a produção da solenidade à ARESP, beneficiando, assim a Associação dos Radialistas. Este esclarecimento se fazia necessário.


João Batista Lemos é diretor da equipe noticiosa da TV Tupi, e um dos premiados deste ano. Interessante, sob qualquer ponto de vista, ouvir sua opinião a respeito do assunto:
- Sua opinião, como profissional de TV, qual é?
- Tenho para mim que a pluralidade de prêmios aos considerados "melhores" do rádio e da TV gera no espírito público um espírito, senão de descrença, pelo menos de justificada desconfiança. Diversos são os troféus, variadas as denominações e múltiplos os critérios adotados para sua concessão. Sem querer levantar qualquer sombra de suspeita sobre a honestidade de quem evoca a si o patrocínio da escolha, mesmo porque o Departamento de Reportagens da TV Tupi, de que sou diretor tem sido escolhido entre os melhores em três anos consecutivos e por patrocinadores diferentes, acredito que o homem de rádio e TV melhor se sentiria se um prêmio só houvesse. Muitos dos que até aqui foram escolhidos, possivelmente jamais o seriam mas, em compensação, os indicados se sentiriam muito mais orgulhosos, pois inexistiriam os comentários, desapareceriam as dúvidas que hoje são comuns.
- Como se sentiu, ao ser premiado?
- Se me indagam como me sinto ao receber, no momento, os troféus que me outorgam, como representante de uma equipe briosa e trabalhadora, respondo sempre - muito mal. E não é apenas por inibição. Há no meu íntimo a incerteza no tocante àqueles que me cercam. Há dúvidas, também em mim, se não estou pactuando com a oficialização de um movimento tendente a glorificar este ou aquele, sem levar em consideração os méritos profissionais, a atuação durante todo um ano, o esforço que cada um dispende para superar-se frente às dificuldades. E acredito que não estou só. Não poderia ser eu uma exceção.
- E as seleções, são justas?
- Poderia silenciar ante a pergunta que me fazem. Pois, ao que tudo indica, no setor reportagens não tem havido dúvidas quanto a escolha. Pelo menos, não tem ocorrido o fato de a equipe da TV Tupi ser indicada pelo que compõem o júri do Troféu Imprensa e outra qualquer equipe ser escolhida, por exemplo, para receber o Roquette Pinto. A unanimidade (desculpem-me a modéstia) tem feito justiça a esses rapazes do Departamento de Reportagens da TV Tupi, para quem não há hora de trabalho, ou trabalho difícil. Antes, dava-se o prêmio apenas ao repórter (que aparecia como "estrela" à custa do trabalho alheio) ou ao apresentador. Hoje, não. A equipe impôs-se como responsável pelos trabalhos que se assistem no rádio ou na TV, respondendo pelos sucessos e insucessos. E a unanimidade dos que distribuem os mais variados troféus ainda nos deixa à parte dos comentários. Mas o que dizer de um humorista que é escolhido por Sete Dias na TV e não consegue receber o Troféu Imprensa, enquanto um terceiro faz jus ao Roquette Pinto?
- E a solução disto tudo, seria a unificação?
- Sim, sou pela unificação. principalmente para que não pairem dúvidas quanto aos que recebem e aos que entregam os "troféus". Melhor será ficar sem recebê-los, mas assistir de fronte erguida a entrega do galardão a quem , realmente, fez jus pelo seu trabalho, pelo seu sacrifício, pela sua capacidade.
- Como unificar?
- Partindo do princípio de que a outorga de prêmios está caindo no ridículo. Há que se dar um recuo. Todos, de uma vez só. Os companheiros da Record. Os jornalistas especializados. Sete Dias na TV. Não será desdouro para ninguém. Será, isso sim, a demonstração de que o que se deseja realmente, é premiar aos "melhores", e não forçar a existência de alguns "melhores". E note bem: quem assim fala é um cidadão que chefia uma equipe para a qual tem se carreado TODOS os troféus desde que a frente da reportagem passou a ser encarada como coisa séria na televisão. Portanto, fala como um dos muitos envergonhados que sobem à passarela temeroso de estar sendo olhado como um dos que fizeram "arregio" para serem escolhidos. Preciso dizer mais?


Márcio Paoletti é diretor de quatro departamentos dos Diários Associados. Vejamos suas ideias a respeito:
- Qual sua opinião sobre a existência de tantos troféus?
- Nossa opinião é idêntica a de todos os cronistas de Rádio e TV: deve existir apenas um, realmente honesto em sua concessão. troféus concedidos por empresas que são ao mesmo tempo interessadas nos mesmos, nunca pode ter uma linha correta na seleção. As injunções de amizade e companheirismo acabam prevalecendo. E são cometidas injustiças, às vezes bem clamorosas.
- Acha que o Troféu Imprensa seja o ideal?
- Embora novo, pois vem sendo concedido há apenas dois anos, tem tudo para ser o mais credenciado. Votando somente cronistas, que durante todo o ano acompanham e criticam todos os programas e artistas, por força da própria profissão, são eles os mais abalizados para outorgar prêmios. Aliás, mais uma vez, ficou bem patente a liberdade entre os próprios companheiros da crônica. A outorga dos prêmios foi justa. O show realizado no Teatro Municipal, um pouco confuso e desorganizado. O que motivos, os próprios cronistas algumas críticas aos organizadores, de uma certa forma, criticando em causa própria. Mas com absoluta honestidade. Ninguém tentou esconder nenhuma verdade. O público acompanhou por quatro canais de televisão aquele show. E foi encontrar crítica sobre o mesmo. O que de forma alguma tirou o valor do troféu e dos laureados. A culpa coube somente à organização. E pode vir a ser sanada, pois é o mal menor. De que vale organizar-se um grandioso show, com laureados que no consenso geral não foram os melhores? É uma questão só de recurso financeiro para montar o espetáculo.
- Qual seria a solução para o problema?
- Manutenção do Troféu Imprensa. Nos moldes atuais quanto à votação. E, aproveitando a ideia do Gióia Jr.: a festa de entrega seria realizada integralmente pela ARESP, entidade que reúne os radialistas. A renda seria da Associação dos Radialistas. Isto quer dizer que teremos uma festa bem organizada, ficando ainda beneficiados os próprios radialistas, pois a renda reverteria os cofres da Associação que tantos serviços vem prestando aos profissionais. Acho que isto soluciona tudo.


Ouvimos a opinião de Gióia Jr., atual presidente da Associação dos Radialistas do Estados de São Paulo, entidade que congrega os funcionários do rádio e televisão:
- Recentemente, escrevi um artigo sobre o assunto em que situo bem minha posição com referência aos prêmios entregues mensal e anualmente aos radialistas. Nunca vi gente que receba tantos prêmios e, por outro lado, nunca vi prêmios tão pouco significativos. Há uma inflação de prêmios maior que a própria inflação financeira que abala nosso país. Tenho em casa uma estante com estatuetas de todos os tipos e tamanhos e me senti muito honrado quando, entre aplausos, recebi essas honrarias. Mas, chegou o momento de pensar: que é que vou fazer com tudo isso ou, o que é que esses prêmios tem feito por mim? Nada! Absolutamente nada! Não há artista que se preze que não tenha posado para as revistas especializadas ao lado da estante cheia de troféus. Tendo recebido o Prêmio Nobel, Bernard Shaw dizia que se achava como um náufrago a quem tivessem atirado a boia salvadora depois dele já ter chegado a outra margem do rio. Os prêmios chegam quando a gente não precisa mais deles. E o pior de tudo, os prêmios são como aqueles crachás de que falava o mestre (Monteiro) Lobato: O rei de uma tribo africana se orgulhava de mostrar a seus visitantes uma rica coleção de latas de massa de tomate que ele exibia como autênticas condecorações. Todos nós temos ao pescoço uma fileira de latas velhas e inexpressivas. Duas coisas desgastam os prêmios: a excessiva quantidade e a falta de critério na escolha. Acho que a solução para o problema é:

1) Acabar com todos os prêmios
2) Oferecer um único prêmio a umas poucas pessoas que realmente sejam excepcionais no seu trabalho no rádio e na TV
3) Estabelecer um critério de absoluta imparcialidade para a escolha dos premiados: alguns júris que os iriam peneirando até a depuração final que seria feita por elementos especializados
4) Valorizar o prêmio com algo mais substancial: viagens de especialização, bolsas de estudo, dinheiro graúdo, etc, etc
5) Fazer com que o Governo endosse a entrega e transforme a festa de homenagem aos "melhores" num autêntico festival de Oscars. Prêmio assim quero me esforçar por merecer e quando o receber, bem velhinho embora, ele poderá ser exibido com orgulho e ninguém dará uma risadinha de gozação.


Diretor Artístico da TV Excelsior, Álvaro de Moya nos forneceu uma apreciação curiosa sobre o assunto. Ei-la:
Quando uns terroristas portorriquenhos tentaram assassinar o então presidente dos Estados Unidos, Harry Truman, o Oscar daquele ano foi parar nas mãos do ator portorriquenho radicado nos Estados Unidos, José Ferrer, que, por sua vez, entregou-o ao presidente de Porto Rico, Muños Marin. Em que pese a qualidade e valor do ator, tudo não passou duma jogada política internacional. Ainda com relação ao famoso Oscar, é preciso notar que, a partir de 1949, quando viram que os filmes norte-americanos não tinham vez em Cannes e Veneza, começaram a empatar todo o prestígio do prêmio, acumulando uma só película com inúmeras estatuetas e é por isso que "All The King's Men - A Grande Ilusão", "A Um Passo da Eternidade", "Sindicato de Ladrões", "A Ponte do Rio Kwai" e "Ben Hur" receberam sete ou nove inflacionárias estatuetas. (...)
Por outro lado, até em relação ao mais conceituado prêmio internacional, que é o Nobel, anotamos uma gafe tal como, premiar George Bernard Shaw num ano em que o genial satírico nada escrevera, provocando uma pronta "gozação" do escritor. E ainda recentemente premiaram o soviético Pasternak, mais para criar um caso político internacional do que para reconhecer as qualidades dum poeta que escrevera um fastidioso romance.
Por aí pode-se imaginar o que pode acontecer de suburbano no nosso país nesse lastimável setor de seleção dos "melhores" seja em panelas cinematográficas em reconhecimento aos medalhões e vedetes da literatura e teatro ou no mundo curioso da televisão. Neste, acobertados por alguns nomes "hors-concours" aparecem centenas de prêmios criados em função dos que "tem que ser premiados", por uma razão ou outra. Ao lado, portanto, de trabalhadores, que dignificam a televisão, surgem coisas como "o melhor ascensorista de andares ímpares", "melhor sonoplasta canhoto", "melhor repórter de campo em dia de chuva", "melhor diretor de TV em externas com orticons novos", etc.
Em suma, prefiro devolver os prêmios que recebi: "Roquetes", "Tupiniquins", "Melhores da Semana", etc. (é melhor abrir parentesias e explicar que coloquei essa parte aqui apenas para frisar que a minha posição não deriva duma "dor de cotovelo" por não ter ter recebido prêmios; pelo contrário, recebi até demais. Desejo, apenas, valorizá-los). Como dizia, seria bom, em vez duma peneirada, acabar de vez com os prêmios todos existentes e esperar dias melhores para começar tudo de novo.


Airton Rodrigues, conhecido produtor de TV (Clube dos Artistas Almoço com as Estrelas) já foi presidente da Associação dos Radialistas do Estados de São Paulo. Sua opinião:
- Qualquer entidade tem o direito de eleger os melhores de cada ano. Principalmente as entidades intimamente ligadas ao rádio e a televisão. Mas não há dúvidas, também, que essa pluralidade confunde a opinião pública. O mais certo seria a unificação do ponto de vista, em uma só premiação, valorizando-a a tal ponto que os próprios artistas se sentiriam mais prestigiados. O meu ponto de vista é este. E não há dúvida de que a ARESP poderia realizar esse trabalho de unificação, convocando, também para tanto, o prestígio das autoridades estaduais e municipais, oficializando-se dessa forma o troféu.


Attila Lopes Rocha é assistente da direção artística da TV Cultura, além de produtor. Nos respondeu o seguinte:
- Sou de opinião que o regime democrático que o Brasil possui não só permite, como garante o uso da livre iniciativa para premiar quem quer que seja. Até um particular poderia instituir e realizar um prêmio "os melhores do ano". Basta querer. Não podemos, de forma nenhuma, cercear as atividades de alguém, ou mesmo "tentar" cercear. Premiadores e premiados deverão ser livres para dar e receber troféus. Mas, não posso deixar de reconhecer que há um excesso de "troféus" e iniciativas. Alguns antigos como o Roquette Pinto, já há 12 anos existindo, e outros novos, como o Imprensa, há dois anos. Acho que não só justo como oportuno a instituição de um prêmio novo, iniciativa da Associação dos Radialistas de São Paulo, cuja possível renda reverteria em benefício da entidade. Mas, que esse prêmio novo não queira acabar com os demais. Há lugar para todos. Somente a honestidade na seleção poderá impor este ou aquele troféu. Repito: somente a honestidade na seleção.


Walter Abrahão foi premiado com o Troféu Imprensa sob o título de melhor locutor esportivo de 1961 na televisão. É advogado e diretor do Departamento de Esportes da "Rede Associada" (TVs Tupi e Cultura). Sua opinião, portanto, é valiosa:
- O que acha da atual situação dos prêmios aos melhores do ano?
- Julgo que o público está em grande confusão com esses prêmios. São tantos, todos eles julgando "os melhores do ano", que a divulgação dos mesmos não atinge as massas. Além disto, qual será a opinião do telespectador que assiste, com diferença de dias, premiações iguais a profissionais diferentes? Poderá o público levar a sério esses troféus? Naturalmente que a sintonia é grande e a expectativa também, mas o que motiva realmente isso é o show que compõe o espetáculo e não propriamente a divulgação dos nomes premiados.
- O que acha que deverá ser feito?
- Existe a ARESP, necessitando urgentemente de recursos. O momento não poderia ser melhor para a instituição de um prêmio em que a ARESP seria a beneficiada.
- Qual seria a composição do júri que escolheria os melhores?
- Creio que as figuras mais indicadas seria os cronistas especializados de nossos jornais. Julgo oportuno também que se institua a eleição de uma "Rainha", seja do rádio ou da TV, com votos populares e de grande promoção. Temos aí o exemplo do Rio de Janeiro, com suas tradicionais rainhas, divulgando para todo o Brasil as atividades artísticas da Guanabara.
- Quanto à forma de seleção dos melhores, o que acha?
- Não creio que o júri deva se reunir somente no fim do ano. Acontece que são lembrados os nomes mais em evidência na época, esquecendo-se, muitas vezes, artistas e técnicos que se destacaram nos primeiros meses do ano. Creio que a seleção semestral seria melhor. Dividir o ano em dois períodos e, depois, tirar a média.
- E os prêmios, como seriam?
- Em minha opinião, a ARESP deveria lutar para oferecer aos profissionais um só troféu, conseguindo para os premiados, bolsas de estudos, através de recursos poderiam vir subvenções governamentais. Nada mais justo, nada mais oportuno que o Governo dê os meios necessários àqueles que se esforçaram para dar sadio divertimento e cultura ao povo. E, afinal, não seria grande a verba, já que seriam poucos os premiados.


Barbosa Lessa é produtor independente, não estando vinculado a nenhuma canal ou estação. Sua opinião é bastante interessante. Ele preferiu estabelecer uma analogia com os prêmios literários (como escritor, aliás, já recebeu os prêmios da Academia Brasileira e da Academia Paulista de Letras), para melhor esclarecimento do problema:
- A pluralidade de prêmios anuais não é fato peculiar apenas ao rádio e TV. Em literatura temos o prêmio da Academia Brasileira, o Prêmio Fábio Prado, o da Academia Paulista de Letras e tantos outros. Mas entre cada um destes há distinção fácil: um representa principalmente prestígio, outro representa principalmente auxílio financeiro, outro é preponderantemente um acontecimento social, ao passo que os prêmios de rádio e TV se confundem com uma estatueta entregue em show artístico com brilhantismo social. Creio que o primeiro passo para resolver o problema atual seria tentar distinguir a finalidade de cada um dos prêmios de rádio ou TV. Depois disso, poderiam se instituir ainda novos prêmios, muitos outros, desde que fossem realmente "novos", sem confundir-se com os anteriores e procurando suscitar interesses distintos dentre os prováveis premiados. Feita essa distinção preliminar, há lugar para cada prêmio manter o seu prestígio dentro de sua faixa própria, sem entrar em conflito com os demais e sem gerar confusão e descrédito dentre o grande público.
- Se fosse estabelecido um novo prêmio, qual em sua opinião deveria ser a característica principal?
- Os principais prêmios literários são anualmente conferidos a um número reduzidíssimo de premiados, em todo o território nacional, ao passo que São Paulo receber uma verdadeira chuva de troféus de rádio e TV na época das chuvas, isto é, de dezembro até fevereiro. Acho que seria bem aceito um novo tipo de prêmio mais ou menos semelhante aos troféus literários de maior nome: que deixasse de lado a festa social para uma multidão de premiados, em benefício de um auxílio material concreto (dinheiro, bolsas-de-estudo, etc), para um reduzidíssimo número de contemplados, rigorosamente escolhido por três ou cinco membros de uma comissão competente.


Finalmente, Georges Henry é diretor artístico musical da TV Tupi, além de produtor e músico de grande renome. Dispensa maiores apresentações. Vamos à sua opinião:
- Inicialmente devo dizer que não se pode ser juiz e ser parte, ao mesmo tempo. Como um canal de TV poderá julgar com suficiente imparcialidade a produção geral dos elementos que labutam em todas as televisões? Mesmo que exista o desejo da sinceridade na escolha, mas o propósito da imparcialidade, é inevitável que o resultado não poderá ser o mais justo.
- Das sugestões apresentadas, qual julga ser a melhor?
- A posição da ARESP, através de seu presidente, Gióia Jr., me pareceu ser a ideal. Se estou bem lembrado, ele sugeriu que os prêmios sejam:
1) Substanciais e úteis, como bolsas de estudo, viagens de observação, dinheiro, etc.
2) Foi proposto por ele um júri composto por pessoal alheio à TV
3) Ele aconselhava também uma tomada de posição de nossos poderes públicos, prestigiando os prêmios
- Quanto à seleção, como julga que deverá ser feita?
- Naturalmente, como disse antes, por pessoas independentes e capazes. A fim de que não esqueçam os profissionais de rádio e TV que tiveram destaque nos primeiros meses do ano, seria aconselhável diversas seleções parciais durante os 12 meses. Mas isso seria tarefa interna do júri.
- E os outros prêmios, deveriam continuar?
- Embora aprove e subscreva o critério do Sr. Gióia Jr. continuo achando que será bastante difícil a impedir que, quem tiver vontade, organize e distribua os prêmios que bem entender. Para que todos os interessados em dar prêmios se conformassem com a redução para um só, seria necessário que vivêssemos em um mundo diferente. Especialmente em um país chamado Brasil, formado por individualidades humanas marcantes, personalidades fortes, dificilmente se chegaria a um acordo. Parece-me difícil que, de "mão beijada", todas as diferentes partes venham a concordar em unir-se em um só prêmio. Os brasileiros, nisto, me parecem muito com os franceses: cada um tem sua opinião própria e não abre mão dela. Que fez com que De Gaulle dissesse: "Como é que vocês querem um partido único num país onde há 279 tipos de queijos?"

E, afinal, em que ficamos? Vamos criar ou não um novo prêmio aos melhores da TV a ser entregue, pela primeira vez, no final de 1962? Naturalmente, o assunto não morre aqui. Há uma grande setor, o das Emissoras Unidas, que não foi ouvido, por falta de espaço e de tempo. Mas voltaremos ao assunto (...), visando sempre colaborar para a união de todos os profissionais e pela valorização das premiações. Fazemos aqui, de público, um convite aos interessados para que externem seus pontos-de-vista, para que possamos ver, em janeiro de 1963, um prêmio único valorizado por todos nós, orgulhando todos aqueles que venha a ser distinguidos como os melhores do ano.

É isso. As palavras acima expressas são praticamente as mesmas de muita gente nos dias de hoje, apenas substituindo um ou outro termo. Mas meu déficit de otimismo chega a conclusão de que nada vai mudar se ainda existirem pessoas teimosas paradas no tempo, com ideias ultrapassadas e que relutam a aceitar a palavra "reformulação" como se uma novidade séria e pertinente aos tempos atuais fosse vista como ameaça às suas pretensões perpétuas. Preferiria que tudo acabasse de uma vez por todas para que possamos recomeçar do zero como se uma folha de papel em branco estivesse diante de nossas mãos. Até porque nessa mudança de década, não custa nada sonhar. Mandem suas opiniões e comentários à respeito para o meu e-mail: ehmb1986@gmail.com, porque aqui a bronca é livre.