ESPECIAL: Minha Visita na Set Expo 2025

O Centro de Convenções do Anhembi em São Paulo, realizou entre os dias 19 e 21 de agosto, uma das maiores feiras de mídia da América Latina:...

quinta-feira, 9 de setembro de 2021

OPINIÃO: Domingo na TV, Salvação ou Problema?


Amigos queridos. Preciso desabafar agora sobre um assunto pertinente, na qual gente da minha classe andam comentando por aí nesses últimos dias. Até porque, não sei qual deve ser o meu sentimento neste exato momento, se é de raiva, ou de ódio, ou de descontentamento, ou de frustração. Para muitos pode ser tratado como uma "questão pessoal", mas não deixa de ser. Em todos esses anos peguei uma pilha, acabei criando ranço de uma situação teimosa que parou no tempo e que ainda acredita e se acha ser a "solução da humanidade", tendo ainda a cara-de-pau de descontar na gente a falta de fidelidade.

Já basta a TV aberta brasileira ser assolada por sociopatas de todos os tipos, seja nos bastidores ou em cargos executivos, e permanecer assim desevoluída há mais de duas décadas, conforme venho denunciando e salientando quando sou solicitado a comentar sobre o momento atual do veículo mais influente e poderoso desta nação-continente. E o que é pior, o mercado comercial/publicitário parece impor em jogar uma emissora contra outra e não deixar ninguém, absolutamente ninguém ser diferente, tudo ficou igual, tudo tem que ser igual, relegado a mesmice, porque o "povo" gosta do que já está acostumado. Mas até quando?


Por essas e outras, nossa televisão permaneceu (e permanece) chata, repetitiva, sem opção e, de certo ponto, agressiva, persuasiva e aduladora, levando o termo "segmentação" a ser riscado de vez do nosso vocabulário. Em termos de qualidade e conteúdo, estamos hiper-atrasados graças a uma turminha extremamente preguiçosa que faz das redes/comunidades sociais seu altar número 1, talvez este seja o motivos das emissoras abrirem mão de suas identidades visuais. O que eles não fazem com um Final Cut, um Premiere ou um Sony Vegas da vida por se acharem "grandes profissionais" da área, só que sem diploma. É uma nova epidemia que está assolando as emissoras de TV hoje em dia, o surgimento de profissionais sem diploma.

Tudo se regrediu por completo, o "descolamento" e a "internetização" da TV fez nosso veículo enveredar para a tendência do amadorismo meme. De fato, houve um desaprendizado geral, onde gente nova, chapada, sem sobriedade, desparafusada e metida a autodidata conseguiu fazer com que a televisão juntasse os cacos até hoje, mas até agora não conseguiu colar as peças corretamente. A televisão está emburrecendo o público, é só notar o quanto de programas policiais, bate-bocas de futebol e de fofocas à tarde se multiplicam feito cria de filhotes todos os dias, reduzindo para zero o número de opções em determinados horários.


O que dizer do triunvirato Globofóbico de nome Simba Content, que duvidará até o fim dos tempos da existência/veracidade da pandemia da Covid-19, expondo seus empregados a condições perigosas de trabalho. Esse mesmo trio que apoia abertamente e cegamente um paranoico que está no poder, cujo nome recuso a escrever (mas todo mundo sabe que quem se trata) no qual muitos torcem pela sua deposição ou (mesmo sendo pecado, precisamos abrir uma exceção para desejar) sua morte (nem que seja de overdose, assim ele vai morar no inferno e pagar boquete pra Satanás; perdão Senhor). Retomando o assunto, faz falta no Brasil um Conselho de Comunicação Social, à exemplo do que existe nos Estados Unidos há quase 100 anos, que foi cogitado a ser criado pelo finado Ministro das Comunicações Sérgio Motta, mas seu falecimento fez a TV afirmar sua intuição de se tornar prepotente da noite para o dia.

Mas o que está pegando mesmo é justamente o pior dia da semana para se assistir TV há mais de 20 anos: o DOMINGO. O que tá pior, já piorou. E se piorar, estraga de vez. A acomodação é também sinal de piora no estado de saúde dominical da TV. Está formada uma ferida aberta, cheia de indefinições, perguntas sem respostas e falta de rumo crônico. Culpa da dependência do IBOPE, uma droga fatal que levou a TV a atingir este estado deplorável, um querendo comer vivo a cabeça do outro. Sempre defendo a mudança dessa metodologia antiquada do instituto e do fim da medição em tempo real, dois elementos cruciais que mudaram para sempre os rumos do veículo, a ponto de criarem o "intervalo inteligente" que fez os teledifusores "cagarem" pelo telespectador e se tornarem obsessivos por números e resultados imediatos. E ainda tem gente que culpa a alma do Gugu por isso.


Há também a falta de preparo para algo que pegou todo mundo de surpresa, o fim do Domingão do Faustão, no qual muita gente estava achando que permaneceria no ar por mais 5 anos. Tanto para quem assiste, quanto para quem trabalha nos bastidores, o buraco está feito, um vazio surgiu do nada em plena pandemia. E ninguém teve a coragem de, como nos velhos tempos, agitar o mercado em cima disso (com os artistas fazendo troca-troca de emissoras). O comodismo é uma doença crônica, consequência do trauma comum de não querer mudar por medo de deixar a audiência cair e usa "crise" como desculpa esfarrapada. Mas há outro temor por trás de tudo isso: o ataque-de-pelanca daqueles que tem "fama de estrela" e que recebem polpudos e milionários salários em dólar só de ouvir falar em "mudança".

Temos ótimos artistas, bons profissionais e jornalistas mais ou menos (polaridade, militância e fã-clubismo não deixam mentir) e não merecem ser reféns do sistema atual de se fazer TV. Todos eles são muitos melhores que isso. Só que ninguém diz nada, ninguém nota nada, ninguém fala nada, ninguém repara nada, todo mundo tem mania de inventar defeitos nos outros. Conclusão: o dinheiro venceu, o jogo de interesses também, e vai continuar vencendo para todo sempre, Amém. É o que parece. Temos o material bruto, uma embalagem pronta, bonita e bem produzida, mas o produto final, impedido pela ganância e vaidade pessoal de gente que se diz "poderosa", necessita urgentemente de uma nova lapidação.


Nossa mídia então, nem se fala. Se converteu num verdadeiro e autêntico fã-clube, a ponto de disseminar o messianismo crônico a tudo e a todos para pilhar de propósito os moralmente excluídos da sociedade, que são aqueles que são da "zona neutra", como eu por exemplo. Já basta ter fã de artista, fã de programa e até fã de emissora, capazes de firmar um pacto de suicídio pela morte de certo dono superstar de uma grande rede fadada a sepultura a curto prazo. Ninguém leva a televisão à sério, há tráfico de influência, empoderamento de mimizentos e zoeira contraditória que não acaba mais. A vida está condenada a se tornar um eterno stand-up (assim como uma boa parcela de gente que acredita que a vida seja um eterno programa de auditório). Ela virou máfia pura.

E em meio a essa visão nada otimista da televisão dominical brasileira, faço aqui a seguinte indagação: Qual seria o modelo ideal para se fazer uma boa programação de domingo na TV brasileira? Todos se perguntam e eu também. Posso ajudar a respondê-la e posso até oferecer uma série de opções para solucionar um abacaxi até agora difícil de ser descascado. Uns tem cara de Globo, outros de SBT, de Record, de Band... Enfim, tem grade para todos os gostos. Ofereço neste humilde blog uma caixa de ferramentas, só preciso de alguém para executá-las.

Opção A: Programas de shows de entretenimento com 2 horas e 55 minutos (175 minutos) de duração
11h00 - Programa 1
13h55 - Programa 2 
16h50 - Futebol
19h05 - Programa 3
22h00 - Filme de Longa-metragem

Opção B: 25 minutos de sorteios de prêmios e 3 horas (180 minutos) de programas de shows de entretenimento
11h30 - Sorteio de prêmios 1
11h55 - Programa 1
14h55 - Sorteio de prêmios 2
15h20 - Programa 2
18h20 - Sorteio de prêmios 3
18h45 - Programa 3
21h45 - Sorteio de prêmios 4
22h00 - Filme de Longa-metragem

Opção C: 25 minutos de sorteios de prêmios e 2 horas e 30 minutos (150 minutos) de programas de shows de entretenimento
11h00 - Sorteio de prêmios 1
11h25 - Programa 1
13h55 - Sorteio de prêmios 2
14h20 - Programa 2
16h50 - Futebol
19h05 - Programa 3
21h35 - Sorteio de prêmios 3
22h00 - Filme de Longa-metragem

Opção D: Programas de shows de entretenimento com 2 horas (120 minutos) de duração
13h00 - Filme de Longa-metragem
14h45 - Programa 1
16h45 - Futebol
19h00 - Programa 2
21h00 - Revista eletrônica
23h00 - Mesa-redonda ou Reality-show
24h00 - Filme de Longa-metragem

Opção E: 15 minutos de sorteios de prêmios e 2 horas e 40 minutos (160 minutos) de programas de shows de entretenimento
11h00 - Filme de Longa-metragem
13h00 - Sorteio de prêmios 1
13h15 - Programa 1
15h55 - Sorteio de prêmios 2
16h05 - Programa 2
18h45 - Sorteio de prêmios 3
19h00 - Revista eletrônica
21h00 - Reality-show
23h00 - Filme de longa-metragem

Opção F: Um único programa de show de entretenimento com 3 horas (180 minutos) de duração
10h00 - Esportes
16h00 - Programa
19h00 - Mesa-redonda
21h00 - Filme de longa-metragem
23h00 - Série / Reality-show / Entrevista / Futebol compacto

Opção G: Um único programa de show de entretenimento com 2 horas e 50 minutos (170 minutos) de duração
12h00 - Filme de Longa-metragem
14h00 - Programa
16h50 - Futebol
19h00 - Mesa-redonda
21h00 - Filme de Longa-metragem
23h00 - Série / Reality-show / Entrevista / Futebol compacto

Opção H: 15 minutos de sorteios de prêmios e 2 horas e 30 minutos (150 minutos) de programas de shows de entretenimento
11h00 - Sorteio de prêmios 1
11h15 - Programa 1
13h45 - Sorteio de prêmios 2
14h00 - Programa 2
16h30 - Sorteio de prêmios 3
16h45 - Futebol
19h00 - Sorteio de prêmios 4
19h15 - Programa 3
21h45 - Sorteio de prêmios 5
22h00 - Filme de Longa-metragem
24h00 - Mesa-redonda


Os programas de shows de entretenimento não podem passar de 3 horas (180 minutos) de duração, contando os intervalos comerciais. Isso para que não se tornem com o tempo maçantes e arrastados para o público telespectador. Os intervalos comerciais devem obrigatoriamente ocupar 10 minutos a cada hora de conteúdo de programação. E podem ser divididos em inserções de 3 ou 5 minutos distribuídos proporcionalmente ao tempo dos blocos do programa propriamente dito. E mais, as partidas de futebol de domingo da Série A devem ser jogadas às 17 horas para que as pessoas possam curtir melhor e mais sossegadamente o domingo fora de casa. Neste link, num artigo do blog TVer ou Não TVer, no qual sou colaborador, apresento minha proposta para modificar o sistema de compra e venda de direitos de transmissão dos campeonatos de futebol no Brasil, até porque tudo faz sentido, uma coisa encaixa outra.

Assim que a pandemia acabar, o que provavelmente será a médio/longo prazo, as emissoras têm o nobre dever de se mexerem o mais depressa possível. Faço aqui uma outra sugestão, a de organizarem uma feira internacional de TV aqui no Brasil (no Centro de Exposições do Anhembi), semelhante com o que estão acostumados a fazer em Nova York, com esses donos de formatos e game-shows em geral de todo o mundo, disponibilizando, por meios legais, programas a venda ou não (neste caso em forma de quadros) como meio de encontrar soluções para melhorar o conteúdo da TV brasileira em todos os núcleos de programação. Só dessa forma que a TV ajude a oferecer um chá de sumiço no assistencialismo barato, sensacionalismo de apelo visual e na reprodução desvairada e sem autorização de vídeos da internet que contaminam o domingo.

Se ninguém agir agora pensando no futuro do veículo, se a soberba os obrigarem a ficar de braços cruzados, vai ser tarde demais. A solução mais prática de se livrar dessa desgraceira toda, se é que vai permanecer assim até o fim de nossas vidas aqui na Terra, é uma só: desligar a TV. Adoraria que alguém pudesse criar uma campanha mobilizando as pessoas a ficarem o domingo inteirinho sem ver TV. Se querem acompanhar o futebol, vão ter que ligar o rádio ou seguir as redes sociais especializadas. Esperamos que no futuro, os Hucks, os Faros, as Elianas e os Portiollis da vida (se é que tem mais alguém contemporâneo nosso para engrossar este caldo, mas só pra citar os principais sacerdotes dominicais), por mais que tenham todas as qualidades de talento artístico, deixem o orgulho de lado e se permitam a tentar se esforçarem para mudar positivamente este dia da semana que, se antes oferecia alegria e divertimento, hoje não passa de uma bigorna de tristeza e depressão atingindo nossas cabeças toda santa semana.


sexta-feira, 3 de setembro de 2021

ESPECIAL: Um Papo Maroto no MVintage Cultura

Eu estava devendo este post desde quando o vídeo abaixo foi concluído. Talvez por falta de tempo e por ter que preparar os posts futuros deste blog e editar os vídeos que estarei postando futuramente no meu canal no YouTube. E faço questão agora de compartilhá-lo neste blog. Foi uma honra, uma satisfação e um privilégio eu ter participado da live Papo Maroto com o YouTuber Marlon Castro, do Rio de Janeiro, dono do canal MVintage Cultura, um canal especializado em colecionismo de filmes, séries, desenhos e acervos televisivos. Confesso que este bate-papo foi minha festinha de aniversário porque foi realizado justamente no dia em que eu completava 35 anos: 30 de abril de 2021, uma sexta-feira.

Para aqueles que não tiveram a oportunidade de ter acompanhado em tempo real e para aqueles que estão de bobeira e não sabem o que fazer nas próximas cinco horas, este vídeo é um prato cheio. Eu e o Marlon conversamos muito à respeito da memória da TV brasileira e sua situação atual. Além disso, analisamos o guia de programação de justamente da data em que eu nasci. Deleitem-se! E não posso deixar de recomendar o canal MVintage Cultura, o Marlon é fera em coleção de VHS. No mais, divirtam-se!





sábado, 21 de agosto de 2021

ESPECIAL: Tributo à Pró-TV

 

Há exatos 26 anos era fundada a Associação dos Pioneiros da Televisão Brasileira, a APITE. Anos mais tarde, mudou de nome até se chamar Pró-TV. Este blog presta agora uma singela homenagem a uma associação que tinha como objetivo zelar pela memória da TV brasileira, mas que a pandemia corroborou em fazê-la desaparecer de maneira devastadora, tal qual vem acontecendo com a cultura brasileira em geral.

Desde junho deste ano, a Pró-TV, devido as dificuldades como qualquer outra ONG enfrenta, decidiu encerrar suas atividades, deixando seus admiradores e incentivadores ausentes de seus projetos e de sua permanência pela preservação da memória do mais importante e influente meio de comunicação do Brasil. Estive lá desde outubro de 2012 e fiz muitos amigos como também conheci gente importante do meio, seja artistas ou profissionais.

A associação nasceu em 21 de agosto de 1995, mas a ideia surgiu dois anos antes, quando a pioneira da TV Vida Alves (eternizada por dar o primeiro beijo na TV) tinha acabado de sair do velório de outro pioneiro da TV, o diretor e escritor Cassiano Gabus Mendes, quando ouviu uma voz dizendo: "Olha a escalação". Segundo a própria, era a voz de Cassiano pedindo a ela que escalasse os pioneiros do veículo para que a memória não morresse junto com eles.

Tive a honra de conhecer Vida Alves, desde quando eu tava ainda na faculdade, cursando o penúltimo ano de Rádio e TV, em 2008, quando ela participou de uma palestra na faculdade onde eu estava cursando. Conheci a sede da associação no ano seguinte para assistir a uma palestra do ex-presidente da Fundação Padre Anchieta Jorge Cunha Lima e fui apresentado ao dito cujo pela própria Vida Alves, que moral.

Participei de todas as reuniões e eventos da associação a partir de 2013, como forma de reforçar a amizade com gente que tinha os mesmos gostos que eu, além de dar uma explorava no acervo que eles tinham a disposição, como livros e revistas antigas. Em 3 de janeiro de 2017, justamente na véspera da minha primeira viagem de avião para Goiânia para conhecer meus tios, fui informado que Vida Alves tinha falecido, deixando órfãos aqueles que, como ela, lutavam pela manutenção da memória da TV.

Nos quatro anos seguintes, as dificuldades eram tantas até que uma pandemia decretou o fim desta magnífica história. A todos que lá trabalharam, se associaram e se tornaram incentivadores como é o meu caso, presto aqui minha homenagem. Primeiro com um vídeo (acima) que fiz em abril de 2013 mostrando a associação por dentro e na sequência algumas fotos inéditas e mais detalhadas como lembrança daquele que um dia foi reduto nº 1 da memória televisiva nacional.


















Que nossa amizade não seja desfeita, deve sempre permanecer de alguma forma. E que essa chama acessa por esses pioneiros jamais se apague, para que o legado da Pró-TV nunca morra.


PS: O site da associação agora mudou de domínio, agora é Museu da TV, Rádio e Cinema e é mantido pelo escritor e professor Elmo Francfort.

terça-feira, 25 de maio de 2021

ESPECIAL: Eu e o Futebol


Faz mais de uma década que eu estou procurando me distanciar cada vez mais desse assunto que é sem dúvida uma paixão não apenas nacional, mas mundial. Porque atualmente, isso virou coisa de "debilóide", de retardado, porque até a própria mídia está se comportando de tal forma para tratar deste assunto que praticamente desumanizou aqueles profissionais que doam 24 horas por dia e 7 dias por semana de suas vidas trabalhando com gosto na arte do aprimoramento de correr atrás da bola e suas táticas pelos resultados que lhe favorecem. É o futebol.

Há um pouco mais de um ano que eu gostaria de fazer este post aqui no meu blog abrindo o coração e adoraria tê-lo publicado quando o Flamengo (2019) ou o Palmeiras (2020) tivessem ganho o Mundial de Clubes da FIFA e como não aconteceu fiquei adiando. Mas senti no coração que a hora é agora, ainda mais agora depois que soube que o São Paulo conquistou o título paulista depois de 16 anos na fila. Faz tempo, muita coisa mudou de lá para cá. Há 16 anos eu lutava em meio às dificuldades para ingressar na faculdade de Rádio e TV e minha irmã era apenas um bebê. E o que é melhor, em 2005 não sofríamos com pandemia alguma, pandemia esta que o mundo está superando aos poucos e deixando nós brasileiros cada vez mais envergonhados e apavorados.

Voltando ao assunto. Do futebol, o que eu gosto mesmo são das histórias. Se hoje é notícia, amanhã é história. Mesmo eu gostando mais de televisão do que de futebol, eu tenho que ter pelo menos uma noção básica porque o futebol sempre esteve presente na telinha aqui no Brasil, não só do jogo jogado, mas tal noção vai muito além como a compra pelos direitos de transmissão, as cotas de patrocínio, a equipe de cobertura dos eventos, os custos operacionais, os horários das partidas, o número de câmeras etc. Procuro abordar pouco este assunto aqui no meu blog, lógico que na época de Copa do Mundo é impossível ignorar o esporte (até eu publiquei histórias interessantes seja ficcionais ou não). Isso devido ao próprio empoderamento, prepotência e masoquismo dos chamados "times da maioria", incitados nas redes sociais e pela própria mídia esportiva clubista, que mais romantiza o "time do coração" do que manter os pés no chão e encarar os problemas dos bastidores do futebol.

Muitos devem estar me perguntando: Êgon, para que time você torce? É uma história complicada que eu mencionei no post Minha História que publiquei no meu aniversário de 33 anos, mas lá vai. Quando criança, não ligava muito pra futebol, lembro que aos 4 anos vi minha família reunida aqui em casa para assistir a estreia do Brasil na Copa do Mundo de 1990. Esta foi minha primeira lembrança futebolística da minha vida. Mas foi aos 7 anos que fui "apresentado" a essa febre. Meu primo mais velho é corintiano, o do meio é palmeirense e o mais novo é são-paulino. A primeira competição de futebol que acompanhei de verdade foi as Eliminatórias da Copa do Mundo em 1993, mas "boiei" na época ao perceber que não tinha final e nem sequer campeão, apenas classificou o Brasil para aquela inesquecível Copa (segundo minha modesta opinião) em que conquistou o tetra nos pênaltis. Ainda com 7 anos e na base do "ouvir falar", três times conquistaram minha simpatia: São Paulo, Grêmio e Cruzeiro, embora eu me lembro muito bem do grande time do Palmeiras que começara a sair da fila e conquistara muitos títulos importantes (tive muitos amigos palmeirenses e eles não escondiam na época o entusiasmo pela boa fase do alviverde). Azul é minha cor favorita e o futuro marido de uma professora minha (e estão casados até hoje) ia me dar de presente de Natal uma camisa de um desses times de futebol e numa escolha bem solitária fiz o veredicto: moro na cidade de São Paulo, estado de São Paulo, sou paulistano e tem um time chamado São Paulo, então vou querer a camisa do São Paulo e me tornar são-paulino, pronto. Mal sabia que naquele 1993, o Tricolor do Morumbi foi bicampeão da Libertadores, bicampeão mundial e até de uma tal Supercopa dos Campeões.

Na adolescência é que o meu são-paulinismo se desenvolveu. Descontente com a falta de qualidade dos programas de auditório da época, encontrei no esporte o vazio a ser preenchido dentro de mim através da TV. Eu tinha acabado de completar 12 anos e assisti a um dos jogos mais inesquecíveis da minha vida: São Paulo 3x1 Corinthians, final do Campeonato Paulista de 1998, aquela em que o Raí voltou da França e se inscreveu na última hora para jogar exclusivamente a segunda partida daquela decisão memorável. Foi a primeira vez que eu vi na minha vida o São Paulo ser campeão de alguma coisa. Mas o findar da década de 90 foi marcada pelo predomínio do Alvi-Negro do Parque São Jorge e foi aí que surgiu um trauma até hoje difícil de ser superado. Trauma de corintiano. É aí que vem a minha cabeça aqueles maus-pensamentos de um dia querer me suicidar na frente de todo mundo.

Grande parte da família do ex-cônjuge da minha mãe (atual pai da minha irmã) torcia fervorosamente pelo Corinthians e por esse motivo não me sentia acolhido principalmente pelo marido da irmã dele, que leva a sério esse negócio de rivalidade (por mais que alegue ser uma "brincadeira", defendida inclusive pela própria parentela). Me lembro de ter assistido com eles pela TV a semifinal do Campeonato Paulista de 1999 entre Corinthians e São Paulo e o time tricolor foi goleado por 4x0 sendo eliminado da competição e, consequentemente, fui o alvo das provocações (e ainda não me deixaram eu assistir ao jogo sozinho num quarto). Isso me machuca até hoje. Algum tempo depois, em meados de 2002, reparei que a mídia esportiva é meio chapa-branca e enfestada de torcedores disfarçados de jornalistas. Então, decidi parar de acompanhar de vez o esporte na TV e parar de torcer. Foi um processo lento e difícil, ainda mais na época do alarde em que fizeram quando o Ronaldo Fenômeno jogava no clube. Foi uma época psicologicamente tenebrosa para mim.

Por acompanhar tanto o futebol na minha adolescência que surgiram traumas e consequências que me machucam até hoje e que podem ser também sinais da Síndrome de Asperger como os barulhos externos dos fogos de artifício e os berros da vizinhança que me perturbam/perseguem até hoje. A brincadeira de narração que eu fazia no meu quarto ajudou um pouco a minimizar alguns traumas e a paixão clubista. Eu era muito são-paulino, ficava tenso só de saber o dia e a hora em que o time jogaria, a ponto de eu ficar em "estado de choque" quando não ganhava. Hoje eu procuro evitar ao máximo em acompanhar o futebol, sou alheio a todo tipo de rivalidade e parei de torcer como torcia na adolescência, embora no meu íntimo mais profundo, alimente algumas simpatias por Fluminense, Grêmio, América-MG, Paraná Clube, Bahia, Atlético Goianiense, Náutico, Avaí, Ferroviário do Ceará e sem contar o próprio São Paulo Futebol Clube, o qual compreendo que o clube viveu sua pior década de toda sua história nos últimos 50 anos não ganhando quase nada e que agora, 16 anos depois servindo de "sparring" dos arqui-inimigos mais encardidos, volta a ser campeão paulista quando ninguém acreditava ou imaginava que isso tornaria a acontecer (prevendo inclusive a ida para a Série B).

Se eu fosse aquele adolescente lá do ano 2000, eu estaria vibrando até agora, como muitos são-paulinos estão extravasando de alegria até agora, mas jamais zoaria com a cara de algum amigo palmeirense por respeito, pois sempre me coloco no lugar dessa pessoa (aborrecida à essa altura). Até mesmo por respeito a minha mãe, que me revelou um tempinho atrás que quando era adolescente torcia muito pelo Palmeiras (eram os anos 70, Academia, campeão várias vezes...) e curiosamente meu finado pai fazia aniversário na mesma data do Alviverde de Parque Antárctica, 26 de agosto (enquanto que eu faço aniversário no mesmo dia do América-MG, 30 de abril). Hoje, vejo que esse negócio de clubes de futebol virou um medidor social de discriminação pois é fácil um torcedor do "time da maioria" odiar fulano só porque torce para o time rival. É uma coisa que te consome e te faz desconcentrar das coisas mais básicas da vida: estudar, trabalhar, socializar, viver de verdade, saborear a vida, amar e respeitar o próximo etc. Escrevo isso por experiência própria. E outra, estamos testemunhando o surgimento de uma geração de torcedores que jamais foi a um estádio de futebol ver seu time jogar a ponto de preferir abertamente um meio mais viável de vibrar fanaticamente por tal até em jogo-treino, a televisão.

Só espero que depois dessa, eu não sofra uma recaída. Sou Zona Neutra Futebol Clube desde criancinha, amigo!

sexta-feira, 30 de abril de 2021

ESPECIAL: A Televisão Brasileira em 1986


Como na data desta publicação eu sopro as velas, faço questão de fazer um post especial alusivo ao meu aniversário. Afinal, são 35 outonos (a estação do ano predominante no Hemisfério Sul de março à junho)! E tenho muita história pra contar. Na televisão então... Pois é, vamos aproveitar o momento e contar um pouco de como era a televisão brasileira no ano em que eu nasci, em 1986, com suas emissoras, seus destaques, seus bastidores, suas curiosidades, enfim. Eram outros tempos, tempos em que o véu do Regime Militar caia aos poucos com a chegada da Nova República e os envolvidos na mídia eletrônica da época podiam desfrutar um pouco daquilo que podemos chamar de "liberdade".

Aquele foi o Ano Internacional da Paz instituído pela ONU e o ano do Tigre no horóscopo chinês. O presidente do Brasil era José Sarney, dos Estados Unidos era Ronald Reagan, enquanto que Mikhail Gorbatchev mandava na extinta União Soviética. Foi também o ano da chegada do Cometa Halley à Terra, da explosão do ônibus espacial Challenger no espaço, da implantação do Plano Cruzado, do acidente nuclear em Chernobyl, da Argentina campeã mundial de futebol, das eleições estaduais para a Assembleia Nacional Constituinte, do incêndio no Edifício Andorinhas no Rio de Janeiro, do longa Entre Dois Amores ganhando o Oscar de melhor filme do ano, de Mike Tyson como o mais jovem boxeador campeão dos pesos pesados, de Alain Prost como bicampeão mundial de Fórmula 1 e do grupo RPM que estourava nas paradas musicais de sucesso com seu disco ao vivo.

Pois bem, naquele ano existiam cerca de 26,5 milhões de aparelhos de televisão em todo o território nacional, os investimentos em publicidade no veículo eram de 60,6% e a censura ainda incomodava, mas nem tanto. Porque em 23 de janeiro, todas as emissoras estavam liberadas em não mais projetar o medonho Certificado de Classificação da Censura Federal antes de cada programa ir para o ar. Somente dois anos mais tarde é que a censura acabou definitivamente na TV, valendo-se apenas do "bom-senso" dos teledifusores (se é que eles têm). E quanto a programação da época? Não vou contar tudo porque o post fica gigante, só vou registrar os fatos mais significativos de 35 anos atrás porque nossa viagem no tempo começa agora.


Rede Globo


Surge uma Rainha
Nos primeiros meses do ano, a emissora-líder anunciou a contratação de uma ex-modelo que ainda estava aprendendo a lidar com o comando de um programa infantil, Xuxa Meneghel, então com 23 anos, 54 quilos, 1,76 de altura, que apresentava o Clube da Criança na Rede Manchete e vinha com a fama de "dar puxões de orelha nos baixinhos". Segundo ela, a mudança de emissora representou a saída de um quintal para um parque de diversões. A ideia de José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, era lançar o Xou da Xuxa logo em 28 de abril junto com a nova programação Global, bem como a renovação gráfica de suas vinhetas, todas feitas por computador. Mas, gênio que é, decidiu esperar o fim da Copa do Mundo de Futebol que coincidiria com o início das férias escolares das crianças para lançar o novo programa da maneira mais digna possível, em 30 de junho, com direção de Paulo Netto e Marlene Mattos, com formato moldado e azeitado para corrigir detalhes da cenografia. O resultado não foi outro a não ser sucesso absoluto no horário matinal. Em quatro horas e meia de programa, ela ficava no ar por 45 minutos e o resto era preenchido por desenhos animados de sucesso como He-Man, She-Ra, Thundercats, Scooby-Doo, Turma do Mickey Mouse, Flinstones, Caverna do Dragão, Os Smurfs, Janjão e Pequeno, Os Snokels e Tiny Toons. O Xou da Xuxa, que contava com a presença de 120 crianças no palco e apresentava 56 brincadeiras de meninos contra meninas, além de musicais, números circenses e performáticos, marcou audiência de 17 pontos de média e 22 pontos de pico no horário matinal. No programa de estreia, os primeiros convidados foram os grupos Trem da Alegria e Dr. Silvana & Cia. Com o tempo, aquela modelo fogosa, linchada pela crítica especializada, se transformou no maior ídolo infantil que a TV brasileira jamais tinha produzido até então, fazendo com que a "superestimada" Rainha dos Baixinhos vendesse 14 milhões de discos nos seis anos em que seu Xou esteve no ar.


Greve das Novelas
Seus folhetins batiam sucessivos recordes de audiência, impulsionados com o fim de Roque Santeiro (que literalmente parou o Brasil). Sinhá Moça, Cambalacho, Selva de Pedra, Roda de Fogo e a minissérie Anos Dourados são alguns desses sucessos que faziam a Globo alcançar facilmente a casa dos 50, 60 pontos de audiência. Só que em novembro enfrenta uma crise de bastidores que quase afetou sua linha de produção. O Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos e Diversões do Rio de Janeiro (SATED-RJ) reivindicava o limite máximo de seis horas diárias de trabalho para a classe artística e seus afiliados. A Globo não atendia tal exigência e o impasse gerou um grave problema, sendo ameaçada pelo sindicato de ter seu núcleo de teledramaturgia desativado. A consequência foi o atraso do lançamento da novela das seis Direito de Amar, que só pôde entrar no ar em 14 de fevereiro de 1987. Para tapar o buraco deixado na grade, a emissora decide reprisar em versão compacta a novela Locomotivas de 1977 até que as coisas finalmente se acertaram. Porém algo semelhante aconteceu no dia das eleições estaduais, quando a sucursal de São Paulo entrou em greve e quase não cobriu o pleito e a apuração dos votos.


SBT


Entra Hebe, Sai Flávio
Tentando driblar as dificuldades financeiras causados pelas mudanças na economia brasileira, o SBT se expandia e firmava-se como a segunda maior rede de televisão do país. Mesmo com crescimento de 27%, o jeito era concentrar suas atenções em filmes, seriados, desenhos e shows de auditório para todos os tipos de público. Em 4 de março, passa a exibir o programa de uma consagrada apresentadora, pioneira da TV, na qual muita gente enxergaria que aquilo poderia representar o mais perfeito casamento entre artista e emissora: Hebe Camargo. Vizinha de Silvio Santos no bairro nobre do Ibirapuera, não hesitou em trocar a Rede Bandeirantes pelo SBT e pelos números pareciam que esse "casamento" foi harmonioso: ficou no ar por 24 anos e nove meses apresentando 1.235 edições de seu programa. Nos bastidores, o relacionamento era conflituoso: queria programa ao vivo, mas sempre estourava as duas horas que tinha direito; criticava a classe política, foi advertida várias vezes e seu programa chegou a ser gravado e editado, o que a deixara insatisfeita por um bom tempo e ainda teve que sobreviver a seis mudanças de horário. Em contrapartida, a emissora sofre uma grande baixa na linha de shows: o jornalista e apresentador Flávio Cavalcanti morre aos 63 anos. Ex-bancário, radialista e crítico musical, ele introduziu o júri nos programas de TV e fez escola. Polêmico, Flávio trabalhou nas TVs Rio, Tupi, Record, TVS-RJ e Bandeirantes antes de chegar ao SBT em 1983. Em 22 de maio, ele sofre uma isquemia no miocárdio no intervalo de seu programa e é internado às pressas, falecendo em 26 de maio, após sofrer complicações cardiovasculares. Com o fim do Programa Flávio Cavalcanti, o SBT aproveita o espaço vago na grade e lança um bem-sucedido musical, criando assim um espaço cativo para a difusão da música sertaneja em pleno horário nobre: Musicamp.


Viva os Políticos!
A quase quatro meses das eleições estaduais, o programa Viva a Noite realiza em 26 de julho sua 200ª edição. O apresentador Gugu Liberato anunciou que os alunos dos colégios Meta e Elite (que disputariam a Gincana dos Estudantes) desejavam ter a presença dos candidatos ao Governo de São Paulo no programa com o desafio de entrar no palco guiando um automóvel. Gravado numa segunda-feira, 21 de julho, o assunto foi destaque em todos os jornais de São Paulo no dia seguinte (fica a dica para pesquisa). Quando abriu o programa, Gugu esclareceu ao público que não apoiaria nenhum candidato devido a força que os comunicadores exercem sobre o eleitorado (era jornalista de formação) e em cada bloco, os candidatos eram entrevistados de acordo com um tema escolhido por sorteio. Primeiro, o vice-governador Orestes Quércia, do PMDB, veio ao programa de Diplomata preto, falou sobre educação, confessou ser um marido ciumento, cogitou a construção de "Brizolões" no interior paulista e foi chamado de "lindo" pelas moças do auditório. Depois, o futuro senador Eduardo Suplicy, do PT, entrou no palco de Monza vermelho, trocou a entrevista por um discurso de 10 minutos em que se defendia das acusações de um conflito envolvendo policiais e boias-frias em Leme e criticando o congelamento de preços, já que seu tema era economia. Na sequência, o empresário Antônio Ermírio de Moraes, da Frente União Liberal Trabalhista Social, chegou a pé, seu tema era saúde, disse que sua vida era "um livro aberto, simples e humilde", que o presidente Sarney votaria nele caso seu domicílio eleitoral fosse em São Paulo e animou uma comemoração de aniversário de 29 anos do cantor Adriano Santa Cruz. E finalmente, o deputado Paulo Maluf, da Coligação União Popular, veio de Opala prata, recebeu a maior ovação da plateia, falou do seu casamento de 31 anos, explorou seu programa de segurança pública, foi questionado sobre a pena de morte e tocou por 5 minutos um prelúdio de Chopin ao piano. Em 15 de novembro, dia da eleição, Quércia vence com 40,78% dos votos válidos dos eleitores paulistas e faturou a corrida pelo Palácio dos Bandeirantes.


Rede Manchete


Beija-Flor, Beija Menina
Em 7 de abril, a emissora lança sua segunda novela de sua história: Dona Beija. Uma superprodução que custou Cz$ 20 milhões reconstituindo a cidade mineira de Arraial de São Domingos do Araxá do Século XIX, de onde surgiu Ana Jacintha de São José, uma cortesã sem escolaridade alguma que usufruia de sua beleza para seduzir os homens da alta sociedade em troca de joias ou moedas de ouro a troco de vingança de seu rapto pelo ouvidor do Rei a tendo como amante, mas ela amava de verdade um homem de família tradicional, Antônio Sampaio, apesar de manter um caso com o promotor João Carneiro de Mendonça, que era casado. Escandalizada pelos conservadores da época, seu ponto de encontro era a Chácara do Jatobá e a protagonista foi vivida por Maitê Proença no auge da beleza. No elenco também estavam Gracindo Jr., Bia Seidl, Carlos Alberto, Edwin Luisi, Arlette Salles, Sérgio Britto, Jonas Mello, Maria Isabel de Lizandra, Marcelo Picchi, Marilu Bueno, Maria Fernanda, Jayme Periard, Mayara Magri, Juciléia Telles, Sérgio Mamberti, Arlete Salles, Monah Delacy, João Signorelli, Renato Borghi, Nina de Pádua e Antônio Pitanga. A novela teve originalmente 89 capítulos e foi escrita por Wilson Aguiar Filho, inspirada nos romances A Vida em Flor de Dona Bêja de Agripa Vasconcelos e Dona Bêja, a Feiticeira do Araxá de Thomas Leonardos, e contou com a direção de Herval Rossano. Muito bem feita, Dona Beija alcançou médias de 15 pontos de audiência e picos de 25 pontos em todo o Brasil (sendo reprisada três vezes e exibida em vários países), isso se deve ao erotismo e sensualidade da própria personagem-título, surgindo assim o primeiro nu da telenovela brasileira como naquelas antológicas cenas em que Beija aparece se banhando numa cachoeira e cavalgando completamente nua por toda Araxá (Maitê dispensou o uso de dublês de corpo), fazendo com que a Manchete vencesse a Globo por 36 a 31 no IBOPE do Rio de Janeiro. O curioso é que a novela era pra ter estreado em 31 de março, mas sofrera adiamento de uma semana por conta da censura devido a cortes de última hora no primeiro capítulo, mas bastou um telefonema pessoal de Adolpho Bloch ao presidente Sarney para que a exibição sem cortes pudesse ser finalmente liberada.


Braços Cruzados
Apesar de ganhar cada vez mais espaço na mídia nacional, a ponto de se tornar a terceira maior rede de TV do Brasil e ter seu patrimônio avaliado em U$ 200 milhões, a emissora mal tinha começado o ano quando uma auditoria identificou um prejuízo que totalizava U$ 80 milhões e uma dívida que acumulava U$ 23 milhões. Com tantas boas produções e o sucesso de uma programação altamente qualificada, a Manchete se descuidou um pouco a ponto de agravar uma crise nos bastidores, cujo resultado foi uma greve em setembro, onde 500 funcionários cruzaram os braços e entraram na Justiça reivindicando reajuste salarial de 50%, mas após longas negociações, a direção da Manchete aumenta o salário do quadro de funcionários para 32%. A alegação da emissora em recusar a proposta inicial foi o aumento substancial do seu volume de produção e da carga horária de programação.


Rede Bandeirantes


O Melhor do Pior
Em 19 de abril, a Band passa a exibir em rede nacional o Perdidos na Noite. Comandado por Fausto Silva, então com 35 anos, 120 quilos e 1,84 de altura, o programa estreou em 1984 na TV Gazeta e meses depois migrou-se para a TV Record. Sucesso absoluto em São Paulo, foi nacionalizado pela Band com a mesma equipe e local de gravação: direto do Teatro Záccaro, localizado na bairro paulistano da Bela Vista, direção de Lucimara Parisi e ainda passou a contar com quatro câmeras. Sua fórmula vinha do rádio pois se tratava de uma versão televisiva do Balancê da Rádio Globo/Excelsior, com três horas de humor, baixaria saudável e irreverência espontânea do próprio Faustão e contava também com a participação da dupla de imitadores Nelson "Tatá" Alexandre e Carlos Roberto "Escova" entre um quadro e outro. Indo ao ar nas noites de sábado, o Perdidos apresentava bandas de rock desconhecidas, artistas amadores, beldades da época, grupos teatrais e até "monstros sagrados" da MPB, arrancando médias de 6 pontos de audiência (o dobro do que ele conquistava na "antiga casa"). Estudantes universitários e profissionais liberais ocupavam a plateia do teatro e levavam os folclóricos cartazes que eram lidos e exibidos no decorrer do programa, tais como "Faustão, sai da frente que eu quero ver o programa!". Segundo o próprio apresentador, a troca de emissora representou a transferência de uma mercearia para um supermercado. Foi na fase da Band que a música Tarzan Boy da banda Baltimora (curiosamente integrante da trilha sonora da novela Global De Quina Pra Lua) se tornou o tema oficial do programa. O auto-intitulado "pior programa da TV brasileira" passou a contar desde então com o famoso recurso dos spoilers dos filmes que a Globo exibia no mesmo horário. No programa de estreia, as "feras" que marcaram presença foram o estilista Ney Galvão, o músico Ivan Lins, a dupla Milionário & José Rico, o cantor sertanejo Dalvan (que lançara seu primeiro disco solo), o "Rei do Baião" Luiz Gonzaga, o grupo Ultraje a Rigor e Alípio Martins, um cantor até então desconhecido nas grandes metrópoles e que fazia sucesso no Norte e Nordeste com suas lambadas, carimbós e "músicas de corno" com letras picantes e de duplo sentido.


Nasce um Repórter
Durante o carnaval, sem os direitos de transmissão dos desfiles das escolas de samba, a Band decidiu apostar na cobertura ao vivo de bailes carnavalescos como na casa de shows Scala, no Rio de Janeiro, e no Clube Monte Líbano, em São Paulo, durante a madrugada. Quem estava de bobeira em casa e assistindo pela TV os desfiles das escolas de samba num canal e os bailes de carnaval no outro, com certeza deve ter notado a presença de um repórter bem animadinho que não deixava escapar nada, desde celebridades, anônimos inusitados e até foliões curiosos a ponto de invadir os banheiro dos recintos, na cobertura da maior festa da cultura brasileira: Otávio Mesquita, um gerente de merchandising de uma agência publicitária terceirizada pela Globo. Ele foi quem mais sobressaiu de uma equipe que tinha, entre outros nomes, Rogéria, Nani de Souza, Cristina Proschaska e Emílio Surita. Foi a partir dali que o então publicitário, fazendo-se de dublê de repórter, começou a aparecer em televisão e conseguir aos poucos um espaço só seu nas madrugadas da TV, se especializando mais pela irreverência em suas matérias. Uma espécie de "bobo da corte" da noite paulistana, indo pela contramão de Amaury Jr.


TV Record


Emoção em Dobro
O grande acontecimento do ano foi a Copa do Mundo de Futebol, realizado no México, e todas as emissoras brasileiras fizeram cobertura completa da competição. A Record pouco se destacava com sua programação de variedades e seu filé mignon era justamente a transmissão esportiva. Como a emissora, então propriedade de Paulo Machado de Carvalho, tinha alcance limitado em São Paulo, Rio de Janeiro e cerca de 80 retransmissores cobrindo parte do interior paulista (sem contar as afiliadas TV Nacional de Brasília, TV Carimã de Cascavel e TV Curitiba), firmou convênio com a antiga TVS para a transmissão em rede nacional da Copa para as 40 emissoras do Sistema Brasileiro de Televisão. A combinação indigesta para os dias de hoje tinha fundamento: Silvio Santos era sócio do "Marechal da Vitória" e tinha 50% das ações da Rádio e Televisão Record. Com custo de U$ 6,5 milhões, o consórcio enviou ao México uma delegação de 50 profissionais, alugou um canal exclusivo de satélite, transmitiu 39 jogos ao vivo, programou 10 mesas-redondas e quatro especiais com retrospectos ao longo do torneio, num total de 150 horas de cobertura. Os debates dos jogos eram gerados direto de Guadalajara, num pequeno estúdio do Hotel Holliday Inn, onde toda a equipe estava hospedada. Acumulou U$ 21,5 milhões em cotas comerciais de patrocínio adquiridas por Antarctica, Cigarros Mistura Fina, Jeans Pierre Cardin, Kolynos, Grupo Votorantim, PullmannCasas Pernambucanas e Pílulas De-Lussen. Ciro José foi o diretor responsável da transmissão e Rui Viotti o coordenador geral (ambos participavam eventualmente de algumas transmissões). Direto do país-sede da Copa, a narração dos jogos foi de Silvio Luiz, Osmar de Oliveira e Carlos Valladares, os comentários foram de Juca Kfouri, João Carlos Albuquerque e J. Hawilla e as reportagens de Flávio Prado, Jorge Kajuru, Eli Coimbra e Fábio Sormani. O grande destaque da cobertura ficou por conta do repórter especial Ernesto Varela (Marcelo Tas) e seu cinegrafista Valdeci (Tonico Melo), que inova ao produzir matérias humorísticas e descontraídas durante a competição. Na retaguarda em São Paulo, o comando era intercalado entre Fernando Solera, José Luiz Meneghatti, João Zanforlin e Ivo Morganti. A audiência média dos jogos rendeu 12% somado das duas emissoras, garantindo assim a vice-liderança no IBOPE de São Paulo, cujo slogan conjunto era Unidos, Venceremos!. A Argentina de Diego Armando Maradona foi a grande vencedora batendo a Alemanha por 3x2 na final, enquanto que o Brasil, sob o sol escaldante da altitude mexicana e com uma equipe mista entre juventude e experiência que mal aguentou as tais condições climáticas, caia diante da França nas cobranças de pênaltis. O resto é história.


De Cara Nova
Apesar de se encontrar numa situação financeira delicada, cujo prejuízo ia se acumulando, a Record chegava aos 33 anos em 27 de setembro e para marcar a data de mais um aniversário no ar, apresenta ao telespectador sua nova identidade visual, desenvolvida pelo departamento de artes chefiado pelo arquiteto Sidney Borges. Fruto de um resultado de quatro meses de trabalho, o novo logotipo da emissora era constituído por quatro barras douradas encurvadas, formando um quadrado diagonal com impressões tridimensionais, fazendo lembrar um diafragma de uma câmera fotográfica. A intensão era introduzir a marca da Record numa concepção gráfica moderna, simbolizando de vez a emissora sem a necessidade de troca no decorrer dos tempos, substituindo assim o velho arco-íris que identificou o canal 7 durante cinco anos. Essa mudança representava uma reformulação total da programação, trocando aos poucos os velhos enlatados constantemente reprisados por um jornalismo comunitário mais atuante que pudesse alcançar o público do interior paulista, sem contar o investimento necessário para a renovação da linha de entretenimento e variedades. Em uma coluna de opinião do jornal Folha de São Paulo, o ensaísta Décio Pignatari analisou que o novo logo da Record "não fala a linguagem dinâmica da TV, mas cria uma nova unidade icônica". Este novo símbolo foi o último da era Machado de Carvalho, ficando no ar por quatro anos, até ser adquirido pela Igreja Universal do Reino de Deus. A partir dalí seria escrita uma outra história.


TV Cultura/RTC


Tá Pegando Fogo, Bicho!
Em 28 de fevereiro, a RTC sofre um incêndio de grandes proporções, vindo de um curto circuito em sua rede elétrica de refletores do seu estúdio principal, iniciado às 4 da manhã e só foi controlado por nove viaturas do Corpo de Bombeiros quatro horas depois, cujo trabalho de rescaldo se encerrou às 13 horas, destruindo 90% da capacidade técnica e 80% de equipamentos obsoletos para a época: sete aparelhos de vídeo-tape, quatro câmeras, equipamentos de montagem, máquinas de telecine, cinco ilhas de edição, diversos cenários, 200 fitas, laboratório, gerador de caracteres, controle geral e plateia (sem contar o risco de desabamento do estúdio). Parte das instalações foram salvas do fogo, mas alguns equipamentos acabaram se deteriorando devido a quantidade de compostos químicos depositados entre eles, como os cabos elétricos que ligavam as câmeras com a central técnica. Todo o seu arquivo de fitas foi resgatado do incêndio e por essa razão foi criada a Central de Documentação, visando uma melhor organização de seu acervo. A programação da emissora entra no ar ao meio-dia e seu núcleo de jornalismo consegue registrar cenas do próprio incêndio para serem exibidas no informativo RTC Notícia, que quase não divulga a notícia do Plano Cruzado. O incêndio deixou um prejuízo de U$ 10 milhões, mas tinha um seguro de Cz$ 30 milhões da COSESP que cobriu boa parte da perda. Para manter no ar a programação de forma remota, teve que acionar seus dois caminhões de transmissão externa, um no pátio da emissora (servindo de controle técnico de programação) e outro no Teatro Franco Zampari (para os programas ao vivo), além de improvisar um galpão, um estúdio em construção para os telejornais e adaptar um de seus edifícios durante o período de seis meses de reconstrução. Para não ficar fora do ar, os funcionários se unem para resgatar alguns equipamentos salvos do incêndio, como diversas câmeras, mesas de áudio e três aparelhos de vídeo-tape. Em solidariedade, as redes Globo, Manchete, Bandeirantes, Gazeta e TVE-RJ cedem imagens, equipamentos, unidades móveis, programas prontos e ilhas de edição para que os trabalhos da equipe de reportagem pudessem ser finalizados. Sete meses depois, em 17 de setembro, supera o incêndio e realiza uma remontagem do TV de Vanguarda, marco da extinta TV Tupi, com a encenação ao vivo do romance Calunga, de Jorge de Lima e adaptado por Walter George Durst. A experiência ousada para a época (até hoje) teve direito a marcação original dos atores, elenco base dos anos 50, exibição em preto-e-branco e teve uma hora de duração, contando com Tony Ramos, Jofre Soares e Turíbio Ruiz no elenco e direção de Henrique Martins.


A Era Muylaert
Em 9 de junho, assume a presidência da Fundação Padre Anchieta Roberto Muylaert. Sua tarefa é reerguer a RTC ao mesmo nível de qualidade técnica que as grandes redes comerciais, adota um projeto de renovação e melhoria da programação, tenta uma boa estratégia de marketing para captar recursos com a recém-criada Lei Sarney de Incentivo à Cultura (citando nomes de empresas privadas que investem e colaborem na produção e divulgação dos programas como "apoio cultural", mesmo sem poder veicular anúncios publicitários), põe em prática uma ampla reforma administrativa como a profissionalização da Diretoria Executiva para reforçar o poder dos cargos técnicos diretivos e investe U$ 12 milhões para a renovação total da área técnica com a chegada de novos equipamentos importados do Japão e dos Estados Unidos. Em cima deste projeto ambicioso, dois novos e importantes programas entram no ar: Roda Viva, em 29 de setembro, programa de entrevistas e debates onde o convidado fica no centro no estúdio rodeado por oito entrevistadores e recebe perguntas dos telespectadores, ao vivo, conquistando 9 pontos de audiência; e Vitória, em 7 de dezembro, com linguagem jovem e uma montagem visual bem cuidada misturando pop-rock internacional e a divulgação de esportes radicais, atingindo 7 pontos de audiência. Em dezembro, uma pesquisa mostra que cerca de 80% dos telespectadores preferem chamar a RTC de "TV Cultura" e isso foi determinante para que a emissora volte a ser denominada como simplesmente TV Cultura.

Mas não foi só em São Paulo e no Rio que a televisão brasileira produziu cenas memoráveis. Em outras cidades, grandes acontecimentos do veículo, tanto diante como por trás das câmeras, deixaram marcas a uma geração de telespectadores. Vamos continuar viajando:

Porto Alegre (RS)


Coração de Luto
Na noite de 24 de março, morre aos 60 anos o fundador da RBS TV e empresário Maurício Sirotsky Sobrinho. Ele, que havia se recuperado de um câncer linfático alguns anos antes, sofreu parada cardíaca causada por um aneurisma da artéria aorta. Gaúcho de Passo Fundo, Sirotsky era filho de imigrantes europeus agricultores e tinha formação judaica. Apelidado de "Big Nariz", começou adolescente no serviços de alto-falante da sua cidade-natal, depois conseguiu um emprego na rádio local como locutor, redator e programador. Aos 19 anos, fixou-se em Porto Alegre tornando-se diretor da Rádio Gaúcha, cresce dentro da emissora sendo assim promovido a gerente de publicidade e logo adquire a estação de rádio da qual surge a Rede Brasil Sul de Comunicação (RBS). Em dezembro de 1962, funda a TV Gaúcha, então afiliada da TV Excelsior de São Paulo (a filiação à Rede Globo começou a partir de 1970) e em 1964 compra o jornal Zero Hora para agregá-lo ao grupo. Além disso, era também presidente da Associação Nacional dos Jornais e do Conselho Superior de Ética da ABERT e seu exemplo de empreendedorismo focado nos meios de comunicação sem influência política e 100% independente, deve ser referência em todo o Brasil do que apenas ser em âmbito regional. A notícia de seu falecimento foi dada no encerramento da transmissão da cerimônia de entrega do Oscar feito pela Rede Globo e retransmitido pelas emissoras da RBS TV em todo o estado do Rio Grande do Sul. Em seu lugar assume a presidência do conglomerado o irmão Jayme Sirotsky.


Sob Nova Direção
A TV Guaíba, por sua vez, passava por uma transição de comando. Dois anos antes, sofre com a falência do Grupo Caldas Jr. devido a intervenção do governador Jair Soares nas contas da empresa, principalmente pelos enormes empréstimos dos bancos estaduais para financiar a emissora de TV desde sua fundação em 1979, que não foram devidamente pagos em dia. Seu presidente, Breno Caldas, foi obrigado a devolver os polpudos valores à União. O reflexo dessa crise foi o atraso nos salários dos profissionais, o fechamento do jornal Correio do Povo e a Rádio e Televisão Guaíba, correndo o mesmo risco, ficaram isoladas. O escritor e jornalista Sérgio Jockymann (autor da novela O Machão da TV Tupi em 1974), um grande apaixonado pela emissora de TV, queria mantê-la no ar e fez uma "vaquinha" com os funcionários que ainda atuavam por lá para montar uma nova programação com conteúdo exclusivamente regional, na qual ele assumiria o cargo de superintendente geral, mesmo sem receber um tostão. Chega o ano de 1986 e a Guaíba passa pela mudança de controle acionário, foi adquirida pelo empresário e economista Renato Bastos Ribeiro, dono da Incobrasa Agrícola Ltda., que dá novo fôlego as empresas do Grupo Caldas Jr. criando o Sistema Guaíba/Correio do Povo, fazendo com que o periódico gaúcho voltasse a ser publicado. O canal de TV não foi poupado das mudanças, Sérgio Jockymann foi afastado de seu cargo sem aviso prévio e é substituído pela irmã do novo proprietário, Helena Ribeiro Soares, transformando a TV Guaíba numa grade loteada de produções independentes, como forma de enxugar gastos e garantindo uma percentagem na venda de patrocínios. Jockymann entrou na Justiça processando os Bastos Ribeiro e exigia uma indenização pelo seus dois anos de idealismo desperdiçado. Por isso acabou entrando para a "lista negra" da família Bastos Ribeiro, magnatas do óleo de soja, não podendo mais aparecer na tela da emissora, nem ao menos ser citado mesmo tendo sido um notável deputado estadual. Os Bastos Ribeiro administraram a TV Guaíba por 21 anos, até ser adquirida pela Igreja Universal do Reino de Deus.

Manaus (AM)


Troca-Troca Amazônico
As três principais emissoras de TV da capital amazônica, as TVs Amazonas, Ajuricaba e Baré, passaram por mudanças não só de filiação (o que é normal em emissoras fora do eixo Rio-São Paulo), mas também em termos administrativos. A TV Amazonas passa a agregar outras 16 emissoras pela Região Norte e é transformada em Rede Amazônica de Rádio e TV, cujo proprietário Phillippe Daou, um francês radicado no Brasil, desliga-se da Rede Bandeirantes e torna-se a partir de 30 de junho a mais nova afiliada da Rede Globo. A TV Ajuricaba, por sua vez, perde a filiação da Rede Globo devido a seu posicionamento abertamente favorável a redemocratização do Brasil e ao relacionamento comercial conflituoso. Em 20 de abril, a família Hauache vende a emissora para o Grupo Simões e aproveita a saída da Rede Globo para rebatizar a emissora de TV que a partir de 30 de junho passa a ser a nova afiliada da Rede Manchete: Rede Brasil Norte de Televisão (RBN). E a TV Baré, afiliada do SBT desde 1981, tem uma grade de programação mais popularesca que suas concorrentes, apesar dos corriqueiros problemas técnicos de imagem e transmissão e de baixa qualidade do áudio. Como era propriedade de uma sociedade composta por 30 acionistas dos Diários Associados, toda essa participação foi adquirida pelo empresário e jornalista Umberto Calderaro Filho, dono do jornal A Crítica, como solução para que a emissora fugisse de uma crise no conglomerado que pudesse afetá-la. Então, em 29 de novembro, a emissora entra em nova fase, renova seu parque técnico e muda sua denominação para TV A Crítica de forma definitiva.

Florianópolis (SC)


O Desespero de um PM
Em 12 de maio, acontece a primeira cena real de ameaça de suicídio na história da TV brasileira. Durante a abertura de uma mesa-redonda de futebol exibida a meia-noite pela TV Cultura de Florianópolis, emissora da Rede de Comunicações Eldorado (RCE, então afiliada da Rede Bandeirantes), surge dos corredores em direção ao estúdio da emissora, o policial militar Sílvio Roberto Vieira, armado com cinco revólveres calibre 38, uma delas apontadas em sua própria cabeça ameaçando se matar diante das câmeras e indignado com o Governo de Santa Catarina, que havia prometido reajuste salarial a classe militar. Deixando os comentaristas esportivos e a equipe técnica perplexos, o cidadão girou a roleta-russa de um dos revólveres três vezes, criticou o governador Espiridião Amin e intimou a direção da emissora a não sair do ar naquele instante, pois tudo estava sendo exibido ao vivo. O policial chegou a se acalmar e foi até entrevistado pela equipe do programa, desabando em lágrimas várias vezes. Após 32 minutos de muita tensão, a patrulha de segurança foi acionada e o coronel Luiz Eugênio Uriarte conseguiu render ferozmente o PM em cenas jamais vistas em um programa de TV e presenciadas por 300 mil telespectadores catarinenses. Vieira, casado e pai de seis filhos, fazia bicos como segurança para conseguir uma estabilidade financeira, até que o Diário Oficial publicou uma nota em que militares estavam proibidos de exercer quaisquer atividades informais/paralelas com remuneração. Com uma fonte de renda a menos, ele foi ameaçado de prisão por dever três meses de cesta básica e esbarrou na burocracia da assistência social militar do estado quando necessitava de auxílio. Chegou a conseguir um atestado de licença de 10 dias para tratamento de saúde, pois sofria de problemas psiquiátricos, mas estava fora de si. Alcoolizado, pegou um taxi do quartel em direção a emissora de TV como último recurso. Após o episódio, Vieira acabou sendo expulso da corporação e foi condenado a dois anos e 75 dias de prisão em regime semiaberto mais serviços comunitários. Apesar de ter continuado vivendo em dificuldades, o ex-PM morreu em 1º de março de 2021 aos 74 anos, vítima de parada cardíaca, sem ter sua injustiça reparada pelo poder público. Em 2010, o estudante Fábio Queiroz produziu um documentário de 50 minutos sobre o assunto como TCC do Curso de Jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

Brasília (DF)


Silvio Santos Voltou
Após ficar quase um ano fora do ar desde que a TV Brasília trocou de filiação para a Rede Manchete, o SBT obtém uma concessão na capital federal e entra no ar em 8 de junho em caráter experimental, isto é, retransmitindo o sinal gerado de São Paulo sem emitir produções próprias. Foi às 11 da manhã daquele domingo quando os candangos voltaram a assistir pelo canal 12 o Programa Silvio Santos, cuja abertura teve uma saudação especial do "Patrão" ao público brasiliense e, principalmente (pra fazer um pouco de média), ao mais ilustre telespectador: o presidente José Sarney. O curioso é que, durante o período em que esteve fora do ar no Distrito Federal, o SBT tinha uma sucursal jornalística de onde gerava e centralizava todo o noticiário político que era exibido em seus telejornais e foi essa mesma equipe que possibilitou o especial Caminho das Águas - Sarney Presidente, Homem e Poeta exibido às 23 horas daquele mesmo dia para toda a rede (suspendendo a exibição da Sessão das Dez). Coproduzido com a Tele Tape, o documentário dirigido por Carlos Alberto Vizeu e apresentado por Beth Goulart e Mário Lago, mostrava em linguagem poética, a vida do cidadão José Ribamar Ferreira de Araújo Costa, num resultado de quatro meses de trabalho e mais de 15 horas de gravação com depoimentos de familiares, parentes, escritores, políticos, amigos e pessoas que passaram pelo caminho do então chefe da Nação, sem contar o povo nas ruas. Até porque o programa foi inspirado num livro de poesias do próprio presidente. O jornalista Carlos Henrique, que estava na emissora desde 1983, ocupava o cargo de diretor regional da nova integrante do Sistema Brasileiro de Televisão, que contou com investimento de U$ 1 milhão em equipamentos de última geração, e Pedro Rogério Moreira assumiu a direção comercial. A partir de 14 de julho, a TVS Brasília passa a operar em caráter definitivo como emissora geradora própria do SBT com os informativos locais, cobertura de atividades comunitárias e a emissão de comerciais regionais nos intervalos da programação.

Salvador (BA)


ACM Pistola
Era 15 de novembro, dia de eleições estaduais e a TV Itapoan, então afiliada do SBT na Bahia, deslocou o repórter Antônio Fraga para cobrir a votação de importantes autoridades no Clube Bahiano de Tênis. Eis que às 11h30 surge o então Ministro das Comunicações Antônio Carlos Magalhães que recebe uma enorme vaia popular ao se dirigir a seção eleitoral. Após registrar seu voto, ele é indagado pelo repórter de que forma ele encarava aquelas vaias e retrucou de forma dissimulada que as vaias eram para Pedro Antônio Irujo, dono da TV Itapoan e apoiador do candidato do PMDB ao Governo da Bahia Waldir Pires (já que ACM se aliava a Josaphat Marinho, da Aliança Democrática Progressista). Depois foi perguntado do fato dele ser sempre personagem de tumulto e, irredutível, abaixou o microfone ofendendo, ameaçando e xingando o repórter, além de exigir respeito (isso diante de uma câmera ligada com som ambiente). Jornalistas que estavam próximos testemunharam o momento em que Fraga foi agredido com um soco nas costas e um pisão do ministro, além de seus correligionários darem pontapés e cotoveladas no cinegrafista e no auxiliar técnico. A TV Itapoan repercutiu o fato durante um "flash" e reprisou as imagens durante a programação vespertina, que foram gentilmente cedidas às TVs concorrentes. Horas depois, o prefeito de Salvador Mário Kertesz e o presidente do Sindicato dos Jornalistas da Bahia Raimundo Lima vão aos estúdios da emissora prestando solidariedade aos profissionais, sugeriram a população a enviar telegramas ao presidente Sarney denunciando o atrito e pedindo afastamento de ACM do cargo de ministro. Às 17h30, atendendo uma determinação do TRE-BA, o DENTEL suspende o sinal da TV Itapoan, alegando que o episódio foi usado de forma política, porém, as tais notas eram frias, não estavam devidamente timbradas pelos dois órgãos e tampouco haviam assinaturas, para que sua validade fosse confirmada (sendo obra de abuso de poder de ACM). Trinta minutos depois, um ofício do próprio presidente do TRE-BA recoloca a emissora no ar. É um sinal de que, mesmo com a redemocratização promovida pela Nova República, a mídia sofre nas mãos do poder público como consequência da liberdade de imprensa.

João Pessoa (PB)


O Pessoense Se Vê
Em outubro, a capital paraibana finalmente ganha sua primeira emissora de TV depois de três décadas de atraso: a TV Cabo Branco canal 7, retransmitindo inicialmente a Rede Bandeirantes. Até então, João Pessoa só conseguia captar sinais de televisão vindos de Campina Grande e Recife e atendendo a necessidade da comunidade local, o ex-governador da Paraíba Milton Bezerra Cabral, também proprietário da Rádio Arapuan, inaugura a emissora de TV da capital do estado e coloca o irmão, Antônio Bezerra Cabral, no cargo de diretor geral. Sua torre de transmissão, situada no bairro do Tambiá, é um dos cartões postais de João Pessoa. Desde sua estreia, a TV Cabo Branco se especializa na produção local de jornalismo com os noticiosos Câmera 7 com Geraldo Oliveira e Jornal Cabo Branco com Edilane Araújo. Na virada do ano, torna-se nova afiliada da Rede Globo e logo vendida ao Grupo São Braz, na qual se segue assim até hoje.

E pra encerrar, foi em 1986 que surgiram as primeiras experiências de TV clandestina da história, conhecidas também como "TV livre" ou "pirata". Num tempo em que não existia internet e tampouco portais de vídeo que permitem a realização de lives em canais/contas/comunidades, um grupo criativo de pessoas notou que o avanço de equipamentos audiovisuais e conhecimentos em engenharia eletrônica podiam permitir esse tipo de transmissão pois era uma forma de questionar a influência politica na outorga das concessões de Rádio e TV, em defesa da "Reforma Agrária do Ar". O transmissor nada mais era um rústico videocassete alterado, conectado a um amplificador de sinais e um módulo ligado a uma antena FM sem fio a custo médio de Cz$ 16 mil. Conheçam o pioneirismo da pirataria televisiva:


Os Pirata... (sic)
Em 27 de setembro, acontece a primeira transmissão pirata de TV do Brasil, a TV Cubo canal 3 na região do Butantã, zona sul de São Paulo. Às 18h45, a emissora clandestina faz uma interferência nos canais 2 (Cultura) e 4 (SBT) com uma voz feminina pedindo desculpas pela invasão, mas convidando os telespectadores a sintonizarem o canal 3. Na sequência, a TV Cubo exibe duas vezes um programa de 13 minutos em VHS, resultado de dois meses de trabalho, cuja abertura era uma contagem regressiva com números atirados num vaso sanitário com a inscrição "Cadeia Nacional". Depois, uma porção de trechos intercalados de vídeoarte com imagens de São Paulo e na sequência, um telejornal satírico redublado com uma curiosa enquete de rua em que um repórter mascarado pergunta: "Se você tivesse que chutar alguém, quem você chutaria?". A transmissão com potência de um watt cobriu apenas 1,5 km do bairro paulistano a partir do Morro do Querosene. E em 31 de outubro, foi a vez do Rio de Janeiro ter sua TV livre, a TVento Levou canal 3 na região de Copacabana, zona sul carioca. Às 20 horas, faz uma interferência no canal 4 (Globo) anunciando a transmissão clandestina em forma de alerta. O programa teve sete minutos de duração, foi exibido cinco vezes e emitidos em pontos estrategicamente diferentes, sendo em alguns momentos, o sinal não chegou a casar bem na tela, a imagem causou interferência no canal 2 (TVE), enquanto que o som interferiu o canal 4 (Globo). Após exibir uma bandeira de pirata com a inscrição "Ar Livre", o canal clandestino simulou uma explosão atômica da Usina Nuclear de Angra dos Reis utilizando cenas de pânico de filmes de ficção científica, satirizou os comerciais da época anunciando "sedas celestiais" e redublou Antônio Carlos Magalhães e Roberto Marinho criticando o monopólio das comunicações no Brasil.

Pra fechar o mês de abril com chave de ouro, porém sob cuidados máximos por conta de uma pandemia que só se enerva num país como o nosso (não adianta xingar o Coronavírus e suas variantes) e muita gente não para de morrer ou estar sendo contaminada. Se nossa indisciplinada população continuar agindo com irresponsabilidade os protocolos de prevenção e se o combate a Covid-19 não for tratado com tanta politicagem, ganância e até com paranoia por parte de autoridades visivelmente polarizadas, o Brasil vai se tornar o país mais devastado pela pandemia em todo o mundo. Não há vacina que resolva o problema, até a gente superar os efeitos da pandemia e recuperar a "normalidade" das coisas, o estrago já foi feito. Pra não se contaminar ou não ser contaminado, mesmo depois de tomar a tal vacina, a regra é uma só para todos: FIQUEM EM CASA.