Em ano de Copa do Mundo, as atenções se voltam a uma bola que corre pra lá e pra cá nos verdejantes gramados russos. Na telinha, quem acaba se tornando as grandes estrelas nesse período são os narradores esportivos, eles se destacam mais que os atores de novela e apresentadores de shows. No blog ÊHMB De Olho Na TV, a minha homenagem a esses grandes astros da locução esportiva brasileira na televisão, cujas vozes foram (e são) muito ouvidas durante o período de Copa. E pra isso, eis aqui mais um Top 10, este todo dedicado a essa divertida, porém penosa, função. E o juiz apitou, é dada a partida!
10) Raul Tabajara
Apesar do sobrenome enfadonho (lembrai-vos dos Cassetas), foi o precursor de todos eles. Pioneiro em adotar o estilo televisivo de narrar futebol, todos sabem o que estão vendo, bastam poucas palavras enquanto os lances se desenvolvem no gramado. Isso numa época em que não existia redes de televisão, as transmissões eram regionais e ele não se importava em torcer abertamente para os grandes times paulistas usando palavras como "cuidado", "preste atenção", "olha o perigo" e "daí pode chutar". Paulista de Jaboticabal, cuja carreira fora iniciada em Ribeirão Preto, Raul foi o primeiro locutor esportivo da TV Record de São Paulo, transmitindo futebol, boxe, turfe (corrida de cavalos) e até luta-livre, permanecendo por lá até seu falecimento em 1978, de parada cardíaca, semanas antes da Copa do Mundo da Argentina. Seu grande momento foi ter participado da cobertura da Copa do Mundo de 1962, transmitindo em vídeo-tape o bicampeonato do Brasil.
9) Léo Batista
Paulista de Cordeirópolis, ele é o dono da chamada "voz marcante" (obrigado Luís Roberto de Múcio) dos gols da rodada. Atire a primeira pedra quem nunca assistiu aos Gols do Fantástico com sua narração. Ele tem história no rádio, transmitindo o primeiro jogo oficial da carreira de Mané Garrincha e noticiando em primeira mão o suicídio do presidente Getúlio Vargas, ambos pela Rádio Globo, e principalmente na televisão como locutor noticiarista e announcer das lutas de boxe, ambos na TV Rio. Mas na Globo viveu a consagração de tantos anos de experiência, sempre segmentado no jornalismo esportivo, que tornou sua marca registrada, acompanhando diversas Copas, Olimpíadas, Jogos Pan-Americanos e corridas de Fórmula 1. Pra quem quiser ser bem sucedido na vida, siga o exemplo do "velhinho": gostar, ter dom e treinar.
8) Fernando Solera
As gerações mais jovens já devem tê-lo conhecido na TV Gazeta de São Paulo se auto-intitulando o "locutor do povão", mas ele tem muita história, porém esquecido pelas mídias de hoje. Paulista de Ribeirão Preto, foi um dos principais nomes que integraram o cast da Rádio Bandeirantes. Daí foi um pulo emergir na televisão, praticamente inaugurando a emissora do mesmo conglomerado bem antes da "Era Luciano do Valle", permanecendo por lá por quase 16 anos. Em 1983, passou para a TV Record e em 1990 permaneceu na Gazeta até ser injustamente demitido após 25 anos de trabalho, forçando sua aposentadoria. Até prestou serviços para a Federação Paulista de Futebol na "Gestão Farah" que vai desde a imprensa até o anti-doping. Seu momento histórico foi narrar o segundo tempo da decisão da Copa do Mundo de 1970 (ele fora escalado para tal muito antes do início da competição) com a conquista do tricampeonato do Brasil.
Herdou de seu pai o dom de narrar os momento máximos do esporte (e o são-paulinismo também) e até criou frases memoráveis como "Corre pra alegria", "Que pecado de bola" e "Eu não vi o que eu vi". Formado em engenharia elétrica, teve que lutar contra a vontade do "Gera" para também integrar a imprensa esportiva em meados nos anos 70. Começou como repórter na TV Record de São Paulo até ser promovido a narrador-estepe de Silvio Luiz nos anos 80. "Beijinho" logo se destacou, seu talento comprovado o afastou da "sombra do pai" e o permitiu a ter passagens por Globo, SBT, Record novamente, Cultura e Rede TV! narrando de tudo que possa imaginar, mas foi injustiçado pelas mídias atuais (pelo menos por enquanto), o que é lamentável. Seu momento mais importante foi sem dúvida ter narrado a conquista do tetra na Copa do Mundo de 1994, 24 anos depois que seu pai transmitiu a campanha do tri.
6) Osmar Santos
Pois é, garotinho. Se fosse top 10 dos maiores locutores esportivos de RÁDIO, ele com certeza seria o primeiro, mas como é de televisão, ficou "apenas" em sexto. Filho ilustre de Osvaldo Cruz, porém cidadão mariliense, interior paulista, o "garoto Osmar" entrou na TV como locutor noticiarista de esportes na TV Record em meados dos anos 70 e só na década de 80 retornou a telinha narrando compactos dos clássicos da rodada para São Paulo e apresentando o game-show Guerra dos Sexos. Demorou, mas aprendeu a lidar com a TV quando já estava na crista da onda do rádio, passando por Globo, Record e Manchete. Mas não fosse aquele acidente de carro em 22 de dezembro de 1994 que o obrigou a abandonar de vez a função, ele estaria fazendo muita coisa legal na TV. Com ele é ripa na chulipa e pimba na gorduchinha, meu garoto!
5) Geraldo José de Almeida
O pai do Luiz Alfredo, citado acima, é um personagem folclórico da mídia esportiva e muitas histórias surgiram em torno de um estilo impetuoso que até hoje tem seguidores. Começou adolescente como locutor comercial e, tão logo, assumiu a condição de radialista esportivo num tempo em que os cartolas proibiam a transmissão radiofônica de futebol temendo perder público nos estádios, sendo obrigado a subir em telhas, árvores e torres de madeira. Foi o primeiro narrador a receber "luvas" ao assinar com a TV Excelsior em 1963, passando depois por Globo e Record. "Gera" foi um adorável torcedor da "Seleção Canarinho", como gostava de chamar o time do Brasil (e quebrou a polaridade do futebol paulista assumindo seu amor pelo São Paulo F.C.), criou bordões como "Linda! Linda! Linda!", "Quê que é isso, minha gente!" e "Olha lá! Olha lá! Olha lá!" e apelidava jogadores ("Jairzinho Furacão!" e "Pelé, o Craque Café!"). Geraldo morreu em 1976, semanas depois de cobrir as Olimpíadas de Montreal, vítima de câncer na vesícula.
4) Walter Abrahão
Paulista de Piraju e descendente de árabes, era o "Luciano do Valle da TV Tupi". Seu vozeirão inconfundível que foi cultivado por muitos anos, mesmo depois de encerrar a carreira na imprensa esportiva e até morrer em 2011 de câncer no pulmão, Walter era a grande estrela do esporte da emissora pioneira com estilo sóbrio e formal, senhores! Desde o inicio dos anos 60, locutando jogos de futebol para a TV antes dos cartolas cobrarem pelos direitos de transmissão, Walter testemunhou grandes acontecimentos como as conquistas do bi e do tricampeonato, passando pelo boxe, basquete e muitas modalidade até então desconhecidas pelo telespectador como pólo de cavalo. Quando a Tupi fechou, migrou-se justamente para as duas redes que surgiram em cima de sua saudosa "casa": SBT e Manchete. Advogado de formação, pendurou o microfone e entrou na política presidindo por muitos anos o Tribunal de Contas de São Paulo até se aposentar. Seu nome agora é emprestado a Ponte da Casa Verde na capital paulista.
3) Galvão Bueno
Bem, amigos... Ame-o ou odeie-o, aquele que será o porta-voz da Copa da Rússia tem história sim, torçam o nariz pela medalha de bronze deste carioca de Copacabana que é doido por basquete desde adolescente quando morava em Brasília e tão logo se mudou pra São Paulo onde passou num concurso do jornal A Gazeta Esportiva para formação de novos talentos da equipe de rádio e TV do grupo. Versátil, demonstrou habilidade fora do comum para "vender emoções" de tudo quanto é modalidade esportiva com participação brasileira, passando por Gazeta, Band, Rede OM e Globo. Seu auge foi nas transmissões da Fórmula 1 quando projetou o nome do amigo pessoal "Ayrton Senna do Brasil!!!" sendo três vezes campeão do mundo. "Papagaio" narrou muitas medalhas olímpicas, o tetra e o penta, até a vitória do filho, Cacá Bueno, na Stock Car, e tem a mania de puxar os Rs quando cita o nome de algum jogador ou atleta. Só que sua vasta experiência o leva a misturar funções de narrador e comentarista e o resultado, vocês sabem. Ou narra ou comenta, amigo. Pode isso, Arnaldo?
2) Luciano do Valle
Este moço de Campinas foi por muito tempo o dono absoluto do esporte na TV brasileira, numa época em que "esporte" se resumia a apenas futebol. Sonhava em ver nosso país como uma grande potência olímpica, isso após cobrir as Olimpíadas de Munique, em 1972, mas tinha pouco espaço para suas grandes ideias, ainda mais estando na Globo. Nos anos 80, "Bolacha" montou uma firma que incentivava os "esportes amadores" e isso representou um divisor de águas em todos os aspectos, tanto na telinha quanto para os atletas de todas as modalidades. Passando por Record e Band, ele era sinônimo de esporte com um estilo único, jamais utilizou bordões para se afamar, mas seus gritinhos histéricos se eternizaram na memória dos torcedores. Ele nos deixou em 2014, vítima de parada cardíaca, dois meses antes de narrar a Copa do Mundo no Brasil.
1) Silvio Luiz
Paulistano das Perdizes, o único deste ranking que jamais pertenceu a "escola do rádio" criando um estilo 100% televisivo de transmitir futebol, um "legendador de imagens". Ator, diretor, produtor, repórter de campo, apresentador, juiz de futebol e até jurado do Chacrinha (!), "Iogurte" assumiu a função que exerce até hoje por acaso, substituindo o falecido Geraldo José de Almeida na TV Record, porém inovou com um estilo super arrojado que vai do povão a galhofa. Isso pode explicar o uso de frases icônicas como "Pelas barbas do profeta!", "No gogó da ema!", "Mandou o bambu lá de cima do coreto!" e a emblemática "Olho no lance!". Cultuado por muitas gerações, tornando-se até mais importante que o próprio jogo que transmite, as emissoras Record, Gazeta, Band, SBT, BandSports e Rede TV! tiveram a maior sorte de tê-lo em seus casts ao longo dos anos. Mesmo tendo que enfrentar o drama de uma cirurgia nas cordas vocais em 99, o velho continua inteiro e ainda sem tempo de "pendurar o microfone". Em suma, um MITO!
Levei em consideração a importância histórica desses 10 grandes narradores esportivos na telinha. Lógico que houve injustiças, muitos nomes ficaram de fora, mas é um dever citar nomes como de Oliveira Andrade, Jota Júnior, Marco Antônio Siqueira de Mattos, Carlos Valladares, Cléber Machado, Nivaldo Prieto, Téo José, Fernando Sasso, Milton Peruzzi, Celestino Valenzuela, Peirão de Castro, Luiz Noriega, Januário de Oliveira, Milton Leite, Paulo Soares, José Cunha, Osmar de Oliveira, Carlos Lima, João Guilherme, Paulo Stein, Alexandre Santos, Luiz Mendes, José Góes, Carlos Borges, Rui Viotti, Tércio de Lima, José Carlos Cicarelli, entre tantos outros que não precisaram estampar a cara na TV para se tornarem famosos do público, bastaram apenas usarem simplesmente a VOZ.