ESPECIAL: Minha Visita na Set Expo 2025

O Centro de Convenções do Anhembi em São Paulo, realizou entre os dias 19 e 21 de agosto, uma das maiores feiras de mídia da América Latina:...

sexta-feira, 30 de abril de 2021

ESPECIAL: A Televisão Brasileira em 1986


Como na data desta publicação eu sopro as velas, faço questão de fazer um post especial alusivo ao meu aniversário. Afinal, são 35 outonos (a estação do ano predominante no Hemisfério Sul de março à junho)! E tenho muita história pra contar. Na televisão então... Pois é, vamos aproveitar o momento e contar um pouco de como era a televisão brasileira no ano em que eu nasci, em 1986, com suas emissoras, seus destaques, seus bastidores, suas curiosidades, enfim. Eram outros tempos, tempos em que o véu do Regime Militar caia aos poucos com a chegada da Nova República e os envolvidos na mídia eletrônica da época podiam desfrutar um pouco daquilo que podemos chamar de "liberdade".

Aquele foi o Ano Internacional da Paz instituído pela ONU e o ano do Tigre no horóscopo chinês. O presidente do Brasil era José Sarney, dos Estados Unidos era Ronald Reagan, enquanto que Mikhail Gorbatchev mandava na extinta União Soviética. Foi também o ano da chegada do Cometa Halley à Terra, da explosão do ônibus espacial Challenger no espaço, da implantação do Plano Cruzado, do acidente nuclear em Chernobyl, da Argentina campeã mundial de futebol, das eleições estaduais para a Assembleia Nacional Constituinte, do incêndio no Edifício Andorinhas no Rio de Janeiro, do longa Entre Dois Amores ganhando o Oscar de melhor filme do ano, de Mike Tyson como o mais jovem boxeador campeão dos pesos pesados, de Alain Prost como bicampeão mundial de Fórmula 1 e do grupo RPM que estourava nas paradas musicais de sucesso com seu disco ao vivo.

Pois bem, naquele ano existiam cerca de 26,5 milhões de aparelhos de televisão em todo o território nacional, os investimentos em publicidade no veículo eram de 60,6% e a censura ainda incomodava, mas nem tanto. Porque em 23 de janeiro, todas as emissoras estavam liberadas em não mais projetar o medonho Certificado de Classificação da Censura Federal antes de cada programa ir para o ar. Somente dois anos mais tarde é que a censura acabou definitivamente na TV, valendo-se apenas do "bom-senso" dos teledifusores (se é que eles têm). E quanto a programação da época? Não vou contar tudo porque o post fica gigante, só vou registrar os fatos mais significativos de 35 anos atrás porque nossa viagem no tempo começa agora.


Rede Globo


Surge uma Rainha
Nos primeiros meses do ano, a emissora-líder anunciou a contratação de uma ex-modelo que ainda estava aprendendo a lidar com o comando de um programa infantil, Xuxa Meneghel, então com 23 anos, 54 quilos, 1,76 de altura, que apresentava o Clube da Criança na Rede Manchete e vinha com a fama de "dar puxões de orelha nos baixinhos". Segundo ela, a mudança de emissora representou a saída de um quintal para um parque de diversões. A ideia de José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, era lançar o Xou da Xuxa logo em 28 de abril junto com a nova programação Global, bem como a renovação gráfica de suas vinhetas, todas feitas por computador. Mas, gênio que é, decidiu esperar o fim da Copa do Mundo de Futebol que coincidiria com o início das férias escolares das crianças para lançar o novo programa da maneira mais digna possível, em 30 de junho, com direção de Paulo Netto e Marlene Mattos, com formato moldado e azeitado para corrigir detalhes da cenografia. O resultado não foi outro a não ser sucesso absoluto no horário matinal. Em quatro horas e meia de programa, ela ficava no ar por 45 minutos e o resto era preenchido por desenhos animados de sucesso como He-Man, She-Ra, Thundercats, Scooby-Doo, Turma do Mickey Mouse, Flinstones, Caverna do Dragão, Os Smurfs, Janjão e Pequeno, Os Snokels e Tiny Toons. O Xou da Xuxa, que contava com a presença de 120 crianças no palco e apresentava 56 brincadeiras de meninos contra meninas, além de musicais, números circenses e performáticos, marcou audiência de 17 pontos de média e 22 pontos de pico no horário matinal. No programa de estreia, os primeiros convidados foram os grupos Trem da Alegria e Dr. Silvana & Cia. Com o tempo, aquela modelo fogosa, linchada pela crítica especializada, se transformou no maior ídolo infantil que a TV brasileira jamais tinha produzido até então, fazendo com que a "superestimada" Rainha dos Baixinhos vendesse 14 milhões de discos nos seis anos em que seu Xou esteve no ar.


Greve das Novelas
Seus folhetins batiam sucessivos recordes de audiência, impulsionados com o fim de Roque Santeiro (que literalmente parou o Brasil). Sinhá Moça, Cambalacho, Selva de Pedra, Roda de Fogo e a minissérie Anos Dourados são alguns desses sucessos que faziam a Globo alcançar facilmente a casa dos 50, 60 pontos de audiência. Só que em novembro enfrenta uma crise de bastidores que quase afetou sua linha de produção. O Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos e Diversões do Rio de Janeiro (SATED-RJ) reivindicava o limite máximo de seis horas diárias de trabalho para a classe artística e seus afiliados. A Globo não atendia tal exigência e o impasse gerou um grave problema, sendo ameaçada pelo sindicato de ter seu núcleo de teledramaturgia desativado. A consequência foi o atraso do lançamento da novela das seis Direito de Amar, que só pôde entrar no ar em 14 de fevereiro de 1987. Para tapar o buraco deixado na grade, a emissora decide reprisar em versão compacta a novela Locomotivas de 1977 até que as coisas finalmente se acertaram. Porém algo semelhante aconteceu no dia das eleições estaduais, quando a sucursal de São Paulo entrou em greve e quase não cobriu o pleito e a apuração dos votos.


SBT


Entra Hebe, Sai Flávio
Tentando driblar as dificuldades financeiras causados pelas mudanças na economia brasileira, o SBT se expandia e firmava-se como a segunda maior rede de televisão do país. Mesmo com crescimento de 27%, o jeito era concentrar suas atenções em filmes, seriados, desenhos e shows de auditório para todos os tipos de público. Em 4 de março, passa a exibir o programa de uma consagrada apresentadora, pioneira da TV, na qual muita gente enxergaria que aquilo poderia representar o mais perfeito casamento entre artista e emissora: Hebe Camargo. Vizinha de Silvio Santos no bairro nobre do Ibirapuera, não hesitou em trocar a Rede Bandeirantes pelo SBT e pelos números pareciam que esse "casamento" foi harmonioso: ficou no ar por 24 anos e nove meses apresentando 1.235 edições de seu programa. Nos bastidores, o relacionamento era conflituoso: queria programa ao vivo, mas sempre estourava as duas horas que tinha direito; criticava a classe política, foi advertida várias vezes e seu programa chegou a ser gravado e editado, o que a deixara insatisfeita por um bom tempo e ainda teve que sobreviver a seis mudanças de horário. Em contrapartida, a emissora sofre uma grande baixa na linha de shows: o jornalista e apresentador Flávio Cavalcanti morre aos 63 anos. Ex-bancário, radialista e crítico musical, ele introduziu o júri nos programas de TV e fez escola. Polêmico, Flávio trabalhou nas TVs Rio, Tupi, Record, TVS-RJ e Bandeirantes antes de chegar ao SBT em 1983. Em 22 de maio, ele sofre uma isquemia no miocárdio no intervalo de seu programa e é internado às pressas, falecendo em 26 de maio, após sofrer complicações cardiovasculares. Com o fim do Programa Flávio Cavalcanti, o SBT aproveita o espaço vago na grade e lança um bem-sucedido musical, criando assim um espaço cativo para a difusão da música sertaneja em pleno horário nobre: Musicamp.


Viva os Políticos!
A quase quatro meses das eleições estaduais, o programa Viva a Noite realiza em 26 de julho sua 200ª edição. O apresentador Gugu Liberato anunciou que os alunos dos colégios Meta e Elite (que disputariam a Gincana dos Estudantes) desejavam ter a presença dos candidatos ao Governo de São Paulo no programa com o desafio de entrar no palco guiando um automóvel. Gravado numa segunda-feira, 21 de julho, o assunto foi destaque em todos os jornais de São Paulo no dia seguinte (fica a dica para pesquisa). Quando abriu o programa, Gugu esclareceu ao público que não apoiaria nenhum candidato devido a força que os comunicadores exercem sobre o eleitorado (era jornalista de formação) e em cada bloco, os candidatos eram entrevistados de acordo com um tema escolhido por sorteio. Primeiro, o vice-governador Orestes Quércia, do PMDB, veio ao programa de Diplomata preto, falou sobre educação, confessou ser um marido ciumento, cogitou a construção de "Brizolões" no interior paulista e foi chamado de "lindo" pelas moças do auditório. Depois, o futuro senador Eduardo Suplicy, do PT, entrou no palco de Monza vermelho, trocou a entrevista por um discurso de 10 minutos em que se defendia das acusações de um conflito envolvendo policiais e boias-frias em Leme e criticando o congelamento de preços, já que seu tema era economia. Na sequência, o empresário Antônio Ermírio de Moraes, da Frente União Liberal Trabalhista Social, chegou a pé, seu tema era saúde, disse que sua vida era "um livro aberto, simples e humilde", que o presidente Sarney votaria nele caso seu domicílio eleitoral fosse em São Paulo e animou uma comemoração de aniversário de 29 anos do cantor Adriano Santa Cruz. E finalmente, o deputado Paulo Maluf, da Coligação União Popular, veio de Opala prata, recebeu a maior ovação da plateia, falou do seu casamento de 31 anos, explorou seu programa de segurança pública, foi questionado sobre a pena de morte e tocou por 5 minutos um prelúdio de Chopin ao piano. Em 15 de novembro, dia da eleição, Quércia vence com 40,78% dos votos válidos dos eleitores paulistas e faturou a corrida pelo Palácio dos Bandeirantes.


Rede Manchete


Beija-Flor, Beija Menina
Em 7 de abril, a emissora lança sua segunda novela de sua história: Dona Beija. Uma superprodução que custou Cz$ 20 milhões reconstituindo a cidade mineira de Arraial de São Domingos do Araxá do Século XIX, de onde surgiu Ana Jacintha de São José, uma cortesã sem escolaridade alguma que usufruia de sua beleza para seduzir os homens da alta sociedade em troca de joias ou moedas de ouro a troco de vingança de seu rapto pelo ouvidor do Rei a tendo como amante, mas ela amava de verdade um homem de família tradicional, Antônio Sampaio, apesar de manter um caso com o promotor João Carneiro de Mendonça, que era casado. Escandalizada pelos conservadores da época, seu ponto de encontro era a Chácara do Jatobá e a protagonista foi vivida por Maitê Proença no auge da beleza. No elenco também estavam Gracindo Jr., Bia Seidl, Carlos Alberto, Edwin Luisi, Arlette Salles, Sérgio Britto, Jonas Mello, Maria Isabel de Lizandra, Marcelo Picchi, Marilu Bueno, Maria Fernanda, Jayme Periard, Mayara Magri, Juciléia Telles, Sérgio Mamberti, Arlete Salles, Monah Delacy, João Signorelli, Renato Borghi, Nina de Pádua e Antônio Pitanga. A novela teve originalmente 89 capítulos e foi escrita por Wilson Aguiar Filho, inspirada nos romances A Vida em Flor de Dona Bêja de Agripa Vasconcelos e Dona Bêja, a Feiticeira do Araxá de Thomas Leonardos, e contou com a direção de Herval Rossano. Muito bem feita, Dona Beija alcançou médias de 15 pontos de audiência e picos de 25 pontos em todo o Brasil (sendo reprisada três vezes e exibida em vários países), isso se deve ao erotismo e sensualidade da própria personagem-título, surgindo assim o primeiro nu da telenovela brasileira como naquelas antológicas cenas em que Beija aparece se banhando numa cachoeira e cavalgando completamente nua por toda Araxá (Maitê dispensou o uso de dublês de corpo), fazendo com que a Manchete vencesse a Globo por 36 a 31 no IBOPE do Rio de Janeiro. O curioso é que a novela era pra ter estreado em 31 de março, mas sofrera adiamento de uma semana por conta da censura devido a cortes de última hora no primeiro capítulo, mas bastou um telefonema pessoal de Adolpho Bloch ao presidente Sarney para que a exibição sem cortes pudesse ser finalmente liberada.


Braços Cruzados
Apesar de ganhar cada vez mais espaço na mídia nacional, a ponto de se tornar a terceira maior rede de TV do Brasil e ter seu patrimônio avaliado em U$ 200 milhões, a emissora mal tinha começado o ano quando uma auditoria identificou um prejuízo que totalizava U$ 80 milhões e uma dívida que acumulava U$ 23 milhões. Com tantas boas produções e o sucesso de uma programação altamente qualificada, a Manchete se descuidou um pouco a ponto de agravar uma crise nos bastidores, cujo resultado foi uma greve em setembro, onde 500 funcionários cruzaram os braços e entraram na Justiça reivindicando reajuste salarial de 50%, mas após longas negociações, a direção da Manchete aumenta o salário do quadro de funcionários para 32%. A alegação da emissora em recusar a proposta inicial foi o aumento substancial do seu volume de produção e da carga horária de programação.


Rede Bandeirantes


O Melhor do Pior
Em 19 de abril, a Band passa a exibir em rede nacional o Perdidos na Noite. Comandado por Fausto Silva, então com 35 anos, 120 quilos e 1,84 de altura, o programa estreou em 1984 na TV Gazeta e meses depois migrou-se para a TV Record. Sucesso absoluto em São Paulo, foi nacionalizado pela Band com a mesma equipe e local de gravação: direto do Teatro Záccaro, localizado na bairro paulistano da Bela Vista, direção de Lucimara Parisi e ainda passou a contar com quatro câmeras. Sua fórmula vinha do rádio pois se tratava de uma versão televisiva do Balancê da Rádio Globo/Excelsior, com três horas de humor, baixaria saudável e irreverência espontânea do próprio Faustão e contava também com a participação da dupla de imitadores Nelson "Tatá" Alexandre e Carlos Roberto "Escova" entre um quadro e outro. Indo ao ar nas noites de sábado, o Perdidos apresentava bandas de rock desconhecidas, artistas amadores, beldades da época, grupos teatrais e até "monstros sagrados" da MPB, arrancando médias de 6 pontos de audiência (o dobro do que ele conquistava na "antiga casa"). Estudantes universitários e profissionais liberais ocupavam a plateia do teatro e levavam os folclóricos cartazes que eram lidos e exibidos no decorrer do programa, tais como "Faustão, sai da frente que eu quero ver o programa!". Segundo o próprio apresentador, a troca de emissora representou a transferência de uma mercearia para um supermercado. Foi na fase da Band que a música Tarzan Boy da banda Baltimora (curiosamente integrante da trilha sonora da novela Global De Quina Pra Lua) se tornou o tema oficial do programa. O auto-intitulado "pior programa da TV brasileira" passou a contar desde então com o famoso recurso dos spoilers dos filmes que a Globo exibia no mesmo horário. No programa de estreia, as "feras" que marcaram presença foram o estilista Ney Galvão, o músico Ivan Lins, a dupla Milionário & José Rico, o cantor sertanejo Dalvan (que lançara seu primeiro disco solo), o "Rei do Baião" Luiz Gonzaga, o grupo Ultraje a Rigor e Alípio Martins, um cantor até então desconhecido nas grandes metrópoles e que fazia sucesso no Norte e Nordeste com suas lambadas, carimbós e "músicas de corno" com letras picantes e de duplo sentido.


Nasce um Repórter
Durante o carnaval, sem os direitos de transmissão dos desfiles das escolas de samba, a Band decidiu apostar na cobertura ao vivo de bailes carnavalescos como na casa de shows Scala, no Rio de Janeiro, e no Clube Monte Líbano, em São Paulo, durante a madrugada. Quem estava de bobeira em casa e assistindo pela TV os desfiles das escolas de samba num canal e os bailes de carnaval no outro, com certeza deve ter notado a presença de um repórter bem animadinho que não deixava escapar nada, desde celebridades, anônimos inusitados e até foliões curiosos a ponto de invadir os banheiro dos recintos, na cobertura da maior festa da cultura brasileira: Otávio Mesquita, um gerente de merchandising de uma agência publicitária terceirizada pela Globo. Ele foi quem mais sobressaiu de uma equipe que tinha, entre outros nomes, Rogéria, Nani de Souza, Cristina Proschaska e Emílio Surita. Foi a partir dali que o então publicitário, fazendo-se de dublê de repórter, começou a aparecer em televisão e conseguir aos poucos um espaço só seu nas madrugadas da TV, se especializando mais pela irreverência em suas matérias. Uma espécie de "bobo da corte" da noite paulistana, indo pela contramão de Amaury Jr.


TV Record


Emoção em Dobro
O grande acontecimento do ano foi a Copa do Mundo de Futebol, realizado no México, e todas as emissoras brasileiras fizeram cobertura completa da competição. A Record pouco se destacava com sua programação de variedades e seu filé mignon era justamente a transmissão esportiva. Como a emissora, então propriedade de Paulo Machado de Carvalho, tinha alcance limitado em São Paulo, Rio de Janeiro e cerca de 80 retransmissores cobrindo parte do interior paulista (sem contar as afiliadas TV Nacional de Brasília, TV Carimã de Cascavel e TV Curitiba), firmou convênio com a antiga TVS para a transmissão em rede nacional da Copa para as 40 emissoras do Sistema Brasileiro de Televisão. A combinação indigesta para os dias de hoje tinha fundamento: Silvio Santos era sócio do "Marechal da Vitória" e tinha 50% das ações da Rádio e Televisão Record. Com custo de U$ 6,5 milhões, o consórcio enviou ao México uma delegação de 50 profissionais, alugou um canal exclusivo de satélite, transmitiu 39 jogos ao vivo, programou 10 mesas-redondas e quatro especiais com retrospectos ao longo do torneio, num total de 150 horas de cobertura. Os debates dos jogos eram gerados direto de Guadalajara, num pequeno estúdio do Hotel Holliday Inn, onde toda a equipe estava hospedada. Acumulou U$ 21,5 milhões em cotas comerciais de patrocínio adquiridas por Antarctica, Cigarros Mistura Fina, Jeans Pierre Cardin, Kolynos, Grupo Votorantim, PullmannCasas Pernambucanas e Pílulas De-Lussen. Ciro José foi o diretor responsável da transmissão e Rui Viotti o coordenador geral (ambos participavam eventualmente de algumas transmissões). Direto do país-sede da Copa, a narração dos jogos foi de Silvio Luiz, Osmar de Oliveira e Carlos Valladares, os comentários foram de Juca Kfouri, João Carlos Albuquerque e J. Hawilla e as reportagens de Flávio Prado, Jorge Kajuru, Eli Coimbra e Fábio Sormani. O grande destaque da cobertura ficou por conta do repórter especial Ernesto Varela (Marcelo Tas) e seu cinegrafista Valdeci (Tonico Melo), que inova ao produzir matérias humorísticas e descontraídas durante a competição. Na retaguarda em São Paulo, o comando era intercalado entre Fernando Solera, José Luiz Meneghatti, João Zanforlin e Ivo Morganti. A audiência média dos jogos rendeu 12% somado das duas emissoras, garantindo assim a vice-liderança no IBOPE de São Paulo, cujo slogan conjunto era Unidos, Venceremos!. A Argentina de Diego Armando Maradona foi a grande vencedora batendo a Alemanha por 3x2 na final, enquanto que o Brasil, sob o sol escaldante da altitude mexicana e com uma equipe mista entre juventude e experiência que mal aguentou as tais condições climáticas, caia diante da França nas cobranças de pênaltis. O resto é história.


De Cara Nova
Apesar de se encontrar numa situação financeira delicada, cujo prejuízo ia se acumulando, a Record chegava aos 33 anos em 27 de setembro e para marcar a data de mais um aniversário no ar, apresenta ao telespectador sua nova identidade visual, desenvolvida pelo departamento de artes chefiado pelo arquiteto Sidney Borges. Fruto de um resultado de quatro meses de trabalho, o novo logotipo da emissora era constituído por quatro barras douradas encurvadas, formando um quadrado diagonal com impressões tridimensionais, fazendo lembrar um diafragma de uma câmera fotográfica. A intensão era introduzir a marca da Record numa concepção gráfica moderna, simbolizando de vez a emissora sem a necessidade de troca no decorrer dos tempos, substituindo assim o velho arco-íris que identificou o canal 7 durante cinco anos. Essa mudança representava uma reformulação total da programação, trocando aos poucos os velhos enlatados constantemente reprisados por um jornalismo comunitário mais atuante que pudesse alcançar o público do interior paulista, sem contar o investimento necessário para a renovação da linha de entretenimento e variedades. Em uma coluna de opinião do jornal Folha de São Paulo, o ensaísta Décio Pignatari analisou que o novo logo da Record "não fala a linguagem dinâmica da TV, mas cria uma nova unidade icônica". Este novo símbolo foi o último da era Machado de Carvalho, ficando no ar por quatro anos, até ser adquirido pela Igreja Universal do Reino de Deus. A partir dalí seria escrita uma outra história.


TV Cultura/RTC


Tá Pegando Fogo, Bicho!
Em 28 de fevereiro, a RTC sofre um incêndio de grandes proporções, vindo de um curto circuito em sua rede elétrica de refletores do seu estúdio principal, iniciado às 4 da manhã e só foi controlado por nove viaturas do Corpo de Bombeiros quatro horas depois, cujo trabalho de rescaldo se encerrou às 13 horas, destruindo 90% da capacidade técnica e 80% de equipamentos obsoletos para a época: sete aparelhos de vídeo-tape, quatro câmeras, equipamentos de montagem, máquinas de telecine, cinco ilhas de edição, diversos cenários, 200 fitas, laboratório, gerador de caracteres, controle geral e plateia (sem contar o risco de desabamento do estúdio). Parte das instalações foram salvas do fogo, mas alguns equipamentos acabaram se deteriorando devido a quantidade de compostos químicos depositados entre eles, como os cabos elétricos que ligavam as câmeras com a central técnica. Todo o seu arquivo de fitas foi resgatado do incêndio e por essa razão foi criada a Central de Documentação, visando uma melhor organização de seu acervo. A programação da emissora entra no ar ao meio-dia e seu núcleo de jornalismo consegue registrar cenas do próprio incêndio para serem exibidas no informativo RTC Notícia, que quase não divulga a notícia do Plano Cruzado. O incêndio deixou um prejuízo de U$ 10 milhões, mas tinha um seguro de Cz$ 30 milhões da COSESP que cobriu boa parte da perda. Para manter no ar a programação de forma remota, teve que acionar seus dois caminhões de transmissão externa, um no pátio da emissora (servindo de controle técnico de programação) e outro no Teatro Franco Zampari (para os programas ao vivo), além de improvisar um galpão, um estúdio em construção para os telejornais e adaptar um de seus edifícios durante o período de seis meses de reconstrução. Para não ficar fora do ar, os funcionários se unem para resgatar alguns equipamentos salvos do incêndio, como diversas câmeras, mesas de áudio e três aparelhos de vídeo-tape. Em solidariedade, as redes Globo, Manchete, Bandeirantes, Gazeta e TVE-RJ cedem imagens, equipamentos, unidades móveis, programas prontos e ilhas de edição para que os trabalhos da equipe de reportagem pudessem ser finalizados. Sete meses depois, em 17 de setembro, supera o incêndio e realiza uma remontagem do TV de Vanguarda, marco da extinta TV Tupi, com a encenação ao vivo do romance Calunga, de Jorge de Lima e adaptado por Walter George Durst. A experiência ousada para a época (até hoje) teve direito a marcação original dos atores, elenco base dos anos 50, exibição em preto-e-branco e teve uma hora de duração, contando com Tony Ramos, Jofre Soares e Turíbio Ruiz no elenco e direção de Henrique Martins.


A Era Muylaert
Em 9 de junho, assume a presidência da Fundação Padre Anchieta Roberto Muylaert. Sua tarefa é reerguer a RTC ao mesmo nível de qualidade técnica que as grandes redes comerciais, adota um projeto de renovação e melhoria da programação, tenta uma boa estratégia de marketing para captar recursos com a recém-criada Lei Sarney de Incentivo à Cultura (citando nomes de empresas privadas que investem e colaborem na produção e divulgação dos programas como "apoio cultural", mesmo sem poder veicular anúncios publicitários), põe em prática uma ampla reforma administrativa como a profissionalização da Diretoria Executiva para reforçar o poder dos cargos técnicos diretivos e investe U$ 12 milhões para a renovação total da área técnica com a chegada de novos equipamentos importados do Japão e dos Estados Unidos. Em cima deste projeto ambicioso, dois novos e importantes programas entram no ar: Roda Viva, em 29 de setembro, programa de entrevistas e debates onde o convidado fica no centro no estúdio rodeado por oito entrevistadores e recebe perguntas dos telespectadores, ao vivo, conquistando 9 pontos de audiência; e Vitória, em 7 de dezembro, com linguagem jovem e uma montagem visual bem cuidada misturando pop-rock internacional e a divulgação de esportes radicais, atingindo 7 pontos de audiência. Em dezembro, uma pesquisa mostra que cerca de 80% dos telespectadores preferem chamar a RTC de "TV Cultura" e isso foi determinante para que a emissora volte a ser denominada como simplesmente TV Cultura.

Mas não foi só em São Paulo e no Rio que a televisão brasileira produziu cenas memoráveis. Em outras cidades, grandes acontecimentos do veículo, tanto diante como por trás das câmeras, deixaram marcas a uma geração de telespectadores. Vamos continuar viajando:

Porto Alegre (RS)


Coração de Luto
Na noite de 24 de março, morre aos 60 anos o fundador da RBS TV e empresário Maurício Sirotsky Sobrinho. Ele, que havia se recuperado de um câncer linfático alguns anos antes, sofreu parada cardíaca causada por um aneurisma da artéria aorta. Gaúcho de Passo Fundo, Sirotsky era filho de imigrantes europeus agricultores e tinha formação judaica. Apelidado de "Big Nariz", começou adolescente no serviços de alto-falante da sua cidade-natal, depois conseguiu um emprego na rádio local como locutor, redator e programador. Aos 19 anos, fixou-se em Porto Alegre tornando-se diretor da Rádio Gaúcha, cresce dentro da emissora sendo assim promovido a gerente de publicidade e logo adquire a estação de rádio da qual surge a Rede Brasil Sul de Comunicação (RBS). Em dezembro de 1962, funda a TV Gaúcha, então afiliada da TV Excelsior de São Paulo (a filiação à Rede Globo começou a partir de 1970) e em 1964 compra o jornal Zero Hora para agregá-lo ao grupo. Além disso, era também presidente da Associação Nacional dos Jornais e do Conselho Superior de Ética da ABERT e seu exemplo de empreendedorismo focado nos meios de comunicação sem influência política e 100% independente, deve ser referência em todo o Brasil do que apenas ser em âmbito regional. A notícia de seu falecimento foi dada no encerramento da transmissão da cerimônia de entrega do Oscar feito pela Rede Globo e retransmitido pelas emissoras da RBS TV em todo o estado do Rio Grande do Sul. Em seu lugar assume a presidência do conglomerado o irmão Jayme Sirotsky.


Sob Nova Direção
A TV Guaíba, por sua vez, passava por uma transição de comando. Dois anos antes, sofre com a falência do Grupo Caldas Jr. devido a intervenção do governador Jair Soares nas contas da empresa, principalmente pelos enormes empréstimos dos bancos estaduais para financiar a emissora de TV desde sua fundação em 1979, que não foram devidamente pagos em dia. Seu presidente, Breno Caldas, foi obrigado a devolver os polpudos valores à União. O reflexo dessa crise foi o atraso nos salários dos profissionais, o fechamento do jornal Correio do Povo e a Rádio e Televisão Guaíba, correndo o mesmo risco, ficaram isoladas. O escritor e jornalista Sérgio Jockymann (autor da novela O Machão da TV Tupi em 1974), um grande apaixonado pela emissora de TV, queria mantê-la no ar e fez uma "vaquinha" com os funcionários que ainda atuavam por lá para montar uma nova programação com conteúdo exclusivamente regional, na qual ele assumiria o cargo de superintendente geral, mesmo sem receber um tostão. Chega o ano de 1986 e a Guaíba passa pela mudança de controle acionário, foi adquirida pelo empresário e economista Renato Bastos Ribeiro, dono da Incobrasa Agrícola Ltda., que dá novo fôlego as empresas do Grupo Caldas Jr. criando o Sistema Guaíba/Correio do Povo, fazendo com que o periódico gaúcho voltasse a ser publicado. O canal de TV não foi poupado das mudanças, Sérgio Jockymann foi afastado de seu cargo sem aviso prévio e é substituído pela irmã do novo proprietário, Helena Ribeiro Soares, transformando a TV Guaíba numa grade loteada de produções independentes, como forma de enxugar gastos e garantindo uma percentagem na venda de patrocínios. Jockymann entrou na Justiça processando os Bastos Ribeiro e exigia uma indenização pelo seus dois anos de idealismo desperdiçado. Por isso acabou entrando para a "lista negra" da família Bastos Ribeiro, magnatas do óleo de soja, não podendo mais aparecer na tela da emissora, nem ao menos ser citado mesmo tendo sido um notável deputado estadual. Os Bastos Ribeiro administraram a TV Guaíba por 21 anos, até ser adquirida pela Igreja Universal do Reino de Deus.

Manaus (AM)


Troca-Troca Amazônico
As três principais emissoras de TV da capital amazônica, as TVs Amazonas, Ajuricaba e Baré, passaram por mudanças não só de filiação (o que é normal em emissoras fora do eixo Rio-São Paulo), mas também em termos administrativos. A TV Amazonas passa a agregar outras 16 emissoras pela Região Norte e é transformada em Rede Amazônica de Rádio e TV, cujo proprietário Phillippe Daou, um francês radicado no Brasil, desliga-se da Rede Bandeirantes e torna-se a partir de 30 de junho a mais nova afiliada da Rede Globo. A TV Ajuricaba, por sua vez, perde a filiação da Rede Globo devido a seu posicionamento abertamente favorável a redemocratização do Brasil e ao relacionamento comercial conflituoso. Em 20 de abril, a família Hauache vende a emissora para o Grupo Simões e aproveita a saída da Rede Globo para rebatizar a emissora de TV que a partir de 30 de junho passa a ser a nova afiliada da Rede Manchete: Rede Brasil Norte de Televisão (RBN). E a TV Baré, afiliada do SBT desde 1981, tem uma grade de programação mais popularesca que suas concorrentes, apesar dos corriqueiros problemas técnicos de imagem e transmissão e de baixa qualidade do áudio. Como era propriedade de uma sociedade composta por 30 acionistas dos Diários Associados, toda essa participação foi adquirida pelo empresário e jornalista Umberto Calderaro Filho, dono do jornal A Crítica, como solução para que a emissora fugisse de uma crise no conglomerado que pudesse afetá-la. Então, em 29 de novembro, a emissora entra em nova fase, renova seu parque técnico e muda sua denominação para TV A Crítica de forma definitiva.

Florianópolis (SC)


O Desespero de um PM
Em 12 de maio, acontece a primeira cena real de ameaça de suicídio na história da TV brasileira. Durante a abertura de uma mesa-redonda de futebol exibida a meia-noite pela TV Cultura de Florianópolis, emissora da Rede de Comunicações Eldorado (RCE, então afiliada da Rede Bandeirantes), surge dos corredores em direção ao estúdio da emissora, o policial militar Sílvio Roberto Vieira, armado com cinco revólveres calibre 38, uma delas apontadas em sua própria cabeça ameaçando se matar diante das câmeras e indignado com o Governo de Santa Catarina, que havia prometido reajuste salarial a classe militar. Deixando os comentaristas esportivos e a equipe técnica perplexos, o cidadão girou a roleta-russa de um dos revólveres três vezes, criticou o governador Espiridião Amin e intimou a direção da emissora a não sair do ar naquele instante, pois tudo estava sendo exibido ao vivo. O policial chegou a se acalmar e foi até entrevistado pela equipe do programa, desabando em lágrimas várias vezes. Após 32 minutos de muita tensão, a patrulha de segurança foi acionada e o coronel Luiz Eugênio Uriarte conseguiu render ferozmente o PM em cenas jamais vistas em um programa de TV e presenciadas por 300 mil telespectadores catarinenses. Vieira, casado e pai de seis filhos, fazia bicos como segurança para conseguir uma estabilidade financeira, até que o Diário Oficial publicou uma nota em que militares estavam proibidos de exercer quaisquer atividades informais/paralelas com remuneração. Com uma fonte de renda a menos, ele foi ameaçado de prisão por dever três meses de cesta básica e esbarrou na burocracia da assistência social militar do estado quando necessitava de auxílio. Chegou a conseguir um atestado de licença de 10 dias para tratamento de saúde, pois sofria de problemas psiquiátricos, mas estava fora de si. Alcoolizado, pegou um taxi do quartel em direção a emissora de TV como último recurso. Após o episódio, Vieira acabou sendo expulso da corporação e foi condenado a dois anos e 75 dias de prisão em regime semiaberto mais serviços comunitários. Apesar de ter continuado vivendo em dificuldades, o ex-PM morreu em 1º de março de 2021 aos 74 anos, vítima de parada cardíaca, sem ter sua injustiça reparada pelo poder público. Em 2010, o estudante Fábio Queiroz produziu um documentário de 50 minutos sobre o assunto como TCC do Curso de Jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

Brasília (DF)


Silvio Santos Voltou
Após ficar quase um ano fora do ar desde que a TV Brasília trocou de filiação para a Rede Manchete, o SBT obtém uma concessão na capital federal e entra no ar em 8 de junho em caráter experimental, isto é, retransmitindo o sinal gerado de São Paulo sem emitir produções próprias. Foi às 11 da manhã daquele domingo quando os candangos voltaram a assistir pelo canal 12 o Programa Silvio Santos, cuja abertura teve uma saudação especial do "Patrão" ao público brasiliense e, principalmente (pra fazer um pouco de média), ao mais ilustre telespectador: o presidente José Sarney. O curioso é que, durante o período em que esteve fora do ar no Distrito Federal, o SBT tinha uma sucursal jornalística de onde gerava e centralizava todo o noticiário político que era exibido em seus telejornais e foi essa mesma equipe que possibilitou o especial Caminho das Águas - Sarney Presidente, Homem e Poeta exibido às 23 horas daquele mesmo dia para toda a rede (suspendendo a exibição da Sessão das Dez). Coproduzido com a Tele Tape, o documentário dirigido por Carlos Alberto Vizeu e apresentado por Beth Goulart e Mário Lago, mostrava em linguagem poética, a vida do cidadão José Ribamar Ferreira de Araújo Costa, num resultado de quatro meses de trabalho e mais de 15 horas de gravação com depoimentos de familiares, parentes, escritores, políticos, amigos e pessoas que passaram pelo caminho do então chefe da Nação, sem contar o povo nas ruas. Até porque o programa foi inspirado num livro de poesias do próprio presidente. O jornalista Carlos Henrique, que estava na emissora desde 1983, ocupava o cargo de diretor regional da nova integrante do Sistema Brasileiro de Televisão, que contou com investimento de U$ 1 milhão em equipamentos de última geração, e Pedro Rogério Moreira assumiu a direção comercial. A partir de 14 de julho, a TVS Brasília passa a operar em caráter definitivo como emissora geradora própria do SBT com os informativos locais, cobertura de atividades comunitárias e a emissão de comerciais regionais nos intervalos da programação.

Salvador (BA)


ACM Pistola
Era 15 de novembro, dia de eleições estaduais e a TV Itapoan, então afiliada do SBT na Bahia, deslocou o repórter Antônio Fraga para cobrir a votação de importantes autoridades no Clube Bahiano de Tênis. Eis que às 11h30 surge o então Ministro das Comunicações Antônio Carlos Magalhães que recebe uma enorme vaia popular ao se dirigir a seção eleitoral. Após registrar seu voto, ele é indagado pelo repórter de que forma ele encarava aquelas vaias e retrucou de forma dissimulada que as vaias eram para Pedro Antônio Irujo, dono da TV Itapoan e apoiador do candidato do PMDB ao Governo da Bahia Waldir Pires (já que ACM se aliava a Josaphat Marinho, da Aliança Democrática Progressista). Depois foi perguntado do fato dele ser sempre personagem de tumulto e, irredutível, abaixou o microfone ofendendo, ameaçando e xingando o repórter, além de exigir respeito (isso diante de uma câmera ligada com som ambiente). Jornalistas que estavam próximos testemunharam o momento em que Fraga foi agredido com um soco nas costas e um pisão do ministro, além de seus correligionários darem pontapés e cotoveladas no cinegrafista e no auxiliar técnico. A TV Itapoan repercutiu o fato durante um "flash" e reprisou as imagens durante a programação vespertina, que foram gentilmente cedidas às TVs concorrentes. Horas depois, o prefeito de Salvador Mário Kertesz e o presidente do Sindicato dos Jornalistas da Bahia Raimundo Lima vão aos estúdios da emissora prestando solidariedade aos profissionais, sugeriram a população a enviar telegramas ao presidente Sarney denunciando o atrito e pedindo afastamento de ACM do cargo de ministro. Às 17h30, atendendo uma determinação do TRE-BA, o DENTEL suspende o sinal da TV Itapoan, alegando que o episódio foi usado de forma política, porém, as tais notas eram frias, não estavam devidamente timbradas pelos dois órgãos e tampouco haviam assinaturas, para que sua validade fosse confirmada (sendo obra de abuso de poder de ACM). Trinta minutos depois, um ofício do próprio presidente do TRE-BA recoloca a emissora no ar. É um sinal de que, mesmo com a redemocratização promovida pela Nova República, a mídia sofre nas mãos do poder público como consequência da liberdade de imprensa.

João Pessoa (PB)


O Pessoense Se Vê
Em outubro, a capital paraibana finalmente ganha sua primeira emissora de TV depois de três décadas de atraso: a TV Cabo Branco canal 7, retransmitindo inicialmente a Rede Bandeirantes. Até então, João Pessoa só conseguia captar sinais de televisão vindos de Campina Grande e Recife e atendendo a necessidade da comunidade local, o ex-governador da Paraíba Milton Bezerra Cabral, também proprietário da Rádio Arapuan, inaugura a emissora de TV da capital do estado e coloca o irmão, Antônio Bezerra Cabral, no cargo de diretor geral. Sua torre de transmissão, situada no bairro do Tambiá, é um dos cartões postais de João Pessoa. Desde sua estreia, a TV Cabo Branco se especializa na produção local de jornalismo com os noticiosos Câmera 7 com Geraldo Oliveira e Jornal Cabo Branco com Edilane Araújo. Na virada do ano, torna-se nova afiliada da Rede Globo e logo vendida ao Grupo São Braz, na qual se segue assim até hoje.

E pra encerrar, foi em 1986 que surgiram as primeiras experiências de TV clandestina da história, conhecidas também como "TV livre" ou "pirata". Num tempo em que não existia internet e tampouco portais de vídeo que permitem a realização de lives em canais/contas/comunidades, um grupo criativo de pessoas notou que o avanço de equipamentos audiovisuais e conhecimentos em engenharia eletrônica podiam permitir esse tipo de transmissão pois era uma forma de questionar a influência politica na outorga das concessões de Rádio e TV, em defesa da "Reforma Agrária do Ar". O transmissor nada mais era um rústico videocassete alterado, conectado a um amplificador de sinais e um módulo ligado a uma antena FM sem fio a custo médio de Cz$ 16 mil. Conheçam o pioneirismo da pirataria televisiva:


Os Pirata... (sic)
Em 27 de setembro, acontece a primeira transmissão pirata de TV do Brasil, a TV Cubo canal 3 na região do Butantã, zona sul de São Paulo. Às 18h45, a emissora clandestina faz uma interferência nos canais 2 (Cultura) e 4 (SBT) com uma voz feminina pedindo desculpas pela invasão, mas convidando os telespectadores a sintonizarem o canal 3. Na sequência, a TV Cubo exibe duas vezes um programa de 13 minutos em VHS, resultado de dois meses de trabalho, cuja abertura era uma contagem regressiva com números atirados num vaso sanitário com a inscrição "Cadeia Nacional". Depois, uma porção de trechos intercalados de vídeoarte com imagens de São Paulo e na sequência, um telejornal satírico redublado com uma curiosa enquete de rua em que um repórter mascarado pergunta: "Se você tivesse que chutar alguém, quem você chutaria?". A transmissão com potência de um watt cobriu apenas 1,5 km do bairro paulistano a partir do Morro do Querosene. E em 31 de outubro, foi a vez do Rio de Janeiro ter sua TV livre, a TVento Levou canal 3 na região de Copacabana, zona sul carioca. Às 20 horas, faz uma interferência no canal 4 (Globo) anunciando a transmissão clandestina em forma de alerta. O programa teve sete minutos de duração, foi exibido cinco vezes e emitidos em pontos estrategicamente diferentes, sendo em alguns momentos, o sinal não chegou a casar bem na tela, a imagem causou interferência no canal 2 (TVE), enquanto que o som interferiu o canal 4 (Globo). Após exibir uma bandeira de pirata com a inscrição "Ar Livre", o canal clandestino simulou uma explosão atômica da Usina Nuclear de Angra dos Reis utilizando cenas de pânico de filmes de ficção científica, satirizou os comerciais da época anunciando "sedas celestiais" e redublou Antônio Carlos Magalhães e Roberto Marinho criticando o monopólio das comunicações no Brasil.

Pra fechar o mês de abril com chave de ouro, porém sob cuidados máximos por conta de uma pandemia que só se enerva num país como o nosso (não adianta xingar o Coronavírus e suas variantes) e muita gente não para de morrer ou estar sendo contaminada. Se nossa indisciplinada população continuar agindo com irresponsabilidade os protocolos de prevenção e se o combate a Covid-19 não for tratado com tanta politicagem, ganância e até com paranoia por parte de autoridades visivelmente polarizadas, o Brasil vai se tornar o país mais devastado pela pandemia em todo o mundo. Não há vacina que resolva o problema, até a gente superar os efeitos da pandemia e recuperar a "normalidade" das coisas, o estrago já foi feito. Pra não se contaminar ou não ser contaminado, mesmo depois de tomar a tal vacina, a regra é uma só para todos: FIQUEM EM CASA.

quarta-feira, 31 de março de 2021

OPINIÃO: ...E Se Tivessem Esperado um Pouco?


1999 foi um ano-chave para a televisão brasileira. A Rede Manchete saia do ar e sendo adquirida por um grupo de telecomunicações, a Tele-TV, deu lugar para a Rede TV!. Enquanto isso, começavam a pipocar as notícias de que a CNT e a TV Gazeta iam encerrar uma parceria de sucesso iniciada em 1992, onde cada uma trilharia seu próprio caminho. Se por um lado, a dupla Marcelo & Amílcare tinham pressa para lançar a nova emissora no mercado televisivo, inaugurando-a no feriado da Proclamação da República, em plena segunda-feira, por outro a separação entre TV Gazeta e CNT, cujo relacionamento foi marcado por tapas e beijos nos bastidores desde agosto, tinha data marcada para acontecer: 1º de junho do ano 2000, uma quinta-feira (bem que podiam ter prorrogado pro final de semana como demonstração de respeito ao público).

Aliás, foi justamente em agosto de 1999 que surgiu um episódio crucial que poderia até fazer com que o Grupo Tele-TV esperasse mais um pouco e adiasse o lançamento nacional da sua nova rede de TV. A empresa era dona de uma produtora independente, a TV Ômega, que coproduzia com a CNT o programa Festa do Mallandro. Em maio do mesmo ano, a atração comandada por Sérgio Mallandro, abarrotada de pegadinhas voyeur e testes fajutos de fidelidade, consegue liderar a audiência em São Paulo e pouco depois, a mídia da época explora uma nota de bastidores que colocaria em xeque a ascensão ibopística da CNT/Gazeta nas noites de sábado: Nova dona da ex-Manchete quer trazer Mallandro para sua grade de programação.

Do outro lado, o relacionamento entre TV Gazeta e CNT começa a azedar. A emissora da Avenida Paulista reivindicava autonomia para expandir seu sinal em todo o interior de São Paulo e também havia questões comerciais porque a CNT não queria perder de jeito algum o sinal VHF no maior mercado do país, São Paulo. O estopim foi a inauguração de uma geradora da CNT em Americana, localizada na região de Campinas, interior paulista, que retransmitia a programa da rede gerada de Curitiba e mesclava algumas atrações regionais como informativos, policialescos e atrações esportivas. A Gazeta, por sua vez, implicava pelo fato de retransmitir o sinal da CNT à contragosto porque, segundo sua diretoria, o público paulista não possui nenhum interesse em assistir uma programação de forte conteúdo regional paranaense, pois ela sempre valorizou os assuntos e os costumes de São Paulo desde quando entrou no ar em 1970.

Percebam, tudo se encaixa. O equívoco de um lado representou a decadência de outro, comparem a situação de ambas atualmente ("dever de casa" aos seguidores do blog). Tanto o Grupo Tele-TV quanto os Martinez poderiam sim terem formado uma harmoniosa sociedade para que, juntas, formassem uma quinta rede de televisão e que corresse por fora da guerra de audiência entre as poderosas Globo, SBT, Record e Band. Os interesses seriam conciliatórios: o Grupo Tele-TV era dona das cinco emissoras da ex-Rede Manchete (São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Recife e Fortaleza), herdou o quadro de funcionários da antecessora e tinha pressa para "entrar na briga", enquanto que a Família Martinez dispunha de uma rede com cinco estações geradoras (Curitiba, Londrina, Rio de Janeiro, Americana/Campinas e Campo Grande) liderada por um influente deputado federal que tinha cacife político suficiente para unir suas forças com as da dupla Marcelo & Amílcare na montagem dessa quinta rede de televisão e até para negociar o pagamento dos salários atrasados da Manchete, entre outras coisas. Ele era José Carlos Martinez.

Notaram que até hoje (antes da chegada do sinal digital) a CNT não tem sinal VHF em São Paulo como a Rede TV! não tem sinal VHF em Curitiba? Pois é! A CNT tinha até uma boa estrutura para permitir divisões de rede e cada geradora sua produzia programas de conteúdo local, coisa que a Rede TV! não tinha. No máximo, ela possuía uns pequenos escritórios nas capitais nordestinas onde uma pequena equipe de reportagem produzia matérias para o telejornal da rede, até porque a Justiça trancou os antigos estúdios da Manchete tanto em Recife quanto em Fortaleza, impossibilitando a produção regional e obrigando os telespectadores das duas cidades a assistirem o sinal gerado 100% de São Paulo (mas nada como um político nessa sociedade com a Rede TV! para ter resolvido essa pendenga). As atenções do Grupo Tele-TV eram voltadas exclusivamente na produção de programas da sede matriz em Alphaville, região nobre localizado na divisa São Paulo/Barueri.

Pesquisando a situação de CNT e Rede TV! na "transição de milênio", chego a conclusão de que, sim, ambas deveriam e mereciam se juntar e formar a quinta rede de televisão do Brasil, não fosse a pressa de Marcelo & Amílcare e a frustrante tentativa de expansão dos Martinez. Dessa forma, os problemas dessa sociedade seriam diminutos e seria uma opção generosa para um tipo específico de público que queria fugir da agressividade das grandes emissoras. Para isso, a Rede TV! deveria ter adiado sua estreia nacional para azeitar ainda mais os formatos de suas principais atrações (foram apenas 4 meses de preparação e o resultado foi catastrófico, afetando para sempre seu futuro destino), enquanto que a CNT prorrogaria até sábado, 3 de junho, sua despedida definitiva da TV Gazeta de São Paulo (originalmente, não houve tempo nem do Sérgio Mallandro fazer programa especial de despedida oficial) e entraria em hibernação por uma semana para se alinhar com a Tele-TV e montar uma grade experimental de um mês, cuja data ideal para a "inauguração" deveria ser 10 de julho do ano 2000. E ficaria a dúvida, qual seria o nome dessa rede: iam manter a marca "CNT" ou adotariam a nova denominação "Rede TV!"? Como "Rede TV!" é um nome extremamente óbvio para uma emissora de televisão, eu optaria pela já existente "CNT" e essa nova fase seria chamada de "Nova CNT, Renovando com o Brasil".

Vejam como seria essa quinta rede, a começar pelo conjunto de emissoras geradoras e algumas afiliadas importantes da época que ambas dispunham, pelo visto não ficaria nada a dever pra ninguém (e com o tempo essa rede iria crescer e muito):

São Paulo - canal 9 (Matriz Geradora)
Rio de Janeiro - canais 6 e 9* (Geradora)
Belo Horizonte - canal 4 (Geradora)
Recife - canal 6 (Geradora)
Fortaleza - canal 2 (Geradora)
Curitiba - canal 6 (Geradora)
Campo Grande - canal 2 (Geradora)
Goiânia - canal 6 (Geradora)
Campinas - canal 13** (Geradora)
Londrina - canal 7 (Geradora)

Porto Alegre - canal 4 (TV Pampa)
Brasília - canal 6 (TV Brasília)
Cuiabá - canal 5 (TV Rondon)
Palmas - canal 9 (TV Serra do Carmo)
Rio Branco - canal 11 (TV Gazeta)
Boa Vista - canal 12 (TV Norte)
Macapá - canal 8 (TV Equatorial)
São Luís do Maranhão - canal 6 (TV Cidade)
Imperatriz-MA - canal 5 (TV Capital)
Lages-SC - canal 10 (Sistema Catarinense de Comunicação)

* A Tele-TV era proprietária do canal 6, enquanto que a CNT gerava programação pelo canal 9. Este seria o único dilema da sociedade, mas o prédio gerador da General Padilha em São Cristóvão, seria mantido. O prefixo que tivesse melhor potência de penetração de sinal na capital fluminense seria a retransmissora oficial da nova rede, enquanto que a outra seria colocada a venda. Eu optaria pelo canal 6, já que o canal 9, cuja razão social é denominada até hoje TV Corcovado, devido a seu alcance limitado em algumas regiões do Rio de Janeiro, ou seria vendida ou voltaria a ser independente, como a TV Gazeta de São Paulo.

** Durante um período, o Ministério das Comunicações liberou o canal 13 de Campinas para que a CNT realizasse transmissões experimentais de seu sinal matriz para aquela região enquanto não era inaugurada a nova sede regional de Americana, cuja concessão de prefixo fora outorgada entre 98 e 99, o canal 23 (e posteriormente canal 52).

A fase experimental que estou simulando seria baseada em filmes de longa-metragem retiradas do lote de ambas e distribuídas em torno de uma grande transmissão esportiva. Como a Rede TV! havia anunciado a transmissão da Liga dos Campeões (ou Copa da UEFA como anunciou em seus "teasers") e não haveria tempo para mostrar uma partida sequer, poderia ter negociado com os detentores dos direitos de transmissão das competições UEFA uma troca: compensar a "ausência" da Liga dos Campeões 99/2000 na TV aberta pela exibição da Eurocopa 2000 (que originalmente não foi mostrada por nenhuma emissora aberta no Brasil), marcando assim a fase de testes da "Nova CNT" e anunciando a nova programação nos intervalos dos jogos (isso sem contar um grande trailer na abertura e no encerramento das atividades do dia).

Quanto a grade de programação definitiva, imaginem o cast de apresentadores que a rede teria a sua disposição, isso a partir de 10 de julho do ano 2000, segunda-feira. Veja como ficaria:

Segunda/Sexta
07h00 - Educativo
07h30 - CNT Notícias - noticiário de rede gerado de Brasília
08h00 - Galera da TV - com Andréa Sorvetão
10h00 - Programa da Lili - com Liliana Rodriguez (gerado do Rio de Janeiro)
12h00 - CNT Esporte - Edição Local
12h30 - RTV - Jornal Local
13h00 - Divisão de Rede: Jeannie é um Gênio e A Feiticeira (para quem não tivesse programas locais)
14h00 - A Casa é Sua - com Sônia Abrão (gerado de São Paulo)
16h00 - Mãe de Gravata - com Ronnie Von (gerado de São Paulo)
18h00 - Cadeia Nacional - com Luiz Carlos Alborghetti (gerado de Curitiba)
19h00 - RTV - Jornal Local
19h15 - Superpop - com Adriane Galisteu
20h45 - Jornal da CNT - noticiário de rede gerado de São Paulo
21h30 - CNT Esporte - Edição Nacional
21h45 - Faixa Variada - toda ela gerada de São Paulo:
Eu Vi na TV - com João Kléber (segunda) / Vida de Artista - produção independente (terça) / Família Sertaneja - com Marcelo Costa (quarta) / Cine Total (quinta) / Programa Gutto Moreno - com o próprio (sexta)
23h45 - CNT Economia - com Denise Campos de Toledo (gerado de São Paulo)
24h00 - Gabi - com Marília Gabriela (gerado de São Paulo)
01h00 - Perfil - com Otávio Mesquita (gerado de São Paulo)
02h00 - Cinema na TV
04h00 - Puro Êxtase - produção independente

Sábado
07h30 - Educativo
08h00 - Folclore do Japão - produção independente
09h00 - Pescadores do Brasil - produção independente
10h00 - Sessão Super-Heróis
12h00 - CNT Esporte - Edição Local
12h30 - RTV - Jornal Local
13h00 - Divisão de Rede: Jeannie é um Gênio e A Feiticeira (para quem não tivesse programas locais)
14h00 - Interligado - com Fernanda Lima (gerado de São Paulo)
16h00 - Tela Mágica ou Transmissão Esportiva
18h00 - TV Fama (gerado do Rio de Janeiro)
19h00 - RTV - Jornal Local
19h15 - Superpop Melhores Momentos - com Adriane Galisteu
20h45 - Jornal da CNT - noticiário de rede gerado de São Paulo
21h30 - CNT Esporte - Edição Nacional
21h45 - Festa do Mallandro - com Sérgio Mallandro (gerado de São Paulo)
24h30 - Perfil Especial - com Otávio Mesquita (gerado de São Paulo)
02h00 - Cinema na TV
04h00 - Puro Êxtase - produção independente

Domingo
07h00 - Religiosos e Televendas
11h00 - Sessão Super-Heróis ou Transmissão Esportiva
13h00 - Cowboy Brasil - produção independente
14h00 - Conexão Gospel - produção independente
15h00 - Conexão Sebrae - produção independente
15h15 - TV Costa Turismo - produção independente
16h15 - Zona de Aceleração - produção independente
18h00 - TV Escolha
20h00 - Friends
20h30 - Leitura Dinâmica (gerado de São Paulo)
21h00 - Bola na Rede - cada estado teria sua própria versão
23h00 - Show Business - produção independente com João Dória Jr.
24h00 - Tons do Brasil - com Plínio Oliveira (gerado de Curitiba)
01h30 - Cinema na TV
04h00 - Puro Êxtase - produção independente

Se levarmos em conta o volume de produção da CNT em três importantes praças (São Paulo, Rio de Janeiro e Curitiba), um considerável lote de filmes de longa-metragem e os artistas de apelo popular que a Tele-TV contratou para completar a programação, teríamos uma senhora quinta rede. Isso sem contar a parceria que a emissora paranaense firmara com a Confederação Brasileira de Vôlei, permitindo-lhe a transmissão das Superligas Masculina e Feminina, além da disposição em transmitir futuros campeonatos de futebol. Haveria programas para todos os tipos de público e esse projeto da "Nova CNT" que estou simulando seria bem-sucedido, o suficiente pra mídia considerá-la um "fenômeno de comunicação do ano 2000". Lógico que nos anos seguintes, a grade ia sofrer modificações, como qualquer outra emissora, com o entra-e-sai de importantes nomes do veículo.

Mas o destino quis o contrário, tanto a dupla quanto o político jamais fariam contatos. E se fosse de outro jeito? Os Martinez entrassem em contato com a Tele-TV, numa tentativa de manter-se no concorrido mercado paulista, meses antes de se despedir da TV Gazeta? Com um diálogo político a uma empresa sedenta por sucesso, o freio seria acionado e a quinta rede seria de fato a "televisão do ano 2000". É triste encarar os fatos. As tele-igrejas monopolizaram nossa televisão, a Rede TV! com uma grade parada no tempo é mais bem-sucedida na internet do que na própria TV, sem contar o arrendamento de horários a tele-evangelistas suspeitos e a CNT "flopou", submeteu-se as 22 horas diárias de arrendamento da TV Universal só pra bancar sua folha de pagamento (isso depois que José Carlos Martinez morreu num desastre aéreo em 2003).

Aliás, essa TV Universal, permeando a cada dia o poder público nacional, tá querendo monopolizar na marra o veículo usando sua ideologia religiosa fracassada e fraudulenta, mas não é pra tanto. Bastou primeiro ser proprietária da Rede Record, depois cria uma tal de Rede Família no interior paulista, na sequência gasta o que não tem pra manter a Record News no ar e não satisfeita, tem sua própria emissora 24 horas por dia para ainda arrendar tudo quanto é TV oxigênio pelo Brasil afora? Me perdoem os cordeirinhos do Macedão e seu genro (cuja ânsia pelo poder lhe credenciaria a corrida presidencial e ganharia na cara-de-pau), mas isso é extravagância demais (pra não dizer ostentação). Uma só emissora já basta. Por essas e outras é que defendo uma reforma legislativa nas telecomunicações brasileiras.

Moral da história: a pressa é inimiga da perfeição e CNT e Rede TV! poderiam ter sido uma ÚNICA emissora de televisão.

PS: Antes que eu me esqueça, agradeço a todos os seguidores por permitir com que este blog ultrapassasse a marca de 2 milhões de visualizações. Valeu demais!

terça-feira, 2 de março de 2021

HISTÓRIA: Dárcio Campos


Aos super-dotados fã-clubistas de plantão, obcecados de que a vida é um eterno programa de auditório, este post é dedicado a vocês. Na década de 70, um fenômeno de comunicação surgiu no rádio e na televisão de São Paulo a ponto da crítica especializada se dividir: uns acreditavam que ele seria o sucessor de Silvio Santos nos anos 80, outros criticavam que ela nada mais era uma cópia juvenil barata do dito cujo. Por acaso seus pais, seus tios e seus avós já ouviram falar de Dárcio Campos? Afinal, quem é Dárcio Campos? De planeta veio Dárcio Campos?

Segundo matérias antigas de jornais e revistas que eu pesquisei (além do magnífico livro do meu amigo Elmo Francfort Avenida Paulista 900 - A História da TV Gazeta, da Imprensa Oficial) e reuni neste post, Dárcio Campos era considerado jovem, comunicativo, divertido e bonzinho pelas suas fãs. Um homem de sorriso fácil, olhar triste, dono de um rosto com traços fortes, cabelos encaracolados desarrumados, tinha 1,95 m de altura, usava um figurino vistoso estilo esporte e uma voz macia quando dirigia uma mensagem a alguém. Era também dono de um estilo humanista de lidar com o público independente da idade, transmitindo a pureza e o carinho do homem do interior sendo que, de maneira correta, ele traduzia o sufoco e o desafogo do povo depois de um dia cheio de tarefas (trabalho e/ou estudos). Segundo ele próprio: "O povo é carente de afeto e precisava ser liderado com palavras positivas" e "A obrigação do comunicador e não manter o povo anestesiado".

Diante de tanta comparação com Silvio Santos, dizia que ele sempre se considerava mais artista e menos negociante. Seu fã-clube fazia a seguinte comparação: enquanto que Silvio Santos só se preocupava em vender carnês e dispensava a presença de "garotas feias" em seu auditório, Dárcio Campos era mais carinhoso e humanista. Outra característica de sua personalidade é a sua sabedoria oriental atrás das câmeras, o que levava a comer livros de autoajuda ligados a esse tipo filosofia e que lhe concedia uma paciência digna de um eremita chinês. Mas o mais curioso era que ele não gostava de comentar sua idade e detestava comemorar aniversário, porque, segundo ele, é que a partir do ato de soprar as velas, é que se revelam os adversários (invejosos em bom português).

Comecei este parágrafo perguntando: de planeta veio Dárcio Campos? Podemos dizer que ele veio do Planeta Chanty. Ele sempre abria seu chanty-programa seja no rádio ou na televisão dizendo mais ou menos essas seguintes palavras carregadas de gírias até hoje incompreensíveis: Alô minhas fofinhas, aqui é Dárcio Campos fazendo sua alegria, chegandinho no pedaço e falandinho ao seu coração! Um chanty-beijo para todas vocês! E nesse alto-astral quero mandar um chanty-abraço pra você que está no fonfonudo, eu sei que esse trânsito não está com nada e que a vida é dura, mas vá em frente, não perca a calma que a gente chega lá. E pra você minha comadre, que está passando roupa nesse quartinho apertado, sabe que daqui a pouco ele vai chegar em casa cansado e com fome, não esqueça de preparar aquele papanudo legal pra ele, hein? E agora é hora de colocar mais uma moedinha no cofrinho do chanty-sucesso! Para cantarolar aquela chanty-canção que você mais gosta, minha fofinha... José Augusto!!!

Nosso chanty-mor, Dárcio Campos Tarquínio, nasceu em 8 de setembro de 1945, era mineiro de Uberaba e vindo de uma família tradicional era descendente de italianos. Estudou no Colégio Marista de sua cidade e apaixonado pelo mundo das comunicações, conseguiu aos 12 anos de idade um emprego para trabalhar na Rádio Difusora de Uberaba. Lá, ele fez de tudo, foi sonoplasta, discotecário, operador de som, produtor, rádio-ator e, finalmente aos 16 anos, tornou-se locutor. Paralelamente, chegou a fazer teatro e cursou Faculdade de Direito até o segundo ano. Participante ativo da política estudantil, tornou-se vice-presidente da União Estudantil de Uberaba e iria dirigir a União Colegial de Minas Gerais quando em 1964 estourou a "Revolução" (para uns) ou "Golpe" (para outros): os militares assumiam o Governo. Seu papel era ligar a classe universitária e o meio secundarista com a política da região, ou seja, juntava aquilo que estava aparentemente separado.

Percebendo as dificuldades de crescer na vida em sua terra-natal, em 1965, Dárcio Campos tentou a sorte em São Paulo e conseguiu um trabalho na antiga Rádio São Paulo atuando como rádio-ator, disc-jóquei e locutor. Seu vozeirão chamou tanto a atenção que ele foi convidado para gravar comerciais e dublar séries e desenhos animados da época. Até que em 1969, a Rádio Record o contratou para assumir o horário nobre vespertino com um programa diário de duas horas de duração só pra dele. Édson Guerra, então recém-empossado diretor artístico da estação, foi o grande responsável pela vinda de Dárcio Campos ao rádio paulista dentro de um plano de reformulação da programação da rádio. Aos poucos, com seu raciocínio rápido, improviso ao abordar o cotidiano e a experiência desde sua cidade-natal, tornou-se líder de audiência e foi chamando a atenção da alta-cúpula da emissora que em 1973 assumiu a direção artística da Rádio Record. Vencendo e prosperando na vida, em 1975, ele cria sua própria firma, a DC Publicidade e Promoções Artísticas, responsável pelo financiamento e organização de shows, festivais musicais e peças teatrais. Contava com uma equipe de 35 pessoas e seu escritório era localizado no bairro do Ibirapuera.


O sucesso no rádio permitiu a TV Gazeta de São Paulo fazer o convite irrecusável para ele comandar um programa de televisão nas tardes de sábado. Ele aceitou porque, segundo seu ponto de vista "programa de sábado à tarde é para as pessoas que começam a manhã trabalhando, depois começam a parar e entrar no lazer bem devagar". E assim em 2 de outubro de 1976, nascia o Programa Dárcio Campos, inaugurando o complexo de produção do estúdio-plateia no 8º andar do Edifício Cásper Líbero. A versão televisiva de seu programa de rádio contava com algumas curiosidades: tinha um produtor argentino chamado Amilcar de Dall e ele teve a ideia de montar um cenário todo feito com forminhas metálicas coloridas de doces de festa para gerar um belíssimo efeito no vídeo, já que a emissora contava com um orçamento muito limitado em termos de cenografia.

O Programa Dárcio Campos fez tanto sucesso, sendo uma das maiores audiências da TV Gazeta atingindo de 2 a 3 pontos em São Paulo, que em 1977 passou a ser exibido em vídeo-tape para as emissoras independentes de Brasília, Belo Horizonte, Manaus, Porto Velho, Rio Branco, Boa Vista e Juiz de Fora. E não bastando isso, o produtor Amilcar de Dall chegou a organizar três edições especiais do programa gravados totalmente em espanhol e exibidos para as emissoras do Chile e da Espanha. A repercussão era tanta que o apresentador contava com uma equipe de segurança pessoal que não cuidava só dele, mas também dos artistas convidados e participantes em geral.

O esquema do programa era bem básico e típico dos shows de auditório da época: nada era planejado, tudo era espontâneo. Ele entrava no palco cumprimentando a plateia e os telespectadores com aquele gesto característico do Dr. Spock de Jornada nas Estrelas, levantando as mãos e abrindo os dedos formando um "V" sob o lema: "Somos a geração Chanty, onde a inteligência é a força!". As atrações musicais contava com cantores de "segundo time", cujas músicas tocavam sem parar nas rádios da época, o que era garantia absoluta de vendagem de discos, e Dárcio sempre respeitava o gosto popular da sua audiência, mas inseria de vez em quando algum hit de um cobra da MPB. Quem decidia o repertório era o público que enviava uma média de 900 cartas por dia e todas elas eram respondidas na medida do possível. Seu público-alvo era composto por garotas adolescentes de baixa renda, empregadas domésticas, senhoras de idade e até crianças. O programa era ao vivo e ia pro ar das 14 às 17 horas, mas as moças já faziam fila no Edifício Gazeta desde as 7h30 da manhã, todas elas tratadas igualmente, sem distinção de classe, profissão ou beleza.


Ainda em 1977, chegou a gravar um compacto simples com as músicas Fique Mais um Pouco e Se Você Soubesse. Fez até uma participação numa música de Lindomar Castilho, Minha Mãe, Minha Heroína. Seu carisma chamou a atenção de outras emissoras e em março de 1978, volta pra Record, mas precisamente na emissora de TV para comandar a nova programação de sábado. Seu programa agora requentado com disputa entre calouros e diversos concursos passa a ser exibido mais cedo, das 11 às 14 horas, e gravado com dois dias de antecedência, permitindo ao apresentador visualizar a gravação e acompanhar o processo de edição e pós-produção antes de ir para o ar. O sucesso é garantido e em fevereiro de 1979, um fato tornou-se o divisor de águas na carreira de Dárcio Campos: seu programa passou a ter o patrocínio exclusivo da Fábrica de Móveis Brasil, uma grande loja de móveis e utilidades domésticas (as Lojas Marabráz da época e que ainda existe!) que investia pesado em divulgação publicitária e que desde 1973 firma parceria com a TV Record estampando sua marca como patrocinadora principal da linha de shows e filmes, mesmo possuindo apenas oito unidades na capital paulista. O contrato vigoraria até 1981, mas em 10 de fevereiro de 1979, o estabelecimento aproveita sua entrada no programa para anunciar um grande lançamento: o Carnê Brasilino, que distribuía prêmios através da Loteria Federal entre outras coisas.


Na véspera do programa ir ao ar, o VT gravado para ser visualizado por Dárcio Campos misteriosamente desapareceu. Horas depois, uma cópia do programa apareceu na sala de vídeo-tape do canal 7 e quando ele e a equipe foram assistir tiveram uma surpresa desagradável: o programa sofrera sensíveis cortes de tudo aquilo que fizesse referência ao tal carnê. Motivo: a TV Record já era sócia do Grupo Silvio Santos desde 1976 e o Carnê Brasilino era visto pela alta-cúpula do conglomerado (leia-se Silvio Santos) como uma ameaça a hegemonia do Carnê do Baú da Felicidade, até porque ambos os carnês eram bem similares. Pressionada, a emissora mandou editar o programa todo e Dárcio Campos, esperto, pediu demissão e seu programa nem sequer foi ao ar, ele acabou assinando contrato com a Brasilino Promoções, uma firma dirigida por Dorival Batista de Seta, que por sua vez tornou-se produtor da DC Publicidade e Promoções Artísticas. A FMB entrou na Justiça processando o GSS e a TV Record por perdas e danos e sob acusação de abuso de poder econômico, exigindo o pagamento de uma indenização na época de Cr$ 70 milhões.


Firmada a sociedade, Dárcio Campos tornou-se garoto-propaganda da Fábrica de Móveis Brasil e com isso, a loja conseguiu alugar o horário vespertino das tardes de sábado da Rede Bandeirantes a partir de abril de 1979, entre 14 e 18 horas, para finalmente poder divulgar as vantagens do Carnê Brasilino, além de tentar conquistar o Brasil inteiro já que a Band estava formando sua rede nacional e montando uma nova programação. Mesmo após o programa, que era ao vivo, Dárcio permanecia no estúdio-platéia da emissora no bairro do Morumbi até às 22 horas, contagiado pelo astral da plateia e dando a maior atenção a todos que foram vê-lo. Imediatamente, a empreitada colhe bons resultados: são vendidos 14 mil Carnês Brasilino por mês, gerando assim um faturamento mensal de Cr$ 50 milhões. Só que em maio leva uma ducha de água fria: a TV Record vai a forra e entra com uma ação na Justiça contra a Fábrica de Móveis de Brasil denunciando-a por abuso de poder econômico e quebra o contrato de publicidade com o estabelecimento que tinha ainda validade para mais dois anos. O sonho de Dárcio Campos em se tornar o sucessor de Silvio Santos tinha acabado, não fosse o tal carnê cujo caso iria parar nos tribunais, talvez Luciano Callegari jamais precisaria de um Gugu Liberato (embora este blogueiro tenha ainda grande admiração, respaldo e carinho afetivo pelo finado apresentador) para dividir os domingos com o Abravanel.

Em dezembro de 1980, a queixa-crime da Fábrica de Móveis Brasil foi aceita pelo CADE - Conselho Administrativo de Defesa Econômica e o caso foi parar nos tribunais. O Baú da Felicidade foi acusado de exercer "abuso de poder econômico, dominando o mercado, eliminando quaisquer tipo de concorrência e exigência de exclusividade de propaganda publicitária". O processo renderia até 10 mil salários mínimos da época se as denúncias fossem comprovadas. Hélio Ansaldo, então diretor da TV Record, foi intimado a prestar depoimento as autoridades e acabou confessando o crime de pratica da concorrência desleal, alegando ajustamento com o Grupo Silvio Santos. Hélio (já falecido) tentou convencer os produtores do programa a não mais citarem o Carnê Brasilino, do contrário, atenderia a ordem de editar o programa. Numa ação ordinária da Rádio Record contra a DC Publicidade e Promoções Artísticas, a emissora confessa os cortes com a intensão de impedir o lançamento do carnê. Diante disso, o CADE confirmou o envolvimento da TV Record no caso, mais até que o Baú da Felicidade, e cogitou-se até na possibilidade de puni-la cassando as concessões da emissora. Diante da morosidade judicial, do fim dos programas populares da Band com a entrada de Walter Clark e das consequências da fama, tendo sua imagem imediatamente relacionada a Fábrica de Móveis Brasil e seu Carnê Brasilino, Dárcio Campos volta para a TV Gazeta em junho de 1981, com um estilo de programa sensivelmente modificado: do "popularesco" para um nível pouco mais elevado, passando a ter mais entrevistas e contando com uma plateia formada por apenas 60 pessoas. "Eu troco a fama pelo prestígio", alegou ele na época.

Em 1982, deu um tempo na televisão para voltar as origens. Aceitou uma proposta irrecusável da saudosa Rádio Globo, líder de audiência em São Paulo, para integrar o grande times de comunicadores que a rádio estava formando em sua grade: Eli Corrêa, Afanásio Jazadji e Osmar Santos. E foi em março do mesmo ano que finalmente saiu o veredicto do Caso Brasilino: a TV Record foi condenada a pagar uma multa de Cr$ 200 mil por agir "legitimamente em defesa de seus direitos" impedindo assim a divulgação do Carnê Brasilino. Dárcio, segundo seus advogados, teria o direito de receber uma indenização de cerca de Cr$ 40 milhões, isso porque foi constatado que em 1979 ele foi obrigado a gastar mais pela multa rescisória com o canal 7 (quando se mudou para a Bandeirantes) do que ele pagava pelo aluguel de horário. Paralelo aos acontecimentos, Dárcio foi contagiado pelo clima de redemocratização da política brasileira e, relembrando os tempos de grêmio estudantil de sua Uberaba, afiliou-se ao partido governista PDS por se identificar com o programa de governo e atendendo um convite do então governador paulista Paulo Maluf, quis concorrer a uma cadeira na Assembleia Legislativa de São Paulo candidatando-se a Deputado Estadual. Mas voltou atrás e influenciado pelos colegas de profissão para não interromper a emissão de seu programa de rádio em período eleitoral, que liderava a audiência no horário, passou a apoiar o PMDB nos showmícios de Franco Montoro, eleito governador na oportunidade.


Dárcio Campos, mesmo no ar com seu programa de rádio, revelou-se Malufista notável ao apoiá-lo na campanha presidencial do Colégio Eleitoral em 1984, pra Governador em 1986 e 1990. Sua candidatura a Deputado Estadual só saiu em 1986, sem sucesso, tentou ser Vereador por São Paulo em 1988 pelo PSD, ficou pelo caminho novamente. O jeito era continuar com os programas de rádio, passando pela Rádio Capital em 1986 e pela Rádio Gazeta em 1989, terminando na Rádio Atual nos anos 90 onde exerceu o cargo de diretor artístico. Na televisão, retornou a Rede Bandeirantes em 1984 onde comandou discretamente dois programas esquecidos pela emissora: Sábado Feliz, que era um programa infantil exibido aos sábados pela manhã, e Batalha do Amor, uma gincana sobre relacionamento em que dividia a apresentação com Baby Garroux.

Na intimidade, Dárcio Campos colecionava carros importados, sua mansão contava com oito empregados cujos quartos tinham um televisor cada e zelava pela sua saúde física fazendo sessões diárias de sauna, cooper e muita ginástica. Solteirão por quase toda a vida, a fila andava para ele, com tantos namoros todos eles mantidos em sigilo absoluto, mas teve uma consequência terrível. Em 28 de agosto de 1995, Dárcio Campos morreu de Aids aos 49 anos em sua terra natal, Uberaba, Minas Gerais. Esquecido por uns, lembrado por outros, Dárcio deixava o Planeta Terra para morar para sempre no Planeta Chanty, terra da eterna juventude e sabedoria, a força que ele sempre pregava no rádio e na televisão. Uma pena que quase nada do programa dele restou na preservação da nossa escassa memória da TV brasileira, apenas alguns vídeos no YouTube sobreviveram. A ele, esquecido pelas gerações atuais, rendo esta chanty-homenagem no chanty-blog ÊHMB De Olho Na TV.