HISTÓRIA: Semana Maldita na Globo

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terça-feira, 8 de novembro de 2016

HISTÓRIA: Futebol na Telinha - 2ª Parte

Continuando a história sobre as transmissões de futebol na TV brasileira, nos anos 70, as transmissões internacionais se tornam mais comuns após a Copa do Mundo do México, mas os clubes e as federações passam a cobrar cifras cada vez mais altas as TVs para transmitir futebol direto, talvez dificultando o trabalho das emissoras temerosas numa queda de público, pois na época, repito, os clubes vivam da renda dos jogos. Se na década de 50, era um sacrifício transmitir futebol de uma cidade para outra, a partir da década de 70, bastava apenas subir o satélite e tudo pronto. Mas precisamos entender que tal avanço se deve com a incorporação do Brasil no Consórcio Intelsat de Comunicações por Satélite em 17 de maio de 1965, quando a Embratel estava dando seus primeiros passos. Mas em fevereiro de 1969 com a inauguração a Estação Terrena Rastreadora de Comunicações de Sinais Via Satélite do Brasil, a Tanguá I, no município de Itaboraí, a 30 quilômetros de Niterói, Guanabara, com antenas parabólicas receptoras de 30 centímetros de diâmetro e uma torre transmissora de 50 metros de altura, nosso país pôs em prática a transmissão direta de acontecimentos internacionais de 63 países através do consórcio com o satélite Intelsat III, obrigando as emissoras a possuírem um equalizador de imagens, instrumento importante para transmissões deste porte.
O sistema de troncos da Embratel  e o consórcio de comunicações por satélites com a Intelsat facilitou e muito o procedimento de transmissões internacionais. Depois da Copa do Mundo de 1970, o primeiro jogo internacional transmitido pela TV brasileira foi em 28 de julho de 1971, às 20h30, com o vulgarmente conhecido "superclássico" entre Brasil e Argentina direto de Buenos Aires, em partida válida pela Copa Roca, pelas TVs Tupi, Cultura e Gazeta. O fato permitiu experiência as emissoras a terem uma rotina de transmissões de jogos fora do Brasil. A Copa Libertadores da América era ideal para tal, mas demorou um certo tempo para que a televisão brasileira pudesse transmitir ao vivo um jogo de um time brasileiro em gramados estrangeiros. O primeiro jogo televisionado desse procedimento todo aconteceu às 21 horas de 4 de maio de 1972 com a partida entre Independiente e São Paulo direto de Buenos Aires pelas TVs Gazeta e Bandeirantes de São Paulo. Na época, o regulamento da Libertadores determinava que o mandante de campo comercializasse o jogo e sua transmissão, ficando com 80% da cota, enquanto o visitante detinha apenas 20% do que for ganho com os direitos e mais: as emissoras também tinham que gastar dinheiro com aluguel de material para transmissão, de cabine nas tribunas de imprensa e um canal de satélite. O valor da cota dos clubes variava conforme o tempo e ficava em torno de U$ 30 mil, enquanto que a despesa da transmissão custava cerca de U$ 50 mil. Só que o saudoso narrador esportivo Walter Abrahão garantia que a primeira transmissão direta de futebol realizado pela TV brasileira fora do nosso país teria acontecido na noite de 29 de novembro de 1969 como um teste para a Copa do Mundo do ano seguinte, executado pela TV Tupi. A partida foi entre Racing Club e Santos direto de Mar Del Plata, Argentina, pela extinta Recopa dos Campeões Intercontinentais, com vitória do time argentino por 2x1.
Voltando ao Brasil, a luta das emissoras em poder transmitir jogos daqui mesmo do Brasil continuava, mas no meio dos anos 70, uma série de tentativas e acordos foram colocados em prática para possibilitar o que chamavam na época de "futebol direto". As coisas pareciam mudar em 14 de dezembro de 1975 quando Internacional e Cruzeiro fizeram a final do Campeonato Brasileiro de Futebol daquele ano. As três redes de então (Globo, Tupi e REI) desembolsaram Cr$ 200 mil pelos direitos de transmissão (marcada para as 17 horas) e mostraram o jogo em um pool de imagens colocando um esquema inédito de cinco câmeras espalhadas por todo o Estádio do Beira-Rio. Como a procura de ingressos era enorme, a CBD autorizou a transmissão do jogo também para Porto Alegre.
Em 1976, a Federação Paulista de Futebol, para superar a crise de público nos estádios, fez um acordo com as emissoras Cultura, Gazeta, Record e Bandeirantes para que onze partidas do primeiro turno do Campeonato Paulista de Futebol daquele ano pudessem ser transmitidas pela televisão nas noites de domingo de 4 de abril à 4 de julho. Naquela época até hoje, é um absurdo colocar um jogo de futebol pra ser exibido ao vivo pela TV às 21 horas, horário programado pela federação. Para isso cada emissora tiveram que desembolsar a bagatela de Cr$ 130 mil por jogo para tornar possível algo que os dirigentes da época relutavam muito porque os clubes eram sustentados pela renda dos jogos e a TV fazia a renda do jogo cair. Por outro lado, cada clube recebia Cr$ 65 mil de cota fixa por jogo televisionado e a audiência acumulada das emissoras em cada jogo televisionado foi em torno de 20 a 30% (encostando em algumas vezes nos índices do "Fantástico" da Rede Globo), o equivalente a 4 milhões de "tele-torcedores", mas mesmo assim, os dirigentes implicavam com a cota devido a baixa renda do estádio, alegando receber mais de Cr$ 100 mil por partida e sem TV. Palmeiras e São Paulo foram os que mais lucraram, tiveram três jogos televisionados cada um e receberam a quantia de Cr$ 195 mil, Corinthians, Portuguesa e Comercial de Ribeirão Preto acumularam uma importância de Cr$ 130 mil só com os jogos pela TV, enquanto que outros 10 times (Santos, Juventus, São Bento, Ferroviária, Noroeste, Paulista de Jundiaí, Botafogo de Ribeirão Preto, América de Rio Preto, Marília e XV de Piracicaba) ganharam Cr$ 65 mil cada um com uma única partida transmitida.
Mas em 13 de junho, as TVs Record e Bandeirantes (sem contar a TV Tupi, que esteve fora do acordo) transmitiram à tarde a final da Taça Guanabara entre Vasco e Flamengo direto do Maracanã e infringiram uma cláusula contratual que proibia a exibição ao vivo de qualquer jogo de futebol de outra localidade realizado simultaneamente com os de São Paulo. Como pena, foram proibidas de exibirem o restante das partidas do pacote e não puderam receber imagens cedidas de outras emissoras de gols de outros jogos e nem mesmo exibir os vídeo-tapes de outras partidas do primeiro turno. Restaram as TVs Cultura e Gazeta para a transmissão dos três jogos restantes e até a Globo, também não-inclusa no acordo, estava autorizada por não infringir a regra, mas desde quando a Globo iria exibir futebol às 21 horas de domingo em pleno horário do "Fantástico"? Ainda em 1976, a então recém inaugurada TV Educativa do Rio de Janeiro, tinha uma moderna unidade de transmissão externa na qual gerava direto imagens de jogos de futebol direto do Estádio do Maracanã e oferecia as emissoras de outras cidades brasileiras e também às grandes redes um aluguel de Cr$ 1.500 por cada transmissão, que sempre ocorria às quartas, sábados e domingos.
Em outubro de 1977, o interesse das emissoras de TV pelo jogo que tiraria o Corinthians do jejum de quase 23 anos sem títulos contra a Ponte Preta era tanto que a Federação Paulista de Futebol convocou os representantes de todas as emissoras de São Paulo para estabelecer a seguinte tabela de preços: as finais do Campeonato Paulista daquele ano custariam Cr$ 12 milhões mais uma cota estabelecida de renda em Cr$ 4 milhões por jogo para que as emissoras pudessem cobrir a diferença caso tal valor não fosse alcançado com a venda de ingressos. Então, as TVs Globo e Tupi pagariam Cr$ 3 milhões, Bandeirantes e Record desembolsariam Cr$ 1,8 milhão e Cultura e Gazeta ficariam com Cr$ 1,2 milhão para poderem transmitir ao vivo a histórica decisão. O narrador Walter Abrahão, que também era diretor do Departamento de Esportes da TV Tupi, ficou descontente com a divisão desigual de valores proposto pela federação e sua emissora desistiu do contrato (pena que não foi levado em conta a participação proporcional em audiência das emissoras durante um certo período). A saída da Tupi na negociação levou as cinco emissoras restantes a racharem o valor que seria pago pela estação do Sumaré: Cr$ 600 mil para cada uma. A primeira das três parcelas tinha que ser depositada nove horas antes do primeiro jogo da final para que fosse exibida pela TV e isso quase desmotivou as emissoras. Como a Globo estava interessada em cobrir sozinha os valores e transmitir as finais com exclusividade, mas a Bandeirantes mantinha contato direto com a Federação Paulista as quatro emissoras se esforçaram ao máximo para não ficarem de fora das finais e ainda tiveram que cobrir cerca de Cr$ 1,3 milhão da renda do primeiro jogo (que foi de Cr$ 2,6 milhões) e cerca de Cr$ 700 mil da renda do terceiro jogo (que foi de Cr$ 3,3 milhões). A renda do segundo jogo ultrapassou os 4 milhões (precisamente Cr$ 4,2 milhões) e permitiu que as emissoras de TV não gastassem um centavo a mais. O custo total foi de Cr$ 15,9 milhões e o chato é que todo esse dinheiro não serviu de cotas para os finalistas, foi tudo para os cofres da federação.
Em 15 de novembro de 1977, o clássico carioca entre Flamengo e Fluminense, direto do Maracanã, válido pelo Campeonato Brasileiro daquele ano, quase foi transmitido pela Rede Globo, apesar da autorização dos dirigentes dos dois clubes (principalmente do Flamengo que queria comemorar o aniversário do clube com o televisionamento da partida). O motivo foi uma liminar da Justiça concedida pelo juiz da 7ª Vara Cível Mauro Junqueira e obtida pelo superintendente da Suderj Jovino Pavan proibindo não apenas o televisionamento para todo o país, menos para Rio e São Paulo, mas também a gravação do vídeo-tape do jogo pela TVE, no qual o tricolor venceu o jogo por 2x1 pondo água no chope na festa dos 82 anos do rubro-negro. O jogo só seria transmitido na seguinte condição: se o juiz fizesse uma autorização por escrito e o presidente do Flamengo, por sua vez, emitisse uma nota oficial permitindo a entrada das emissoras de TV para mostrar o jogo e que fosse publicada por todas elas.
O Paulistão de 1978 foi um dos mais tumultuados de todos os tempos e teve que ser decidido no ano seguinte. São Paulo e Santos foram os times que sobreviveram a competição e decidiram o título. Como os dois primeiros jogos não puderam ser transmitidos ao vivo, a terceira e decisiva partida despertou o interesse das redes Globo, Bandeirantes e Record e a Federação Paulista estabeleceu que as três emissoras tinham que completar a renda de Cr$ 8 milhões se todos os ingressos não fossem vendidos. A renda do terceiro jogo foi de cerca de Cr$ 5,5 milhões e as emissoras de TV tiveram que rachar o valor total de cerca de Cr$ 2,4 milhões para completar a cota da bilheteria. A TV Gazeta foi responsável pela geração de imagens do jogo e foi a única que fez o VT completo do jogo, exibido de madrugada.
As finais do Campeonato Paulista de 1979, também realizadas no ano seguinte era uma "reprise" de 77, tanto nos adversários quanto nos gastos. A federação solicitou às redes Globo, Bandeirantes e Record a completarem uma cota de Cr$ 12 milhões de renda por cada jogo, mas as emissoras propuseram pagar uma cota fixa de Cr$ 2,5 milhões, só que Ponte Preta e Corinthians não se interessaram, com medo de uma queda na renda (se os representantes das TVs fossem mais espertos, poderiam ter aumentado a cota para Cr$ 3 milhões por jogo). Os dois primeiros jogos foram transmitidos pela TV: na primeira partida a renda foi cerca de Cr$ 9,5 milhões e as emissoras completaram Cr$ 2,5 milhões e na segunda partida, a renda foi cerca de Cr$ 8,7 milhões e as TVs tinham que completar com cerca de Cr$ 3,2 milhões. Para o terceiro jogo, não houve acordo entre as emissoras e os clubes e pior, não concordaram em pagar uma compensação financeira para gravar o jogo na íntegra. A exibição de vídeo-tapes não era paga, só que houve desinteresse pelas emissoras pelo fato de ser aberto um precedente com a cobrança do VT. A TV Cultura era era a única emissora autorizada a enviar sua unidade externa no Estádio do Morumbi, gravar o jogo na íntegra e disponibilizar cópias as demais emissoras autorizadas, mas se desinteressou devido a obrigatoriedade do acordo financeiro com os dois clubes proposto pela federação que diante do fato, proibiu as emissoras de enviarem suas unidades de transmissão externa ao estádio. A venda antecipada de ingressos estava muito fraca e completar a cota de 12 milhões representaria um risco muito grande para as emissoras. Pra decepção dos torcedores que não foram ao estádio, não foi divulgado comunicado algum sobre a ausência da televisão na transmissão da final, acreditando que os clubes e a federação voltariam a atrás e tomaria uma decisão de última hora autorizando a transmissão pela TV. A alternativa encontrada para Globo, Bandeirantes e Record foi documentá-la com uma câmera portátil de reportagem e, segundo determinação da Federação Paulista de Futebol, exibir um compacto de apenas 3 minutos da decisão. O tal acordo feito nos jogos anteriores seria mantido e as duas emissoras teriam que pagar cerca de Cr$ 3 milhões, já que a renda do jogo que deu mais um título paulista ao Corinthians foi de quase Cr$ 9 milhões.
Em 1980, São Paulo e Santos decidiram o título paulista, mas não houve acordo entre eles e as emissoras de televisão pra frustração de quem não foi ao estádio. Por causa disso, a Federação Paulista estabeleceu uma tabela de multas para quem infringir as regras: Cr$ 5 milhões para quem por o VT do jogo antes do horário pré-determinado (às 22 horas nos finais de semana e às 23h30 no meio de semana), Cr$ 10 milhões pra quem transmitir o jogo ao vivo para o interior paulista e outros estados brasileiros e Cr$ 25 milhões para quem transmitir para a capital e litoral paulista. O primeiro jogo, realizado numa tarde de domingo, teve a exorbitante renda de cerca de Cr$ 13,4 milhões e o segundo jogo, numa noite de quarta-feira, a renda foi de Cr$ 8,9 milhões. As TVs Cultura, Gazeta, Record e Bandeirantes foram as únicas que exibiram as finais em VT .
Em 1981 foi um passo decisivo para o entendimento entre dirigentes e diretores de televisão. O Campeonato Paulista daquele ano foi importante na harmonização de relacionamento até então divergente entre as duas classes. O televisionamento só foi liberado a partir da fase final do primeiro turno, o chamado "Octogonal". O acordo previa que os grandes clubes jogariam no interior nos finais de semana e na capital no meio da semana com o objetivo de arrecadar melhores rendas e consequentemente para autorizar a transmissão dos jogos fora da cidade em que está sendo sediado. Cada cota foi estabelecida em Cr$ 1,5 milhão sendo dividido entre as equipes por cada jogo e a Rede Globo foi a que transmitiu a maioria das partidas, nas tardes de sábado (16 horas) e nas manhãs de domingo (11 horas), enquanto que a TV Record ficava com as noites de sábado (21 horas e depois autorizada a dividir alguns jogos das tardes de sábado com a Globo no segundo turno). Nessa fase foram apenas sete jogos transmitidos, mas no segundo turno foram 22 televisionamentos, sendo que a TV só foi autorizada a partir da oitava rodada. Temos que lembrar que em 1981 a Globo resolveu investir firme na cobertura esportiva, adotando como slogan "81, o ano do esporte na Globo", e por essa razão, dois jogos do Campeonato Paulista enfrentou a concorrência das corridas de Fórmula 1: na manhã de 13 de setembro, devido a transmissão do Grande Prêmio da Itália, apenas o segundo tempo de Taubaté e São Paulo foi exibido; e em 17 de outubro, fez com que Botafogo de Ribeirão Preto e Corinthians entrassem em campo uma hora mais cedo por causa do Grande Prêmio dos Estados Unidos, a corrida decisiva que deu o título mundial ao piloto brasileiro Nelson Piquet.
Na fase final do segundo turno, aumenta o interesse das emissoras pelo Paulistão e a federação aumenta o valor das cotas por jogo: Cr$ 2 milhões a serem divididos para cada clube e mais Cr$ 400 mil a ser dividido entre todos os jogadores que estiverem em campo (o chamado direito de arena). Juntamente com a Globo (que contava com Luciano do Valle, Carlos Valladares, Juarez Soares e Roberto Cabrini), entram no pool de emissoras a Record (que tinha Silvio Luís, Luiz Alfredo, Pedro Luís, Milton Peruzzi, Flávio Prado e Eli Coimbra) e a Bandeirantes (que resolveu inventar o apresentador Nei Costa na função de locutor esportivo na tentativa de concorrer com Silvio Luiz da Record, deslocando o narrador titular Fernando Solera para outras modalidades). Até o recém-inaugurado SBT se interessou pela transmissão, mas propôs a federação em transmitir os jogos nas noites de sábado (21 horas) e nas manhãs de domingo (10h30) com exclusividade, mas por falta de patrocinador a ideia foi abandonada. Foi o que aconteceu em 24 de outubro com o jogo entre Guarani e XV de Jaú, que teve de ser adiado para o dia seguinte e a transmissão cancelada, deixando os dois clubes sem receber cota alguma. Teve que lançar mão de um procedimento muito comum nas emissoras da época: fazer o vídeo-tape dos jogos da capital todo domingo no encerramento da programação (a equipe era formada por Walter Abrahão, Sérgio Backlanos e Édson Bolinha Curi). Na última rodada do "Octogonal" do segundo turno, a Globo ofereceu Cr$ 5 milhões, incluindo o direito de arena, para transmitir o clássico entre Corinthians e São Paulo às 11 da manhã de domingo, mas a federação queria Cr$ 6 milhões e não houve acordo. Porém, por um erro de organização, a transmissão pela TV da última rodada deveria ter sido liberada, pois o "grupo branco" já estava definido: o São Paulo classificado e o Corinthians eliminado. Outro erro: na penúltima rodada, como liberaram a transmissão direta no meio da semana, dava muito bem pra federação atender a tal exigência do SBT e liberar uma transmissão exclusiva a emissora com o jogo entre XV de Jaú e São Paulo, enquanto que no dia seguinte a importante partida entre Ponte Preta e Santos seria exibida para Bandeirantes e Record, além de programar Palmeiras e São José num horário que não comprometesse a transmissão direta para a capital paulista.
Por fim, São Paulo e Ponte Preta, campeões em cada turno, decidiram o título paulista diante uma enorme platéia via televisão e isso não acontecia desde a final de 1978. Se o primeiro jogo só pôde ir ao ar em VT (sob incumbência das TVs Cultura e Gazeta), o segundo e decisivo jogo foi televisionado para todo o Brasil e inclusive para a capital paulista. A Rede Globo ofereceu Cr$ 15 milhões e conseguiu que os presidentes dos dois clubes (Jaime Franco do São Paulo e Edson Aggio da Ponte Preta) chegassem a um acordo, concordando com todas as exigências estabelecidas por ambos: Cr$ 7,5 milhões para cada equipe sendo Cr$ 2,5 milhões pelo direito de arena. A exclusividade Global pela transmissão do jogo foi consequencial e usou a final do Campeonato Paulista para "unir" a transmissão de outros dois jogos naquela mesma tarde de 29 de novembro de 1981: Tchecoslováquia e União Soviética pelas Eliminatórias da Copa do Mundo e um amistoso entre Corinthians e Deportivo Aurora da Guatemala, motivando uma chamada promocional veiculada no dia do jogo. As outras emissoras não ficaram de fora e exibiram o VT completo daquela decisão como faziam de costume: Cultura, Gazeta, Record e SBT. A Bandeirantes poderia também ter transmitido a final se empurrasse o Programa do Chacrinha uma hora mais tarde, mas manteve sua programação normal. A Ponte Preta foi o time que mais vezes apareceu com nove jogos transmitidos, seguido pelo São Paulo com oito, Guarani e Santos com sete, Corinthians com cinco, Palmeiras e São José com quatro, Botafogo de Ribeirão Preto com três, XV de Jaú e América de Rio Preto com dois e outros sete clubes (Portuguesa, Noroeste, Inter de Limeira, Taubaté, Francana, São Bento e Comercial) com apenas uma partida televisionada.
Nas transmissões dos jogos dos dois turnos do Campeonato Paulista de 1982, as TVs Record e Bandeirantes tinham que desembolsar Cr$ 3,6 milhões por jogo, sendo Cr$ 1,5 milhão para cada clube e mais Cr$ 600 mil como direito de arena a ser dividido entre os jogadores que entrarem em campo. E como as finais entre os campeões dos dois turnos Corinthians e São Paulo teriam casa cheia (no tempo em que o Morumbi tinha capacidade acima de 100 mil lugares), os dirigentes dos dois clubes e a Federação Paulista entraram em acordo e sem maiores dificuldades permitiram a transmissão dos dois jogos decisivos pelas redes Globo, Bandeirantes e Record para todo o Brasil inclusive para a capital paulista. A decisão custou Cr$ 60 milhões às emissoras de televisão e o custo foi dividido da seguinte maneira: cada time finalista recebeu a bagatela de Cr$ 24 milhões e todos os jogadores de ambas as equipes tinham que dividir o direito de arena de Cr$ 12 milhões.
Em janeiro de 1983, a Rede Globo investe Cr$ 1,5 bilhão num acordo de exclusividade com a CBF para a transmissão de partidas de 22 importantes clubes brasileiros no Campeonato Brasileiro de Futebol ao vivo às quartas e aos domingos, priorizando os jogos fora de casa por causa das normas restritivas (ainda existentes na época) que impediam a exibição direta para as localidades de onde estão acontecendo as partidas, caso houvessem mais jogos no mesmo horário. Os outros 22 participantes precisavam apenas autorizar as transmissões pela TV caso suas partidas tornem-se importantes no decorrer do campeonato.
Em 1984, com a mudança no regulamento da competição (sistema de pontos corridos em turno e returno), o interesse da televisão pelo Paulistão foi maior e a Federação Paulista instituiu uma novidade na aquisição dos direitos de transmissão: ofereceu um pacote de 22 partidas, sendo um por semana a ser transmitido ao vivo aos sábados à tarde de uma cidade do interior para a capital, por Cr$ 800 milhões. Esse montante foi dividido pela primeira vez em três cotas fixas por toda a competição e não mais por jogo, novidade na época: Cr$ 92 milhões foram oferecidos para São Paulo, Palmeiras, Corinthians, Santos e Portuguesa (que reivindicou sua entrada no grupo dos "grandes" pouco antes da negociação), Cr$ 40 milhões para Ponte Preta e Guarani e Cr$ 20 milhões para os 13 times restantes. O assessor da Federação Paulista Armando Ferrentini foi quem negociou o contrato às quatro emissoras: Bandeirantes, Globo, Record e SBT, onde cada uma pagou Cr$ 200 milhões. As transmissões só foram autorizadas a partir da segunda rodada, mas por causa das Olimpíadas de Los Angeles, a televisão passou a concentrar suas atenções no Paulistão da oitava rodada adiante, com a entrada do SBT (que começava a se enveredar pra valer na cobertura esportiva), cujas transmissões se diferenciava do pool gerador de imagens de Globo, Bandeirantes e Record (que utilizavam três câmeras em conjunto) com o uso de quatro câmeras próprias (duas na cabine de transmissão e duas móveis captando os detalhes dentro de campo) e por abrir as transmissões ao vivo meia-hora antes com um pré-jogo e encerrá-las meia-hora depois com uma mesa-redonda sobre a partida com a presença de convidados especiais. As chamadas da emissora na época anunciavam "um futebol dinâmico e diferente" e as transmissões eram intituladas com o pomposo nome de "Show Mágico do Futebol".
Durante todo o campeonato, o Corinthians teve mais jogos transmitidos com sete, seguido de Santos e São Paulo com seis, Palmeiras com cinco, América de Rio Preto e XV de Jaú com três, Marília, Comercial, Guarani, Santo André e XV de Piracicaba com dois e outros sete times (São Bento, Portuguesa, Taquaritinga, Taubaté, Botafogo de Ribeirão Preto, Ferroviária e Ponte Preta) com apenas um jogo televisionado. Na última rodada foi aberta uma exceção quando foi permitida a transmissão direta de um jogo realizado na capital para cumprir tabela, isso na véspera do jogo decisivo quando as quatro redes ofereceram Cr$ 120 milhões acumulados na venda de cotas de publicidade (Cr$ 50 milhões da Globo, Cr$ 45 milhões da Band, Cr$ 20 milhões do SBT e Cr$ 5 milhões da Record) para Santos e Corinthians dividirem, que disputavam o topo da tabela, para a transmissão ao vivo da "final", desde que também complementem a renda do total jogo caso todos os ingressos não forem vendidos, segundo cláusula contratual da Federação Paulista de Futebol. A renda do jogo foi de Cr$ 419.323.500 e para cobrir o valor total de Cr$ 438.195.000, as quatro redes tiveram que rachar Cr$ 18.871.500. O pool contou com duas câmeras da TV Gazeta de São Paulo que fez a imagem-base para Globo e Record, já que Band e SBT optaram em exibir o jogo com suas próprias câmeras.
A Rede Bandeirantes teve o maior arsenal para a transmissão do jogo: 220 profissionais, 12 câmeras espalhadas pelo estádio e mais a do helicóptero, uma equipe de nove repórteres na Região do Morumbi com Gilson Ribeiro, Eduardo Savóia, Elia Júnior e Roberto Cabrini, narração de Luciano do Valle, comentários de Juarez Soares e foi montado um telão num estúdio com a participação de convidados e ex-jogadores famosos como Clodoaldo, Rivellino e Casagrande, além do cantor Fagner e o ator Raul Cortez. A Rede Globo mobilizou 100 profissionais, seis câmeras se unindo a imagem-base gerada pela TV Gazeta, narração de Luiz Alfredo, reportagens de Roberto Thomé e Mário Jorge Guimarães e o intervalo de jogo teve o comando de Oliveira Andrade.
O SBT levou ao Morumbi 50 profissionais e 6 câmeras próprias, narração de Octávio Pimentel (o "Caboclão" que ficaria famoso pelos programas de música sertaneja na Rádio Tupi), comentários de Juca Kfouri (então diretor de redação da revista Placar) e reportagens de Jorge Kajuru, que era a grande estrela das transmissões e tinha o costume de presentar com uma cartela de salsicha ao melhor jogador em campo, mas no jogo-final premiou o melhor em campo com Cr$ 1 milhão em dinheiro vivo. No estúdio da Vila Guilherme, o jornalista João Zanforlin comandou um pré-jogo com os lances dos dois times durante todo o campeonato e o intervalo de jogo com os melhores lances do primeiro tempo. Após a partida, Kfouri comandou uma rápida mesa-redonda analisando a partida com os treinadores Carlos Castilho (Santos) e Jair Picerni (Corinthians). E a TV Record detinha a menor equipe no estádio, apenas 13 profissionais, sem contar com uma equipe de apoio de 16 pessoas no estúdio da emissora, três câmeras móveis se unindo com a imagem-base da TV Gazeta, narração de Silvio Luiz, comentários de Ciro José e reportagens de Flávio Prado e Eli Coimbra. No estúdio do Aeroporto, o também narrador Fernando Solera marcava o tempo da bola em jogo e o veterano José Luís Meneghatti apresentava os melhores lances da partida no intervalo de jogo. A partida rendeu uma audiência de 60 pontos acumulados das quatro emissoras segundo o IBOPE de São Paulo: 26 pontos da Globo, 13 da Bandeirantes, 13 da Record e apenas oito do SBT.
Para o Campeonato Paulista de 1985, as redes Bandeirantes, Globo, Record e SBT apostaram numa cobertura total e ofereceram à Federação Paulista de Futebol um contrato conjunto de Cr$ 2,7 bilhões pela transmissão ao vivo de 41 jogos dos dois turnos (nas tardes de sábado e nas manhãs de domingo). A exemplo do ano anterior, o montante seria dividido em três cotas: Cr$ 335 milhões para os clubes "grandes" (Corinthians, Palmeiras, São Paulo e Santos), Cr$ 220 milhões para o grupo dos times "intermediários" (Portuguesa, Guarani e Ponte Preta) e Cr$ 150 milhões para as outras 13 equipes participantes, sem contar mais Cr$ 100 milhões pela semifinal e Cr$ 300 milhões pela final (estes dois valores seriam divididos entre as equipes). O então presidente da Portuguesa, Oswaldo Teixeira Duarte, ficou descontente com as cotas de TV ao ver a sua Lusa colocada no grupo dos intermediários e reivindicava que seu clube fosse colocado no grupo dos "grandes", como havia acontecido um ano antes. Ele se negou em assinar o contrato com as emissoras e as proibiu de transmitir os VTs dos jogos da Portuguesa em prazo inferior a 72 horas (três dias) do final da partida, sujeitas a multa. Foi o que aconteceu com a Bandeirantes que foi multada em Cr$ 40 milhões por exibir um VT entre Santos e Portuguesa em 22 de setembro antes dos três dias exigidos. Ao todo, São Paulo e Palmeiras foram os recordistas de jogo exibidos pela TV com 10 cada um, Corinthians e Santos tiveram nove, seguidos de Guarani e Botafogo de Ribeirão Preto com cinco, Ponte Preta, América de Rio Preto, Comercial e XV de Jaú com quatro, Marília, Paulista de Jundiaí, Noroeste, Santo André e Ferroviária com três, São Bento e Inter de Limeira com dois e XV de Piracicaba e Juventus com apenas um.
Só que a Portuguesa tornou-se sensação da competição e foi decidir o título contra o São Paulo. O primeiro jogo não despertou interesse pois aconteceu no mesmo dia do sorteio dos grupos para a Copa do Mundo de 1986, mas a segunda partida em 22 de dezembro seria assunto nacional, só que o presidente da Portuguesa exigia o pagamento de Cr$ 485 milhões para a transmissão da decisão (Cr$ 150 milhões pela cota da partida e mais Cr$ 335 milhões pelo que teria deixado de receber durante toda a competição). As quatro emissoras concordaram em pagar uma compensação de valor que a Lusa deixou de receber durante todo o campeonato, só que a burocracia financeira só estava começando. O São Paulo queria a bagatela de Cr$ 400 milhões pelo jogo final (os Cr$ 150 milhões pela cota de transmissão e mais Cr$ 250 milhões pela liberação do sinal do jogo para todo o Brasil, dos quais Cr$ 150 milhões seriam pela presença em campo do jogador Falcão e Cr$ 100 milhões pelo direito de arena), exigia a presença da televisão ao vivo e ameaçou a entrar na Justiça e mover uma ação contra a Lusa por "perdas e danos". A proposta tricolor foi aceita pela Globo e propôs em transmitir a final também para a Europa através da Telemontecarlo, do Principado de Mônaco, de quebra ofereceu à Portuguesa Cr$ 15 milhões para liberar a imagem da final à emissora européia. Só que os dois clubes exigiram um valor total de Cr$ 885 milhões para transmissão ao vivo do jogo decisivo, até mesmo pela liberação do vídeo-tape do jogo, e se mostraram intransigentes com as negociações sem efeito das quatro emissoras de TV, que tentaram num último esforço oferecer Cr$ 360 milhões para a Lusa (Cr$ 150 milhões da cota e mais Cr$ 210 milhões de compensação pelo que deixou de receber durante todo o campeonato) e Cr$ 150 milhões para o São Paulo (apenas o valor da cota do jogo), mas a Portuguesa foi irredutível. Uma última proposta foi feita pela televisão como tentativa final de completar os Cr$ 335 milhões que a Portuguesa estava exigindo: mais Cr$ 125 milhões em forma de espaço de publicidade para serem utilizados como bem entendesse para completar o valor. Negócio negado. O segundo jogo começou com 18 minutos de atraso porque as emissoras tentaram oferecer os Cr$ 485 milhões que o presidente da Lusa estava exigindo, mas sem sucesso, ele recusou a oferta de última hora. A expectativa de liberação do sinal do jogo pela televisão em decisão de última hora acabou frustrando os telespectadores, porém, as emissoras eram autorizadas a emitirem apenas três minutos de imagens do jogo como material jornalistico. Em conseqüência, os jogadores da Portuguesa deixaram de dividir entre si Cr$ 50 milhões de direito de arena, enquanto que os jogadores do São Paulo receberiam Cr$ 150 milhões de bicho (no segundo jogo, o São Paulo deixou de ganhar Cr$ 80 milhões e a Lusa, Cr$ 96 milhões).
Por 30 anos, as regras restritivas da CBF assombraram os interesses da TV brasileira pelo futebol. Até o fim dos anos 80, era estritamente proibido o televisionamento de futebol na cidade onde ocorria uma outra partida no mesmo horário e isso durou até 1987. Fique sabendo os motivos que levaram a TV brasileira a essa tal conquista na próxima postagem. Continuem atentos!