HISTÓRIA: Semana Maldita na Globo

© Grupo Folhas - Todos os Direitos Reservados Quem viveu o ano de 1990 , seja criança ou adulto, sabe que a grande atração televisiva daquel...

quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

HISTÓRIA: TV Jovem Pan


Alguém já ouviu falar que a Jovem Pan, nome renomado no rádio brasileiro, já se aventurou no ramo da televisão? Pois é, vejam só o que eu encontrei nos acervos de jornais online à respeito dessa empreitada que teve vida curta.
A Rádio Jovem Pan de São Paulo obteve concessão de canal de televisão outorgada em 1987 pelo então presidente José Sarney para os empresários João Carlos Di Gênio, Fernando Vieira de Mello e Antônio Augusto Amaral de Carvalho.
A Televisão Jovem Pan canal 16 UHF era para entrar no ar em caráter experimental em outubro de 1990, mas problemas técnicos fizeram adiar suas transmissões de teste em janeiro de 1991 com emissões diárias do meio-dia à meia-noite, numa época em que haviam na região da Grande São Paulo 1,6 milhão de receptores UHF. Foram investidos 30 milhões de dólares na aquisição de modernos equipamentos em tecnologia digital, algo inédito no Brasil: antena transmissora Dieletric Comunications avaliada em 8 milhões de dólares instalada na torre do SENAI (com iluminação especial meteorológica) na Avenida Paulista com potência de 60 kw, transmissão em som estéreo e polarização elíptica cujo sinal era captado num raio de 50 km, três antenas receptoras com memória automática de sintonização instaladas na Avenida Paulista (transmissor principal), Pico do Jaraguá e Barra Funda (antenas receptoras), 36 câmeras digitais de vídeo sem fio Sony Betacam, 12 ilhas de edição digital D-2 com recursos variados, 37 aparelhos de vídeo-tape formato Beta, três conjuntos digitais de gravação de vídeo para pós-produção, uma cartucheira Betacard automática e computadorizada para o controle de inserção de chamadas e comerciais, um computador gráfico (DVE - Digital Video Effect) com sistema de pintura eletrônica de imagens (Pen System) e arquivo de imagens estáticas (slides de fotos), três câmeras de estúdio Bosch-Philips, 10 veículos para as equipes de reportagens externas, nove vans Ibiza adaptadas como unidades móveis de reportagem e entradas ao vivo, equipadas cada uma com duas câmeras digitais, microlink computadorizado com sistema direcional automático de microondas com transmissor elevado por um mastro telescópico de 10 metros direcionado para as três antenas transmissoras e receptoras e mais um ônibus abrigando uma estação móvel de transmissão (muito utilizado para eventos esportivos) com oito câmeras, duas ilhas de edição, switcher, mesa de som com 26 canais, dois geradores de caracteres, equipamentos de VT para slow-motion simultâneo, um computador gráfico e um link para transmissões via-satélite. Não tinha pra ninguém termos tecnológicos, como também não era pra desperdiçar tamanho arsenal eletrônico.
Seu projeto era adotar no Brasil a mesma estrutura de programação da rede norte-americana CNN (Cable News Network) com módulos de tempo de arte (duração aproximada de 30 minutos) comandados por âncoras em sistema de revezamento de horários com 60% de notícias recicladas e 40% de notícias novas com informações inéditas, instantâneas, repercussão dos fatos e prestação de serviços, ou seja, era se tornar um canal 100% jornalístico com uma grade dividida em noticiários, debates e programas de entretenimento em 16 horas de programação diária contando com a contratação inicial de 200 profissionais para a redação de jornalismo, cuja infra-estrutura mobilizava 156 funcionários. Seu slogan era "Jovem Pan TV, o canal da informação". Em investimento total de 10 milhões de dólares, transforma um antigo laboratório de cinema, no bairro da Barra Funda, localizado na Rua da Várzea, 240, em um edifício de três andares num terreno de 3.850 m² com revestimento acústico em dois dos quatro estúdios da emissora, com área de 500 m² cada um e de uso exclusivo para o telejornalismo, os outros dois foram destinados as etapas de edição e pós-produção dos programas.
O Plano Collor II e a recessão econômica adiaram o lançamento oficial da emissora, ocorrida em setembro de 1991. 40% de suas ações são repassadas ao Grupo IBF (após a saída repentina de Fernando Vieira de Mello), acumulando um valor equivalente a 9,7 milhões de dólares e sua direção era composta por Alberto Luchetti, Narciso Kalil e José Galvão França. Já inicia suas atividades com canal próprio de satélite via Brasilsat e 30 retransmissoras pelo interior paulista. No planejamento de programação, contava com um filme de longa-metragem por semana todas às sextas-feiras, uma série de documentários institucionais franceses, japoneses e alemães (cedidos em consulados) ao longo do dia, entrevistas num certo "Programa JP" com Fernando Zamith, vídeo-clipes musicais no programa "Parada Obrigatória", transmissões de futsal, vôlei e basquete, o musical "Traditional Jazz Band", dois jogos de futebol por semana com quatro horas de duração (com entrevistas antes do jogo, flagras nos vestiários no intervalo e o balanço final), um telejornal comunitário com uma hora e meia de duração intitulado simbolicamente de "São Paulo" apresentado pela dupla de ex-repórteres Globais Fábio Pannunzio e Bianca Vasconcellos e uma mesa-redonda de futebol às segundas-feiras com cinco horas de duração chamado "No Pique da Pan" apresentado pelo radialista Wanderley Nogueira. No campo do esporte, realiza a transmissão, entre outros tantos do Campeonato Metropolitano de Futebol de Salão, do Campeonato Sul-Americano de Vôlei, do Campeonato Paulista de Futebol, do Campeonato Estadual de Basquete Feminino, de Vôlei Masculino e do Campeonato Argentino de Futebol com exclusividade utilizando um recurso inédito: o canal de áudio principal com os comentários de Flávio Prado e o segundo canal (disponível na tecla SAP em televisores estéreo) com a narração original dos jogos em castelhano. Em 1992, gerou as imagens para a Rede OM e TV Gazeta dos jogos do São Paulo na primeira fase da Copa Libertadores da América.
A equipe esportiva era toda vinda do rádio transposta para a televisão, nomes como Milton Neves, Edemar Annuseck, Milton Leite (narradores), Orlando Duarte, Roberto Pétri, Vital Bataglia (comentaristas), Wanderley Nogueira, João Monteiro de Carvalho, Marcos Isoppo Garcia, Flávio Prado (repórteres), entre outros. O que era para ser um canal de notícias, na prática a TVJP acabou se tornando um canal de esportes.

Estrutura de Programação:

Seg/Sexta:
09h55 - A Palavra de Deus
10h00 - Telecurso 2º Grau
10h15 - Documentários
12h00 - VT Esportivo
14h00 - Documentários
18h00 - Programa JP
19h00 - São Paulo - telejornal
20h30 - No Pique da Pan (segunda), Evento Esportivo - ao vivo (terça e quinta), Traditional Jazz Band e Parada Obrigatória (22h00, quarta), Parada Obrigatória e Filme de Longa-Metragem (21h30, sexta)
Fechando a programação (sem hora pra começar) - Documentários

Sábado:
09h55 - A Palavra de Deus
10h00 - Telecurso 2º Grau
10h15 - Documentários
12h00 - VT Esportivo
14h00 - No Pique da Pan - pré-transmissão
16h00 - Eventos Esportivos - ao vivo
20h00 - Senai
20h30 - Parada Obrigatória Especial
22h30 - Traditional Jazz Band
24h00 - Documentários

Domingo:
08h00 - Anunciamos Jesus
08h30 - Documentários
12h00 - Esporte - VTs e/ou transmissões ao vivo
22h00 - Documentários

Em junho de 1992, toda essa euforia leva uma tremenda ducha de água fria: a TV Jovem Pan sofre CPI que averígua irregularidade na formação do grupo que montou a emissora, como o desvio de dinheiro feito pelo Grupo IBF. A emissora tem o pedido de afastamento do dono do grupo, Hamilton Lucas de Oliveira, pela CPI, acusando-o de relacionamento de sigilo bancário sobre atividades de PC Farias. A família Carvalho, imediatamente, abandona a sociedade proibindo o uso da marca Jovem Pan e suas ações foram passadas ao Complexo de Ensino Objetivo em 1994.
Com gastos anuais de 5 milhões de reais, sofre inevitável crise financeira: seu prejuízo é de 3,6 milhões de dólares e ocorre atraso no pagamento de salários e do 13º de dezembro passado. Apesar dos contratempos, João Carlos Di Gênio, presidente do Grupo Objetivo, insiste em manter a emissora no ar e assim em 1995, o canal 16 de São Paulo é rebatizado de CBI (Canal Brasileiro da Informação), que por 10 anos seguidos seria arrendada pelo Grupo Shop Tour que dominaria cerca de 22 horas de programação. Os estúdios da Barra Funda seriam logo adquiridos pela Rede Record e sua minguada programação seria gerada dos estúdios da UNIP (Universidade Paulista), mas isso é uma outra história.