HISTÓRIA: Cidade Contra Cidade - 56 Anos

Eu fiquei emocionado Naquele domingo à tarde Quando assisti ao programa Cidade Contra Cidade (...) Carlos Cezar, José Fortuna e Valentino Gu...

quarta-feira, 23 de maio de 2018

FICÇÃO: A Melhor Copa de Todos os Tempos - 3ª Parte

Pouco antes do meio-dia, eu estava de volta ao hotel e Brutus estava a minha espera lá na portaria como combinado. Ele queria dar um passeio comigo pelas redondezas para acalmar seus ânimos para o início das oitavas-de-final da Copa do Mundo. Era 2 de julho e o Brasil ia jogar naquele dia contra a Suécia em Samara! Pegaríamos um avião à tarde para nos dirigirmos ao local da partida em 1 hora e 40 minutos de viagem. Enquanto isso, Brutus abria o coração comigo durante a caminhada:

- Olha Renê, eu estou adorando essa viagem pra assistir a Copa. Só que hoje, quando eu acordei, senti um pouco de dor aqui no peito. Acho que meu coração deu um treco por causa do jantar de ontem. Tô pensando em não ver esse jogo com você no estádio, até porque quem perder agora pega o vôo de volta pra casa. Quero me precaver de uma derrota do Brasil.
- Não Brutus, não me deixe! Assistindo os jogos nós dois juntos, o Brasil sempre ganha. Até porque esse jogo deve ser observado também pelo seu aspecto sócio-político!
- Como assim, aspecto sócio-político?
- O senhor não foi cabo do exército, chefe de segurança do Geisel, e que queria ter sido um coronel repleto de medalhas no peito? Lembre-se que no seu tempo, os militares combatiam os comunistas. Os comunistas eram taxados de subversivos e a pornografia era uma forma de subversão. A Suécia é o país que mais produz filmes de sacanagem e material do tipo para o mundo, a pornografia era “coisa de comunista” e o comunismo era inimigo público nº 1 da ditadura.
- O que você disse? – disse Brutus me pegando pela camisa
- Quer dizer, inimigo da Revolução de 64.
- Ah, bom! Não admito que aquela época seja chamada de ditadura, era o governo da Revolução. Nós combatíamos os comunistas subversivos na base da tortura. Eles queriam uma nação dominada pelo anarquismo. Eu integrava o SNI e pra arrancar revelações importantes de comunista, era tortura na certa! Se não, a gente eliminava o “camarada”. Você sabia que esse termo “camarada” era muito usado pelos comunistas?
- Essa eu não sabia. Mas você sabe o risco que você corre. Acho melhor você correr o risco mais por essa questão histórica do que pelo próprio futebol.
- Quer saber, você tem toda razão – diz Brutus parando a caminhada


Eu e Brutus estávamos nas arquibancadas da Arena de Samara assistindo mais uma partida da Seleção na Copa. Brasil e Suécia estavam em campo. Nossa Seleção retoma a formação titular, só que desfalcada de Neymar, suspenso por três partidas (só voltaria se a Seleção estivesse nas semifinais). E o Brasil só conseguiu fazer um único gol no primeiro tempo: Cobrança de falta para o Brasil bem longe da grande área. Marcelo cobra lançando a bola na área e William de cabeça abre o placar aos 28 minutos. Brasil 1x0. Jogadores e torcedores comemoram. Terminado o primeiro tempo, Brutus comentou comigo o magro placar:
- O jogo tá meio parelho, mas fazer o quê? Subversivo é duro na queda!
Começa o segundo tempo e o Brasil fez uma atuação de gala! Aos 5 minutos, a equipe sueca erra um passe perto do meio-campo, Paulinho recebe, domina e passa no meio para Philipe Coutinho. Ele arma o contra-ataque e vê Gabriel Jesus livre de marcação pedindo pra receber a bola com boas condições de tentar uma finalização. Só que, mesmo com vários suecos à sua frente armando a marcação da defesa, Gabriel decidiu dominar a bola mais um pouco e arriscar um chute de fora da área e acertou uma bomba no ângulo contra o goleiro Robin Olsen. Brasil 2x0.
- Isso é que é tática! Infiltra um espião no meio desses subversivos e depois manda uma bomba, isso sim é que é tática!
Faltando dez minutos para o fim do jogo, a equipe sueca estava desnorteada e perdida, não acompanhava o ritmo dos brasileiros. Estava sem rapidez, sem entrosamento e sem tramar as jogadas direito. Brutus ironizou a equipe sueca:
- Esse timinho sueco parece o pessoal da esquerda! (seguido de uma sonora risada)
Logo, Taison (que entrou no lugar de Casemiro) arma a jogada na direita cercado por um marcador adversário. Sem espaço cruza na área e Gabriel Jesus corre de trás da defesa sueca e empurra a bola pra dentro do gol adversário. Brasil 3x0 Suécia:
- Contra comunista, não adianta querer enfeitar, tem que jogar duro!
Terminada a partida. Consegui reanimar Brutus e ele comenta sobre a grande vitória brasileira:
- Aí, Brutus, que atuação de gala da Seleção, hein?
- Nada como um belo massacre para tirar a mancha dos outros jogos! – responde Brutus emendando com um desabafo – Seus punheteiros! Voltem pra Estocolmo!
A “goleada” brasileira fez o Brutus recuperar sua auto-estima. E como o Arena de Samara era a alguns quilômetros a um parque de diversões, não pensei duas vezes e decidi convidá-lo para ir comigo se divertir a valer. Logo, descobri que Brutus era doido por parque de diversões e esse parque ficava aberto até a meia-noite. Mas para comemorar a vitória brasileira sobre os suecos, nada melhor do que andar de montanha-russa. Na verdade, uma super montanha-russa que era a grande atração daquele parque. Sabia que aquilo era um pouco perigoso para o coração dele, mas nós fomos naquele brinquedo três vezes! E por sugestão do Brutus, pois cada vez equivalia a um gol do Brasil marcado naquele jogo. Gostei bastante de ir naquele brinquedo, mas o Brutus gostou mais ainda e não sentiu nada! Se sentiu melhor ainda! E eu, coitado, tive um ataque de vômito, mas logo me recuperei. E a diversão não tinha terminado. Continuou até tarde da noite no apartamento quando voltamos pra Moscou, no habitual jogo de cartas. Brutus, como sempre, estava ganhando de mim. Quando começamos mais uma rodada na calada da madrugada, ele arriscou uma pergunta para mim:
- Oh, Renê, qual é o segredo de você querer sempre ficar com alguma mocinha antes de cada jogo do Brasil? É alguma superstição?
- O que você acha?

Trinta e duas seleções iniciaram a Copa e agora só restavam oito. A imprensa internacional criou expectativa em torno de Portugal e Argentina, tido como o grande clássico das quartas-de-final. Afinal, era o duelo entre os dois maiores astros do futebol mundial: Cristiano Ronaldo e Lionel Messi. Os outros jogos eram entre Brasil x Senegal, Espanha x França e Alemanha x Inglaterra. Véspera do confronto contra os africanos, Brutus passa os olhos na seção de classificados do jornal Gazeta Nacional e me mostra um anúncio bem peculiar, todo cor-de-rosa:
- Renê, dá uma olhada aqui! (Brutus lê o anúncio) “Tenha uma grande noite de prazer mais inesquecível de sua vida com Lígia, a francesa mais sensual do mundo. Ex-profissional de bordel, ex-vedete de teatro de revista, ex-stripper e agora disposta a tudo, inclusive para turistas, nesta nova empreitada” (Brutus termina de ler e se dirige a mim) Ó aí Renê, você não quer fazer sua parte e ajudar o Brasil a ganhar daqueles negões? Porque você não marca um horário com ela?
Eu me entusiasmei imediatamente. Peguei meu smart-phone, liguei pra ela, tomei nota e marquei horário com ela que, com sua doce voz e sotaque francês, se dizia parecida com a Brigitte Bardot, tinha cabelos dourados, pele aveludada, corpo cheio de curvas e seios naturais. Disse também que não fez lipo e tampouco pôs silicone. Metabolismo perfeito, genética idem. O encontro foi marcado naquela mesma noite, lá pelas dez horas. Peguei um uber e cheguei ao local onde morava essa Lígia. Fiquei impressionado quando cheguei em frente à casa dela, e não era uma casa qualquer, era uma mansão! Um verdadeiro palacete de ouro nas adjacências de Moscou. Foi aí que eu descobri que ela era uma prostituta de luxo. Toco a campainha e... surgiu aquela formosura de mulher, formosura é pouco, gostosura de mulher, ou melhor, um colosso de mulher (obrigado, Fagundão). Me cumprimentou, pegando a minha mão me fazendo entrar na casa dela e foi aquela troca de elogios. Mas, desconfiada, pediu meu RG para se certificar que eu era maior de idade:
- Uh, lalá! Só 25 anos? 'Aparrenta' menos, mon cherri!
- É o que todos dizem. Muitos acham que eu ainda nem completei 18 anos, sabia?
- Foi o que eu imaginava também. Não 'acrredito' que você é 'brrasileirro'! De 'brrasileirros' que 'vierram' 'parra' cá, 'erram' gente desdentada, 'fedorrenta', ouviam funk e não tinham o menor respeito comigo. Os únicos homens que me 'fascinarram' até 'agorra' 'forram' os 'grregos' e os italianos.
- É, eles são muito boas-pintas mesmo, mas não tão na Copa!
- Eu 'crreio' que a gente vai se entender muito nesta noite – diz Lígia desligando seu smart-phone – A partir de 'agorra' não tô 'prra' ninguém. Sou todinha sua e você está todinho 'parra' mim.
Aí então, ela tira seu penhoar e mostra seu corpo nu a mim. Pelas barbas dos filhinhos! Pelo amor dos seus profetas! Santa, exuberância, Batman! Era muita areia pro meu caminhão!
- Ué, que 'carra' é essa? Nunca viu uma mulher sem roupa antes? – pergunta Lígia
- Confesso não estar preparado para você mostrar agora sua fartura de atributos. Bem na entrada – digo gaguejando aos poucos
Lígia me envolve em seus braços e diz:
- Não se iniba, nossa noite está apenas começando. Você me deixou toda arrepiada com esse seu jeito 'sincerro', honesto e acanhado – conclui Lígia emendando com um beijo molhado em mim
Vou revelar uma coisa que ninguém sabe: broxei por alguns instantes, mas quando comecei a sentir as curvas daquela perfeição escultural e seus ronronares contínuos no meu ouvido... Catuaba! Fiquei completamente seduzido por ela. E ela ficou mais ainda comigo. Literalmente, com muito prazer, virei a noite com a Lígia e acabei dormindo com ela, de tão cansados que estávamos de uma longa madrugada de, repito, muito prazer. Gastei uma boa grana, mas valeu a pena. Ela se assanhou mais um pouco comigo e me levou pra tomar banho com ela. Mas como a mansão era chique demais, tomei banho de banheira pela primeira vez na vida, com direito a espuma e sais de banho! Mas não foi um banho qualquer. A Lígia me serviu o café da manhã lá mesmo, mas um café da manhã de grã-fino e olha que ela não dispensava uma porção de cereal com aveia e granola e uma vitamina de frutas.


6 de julho. Chegou a hora de ir ao estádio. Brutus ficou sabendo que tinha um ônibus lá perto do Golden Ring Hotel que ia levar um grupo de torcedores senegaleses a Kazan de graça para tomar um avião fretado para atravessar 1 hora e 30 minutos de viagem e ver o jogo Brasil x Senegal! A fim de economizar uns trocados, Brutus me convenceu de pegarmos carona naquele ônibus que tinham dois lugares vazios, desde que estivéssemos disfarçados. Ele vestiu um chapéu, óculos escuros e um paletó pastel e de quebra, me arrumou outro chapéu, bigode postiço e um sobretudo para esconder meu uniforme de torcedor. Foi constrangedor pegar uma carona com os inimigos para ver o jogo do Brasil pelas quartas-de-final. Mas valeu a pena pegar o trajeto com eles. A Arena Kazan, local de Brasil e Senegal, era, de longe, o estádio mais moderno, o mais seguro e o que tem a melhor visão do campo nos seus confortáveis assentos. Eu e Brutus já estávamos sentados nas arquibancadas do estádio vendo o jogo entre Brasil e Senegal e a torcida russa se divide entre brasileiros e a sensação africana, o Senegal, que eliminou a fortíssima Bélgica nos pênaltis. O goleiro N'Diaye foi o herói daquele jogo ao defender um pênalti cobrado pelo cabeludo belga Felaini. O jogo prometia ser aberto, os brasileiros, ainda desfalcado de Neymar, crescendo no torneio e os senegaleses jogavam um futebol alegre  e bem aberto que contagiou toda uma nação. Seu ataque era perigoso com toques rápidos e conclusões precisas. Só que eles não sabiam que havia uma muralha pela frente.
Primeiro tempo, Marquinhos toca pra Renato Augusto cercado por dois marcadores senegaleses, passa para Danilo na direita. Ele cruza, N'Diaye sai e rebate a bola, só que a sobra fica com Philipe Coutinho que chuta forte, mas N'Diaye defende em dois tempos. Ataque do Senegal pela direita, lançamento e chute que bate na marcação brasileira, Gassama aproveita a sobra e Alisson afasta a bola, colocando para escanteio. Outro lance de ataque senegalês: ataque pela esquerda, Manè, marcado por Casemiro, passa para Gassama na cara do gol. Na hora da conclusão, Alisson rebate a bola e quando Manè se aproxima para aproveitar o rebote, Alisson agarra a bola no meio da dividida. E quando faltavam seis minutos para o fim do primeiro tempo, a Seleção começou a ganhar o jogo. Era o que eu imaginava nas arquibancadas, mesmo sabendo que ainda tinha um segundo tempo pela frente. Renato Augusto chuta forte a bola do campo de defesa para o ataque. Muitos sobem para ganhar a bola, mas Gabriel Jesus recebe na entrada da área mesmo marcado por dois africanos. Ele chuta e N'Diaye põe a bola para escanteio do lado direito de sua meta. William vai para a cobrança de escanteio, muitos jogadores esperam o lançamento na área, só que sua cobrança fechada faz uma curva que ninguém esperava, ela toca de leve na trave direita e entra para o gol senegalês, deixando N'Diaye perplexo, sem entender nada. Jogadores brasileiros correm para abraçar William e a torcida vibra com um gol olímpico do Brasil. 1x0. Eu festejo com Brutus nas arquibancadas:
- É um gol olímpico! Que maravilha! Um gol olímpico!
Como eu vibrei com esse gol. Não era toda hora que a gente via um lance daqueles. Na Copa do Mundo então, ainda mais se o gol olímpico for do Brasil! O segundo tempo estava reservado para fortes emoções. E a estrela de Renato Augusto começou a brilhar. O meio-campo africano começou a esbarrar nele que mostrou o seu lado raçudo. Lançamento para Mboji que tenta enfiar o ataque pelo meio, mas Renato Augusto se antecipa e desarma a jogada. Outro ataque de Senegal, mas pela direita, um passe longo para Gassama que recebe mesmo marcado por Renato Augusto que desarma outra bola africana após fazer um choque de corpo com o mesmo Gassama. O juiz prossegue a partida. Outra posse de bola para Senegal, passe para Mboji marcado por Renato Augusto. Mboji é derrubado no momento em que o brasileiro fazia o desarme no contrapé. O árbitro marca falta para Senegal na entrada da área e mostra cartão amarelo para Renato. Brutus elogia a atuação do jogador até aí:
- Esse cartão tem importância não, juizão! Esse Renato é meu ídolo! Ele tá mostrando pra essa criolina quem manda no jogo!
Manè cobra a falta, mas Alisson faz uma excelente defesa. Os senegaleses mostravam muito perigo, mas os brasileiros tiveram também suas tentativas de gol durante o segundo tempo. Paulinho toca para Marcelo na esquerda, ele se livra da marcação e cruza pra Philipe Coutinho que chuta pra fora, mas sofre uma dividida do goleiro N'Diaye e de um zagueiro adversário. Danilo domina a bola na direita, escapa do marcador e está livre pra cruzar. William sobre para cabecear o lançamento, mas N'Diaye afasta a bola para a linha de fundo. Marcelo domina a bola na esquerda, faz um passe longo para Philipe Coutinho que chuta com toda a força e N'Diaye defende sem complicações. Após o lance, o atacante brasileiro sente dores na perna tamanho esforço e balança a cabeça dizendo que não dá mais pra continuar em campo. Coutinho gesticula para sair de campo e Roberto Firmino se aquece na beira do gramado recebendo as instruções de Tite. Firmino entra no lugar de Philipe Coutinho, que sai de campo aplaudido pela torcida, aos 33 minutos do segundo tempo.
O jogo fica cada vez mais dramático e Senegal tem a posse de bola, Manè domina na meia, mas esbarra em Renato Augusto que domina a bola para o Brasil e inicia a jogada. Ele toca para Fernandinho, que também entrou em campo no segundo tempo, encontra um espaço no meio-campo senegalês, devolve pro Renato que está cara a cara com o goleiro N'Diaye que sai desesperado de sua meta. Renato encobre o goleiro e marca um belíssimo gol! Brasil 2x0, aos 36 minutos da etapa complementar. Renato corre para abraçar Tite e a torcida brasileira vibra sem parar pelo segundo gol. Faltavam agora cinco minutos para o fim do jogo. E nova posse de bola do Brasil no campo de ataque, Marcelo toca pra Paulinho na esquerda, ele limpa o marcador africano três vezes e na tentativa de driblar um marcador na entrada da área é derrubado. O juiz marca pênalti. Após cair na área, Paulinho encara o senegalês de forma ameaçadora e o árbitro mostra cartão amarelo ao brasileiro por indisciplina e ao africano por cometer a falta. Na cobrança de pênalti, ouve-se um forte trovão no estádio, parecia que a Seleção aprendeu fazer a "dança da chuva" melhor que muito africano por aí, era o nosso time fazendo chover em Kazan! O mesmo Paulinho chama a responsabilidade e pede pra bater, cobra com perfeição e amplia a vantagem: Brasil 3x0. Instantes finais da partida, a chuva começa a apertar, bola recuada para Gassama que é marcado por Renato Augusto. O senegalês não domina a bola direito e recebe uma falta dura do brasileiro. Como estava pendurado com amarelo, ele acabou sendo expulso de campo e ironicamente aplaude a decisão do árbitro, mas sai aplaudido como herói pela torcida brasileira. Último lance do jogo, escanteio da esquerda para Senegal. Todo o time vai para a área e até o goleiro N'Diaye abandona a meta para ajudar o ataque de sua equipe, demonstrando que o time africano era brioso e quer se despedir da Copa com a cabeça erguida. Escanteio é cobrado em direção à área, Alisson estica os braços para rebater a bola que para nos pés de N'Diaye. Ele domina matando no peito, limpa o zagueiro Miranda e chuta forte na beira da área. Só que a trave esquerda salvou a vitória do Brasil. Após o lance, Brutus sente uma forte dor no peito, eu achava que ele iria ter um enfarte. O juiz encerra a partida e o Brasil estava classificado. Eu, preocupado, tentava reanimá-lo:
- O que aconteceu Brutus? Tudo bem com você? Acabou o jogo! O Brasil é semifinalista! Brutus, o Brasil ganhou de Senegal!
Em meio a comemoração dentro de campo e nas arquibancadas, eu ofereço uma garrafinha de água para Brutus se recuperar das dores cardíacas:
- Tó um pouco de água Brutus, pra você se recuperar!
Após alguns goles, ele logo se recupera e fica felizão com a classificação brasileira para as semifinais:
- Voltem pra aldeia, pretoria! Pra ser campeão da Copa, é preciso jogar futebol de macho! E só nós sabemos jogar desse jeito!

Na saída do estádio, enquanto diversos torcedores saíam berrando nas ruas debaixo de muita chuva, Brutus comenta comigo a melhor maneira da gente comemorar a classificação do Brasil para as semifinais:
- Essa vitória foi inesquecível, hein Renê?
- Histórica, emocionante e um tanto dramática ao mesmo tempo!
- Isso merece uma comemoração especial! Nós vamos pra uma casa de massagem!
- Massagem cardíaca? Deve ser o treco que você teve no final do jogo.
- Não, não, não. Não tô falando de uma simples casa de massagem, mas de uma casa de massagem de verdade. Aquela que...
- Mas seu coração não te deixa fazer esse tipo de coisa! Ou seria outra parte do corpo?
- O quê?! – diz Brutus intrigado – Tá me chamando de velho, rapaz? Nós vamos é agora pra melhor casa de massagem dessa região! Vou te mostrar do que esse militar aposentado ainda é capaz! Ou eu não me chamo Brutus –  diz ele chamando um táxi
O que o Brutus estava dizendo é que ele queria comemorar a vitória do Brasil sobre Senegal em grande estilo, no melhor bordel da cidade. Nós fomos até o local e Brutus estava entusiasmado. Lá, as moças usavam sobre o corpo apenas parte das bandeiras dos países participantes da Copa e Brutus escolheu duas loiras parecidas com a Marilyn Monroe, ambas com a bandeira do Brasil, com belos “pulmões”. E para atender os meus serviços, tive que me contentar com uma de várias chicanas, a que eu escolhi usava uma bandeira do México, e que chicana! Era bem o estilo latino-americano, caliente! Ela também tinha seus “pulmões”, mas não vou entrar em detalhes. Duas horas depois, eu já estava de volta no saguão do bordel, um pouco mais relaxado por sinal. Só que nada do Brutus aparecer. Acreditava que ele teria um peteleco numa artéria, enfarte fulminante e empacotava de vez. Tive que esperar por ele, pra ser preciso, por mais 1 hora e 50 minutos! Quando voltou, parecia estar bem rejuvenescido:
- Você não era um pouco cardíaco, Brutus?
- Não seja imbecil, Renê! – retrucou Brutus – Sabe quantas vezes eu gritei “Vai que é tua Alisson!”? Seis vezes! (risos)
- Vamos voltar pro hotel.
- Um minutinho –  Brutus se dirige ao bar do bordel e pede ao garçom, em inglês, uma dose de uísque – Waiter, a shot of whisky for me, please!
- Brutus, você não tá sentindo mais nada, mesmo?
- Acabei de passar pela fonte da juventude, meu filho! Me sinto 30 anos mais jovem depois dessa “suruba animal”! (risos)


Aquela noitada acabou subindo a cabeça de Brutus e no dia seguinte, gastou todo o pouco crédito que tinha direito, ainda pegou meu cartão emprestado e gastou quase tudo para ficar mais apresentável. Cortou o cabelo, fez a barba, tingiu o cabelo, fez as unhas e o pé num salão de beleza de Moscou. Uma limpeza geral. E isso era pouco. Ele ainda comprou algo mais confortável para se vestir: um smoking completo com uma gravata verde-amarela e um par de sapatos italianos. No fim das contas, nós ficamos sem dinheiro, quer dizer, o Brutus virou um pobre chique. Quando entrou no hotel, Brutus ainda se sentia 30 anos mais jovem e sua elegância acabou chamando a atenção das outras pessoas, imaginando que ele fosse um refinado milionário ou coisa parecida. Até que de repente... uma senhora nada atraente se sentiu atraída pelo novo Brutus. Era viúva de um bicheiro, tinha 55 anos, quase 100 quilos e mais de 200 milhões no banco. Seu nome: Bernadete. Ela não se conteve e começou a puxar conversa com ele:
- Com licença, o senhor vem sempre aqui?
- Não, estou hospedado desde quando a Copa começou – responde Brutus sem demonstrar o menor interesse pela mulher
- E o senhor trabalha em quê?
- Eu sou... Eu sou... Sou um desembargador da Justiça. E nas horas vagas... Eu pinto.
E ele não estava mentindo. Ele havia pintado a fachada da casa de um amigo dele muitos meses antes de viajar comigo para ver a Copa. A do desembargador foi pura invenção.
- Estou muito impressionada! – diz Bernadete – Você não se importaria em me levar para conhecer seu apartamento?
Pois é! A notícia de que o Brutus era grã-fino logo se espalhou no hotel e todos por lá passaram a tratá-lo melhor. Ela fez questão de conhecer o quarto onde nós estávamos hospedados. Foi então que, enquanto eu assistia Alemanha x Inglaterra pela TV, presenciei pela primeira vez o Brutus de cara nova, contrastando com a imagem de militar aposentado, carrancudo e encardido que tinha, com sua suposta candidata ao matrimônio:
- Olá Alex, demorei?
- Bru... Brutus, o que houve com você? – digo meio surpreso com o que vê
- Como assim, Brutus? – indaga Bernadete
- Brutus é o meu apelido! Meu sobrinho, quando era pequeno, achava que eu era muito parecido com aquele personagem do Popeye. Isso quando eu usava barba.
- Ah, então esse é o seu adorável sobrinho que você estava me falando?
- Sobrinho? Dele? – pergunto – Ora, que história é essa de... (sou interrompido quando Brutus pisa no meu pé e pisca pra mim)
- Aaaaaaaiii!!! Tá bom tio, tá bom tio!
- Eu trouxe ele par ver a Copa aqui comigo, ao vivo e a cores – disfarça Brutus – Só que ele sofre de unha encravada e às vezes sente umas dorzinhas, mas é pouca coisa.
- Muito prazer, Bernadete às suas ordens! – cumprimenta a mulher
- E eu me chamo Renildson Heimlich, mas pode me chamar de Renê.
- Que nome chique! Aposto que seu sobrinho está arrasando os corações da mulherada por aqui.
- Você nem imagina como a fila anda pra ele (risos).

Assim que Bernadete deixa o apartamento, Brutus fica um pouco mais aliviado e eu comento:
- Arrasando corações, hein malandro? Tá bonitão e bem alinhado. Nem parece o Brutus que conheci antes da Copa.
- Shhhhhhh! Você não vê que eu tô embromando aquela velha chata?
- Parece que a noitada de ontem te fez bem, está mais jovial ainda.
- É. Você precisa cortar o cabelo no salão de beleza que eu fui agora a pouco, é pertinho daqui. E você precisa conhecer a manicure, ela é um amor de pessoa e é brasileira! Tem mais ou menos a sua idade, Renê.
Depois da dica, Brutus senta na poltrona para descansar e assistir comigo o jogo entre Alemanha e Inglaterra e os alemães afundaram a ilha britânica com uma impiedosa goleada de 6x1. O Rolling Stone Mick Jagger aparece na TV das arquibancadas torcendo para seu English Team na companhia do príncipe Harry e da princesa Megan, mas sua fama de pé-frio justifica o placar elástico. Mais tarde, Brutus se preparava para ver o tão aguardado duelo entre Portugal e Argentina. E com direito a pipoca e fitinha verde-amarela enfeitando a TV. Assisti o jogo com ele e arrisquei um comentário:
- Sei não, os portugueses tão jogando melhor, mas não é aquela coisa toda, têm muitos problemas e tiveram muita sorte para passar pelo egípcios. Já os argentinos jogaram mal na fase de grupos, mas desencantaram vencendo o Peru de virada, mas também não tá tudo bem.
- Parece que o Pelé vai torcer pra Portugal nesse jogo.
- Só porque ele é o Rei do Futebol, a imprensa esportiva acha que ele é o dono da verdade futebolística. Ele é como um torcedor brasileiro, que gosta de dar palpites. E ainda disse que não será surpresa se a final for entre Brasil e Portugal, entende?
- Vou torcer mesmo é pra que esses timecos joguem até se arrastarem na hora dos pênaltis.
E foi o que aconteceu! Muitos gols perdidos, muitos lances de emoção, muitos pendurados, algumas expulsões, erros grotescos de arbitragem a ponto do vídeo-árbitro não conseguir decifrá-los e os 120 minutos terminaram em 0x0. O jogo foi decidido nos pênaltis e mais uma vez, o palpite do "Rei" falhou: os hermanos mandaram os gajos de volta para Lisboa vencendo por 5x4, graças ao goleiro Romero que defendeu a cobrança decisiva de Ricardo Quaresma.
E aí são formadas as semifinais. De um lado, Brasil x Espanha em São Petersburgo e do outro, Argentina x Alemanha em Moscou. Quem serão os finalistas? Não deixem de conferir amanhã o próximo e emocionante capítulo de "A Melhor Copa de Todos os Tempos".