HISTÓRIA: Cidade Contra Cidade - 56 Anos

Eu fiquei emocionado Naquele domingo à tarde Quando assisti ao programa Cidade Contra Cidade (...) Carlos Cezar, José Fortuna e Valentino Gu...

quinta-feira, 24 de maio de 2018

FICÇÃO: A Melhor Copa de Todos os Tempos - 4ª Parte

Nosso tema musical ideal para a Copa do Mundo de 2018: Moscow - Genghis Khan

No dia seguinte, convenci Brutus a tomar um café da manhã reforçado, bem ao estilo breakfast norte-americano:
- Ô Brutus, você precisa se alimentar melhor no café da manhã! Que tal você comer algo bem completo e reforçado?
- Renê, por acaso você esqueceu que sou um pouco cardíaco?
- Ah, Brutus, só hoje! Você não se sente 30 anos mais jovem?
- Você tem toda razão. Até agora meu coração está mais forte como nunca. Vou abrir mão de minha dieta.
Só que mal a gente se sentou para tomar o nosso café matinal que a bendita Bernadete, aparece bem na nossa mesa:
- Não se incomodam de eu pegar este lugar e tomar café com vocês?
Eu ficava pensando: como pode um militar aposentado e cardíaco como o Brutus, depois de uma noite de sexo selvagem, se sentir 30 anos mais moço e ainda ser flertado por uma bruaca? Depois que o novo Brutus despertou a paixão na viuvona, ele não teve mais sossego. Tocam no batedor de porta do apartamento e quando eu abro a porta, dou de cara com justamente ela:
- Bernadete? A senhora por aqui?
- Desculpe eu não ter avisado, é que eu queria levar o meu amorzinho pra passear comigo. Conhecer melhor a cidade de Moscou e visitar os pontos turísticos daqui. Vamos sair meu querido? – pergunta Bernadete agarrando Brutus pelo braço
- Se for só pra conhecer a cidade, tudo bem. Agora, se for pra fazer outra coisa, nada feito. Você se cuida, meu sobrinho?
- Sim, tio! – respondo piscando para Brutus


Dali em diante, ela começou a aparecer toda hora na porta do nosso quarto pra passear com o Brutus. Ele nem dava bola, ele queria mesmo era embromar a viúva com essa história furada de que ele era um rico e refinado desembargador. Enfim, era véspera da semifinal entre Brasil e Espanha em São Petersburgo. Já era bem tarde e a Bernadete não iria mais encher o saco do Brutus na calada da noite. Eu estava fazendo as contas do pouco crédito que restou no meu cartão e fazendo uma pequena lista do que precisávamos comprar. Brutus tinha saído do banho e já estava de pijama quando me convenceu de eu fazer as compras naquela mesma noite, pois se deixasse pra amanhã, a Bernadete ia encher nosso saco no caminho. Àquela altura, ela já estava indo pra cama, mas Brutus fez questão de ir comigo ao Supermercado AV Daily, aberto 24 horas ali perto do Golden Ring Hotel, e com o pouco dinheiro que tínhamos, consegui comprar todos os itens da lista: biscoito salgado, biscoito recheado, leite longa vida, achocolatado, pão de forma, sal, pipoca para microondas, patê de presunto, creme de avelã e queijo cheddar. Durante as compras, dava sugestões para Brutus escapar de Bernadete como acordar cedo e pegar o primeiro minuto do café da manhã do hotel pra não ter o azar de dividir a mesa com a viuvona assanhada. Quando pego o pão de forma, uma moça estava ao meu e falou com aquela voz cristalina:
- Tão vendendo barato esse pão porque está perto da validade, você não acha? – se voltando a mim que estava do seu lado
Fiquei seduzido por aquela moça de voz calma e a ela se encantou com o meu olhar:
- Que olhos lindos você tem. Quer trocar comigo?
Olho mais embaixo e vejo que ela está com uma credencial e logo reconheço a moça pelo nome dela e o jornal em que ela trabalha:
- Jéssica Martins? Do jornal Gazeta Nacional? Eu leio esse jornal todo dia!
- Olha, que bom! Aposto que você está lendo minha coluna diária sobre o dia-a-dia dos torcedores na Copa.
- Pois é. Não sabia que aquela coluna interessante, bem direta e precisa sobre as torcidas na Copa é escrita por uma moça tão linda e que é dona de uma voz tão sedutora.
- Ah, obrigada – diz Jéssica meio envergonhada enquanto tira seus óculos – Cobrir uma Copa é divertido, só que às vezes é um tédio analisar o comportamento dos torcedores, o que eles fazem antes, durante e depois dos jogos. Só agora é que eu terminei meu serviço e pude ter um tempinho livre pra mim.
Nunca passou pela minha cabeça que uma jornalista do jornal que eu estava acompanhando a cobertura da Copa pudesse me paquerar num supermercado com aquela voz musical, sussurrante e angelical. Era Jéssica Martins, uma jornalista promissora. E o melhor disso tudo foi deixado no final das compras:
- Sabe, me sinto muito sozinha durante essa grande cobertura da Copa do Gazeta Nacional. Tô num relacionamento muito “tico-tico no fubá”, mas preciso muito de uma companhia esta noite pra eu poder desafogar meus dias de solidão. Você topa?
- Onde você está hospedada?
- No sétimo andar do Golden Ring Hotel.
- Golden Ring Hotel! Eu também estou hospedado neste hotel, só que no quarto andar.
- Nossa, que coincidência! Podemos ir embora juntos no meu carro: eu, você e seu pai (se referindo a Brutus).
- Ele não é meu pai, ele é parente da família da minha mãe. Só que não é meu tio!
- Esse garoto é muito inteligente! – comenta Brutus – Ele sabe de cor e salteado toda a história das Copas e sabe até como vai ser o desempenho das equipes agora na semifinal.
- Sério mesmo? Acho que a gente vai se entender muito bem! – diz Jéssica
Eu, Brutus e Jéssica subimos as escadas do Golden Ring Hotel. Brutus carrega as sacolas das compras e eu e Jéssica estamos de braços dados. A noite só estava começando, mas nossa grana tinha acabado com as compras. Brutus teve que dormir mais cedo seguindo minhas recomendações. E eu... Bem, eu troquei idéias além da conta com a Jéssica! E conversa vai, conversa vem, minha troca de informações com a Jéssica foi parar bem de baixo dos edredons, aos beijos:
- Ô Jéssica. Você podia me revelar em primeira mão, como o Brasil vai jogar amanhã contra a Espanha?
- Todos sabem que o Renato Augusto está suspenso por ter sido expulso contra Senegal. E o Philipe Coutinho é dúvida para amanhã por causa das dores que sentiu no mesmo jogo. Ninguém sabe se ele vai começar jogando ou vai esquentar o banco até onde der.
- Mas você pode dar um palpite de quem será escalado pra jogar contra a Espanha?
- Bem, o Tite vai mudar o esquema tático de 4-3-3 para 4-4-2 e vai escalar um volante a mais no jogo de amanhã, que é o Fernandinho. Mas uma coisa é certa, o efeito suspensivo de Neymar acabou e recuperou a posição de titular da equipe, mas depende também do departamento médico.
- Parece meio inventado essa “contusão” do Neymar. Bastou terminar a suspensão dele pra dizer que tem condições físicas e está pronto pra jogar.
- É o que todo mundo está dizendo! A impressão que ele tá deixando na Copa é que ele não está honrando a pátria e a camisa do time, só quer saber de fama e fortuna. Ele nem teve tempo de treinar com bola. O Tite vai escalar o Neymar e o Gabriel Jesus para o ataque e o Willian foi mantido e deslocado para o meio-campo. O Brasil que jogava com três atacantes, vai jogar com apenas dois. Cautela!
- E o Philipe Coutinho? Se for liberado, vai jogar recuado também?
- Como tudo vai depender do departamento médico, o Tite vai querer colocar o Philipe Coutinho no banco, com ou sem condições de jogo.
- Que notícia quente! Tão quente quanto a sua voz.
- E antes da Seleção entrar em campo, é hora de a gente partir pro ataque.

Como nos dois jogos anteriores, virei mais uma noite de prazer. A essa altura pude me certificar que aquela superstição não era mera tolice, mas era algo científico. Me considerava uma espécie de “predestinado” para fazer tal sacrifício pelo meu país. Após ter tomado banho comigo naquela manhã, Jéssica quase perdeu a hora do trabalho. Eu quase perdi a hora do café do hotel. Mas tudo deu certo. 10 de julho. Estava bem relaxadão quando reencontrei com Brutus no quarto onde estávamos. Eu já estava pronto para partir com ele a São Petersburgo, mas Brutus estava preocupado. Sem contar o crédito que tínhamos de transporte, estávamos sem dinheiro para ver o jogo, apenas o par de ingressos. Nós sempre saíamos pra ver os jogos com uma graninha a mais no bolso pra comprar amendoim, refrigerante, água, cachorro-quente, chocolate, enfim. Então, sugeri a Brutus que o único jeito de levantar uns trocados é vender esses ingressos na casa dos US$ 1.000 em troca de dinheiro pra poder comer bem, bancando os cambistas:
- Já entendi, a gente vai poder comer com o dinheiro dos ingressos, mas como é nós vamos ver o jogo? – indagou Brutus
- Num restaurante com boa televisão lá de São Petersburgo! – respondi
- Certo! Agora pintou uma última questão: como é que gente vai até esse estádio sem aquela chata desconfiar de nada?
- Sinto dizer, mas nós vamos ter que pegar carona, querendo ou não, com...
Alguém toca no batedor do nosso apartamento e abro a porta para a viuvona que vestia uma roupa de plumas e paetês verde-amarelos:
- ...Bernadete!
- Nossa, Renê! Que recepção! Como você é tão gentil! – diz Bernadete emendando com um beijo estalado bem na minha bochecha
- Vamos, meu bem, não quero perder a hora do jogo por nada desse mundo! E também não quero perder o lugar no estádio. Finalmente vou poder ver um jogo do Brasil muito bem acompanhada! – disse ela enquanto enganchava seu braço no de Brutus em direção ao espelho
- Olhe só, não ficamos bem de braços dados? Fico imaginando o dia em que sairemos de uma igreja assim, desse jeito! – dizia Bernadete a um Brutus mudo e sem ação
Em roupas normais, a Bernadete não era atraente, mas com aquela roupa emplumada, era assustadora para Brutus! Ela mais parecia uma arara. Tive que convencer o Brutus de que aquilo era nossa única saída de chegar ao estádio a tempo, pegando carona com a Bernadete, já que não estávamos sendo vigiados por ela e estava disposta em levar a gente até o local do jogo numa Mercedes rosa-choque com chofer:
- Se lhe disserem para alugar uma Ferrari, esqueça? – diz Brutus fingindo estar intrigado, ao mesmo tempo em que eu aperto seu braço para chamar atenção
- Mas o que é que houve meu bem? – disse ela preocupada
- O motor fundiu e eu não vou andar de trem-bala! Isso é coisa de pobre!
- É só uma Mercedes, mas se você não se importar, pode ir comigo.
- O carro não é grande coisa, mas só vou pela sua companhia – disfarça Brutus após uma olhadela pra mim
- Entre você também, meu jovem! – diz Bernadete a mim
- Fico muito lisonjeado pela sua disposição de levar a gente pra ver o jogo, assim economizo minha condução.
Se por um lado valeu a pena, por outro lado foi um tremendo sacrifício. Durante o caminho, nove horas e meia de carro de Moscou a São Petersburgo, pude comprovar a sabedoria do Brutus. Essa Bernadete falava pelos cotovelos que era uma beleza. Dentro do carro, todo cheio de mordomias possíveis, ela não parava de rasgar elogios ao Brutus, alardeando a sua impecável elegância, imaginando que aquele suposto desembargador grã-fino pintasse quadros nas horas vagas:
- Sabe meu querido, desde a primeira vez que te vi nesse smoking fiquei apaixonada! Acredita em amor a primeira vista?
- Posso não acreditar, mas meu sobrinho aqui, quando bate o olho numa mocinha, ele fica tonto feito um peixe-boi.
- Ah, esses jovens de hoje não sabem como era nosso tempo! Hoje eles só querem saber do corpo. Na minha época, admirávamos a elegância e o gosto pelas coisas. Sabe meu benzinho, assim como você eu adoro a pintura internacional. Admiro principalmente as obras de Gauguin, Dalí, Goya, Picasso, Botero...
- Aposto que você colecionava aquela revista antiga, Os Grandes Mestres da Pintura – complementei
- Desde cedo aprendi a admirar as artes, nacionais e internacionais, assim como o seu tio. Sabe meu amado, nós devíamos nos conhecer melhor e irmos só nós dois de mão dadas visitar uma exposição de artes por essas redondezas. Que tal amanhã?


Depois de enfrentarmos tantos horas de viagem, e a própria Bernardete, avisto o local do jogo entre Brasil e Espanha:
- Mas olha o que estou vendo? O Estádio de São Petersburgo! Local de Brasil e Espanha! Estamos perto, tio! – me dirigindo a Brutus
- Esse estádio é esplendoroso. Sua arquitetura é magnífica. Só perde para a Arena de Kazan que é maravilhosa! – comenta Bernadete
Eu ponho a mão na barriga e invento uma desculpa para sair logo do carro:
- Ai, Dona Bernadete! Daria pra você mandar parar o carro na frente do estádio? É que começou a dar uma dor de barriga terrível em mim! – digo enquanto piscava para Brutus – Preciso ir logo ao banheiro! Antes que eu tema pelo pior.
- Ele tem razão! – disfarça Brutus – Daqui eu tô sentindo. Enquanto você manda estacionar o carro, levo meu sobrinho ao toilette. Falando nisso, também tô sentindo um revertério na minha barriga.
- Deve ser o jantar de ontem que não caiu bem na gente, né tio?
Inventei a desculpa na hora certa. Eu e Brutus conseguimos fugir de Bernadete enquanto ela estacionava sua Mercedes rosa-choque para a gente vender nossos ingressos. Só que nossos momentos de liberdade duraram pouco. Logo, eu passo as instruções para Brutus na frente do estádio:
- Você vai para o canto de cá e eu vou para o canto de lá. É aquilo que a gente combinou lá no apartamento. Se você conseguir vender seu ingresso, vá até onde eu tô, pra juntar toda a grana, mas espere eu vender meu ingresso. Se eu tiver vendido, eu gesticulo pra você, tá bom?
Cada um de nós foi para o um canto para tentar vender o ingresso para a semifinal entre Brasil e Espanha. Nós dois berramos para um grande volume de pessoas que passavam por ali enquanto balançamos nossas respectivas entradas: Ingressôôô!!! Ingressôôô!!! Não demoramos em vender os ingressos. Um minuto depois, tratei de vender meu ingresso para uma mulher com cara de travesti que saltitava sem parar. Ao mesmo tempo, Brutus conseguiu vender seu ingresso para um sujeito desesperado e breaco que apareceu correndo em direção a ele. Brutus me avista de longe, em meio à movimentação das pessoas. Ao colocar o dinheiro no bolso, eu grito o nome de Brutus no meio à multidão. Brutus quase me desencontra, pois dei uns passos a frente à sua procura, que passava pelo meio do povo. Quando finalmente nos encontraramos, bem próximos da fila de entrada do estádio, juntamos todo o dinheiro que conseguimos das entradas. Enquanto eu contava atenciosamente o valor total do dinheiro, Brutus olha de lado para a fila se não havia policiais por perto e vê Bernadete, que imediatamente o agarra pelo braço dizendo:
- Ah, meu lorde, eu sabia que estava me procurando! Tá uma loucura por aqui, não acha? Fica tranqüilo que seu ingresso está aqui comigo.
O Brutus mais uma vez engasgou. E como os mudos não contestam nada, lá foi ele para o estádio junto de Bernadete. O volume de pessoas que passavam na entrada do estádio era enorme e a fila de entrada andava depressa. Quando terminei de contar o dinheiro, onde estava o Brutus? Logo, avisto de longe, Brutus e Bernadete passando pela catraca do estádio, enquanto que o bilheteiro conferia o par de ingressos dos dois:
- Tio Brutus? – disfarço – Tio Brutus? Tio Brutus?
O volume de pessoas impedia Brutus de ouvir meus gritos. Assim, Bernadete e Brutus sentam nas arquibancadas do Estádio de São Petersburgo para ver o jogo. Brutus está de cara amarrada e Bernadete está muito empolgada:
- Ai, que emoção! Finalmente vou poder assistir ao jogo do Brasil muito bem acompanhada.
- Eu queria que o Renê estivesse aqui com a gente.
- Ai meu Deus! O Renê! Nós perdemos seu sobrinho! Cadê ele?
- Acho que ele encontrou uma garota por aí que estava sem companhia e foi ver o jogo com ela do outro lado do estádio – disfarça Brutus
- Menos mal, mas preocupações a parte, quanto você acha que vai ser o jogo hoje?
- Vou arriscar uns 3x2 para o Brasil, tá bem?
- Ora, deixa estar Brutus. Seja otimista como eu, vai ser 3x0 de novo para o Brasil. Os espanhóis podem ser perigosos, mas nós somos muito melhores que eles!
Paralelo a isso, fui obrigado a pegar um táxi e pedi para o motorista me levar para um restaurante de São Petersburgo que tenha atendimento especial para turistas durante a Copa, além de uma boa televisão e uma boa comida. Cheguei a tempo, quase perdi o início da partida e adivinha quem me atendeu:
- Olá, Renê! Que surpresa você por aqui bem no dia do jogo do Brasil!
- Giovanna! Minha garçonete favorita! Você por aqui? Você não tá mais no “Panorama” de Moscou?
- Esqueceu que eu faço intercâmbio na Rússia? Fui transferida pra cá, mas faço questão de atender bem os clientes brasileiros! O que você vai pedir?
Com um olho no telão e outro no menu fiz o meu pedido: entrada de porção de panquecas de frango com catupiry, uma super porção de lasagna à bolonhesa e lagarto ao molho madeira ao ponto como prato principal, um guaraná de um litro para beber e doce de brigadeiro com sorvete de chocolate e calda de avelã de sobremesa.


Pois é, a semifinal entre Brasil e Espanha foi, segundo a imprensa internacional, o melhor jogo daquela Copa e realmente foi de tirar o fôlego! Uma verdadeira aula de futebol, apesar das vaias da torcida russa pra cima do Neymar, que voltara de suspensão e ter forjado uma contusão durante todo o período sem poder jogar. A partida está rolando no Estádio de São Petersburgo. No primeiro tempo, Paulinho domina a bola na esquerda, passa para William com um marcador espanhol a sua frente. Ele cruza na área para Neymar que chuta pro gol, mas o goleiro espanhol De Gea faz uma grande defesa. Depois, Iniesta tem a posse de bola espanhola pelo meio, faz um passe longo para Morata que é cercado por Casemiro que sofre o drible, entra na área e é derrubado por Marquinhos. O juiz aponta a marca da cal e marca pênalti para a Espanha. Quando o pênalti espanhol é marcado, Bernadete se desespera e se ajoelha na arquibancada, de costas para o gramado para não ver a cobrança de pênalti contra o Brasil. Enquanto isso, no restaurante, Giovanna me serve a entrada. David Silva se prepara para cobrar o pênalti e Alisson está no meio do gol confiante que vai defender o lance. Eram 32 minutos do primeiro tempo e o árbitro autoriza a cobrança. David Silva bate o pênalti, Alisson dá o rebote e no segundo lance, David Silva abre o placar para os espanhóis. Espanha 1x0. No estádio, Bernadete, mesmo de costas, não se conforma e Brutus manda um recado ao goleiro brasileiro:
- Ô Alisson, lugar de bater roupa é na lavanderia, seu frangueiro!
O primeiro tempo acaba e no restaurante, Giovanna me serve o prato principal. Pouco antes do segundo tempo começar, o Brasil faz uma alteração que ninguém esperava: sai Fernandinho e entra Douglas Costa. O Brasil volta a ter três atacantes e William retoma sua posição original. Com isso, a Seleção sai do 4-4-2 que começou o jogo para retornar ao 4-3-3 dos jogos anteriores.
Segundo tempo. O Brasil ataca pela direita. Danilo é cercado por Piqué e sofre falta. Dois homens espanhóis formam a barreira. O mesmo cobra a falta e direção à área e Neymar entra de cabeça para empatar o jogo no primeiro minuto do segundo tempo. Tudo igual, 1x1. O camisa 10 brasileiro comemora o gol com o dedo indicador entre seus lábios dando a entender que ele pedia pra calar as vaias dos russos. Bernadete festeja o gol brasileiro beijando a bochecha de Brutus sem parar. O Brasil se empolga e vai pro ataque novamente. Paulinho recebe no meio-campo. Passa por um, por dois, por três espanhóis e toca para Neymar que está livre de marcação. Ele domina a seu estilo, mas ele chuta pra fora. A Espanha responde. Busquets domina a bola, passa para Iniesta que se livra de Marquinhos na entrada da área e chuta rasante para uma defesa sem complicações de Alisson. No banco de reservas, Philipe Coutinho vai para o aquecimento e logo ele entra no lugar de Paulinho. Passados 27 minutos. Marcelo se livra da marcação espanhola, dá meia volta e serve para Philipe Coutinho livre de marcação que entra na área e chuta forte por baixo do goleiro De Gea e vira o jogo para o Brasil. Era o primeiro lance de Coutinho na partida. Brasil 2x1. Até a garçonete Giovanna festeja o gol abraçada comigo no restaurante.
Já passaram dos 45 minutos do segundo tempo e a placa eletrônica anuncia mais quatro minutos de acréscimo. O técnico Tite acredita não faltar mais nada pela frente e que a vaga pra final estava mais do que assegurada. Com isso, resolve ganhar tempo e chama Thiago Silva para entrar no lugar de William e correr pro abraço. Bernadete não quis saber de nada e festeja a provável classificação brasileira pra final da Copa abraçada de Brutus, que diz que o jogo só termina quando acaba. Só que nem tudo saiu como haviam planejado. O Brasil ataca pelo miolo, Miranda toca pra Gabriel Jesus que chuta na meia-lua, mas De Gea defende e imediatamente repõe a bola em jogo. O relógio atinge a marca de 49 minutos e a Espanha tenta uma última cartada: Sérgio Ramos dá um passe longo para Busquets que sofre falta de Thiago Silva em seu primeiro lance no jogo. O juiz marca e a falta é cobrada imediatamente, a bola vai para Iniesta que domina com rapidez e arrisca de fora da área e marca um golaço indefensável pro goleiro Alisson. Numa fração de segundo, inesperadamente, a Espanha consegue o empate. 2x2. Jogadores espanhóis comemoram o gol de tal forma que parecem ter feito um gol na final da Copa. O jogo vai para a prorrogação.
Eu ponho a mão na cabeça no restaurante e Brutus reclama do empate com Bernadete, que nem presta atenção no jogo, pelo fato de comemorar a vitória antes do tempo. No restaurante, os espanhóis que assistiam à partida faziam barulho e cantarolam a melodia do hino nacional do país. Enquanto isso, Giovanna me consola servindo a sobremesa enquanto eu comento o jogo com ela:
- Se eu tivesse vendo esse jogo lá no estádio com o Brutus, isso não teria acontecido. A essa hora, éramos pra estar comemorando a vaga pra final! Não vendo nosso sonho de ganhar a Copa ser prorrogado pra mais 30 minutos, pros pênaltis ou pior: pra daqui a quatro anos.
- Não fica zangado, pra você se acalmar tá aqui sua sobremesa.
Como diria Galvão Bueno, haja coração! Não vamos entrar em detalhes na prorrogação que foi um festival de gols perdidos. Alisson e De Gea trabalharam muito, só que o empate persistiu. Até o Roberto Firmino entrou em campo no lugar de Casemiro pra partir pro tudo ou nada, era a chamada “hora do sufoco”. Mas valeu a tentativa. Após 120 minutos de empate em 2x2 entre Brasil e Espanha, fomos para os pênaltis. Bernadete estava nervosa e novamente fica ajoelhada nas arquibancadas de costas para o campo e no restaurante, Giovanna contagiada pelo clima provocado pelo jogo, resolve assistir aos pênaltis comigo. Todos os jogadores iam batendo suas cobranças convertendo-os em gol, estava 4x3 para o Brasil. Era a vez de Alba bater o pênalti para a Espanha. Ele chuta e Alisson defende. Todos comemoram, só que o juiz manda voltar o pênalti alegando que o goleiro brasileiro havia se adiantado antes do chute. Alguns segundos depois, o próprio juiz nota no vídeo-árbitro que a defesa realmente não valeu. Alisson reclama insistentemente com o juiz e toma cartão amarelo. Alba tem uma nova chance de converter o pênalti em gol. Só que ele chuta pra fora, acima do gol brasileiro. A comemoração brasileira é total e só o pênalti de Roberto Firmino poderá classificar o Brasil para a final da Copa. Firmino bate o pênalti com firmeza e dá a vitória para o Brasil, 5x3. O Brasil carimba o passaporte de finalista da Copa do Mundo. Eu e Giovanna pulamos abraçados sem parar no restaurante. E no estádio, em meio a festa verde-amarela, Brutus vibra bastante com a vitória nos pênaltis, mesmo com Bernadete no seu pé. Mas ficou fora de si de tal forma que decidiu falar a verdade:
- Olha aqui, Dona Bernadete. A senhora vai ter que me perdoar! Fique você sabendo que tá vivendo uma grande mentira! Não sou milionário coisa nenhuma! Tampouco desembargador e pintor de quadros! Só um zé-mané e militar aposentado que pinta parede pros amigos. Por isso, faça-me o favor de largar do meu pé!
Bernadete olha fixamente Brutus com olhos de fogo e dispara a seguinte tirada:
- Quer saber? Você não presta! – pára por alguns segundos e conclui – Mas eu te amo mesmo assim. Bernadete vira as costas e vai embora do estádio para alívio de Brutus
Depois de muita emoção para o Brasil chegar a decisão, o merecido descanso. Depois de eu ter comemorado a vitória num restaurante de São Petersburgo com a inacreditável presença de Giovanna, resolvi pegar um uber para buscar o Brutus na porta do estádio porque quando vi que a Bernadete não estava lá junto com ele, tive a tarefa de trazê-lo de volta e nos mandarmos para pegar um trem-bala de volta para Moscou, até porque os amigos não podem ser deixados de lado. Durante o nosso habitual mau-mau durante a viagem de volta, conversávamos sobre o jogo, como cada um assistiu aquele drama dentro das quatro linhas e com é que o Brutus falou a verdade para a metida da Bernadete:
- Tive que falar a verdade porque ela tava muito chata.
- Chata de nascença ou por maioria de votos?
- As duas coisas. Ela até me deixou um bilhetinho. (Brutus lê o bilhete) “Sei que não tenho sangue azul, mas meus sentimentos são nobres”. Grande coisa.
- Ah, esqueci de falar do dinheiro dos ingressos – emendei com ele – Só tive que pegar um pouquinho pra pegar o táxi, comer no restaurante, pegar o uber pra te buscar no estádio e ainda restou um pouco pra eu poder cortar o cabelo.
- Ah, tudo bem! Vá amanhã no salão de beleza que eu falei outro dia pra você. Agora, voltando ao assunto da Bernadete, tô pensando em não tomar café lá embaixo com você. Aquela bruaca vai continuar investindo em mim e não há Cristo que vai fazer ela largar do meu pé. Quando você for subir e tocar o batedor, a senha é “coronel”. Assim, vou evitar aquela maldita. E não adianta ligar pra mim aqui no meu celular. Amanhã eu não tô pra ninguém! – Diz Brutus tirando os chips do seu celular


Quando mais um dia amanheceu, lá estava eu tomando o café do hotel sozinho. O Brutus queria escapar da Bernadete de qualquer forma e o jeito era tomar café no apartamento. Eu mal tinha me sentado para tomar o meu café matinal quando a dita cuja apareceu no meu lado:
- Oi Renê! Porque o seu tio Brutus não veio tomar café com você?
- Acontece que ele não é meu tio – digo olhando fixamente para Bernadete – Ele é apenas um parente distante da minha mãe.
- Como assim?
- A minha mãe é tia da cunhada do irmão do genro da sobrinha da nora do primo de um cabo de exército aposentado. E esse cabo do exército aposentado é ele.
- Nossa, que família enorme você tem! Só queria conversar com ele mais a sós porque eu ainda estou apaixonada por ele, sendo grã-fino ou não. Você sabe onde ele está nesse momento?
- Você não sabe? – disfarço – Bem, como ele é militar aposentado, ele tem uns amigos que trabalham para a delegação do Brasil na Copa. São os seguranças da concentração da Seleção lá em Sóchi. Se você for lá, com certeza você vai encontrá-lo com os seguranças da delegação.
- Não acredito que eu acabei de ouvir. Ele não é rico desembargador, é um militar aposentado e tem amigos seguranças que trabalham na concentração do Brasil na Copa! Muito obrigada, nem sei como lhe agradecer! Já sei, se você quer ir comigo conhecer a concentração do Brasil, pegar um autógrafo dos jogadores e procurar pelo Brutus?
- Não, não, não! – digo assustado – Bem, eu tenho compromisso. Vou cortar o cabelo daqui a pouco. Eu preciso ficar mais bem apresentável para a grande final de domingo.
Depois do almoço, fui ao salão de beleza aconselhado pelo Brutus, lá perto mesmo do Golden Ring Hotel. Fui cortar o cabelo e o inesperado aconteceu. Eu me apaixonei. Isso mesmo, eu me apaixonei. Se eu dissesse que eu me encantei por ela, seria pouco até demais pela reação que eu tive naquela hora. Ainda mais quando ela olhou pra mim. Não sei quem ficou mais apaixonado, se foi ela ou eu:
- Quer que eu dê um trato nas suas unhas?
- Acho que não vai precisar.
- Mas precisa. Todo mundo que vem aqui precisa de um trato nas unhas. Ainda mais em época de Copa. Ontem mesmo, acabei com as minhas durante o jogo do Brasil.
- Está bem, você ganhou.
O nome dela é Bianca. Ela tinha um perfume indescritível. Rosto demarcado, olhos puxados, cabelo ondulado, sorriso marcante, porte físico “mignon”, exatamente o tipo ideal de mulher que eu tanto sonhava. Foi aí que eu me lembrei do dia em que Brutus comentou sobre ela. Aos poucos, enquanto ela puxava conversa comigo, fui percebendo que não queria só sexo. Eu queria mesmo casar com a Bianca! E logo nos demos muito bem! Bianca estava fazendo um trabalho temporário. Ela tinha uma prima mais velha, que está fazendo intercâmbio em Moscou, que a aconselhou pegar esse trabalho de manicure. Ela ia ter dois dias de folga e voltaria a trabalhar sábado e domingo. Disse a ela que era um amor de pessoa, muito linda e simpática. Bianca me presenteia com um cartão do salão onde estava escrito no verso o telefone e o hotel onde ela estava hospedada. Mal voltei do salão e adivinha quem eu encontrei na portaria do Golden Ring Hotel. Ela mesma, Bernadete, muito preocupada por não conseguir entrar no apartamento de Brutus para aquela conversa mais reservada que ela tinha de dito:
- Bernadete, você por aqui?
- Pois é, né? Estou aqui plantada feito uma sonsa tentando falar com... Aquele seu parente. Cheguei faz alguns minutos lá de Sóchi e todos os seguranças que estão lá na concentração do Brasil disseram que nunca viram ou não conheciam o ex-cabo do exército de apelido Brutus. Foi viagem perdida. Agora tô pedindo pro pessoal aqui do hotel entrar em contato com ele lá no apartamento. E ninguém atende!
- E eu acabei de voltar do salão de beleza pra cortar o cabelo e agora não vou poder entrar no meu próprio quarto.
- Ai, meu Deus. Agora eu fico mais preocupada ainda. Um hóspede que não pode entrar no próprio apartamento.
Nessa hora, tive uma ideia para escapar de Bernadete:
- Ai, ai. Tô com uma tremenda dor de barriga. Acho que o almoço de hoje não me caiu bem. – disfarço pondo a mão na barriga
- Ah, e agora? Ele nem pode subir em seu quarto para ir ao toillette! Que situação!
- Pode deixar que me viro. Vou ao toillette aqui de baixo. – digo me encaminhando ao banheiro do térreo
- Tá certo. Mas se você piorar, eu te compro um remédio pro intestino e pro fígado, tá bom?
Tive que esperar um minuto entre estar no toillette do térreo e subir de fininho as escadas de emergência para chegar ao apartamento em que eu e Brutus estávamos hospedados. Não precisei subir tantos degraus, sorte que nós estávamos no quarto andar no Golden Ring Hotel. Se eu fosse de elevador, a Bernadete notava e faria o maior escândalo. Mas consegui superar o obstáculo e cheguei são e salvo no apartamento com Brutus a minha espera! Brutus vai à porta e pergunta, desconfiado:
- Qual é a senha?
- Coronel!
- Opa! Entra logo, Renê. Quero me livrar daquela chata. Falando nisso, você viu a megera pelas redondezas do hotel?
- Na entrada. E no balcão de recepção!
- Eu sabia. Desculpe eu não ter te falado do truque antes. E que me veio essa ideia logo quando você foi cortar o cabelo depois do almoço. Você foi lá naquela barbearia?
- Sim, e aquela manicure que você falou esses dias gostou de mim e me deu esse cartão!
- Olha o Renê! Mas agora nós temos que fazer silêncio pra que aquela arara não desconfie de nada se ela resolver ficar na porta do nosso quarto. Tá combinado?
- Pode contar comigo! – digo estendendo a mão para cumprimentar Brutus
Bernadete ainda está plantada na recepção e a pessoa que a atende no balcão tenta contato mias uma vez com o apartamento de Brutus e mexe a cabeça dizendo que ninguém atende. Atônita, Bernadete diz andando de um lado para o outro:
- Mas que raiva, já faz mais de uma hora e o Brutus não quer dá bola pra mim. E o Renê nem saiu do toillette. Ah, mas isso não vai ficar assim. Eu suspeito que o Renê deva estar tramando alguma coisa para o Brutus se livrar da minha cara. Com licença, deixa que eu resolvo isso. – diz em direção ao atendente da recepção e se encaminhando direto ao toillette do piso térreo.


Bem feito pra Bernadete. Ela mordeu a isca. Mas ela não se deu por vencida. Enquanto eu e o Brutus nos divertíamos a valer com os nossos jogos, ela foi teimosa e ousou a ficar bem na porta de nosso quartel-general, querendo bem ou mal falar com o Brutus, mas ele nem “tchum” pra ela:
- Não tinha ninguém no toillette masculino – Diz Bernadete saindo do elevador – O Renê com certeza deu a volta e subiu pela escada de emergência. Eu sabia que eles estão tramando algo para se livrarem de mim.
Bernadete toca o batedor do nosso apartamento e fala sem parar:
- Brutus, eu sei que você está aí! Abre essa porta imediatamente! E você também Renê! Preciso ter uma conversa muito séria com você, seu mentiroso. Por acaso, sua mãe não te educou direito? – a viuvona cisma em bater a porta do apartamento com força – Estou mandando! Abram essa porta!
Nesse momento, um empregado do hotel aparece pedindo calma e para que não faça barulho para não incomodar os outros hóspedes. Bernadete dá um tapa no braço dele e o repreende:
- Isso não é da sua conta. Vá embora! É um assunto só meu! Fora daqui!
Bernadete volta a bater a porta insistentemente:
- Eu não vou sair daqui por nada deste mundo enquanto um de vocês não me atenderem agora! Vou falar bem alto para que todos do hotel saibam o que se esconde por trás desses dois. Quero falar com o dono deste hotel e pedir um mandado de despejo para os dois nunca mais pisarem neste lugar pelo resto da vida. Eu já estou cansada de esperar!
Eu e Brutus estávamos jogando cartas no banheiro ao cair da tarde e nos olhamos rindo do ataque de nervos de Bernadete que continua berrando na porta:
- Eu sei que vocês estão aí! O cartão do apartamento de vocês não está na recepção quando voltei de Sóchi. E aquela história de que você é amigo dos seguranças da Seleção é papo furado! Nenhum segurança te conhece, Brutus. Vocês inventaram isso só pra escaparem de mim, seus Pinóquios.
Já está anoitecendo, Bernadete, completamente aos prantos, cansada e alterada, se entrega e sente o golpe:
- Está bem, vocês ganharam dessa vez. Foram vocês que escolheram esse caminho, mas vão colher frutos amargos por me tratarem desse jeito. E ai de quererem entrar no meu apartamento pra me pedir desculpas. Aí eu não vou atender mesmo! Adeus!
Bernadete vai embora e anda pelo corredor em direção ao elevador do hotel. Ufa! Depois de mais de quatro horas plantada na frente da porta de nosso apartamento, Bernadete joga a toalha e eu e Brutus vencemos por nocaute técnico. Tivemos que esperar mais um minuto para que Bernadete tomasse o elevador, para que pudéssemos comemorar:
- Conseguimos! – diz Brutus
- Não sabia que ela era tão teimosa desse jeito – comento
- Agora sim podemos conversar normalmente. Isso merece uma comemoração!
- Olha aqui no jornal! Hoje nós vamos jantar numa churrascaria argentina! Eu tenho a brilhante ideia de nós dois assistirmos a outra semifinal num lugar repleto de argentino pra gente provocar um pouco eles, porque sabem que vão perder pra Alemanha daqui a pouco. Já tô até vendo que a grande final da Copa do Mundo vai ser entre Brasil e Alemanha, a desforra dos 7x1, concorda comigo?
- Peraí Brutus, você não leu essa parte? – alerto – Essa churrascaria está aberta a todos os turistas do mundo, menos para brasileiros e uruguaios, ou seja, nós não podemos entrar!
- Deve ser o efeito da cocaína eles odiarem a gente só porque somos brasileiros.
- Haja xenofobia. E tem mais uma coisa, antes de entrar precisa mostrar um documento para eles conferirem a nacionalidade dos que entram por lá.
- Isso não é problema. Deixa que eu resolvo tudo e agora! Vamos lá?


Brutus arranjou uns disfarces para a gente. Ele conseguiu um chapéu, óculos escuros e um bigode postiço. Eu pus um outro chapéu e um casaco escuro para entrarmos na churrascaria argentina El Gaucho. Além disso, Brutus emitiu dois documentos falsos, um pra ele e outro pra mim, e conseguimos entrar naquele lugar passando por turistas vindos do México. Confesso que quase me senti mal quando entrei naquela espelunca portenha. Não deu muito trabalho para eu e o Brutus conseguirmos uma mesa para a gente sentar e deixar nossa tensão de lado. Aquela churrascaria havia armado um telão para que os nossos “hermanos” pudessem acompanhar a semifinal contra a Alemanha. Enquanto isso, eu e Brutus cumprimos bem nosso papel de se passarmos por turistas mexicanos vindos de Guadalajara e capricharmos no idioma espanhol. Um garçom vestindo uma camisa da Argentina aparece atendendo os supostos turistas perguntando de onde a gente vinha. Brutus se passou por Pancho Ramírez, um turista mexicano que estava na Rússia acompanhando a Copa e eu tive que fingir que era seu filho, Victor Ramírez. Até aí, ninguém desconfiou de nada e o garçom argentino lançou a pergunta:
- ¿Y entonces, de cuánto Argentina va a ganar de Alemania? 
Senti a maior saia justa naquela hora quando aquele garçom me fez essa pergunta. Mas tive que responder para agradá-lo um pouco:
- Va a ser 1x0 para Argentina.
- Yo prefiero que Alemania gane por 1x0 que perder de 4x5, así que ya estará de buen tamaño. – intromete-se Brutus
- ¿Lo que dice? – retruca o garçom
- Mi padre estaba bromeando. – pondera Alex apertando disfarçadamente o braço de Brutus – A él le gusta mucho el fútbol alemán y el equipo argentino logró llegar a las semifinales de la Copa en medio de los trancos y barrancos.
- Nosotros superamos todas las dificultades para llegar hasta donde estamos ahora. Admito. Y la recompensa mayor por derribar esas barreras es ganar el Mundial, que quieran o no!
Após o diálogo, um torcedor argentino aponta para o telão e vê o Maradona nas tribunas de honra do estádio do jogo:
- Miren el Dieguito! Nosotros te amamos, Dieguito! Alabado sea Diego!
Imediatamente, ele puxa o coro de “Olê, olê, olê, olê! Diego! Diego!” com todos na churrascaria. Brutus, falando em português, sussurra comigo:
- Você não acha que esse garçom tá com bafo de mato queimado?
- Como todo mundo que está aqui dentro, ele fumou, bebeu, cheirou, viajou e se chapou. Os efeitos colaterais só vão aparecer depois do jogo.
A partida começa e parecia que estávamos dentro da Arena Luzhniki de Moscou tamanho o barulho que eu e Brutus fomos obrigados a suportar. Pelo menos a melhor coisa que tinha naquela churrascaria era o próprio churrasco. Que delícia de churrasco, pena que nenhum brasileiro pode degustá-lo. Mas havia também outra coisa agradável: mal olhei de lado quando... uma “guapa” argentina se encantou comigo! Ela vestia a camisa de sua seleção amarrada acima da cintura com o umbigo a mostra andando em minha direção segurando uma cadeira. Bastou apenas uma troca de olhares para que ela ficasse toda derretida comigo, mesmo eu tendo que me passar como um turista mexicano. Ela se chama Pilar, era a filha do gerente da churrascaria, nascida em Córdoba, cidade onde tem as mulheres mais lindas da Argentina e me fez um convite indiscreto:
- ¿Acepta pasar una noche conmigo después del juego?
- ¿Cuál es el motivo?
- Me gustaría mostrar sólo para ti el tatuaje que he mandado hacer del Maradona.
- ¿En qué parte del cuerpo has tatuado el Maradona?
Ela me disse sussurradamente que tatuou o Maradona ali... nas partes íntimas, pra ser mais contundente na “República Tcheca”. Mal havia me dito esse segredo e a Argentina marca o primeiro gol, através de Lionel Messi, que pouco tinha feito naquela Copa. Todos os argentinos comemoram freneticamente, inclusive Pilar que pega sua cadeira e sobe em cima dela. Levanta os braços sem parar e vibra com os outros argentinos no meio do salão. Presenciamos a cena e Brutus comenta:
- Essa galinha que tá te cortejando é outra que vou te falar. Deve ter dado umas cheiradinhas antes de conversar com você, Renê.
- Ela é muito linda, mas ela é meio pirada. Ela até deu uma fungadinha de lado pra disfarçar.
Tínhamos terminado de jantar. O jogo já estava no final do segundo tempo, a Argentina já vencia por 2x0, com outro gol de Messi. Brutus, ou melhor, Pancho Ramirez, foi pedir a conta da janta e eu, além de estar entupido de tanto churrasco, conversava meio sem vontade com aquela bela chapada da Pilar. O gerente da churrascaria entrega a conta para Brutus agradecendo pela sua visita e nota que sua filha teria conquistado o coração do falso filho do falso mexicano e que arrasa os corações das estrangeiras:
- ¡Papá! – pede Pilar – Usted me deja pasar una noche con el Victor para mostrarle el tatuaje que he mandado hacer del Maradona en mi...
Pilar é interrompida por Brutus que aponta para o telão vendo um ataque da Alemanha terminar em gol através de Toni Kroos nos acréscimos. É nesse momento em que ele revela sua verdadeira identidade:
- Ó lá, ó lá, ó lá, ó lá, ó lá! É goooooooooool! Alemanha! Alemanha! Alemanha! Ale...
Todos os argentinos se levantam vagarosamente em direção a Brutus por entregar sua verdadeira nacionalidade ao comemorar o gol alemão e por descobrirem que ele é brasileiro:
- Que é que vocês tão me olhando! Eu tava com isso entalado na garganta e precisava de um gol da Alemanha para tirar onda de vocês, seus chapados xenófobos.
Um torcedor argentino se sente ofendido e indaga pra ele, em espanhol:
- ¿Eres brasileño?
- Sou brasileiro, sim senhor – responde Brutus em português – Com muito orgulho, fui até chefe de segurança do presidente Geisel!
- ¿Usted también es brasileño? – pergunta incrédula a moça para mim
- Eu me chamo Renê Braga e aquele ali que está comigo é um parente da minha mãe e eu o chamo de Brutus. Ele é ex-cabo do exército. E o churrasco daqui é muito gostoso!
- ¿Ustedes no saben leer lo que está escrito en este cartel, sus “macaquitos”? – esbraveja o garçom da churrascaria apontando um cartaz que diz em espanhol “Es terminantemente prohibida la entrada de brasileños y uruguayos en este recinto” – ¡Ustedes van a pagar por lo que hicieron! – diz um argentino com os punhos fechados ameaçando agredir os intrusos, só que é interrompido pelas comemorações de seus compatriotas do apito final do jogo, festejando a classificação da Argentina para a final da Copa do Mundo contra o Brasil. Brutus fica aliviado por alguns minutos e Pilar fala comigo:
- No me impuerta si eres brasileño. Lo que me impuerta es que pase una noche conmigo y contemple el tatuaje del Maradona en mi...
- Cale tu boca, Pilar! – interrompe o gerente da churrascaria aos gritos e interrompendo as comemorações – No voy a dejar que usted enamore a un brasileño. ¡Usted se casará con un hijo de nuestra tierra!
- É isso aí! – complementa Brutus – Preferimos se casar com uma mulata que tatuou o Pelé na bunda do que uma chapada, como vocês todos, que tatuou o Maradona lá na “perseguida”. E digo mais: o Maradona fez a carreira e o povo argentino só cheirou!
- ¡No aceptamos esa provocación! ¡Eso es una afrenta contra la nación argentina! ¡Pongan de ellos! – dizem os argentinos exaltados iniciando a perseguição.
Era tudo que o Brutus queria, tirar onda de nossos “hermanos”. Só não esperávamos uma conseqüência tão passional. Os argentinos daquela churrascaria tinham mesmo aversão a brasileiros e foram mais além: eles queriam acabar com a nossa raça, quer dizer, queriam mesmo era reprimir a gente como nos velhos tempos da ditadura. Só pra informar, a Argentina venceu a Alemanha por 2x1.

A perseguição termina quando eu levo um forte tombo e caio desacordado no chão. Os argentinos comemoram meu tombo aos brados de “Viva Argentina!”. Estou desmaiado no chão próximo a um hotel e em minha direção aparece Bianca, a manicure da barbearia. Ela voltava para o hotel onde está hospedada reclamando do barulho provocado pela torcida argentina quando olha para o chão e me reconhece:
- Esses argentinos são fogo. Renê, Renê, é você? Responda Renê? Fale comigo Renê? Ai meu Deus, o que aconteceu com ele? Será que algum argentino machucou ele?
Preocupada pede aos seguranças do hotel em que ela está hospedada em me carregar e me levar até seu apartamento. Na manhã seguinte, senti uma repentina dor de cabeça e logo quando acordei, estranhei o lugar onde eu passei a noite. Imaginava que eu tivesse sido sequestrado por um argentino disposto a ir à forra comigo depois de eu ter invadido o reduto inimigo.
- Ai que dor de cabeça. Ué, aonde eu vim parar? Aqui não é o quarto onde eu tô hospedado. Brutus? Brutus? Brutus, onde você está, responda!
Logo, notei que, na verdade, eu vim passar a noite no quarto dela:
- Bianca! – digo aliviado
- Tudo bem com você? Tá doendo sua cabeça? – pergunta ela
- Estando junto de você, minha dor de cabeça passa. O que aconteceu pra eu estar aqui?
- Você estava desmaiado bem perto do hotel onde eu tô hospedada. Aí pedi pro pessoal te levar aqui pro meu quarto pra estar bem pertinho de mim.
- Deve ter sido a perseguição de ontem.
- Que perseguição? Dos argentinos?
- É, eu e o Brutus fomos disfarçados a uma churrascaria argentina que proíbe entrada de brasileiros e uruguaios. Foi só no final do jogo da Argentina que eles descobriram que nós somos brasileiros e correram atrás da gente pra arrebentar a nossa cara.
- E de tanto correr você levou um tombo, bateu a cabeça e ficou atirado no chão. Ah, tadinho! Fiquei muito preocupada com você. Agora que você tá bem, eu tenho um dia inteirinho só pra gente, o que você acha?
- Eu estava pensando na mesma coisa que você! – digo a Bianca seguido lentamente de um beijo
Com a Bianca, eu tinha descoberto o real sentido do amor. No primeiro momento, evitei o sexo e nós dois éramos namorados puros e inocentes! Foram os dias mais inesquecíveis de nossas vidas: passeamos de mãos dadas por Moscou conhecendo os pontos turísticos, corremos pelo parque arborizado em câmera lenta, fomos ao cinema comendo pipoca, jantamos a luz de vela, e erguemos um brinde com champagne importado, dançamos de rosto colado na pista de dança e ela diz “eu te amo” para mim e nos beijam longamente. O filme se repetiu no dia seguinte. Mas antes, fomos dar uma visita a Brutus e nos divertimos a valer. Sem antes ele explicar porque ficou trancado no apartamento o dia inteiro mesmo com um dia bonito do lado de fora:
- É que ontem eu fui jantar numa churrascaria argentina e descobriram que eu era brasileiro. Eu e o Renê! Aí eles começaram a perseguir a gente e você sabe o que acontece quando alguém mexe num militar aposentado: tortura!
- Nossa! – reagem Renê e Bianca olhando um para o outro
- Mas consegui fugir de todos eles e logo peguei um uber pra chegar até o hotel. Fiquei confinado aqui o dia todo. Vá saber se algum policial está me procurando por tentar ferir gravemente aquele pobre diabo argentino.
- Não foi também por causa da Bernadete que você permaneceu aqui no quarto o dia inteiro e gastou uma boa parte do seu vale transporte com serviço de quarto? – diz Renê
- Não me fale o nome dessa megera! – retruca Brutus batendo na madeira
- Brutus, não fica nervoso, você precisa divertir um pouquinho – diz Bianca – Tive uma idéia! Que tal nós três jogássemos um pouco no salão de jogos lá embaixo?
- Você joga cartas, palitinho? – pergunta Renê
- Não, não sei jogar.
- Dominó? – pergunta Brutus
- Não gosto, é muito chato.
- Então, o que é que a gente vai jogar esta noite? – diz eu e Brutus
- Que tal, banco imobiliário?
Ficamos a noite inteira jogando banco imobiliário e Brutus, além de ser mestre nas cartas, se revelou um ótimo negociador, tirou dinheiro de mim e da Bianca! Mas na base da sorte.

No sábado, Bianca teve que ficar o dia todo no salão de beleza, pois teria muito trabalho pela frente. Eu, no entanto, ajudei o Brutus a fazer um balanço dos gastos durante toda a Copa. Enquanto isso, eu assistia a decisão do terceiro lugar entre os reservas de Espanha e Alemanha, Brutus quis analisar na internet as invenções da imprensa brasileira acerca da nossa Seleção na véspera da tão esperada decisão da Copa do Mundo:
- Olha aqui Renê. (Brutus lê a notícia do jornal) “Neymar ameaça abandonar a Seleção Brasileira antes da final contra a Argentina após briga com Tite durante o coletivo”. Ficou sabendo dessa?
- Esses jornalistas não têm nada de construtivo para publicar e inventam essas asneiras como se eles fossem os senhores de toda a verdade, seja lá inventada ou verídica.
- E tem mais essa. “Tite não perdoa a catimba de Neymar desde o jogo contra a Costa Rica. Eles ficaram discutindo durante uma hora antes do treino na concentração de Sóchi”.
- O Neymar vai jogar essa final, queira ou não, Brutus. Você não viu direito a transmissão pela TV quando o Tite foi até o Neymar antes dos pênaltis dando a maior força pra ele na semifinal?
- Você tem razão. Esses torcedores disfarçados de jornalistas só sabem torcer e distorcer. Acho que é alguma superstição deles pro Brasil ganhar a Copa e vender mais jornais, o que acha?
- A mídia brasileira faz de tudo para fazer da Copa um torneio de uma nota só e ter a torcida sob seu controle. Isso é resumido em duas únicas palavras: Ufanismo e sentimentalismo.
Terminamos de conversar, assistimos ao jogo pela TV e os espanhóis precisaram de uma nova prorrogação para vencer os desmotivados (e desfalcados) alemães por 3x2. Logo, o meu celular começa a tocar:
- Se for aquela chata insistindo em querer falar comigo, diga que eu fui dormir – alerta Brutus
- Fica tranqüilo, Brutus. Ela não vai ligar essa hora – digo me dirigindo ao celular
- Alô? – digo eu – Oi Bianca, tudo bem? Já chegou no apartamento? Ótimo, já tô indo até aí para aquela conversa a sós que havia prometido pra você, tá bom? Então, até já, tchau! – encerro desligando o celular, ponho uma jaqueta e saio correndo do apartamento para encontrar com a Bianca
- Tô torcendo para que você marque um golaço com ela durante essa madrugada, tchau! – incentiva Brutus
Enfim chegou o grande dia, quer dizer, a grande noite em que eu tinha que fazer com ela aquilo que tinha de fazer. Ela estava em seu quarto à minha espera, vestindo uma camisolinha sexy transparente, e tudo estava indo bem! Passamos longas e longas horas nos beijando e poderíamos ter tido algo mais além. Poderíamos, a não ser por um detalhe:
- Eu te amo, Bianca!
- Eu também te amo, Renê! Você não tem noção o quanto eu sinto por você.
- Então, que tal a gente dormir juntinhos e você mostrar todo o sentimento que tem por mim e eu todo o sentimento que tenho por você?
- Você não disse que esse encontro era pra uma conversa mais reservada entre a gente?
- Sim, claro, pra gente ter mais intimidade um com o outro, nem que seja embaixo dos edredons e ninguém está por perto vendo a gente. Só tá nós dois.
- E pra gente ganhar intimidade é preciso conversar a sós debaixo dos edredons? – retruca Bianca parando imediatamente de me abraçar e olhando fixamente para os meus olhos – Renê, eu tenho uma coisa muito séria para te dizer.
- Diga minha gatinha.
- Que às vezes não é bem assim que as coisas são como a gente pensa ou devem ser feitas.
- Você gostaria que eu usasse camisinha, não é isso? Eu não me importo, tenho várias.
- Me deixe continuar? Eu tenho que te dizer que...
- Que o quê, querida? – falei incrédulo – Não vá me dizer que você é transgênero ou hermafrodita.
- Não me interrompa, não é bem isso. Eu sou uma mulher de verdade. Quer uma prova?
Bianca, ao terminar de dizer aquelas palavras, tirou a roupa na minha frente e ficou nua por alguns segundos. Depois, arrematou:
- Viu? Quero dizer que sou virgem e só faço sexo depois do casamento. Isso não é conservadorismo, é uma tradição familiar. – diz Bianca e quando termina veste seu pijama novamente
- Aposto que você foi muitas vezes motivo de chacota por defender sua virgindade. Alguma vez você já tentou tomar aquela pílula?
- Não posso. E tenho outra coisa pra te falar: eu tenho um tio que é pastor de igreja e disse uma vez pra mim que sexo fora do casamento é pecado. Deus não se agrada disso. Pílula e camisinha só incentivam a promiscuidade.
Ao ouvir isso, eu fico em silêncio por alguns segundos e com cara de choro e Bianca diz preocupada:
- Não fique assim, Alex! Espere pelo nosso casamento, vai ser melhor não só pra mim, mas também pra você!
- Acho que isso é o fim de tudo – digo pegando minha jaqueta e saí do quarto gritando e exalando minha raiva em Bianca - Sua pudica! Por sua culpa, o Brasil vai perder amanhã! Santarrona!
Saí do quarto batendo a porta e Bianca sai atrás de mim, mas não passa da entrada de seu quarto. Logo ela implora de joelhos:
- Não vá embora! Não vá embora! Renê! Renê! – diz Bianca repetidamente, se desabando a chorar – Não, Renê! Queria também te convidar pra assistir o jogo comigo amanhã no estádio, eu consegui um ingresso! Eu tô apaixonada por você, Renê! Eu te amo, Renê! Eu te amo!
Bianca pára de berrar e chora copiosamente. E agora, eu volto pra ela? E na final da Copa do Mundo, o Brasil vai conquistar o hexa diante da arquirrival Argentina? Ou vai ser exatamente o contrário do que foi escrito até agora? Portanto, não percam amanhã o último capítulo de "A Melhor Copa de Todos os Tempos".