Nesta última semana do mês de novembro, os privilégiados assinantes de TV por assinatura e telespectadores do Canal Viva, foram contemplados com uma série de cinco programas da "Escolinha do Professor Raimundo" em nova roupagem. A intensão do Viva era fazer uma homenagem aos 25 anos do programa, que começou em forma de quadro nos humorísticos "Chico City" nos anos 70 e "Chico Anysio Show" nos anos 80 e que em 1990 ganhou um programa-solo na Rede Globo com exibição diária de meia-hora de duração (e logo ganhou uma versão semanal nas noites de sábado com uma hora de duração).
A iniciativa do Viva (que produziu outros revivals de programas antigos como "Sai de Baixo" em 2013 e "Globo de Ouro" em 2014) é louvável, ainda mais reunindo os familiares desse que foi o maior humorista do Brasil na produção deste maravilhoso projeto: Chico Anysio. As gravações ocorreram em outubro nas "bababescas instalações" (obrigado Fausto Silva!) do PROJAC. Foram produzidos ao todo sete programas, sendo cinco no Canal Viva já exibidos e outros dois inéditos que serão exibidos na Globo nos domingos de dezembro dentro do pacote de atrações de Fim de Ano (provavelmente após o "Fantástico").
É óbvio que o destaque da "Nova Escolinha" são os próprios 19 alunos, interpretados por talentosos atores e os melhores humoristas e comediantes da atualidade, mas muita gente não deve ter gostado do Bruno Mazzeo não ter reproduzido aquela voz grossa e rasgada do Professor Raimundo, até porque ele, filho do saudoso Chico, mandou avisar que não tinha a mínima intensão de imitá-lo ou produzir uma "nova versão" pra 2016 e sim fazer um tributo ao humor brasileiro, porém a intensão da homenagem foi válida e seu desempenho como Raimundo Nonato foi satisfatório.
Assisti todos os cinco episódios, me diverti com todos eles e faço questão de analisar os alunos de acordo com a interpretação do seus respectivos atores e sem esquecer alguns alunos, não menos importantes, que infelizmente ficaram de fora da "Nova Escolinha": Dani Calabresa (Dona Catifunda), Marcelo Adnet (Rolando Lero), Marcius Melhem (Seu Boneco), Marco Ricca (Pedro Pedreira), Marcos Caruso (Seu Peru), Fabiana Karla (Dona Cacilda), Betty Goffmann (Dona Bela) e Maria Clara Gueiros (Dona Cândida) foram perfeitos e fidelíssimos em seus respectivos personagens. A versão de Ângelo Antônio ao Joselino Barbacena foi do homem caipira invocado e desconfiado com as coisas da capital e isso usando apenas o olhar, achei interessante. A Dona Capitu ganhou uma versão mais sexy e exuberante com a interpretação da voluptuosa Ellen Roche, ela fez lembrar a "Gabriela" de Jorge Amado. O Evandro Mesquita já tinha uma certa familiaridade com o Armando Volta porque ele havia o interpretado num especial da própria "Escolinha" nos 25 anos d'Os Trapalhões em 1991 e pode não ter sido perfeito com o Sambarilove, mas deu uma roupagem moderna e bem divertida ao personagem com direito a "#Sambarilove". A Fernanda Souza economizou o "tipo assim" do vocabulário da Tati, mas mesmo assim se saiu bem com a personagem que conta os fatos da história em "versões iradas". "O talento passa de pai para filho", essa expressão resume a interpretação de Lúcio Mauro Filho ao reproduzir perfeitamente a voz e os trejeitos do puxa-saco Aldemar Vigário. Achei que a Marina da Glória, incorporada pela Fernanda de Freitas, ficou meio "sem sal", apesar da meiguice característica, e uma pena que o Kiko Mascarenhas não tenha convencido tanto assim como Galeão Cumbica mesmo com a expectativa criada pela minha mãe. Se irmos pela aparência, o Rodrigo Sant'Anna ficou idêntico como Seu Batista, mas ficou um pouco "emo" e menos risonho. Um amigo virtual meu de Franca, interior paulista, resume a interpretação de Otávio Muller como Baltasar da Rocha numa única palavra "zoeira" e minha mãe até comentou comigo que ele é um dos poucos atores que conseguem ser engraçados e cômicos fazendo "papel de sério". Outro que também foi "zoeira" e não deixou de ser também "caricato" foi o Otaviano Costa na pele do "CDF" do Seu Ptolomeu. Agora, o Mateus Solano se superou e impressionou com o Zé Bonitinho em gênero, número e grau, dando mostras de sua versatilidade, confesso que eu achava ele meio "canastra", mas depois da novela "Amor à Vida" (que lhe rendeu Prêmio APCA e Troféu Imprensa, ambos como melhor ator de 2013), seu depoimento na série "Grandes Atores" também do Canal Viva e agora com a "Nova Escolinha", ganhou minha admiração e respeito em definitivo (tanto é que ele agora virou garoto-propaganda do arroz e feijão Camil!).
Se listarmos os personagens que ficaram de fora da nova versão da "Escolinha", muitos nomes seriam lembrados e a relação ficaria enorme, mas eu destaco quatro: o arretado Bertoldo Brecha, o qual considero um dos mais emblemáticos alunos, fez falta, assim como o judeu pão-duro Samuel Blaustein e o breaco João Canabrava. Que atores de hoje interpretariam esses personagens? Deixo essa pergunta no ar. Agora, um personagem ausente se encaixaria perfeitamente num ator de hoje: lembram do João Bacuri, aquele aluno corintiano fanático interpretado pelo saudoso Olney Cazarré (que não tinha os dois pés quando fazia o personagem)? Ele deveria ter sido interpretado pelo Marcelo Médici, o ator que recentemente fez o humorístico "Vai Que Cola" no canal pago Multishow fazendo um personagem meio que semelhante a sua personalidade (e que também era corintiano, fazer o quê), assim como outro personagem que até hoje é lembrado por muita gente na internet, o Zoínho de "A Praça é Nossa" do SBT, que sempre dizia que o Carlos Alberto de Nóbrega era o pai dele.
Pra encerrar, se me perguntarem qual personagem da "Escolinha" que eu mais gosto, tenho a resposta na ponta da língua: o Rolando Lero. Desde criança gosto do personagem, então interpretado pelo saudoso Rogério Cardoso, sempre poético, emotivo, cheio de caras e bocas e demonstrando certa "intimidade" com os fatos da história. Agora com o Marcelo Adnet, ratificou ainda mais minha predileção pelo personagem e reproduzindo com alta fidelidade sua voz e seus bordões "Amado Mestre" e "Captei Vossa Mensagem". Mas é isso, a "Nova Escolinha" merece uma Menção Honrosa do Prêmio APCA, já que os vencedores da premiação serão anunciados logo no início de dezembro, pois minha Menção Honrosa particular já conquistou, agora depende do bom senso da crítica segmentada, que na minha modesta opinião representam a última palavra quando o assunto é "Destaques da TV".